Discurso durante a 172ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da passagem do Dia de São Francisco, na data de hoje. Manifestação de solidariedade a Dom Luiz Flávio Cappio, em greve de fome na cidade de Barra, na Bahia. (como Líder)

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Registro da passagem do Dia de São Francisco, na data de hoje. Manifestação de solidariedade a Dom Luiz Flávio Cappio, em greve de fome na cidade de Barra, na Bahia. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 05/10/2005 - Página 33927
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, SANTO PADROEIRO, COMENTARIO, HISTORIA, BATISMO, RIO SÃO FRANCISCO.
  • COMENTARIO, VISITA, ORADOR, SACERDOTE, IGREJA CATOLICA, SITUAÇÃO, GREVE, FOME, PROTESTO, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, ELOGIO, VIDA, AUTORIDADE RELIGIOSA.
  • DEFESA, REALIZAÇÃO, PLEBISCITO, OBJETIVO, DECISÃO, POPULAÇÃO, OBRA PUBLICA, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, BENEFICIO, DEMOCRACIA.
  • ACUSAÇÃO, PROJETO, GOVERNO FEDERAL, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, FRAUDE, NATUREZA TECNICA, NATUREZA POLITICA, OBJETIVO, FAVORECIMENTO, PRODUTOR RURAL, EXPORTADOR, EMPREITEIRO, EMPRESA, CONSTRUÇÃO CIVIL.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje é um dia muito especial para aqueles que militam na Igreja que proclama a luta e a libertação; aqueles que proclamam a opção pelos pobres, pelos oprimidos e pelos marginalizados. Claro que existem muitos queridos irmãos cristãos que estão entre os evangélicos; assim sendo, não estabelecem as relações espirituais com aqueles que foram consagrados santos. Mas hoje é um dia muito especial porque é o Dia de São Francisco, justamente o dia daquele que pediu para não ser santo, Senador Teotonio Vilela Filho. Aquele que, quando estava agonizando, pedia para que não fosse decretado que ele era santo. Mas a Igreja, até com uma certa esperteza à época, acabou decretando, porque ele significava a opção dos pobres, dos oprimidos, dos marginalizados, a opção pela natureza.

O dia de hoje se torna mais especial ainda porque, além de este ser o dia de São Francisco, foi justamente num dia 4 de outubro - e não é à toa - que, pela primeira vez na história do nosso Brasil, as caravelas de Américo Vespúcio viram o velho Opará, que, segundo linguagem indígena, era o rio-mar. Quando as caravelas de Américo Vespúcio, num dia 4 de outubro, como hoje, viram pela primeira vez o rio São Francisco, batizaram-no rio São Francisco em homenagem ao santo dos pobres, dos oprimidos e dos marginalizados.

Os Senadores Teotonio Vilela Filho e César Borges, de forma mais especial, sabem que hoje é um dia especial. Estivemos fazendo uma visita a Dom Frei Luiz Flávio Cappio, que está em greve de fome e que faz aniversário hoje. Hoje ele não pode estar com os oprimidos, com os marginalizados, com as populações ribeirinhas às quais, Senador Ramez Tebet, ele dedicou a vida. A essas pessoas, ele dedicou a vida, sem querer cargos, prestígio ou poder; ele lhes dedicou a vida, sem, em nenhum momento, vender a alma para se lambuzar no banquete farto do poder. Esse é o homem que está em greve de fome. É um homem que, inclusive, fez opções políticas ao longo de sua vida, não favoráveis às oligarquias regionais, mas sempre fez opções políticas na vida, inclusive relacionadas aos partidos políticos de esquerda.

Este dia é muito especial, e a CNBB, os bispos e padres do Brasil todo reconhecem isso. Infelizmente, porém, o Presidente Lula e a sua respectiva base de bajulação impediram que o debate fosse feito de forma franca e democrática em todo o Nordeste, dividindo de forma oportunista, numa farsa técnica e numa fraude política, um projeto de alta complexidade como é esse.

Se fosse feito o plebiscito, os Estados que supostamente seriam beneficiados seriam ouvidos, votariam e discutiriam. Da mesma forma, os Estados do Comitê da Bacia Hidrográfica discutiriam e seriam ouvidos. Mas por que o Governo não o quis? O Governo e a sua respectiva base de bajulação não quiseram o plebiscito, porque eles querem viabilizar não o debate franco, fraterno, honesto, técnico e programático, mas os interesses dos grandes latifundiários da agricultura de exportação, das empreiteiras e das construtoras.

Quem quer fazer o debate democrático aprova o plebiscito em todos os Estados. Os Estados do Ceará, da Paraíba, do Rio Grande do Norte, de Alagoas, da Bahia e de Sergipe, todos os Estados seriam chamados a discutir essa questão, e o resultado nós acolheríamos de forma absolutamente franca e absolutamente fraterna.

Eu não poderia, Sr. Presidente, deixar de dizer aqui o quanto admiro Dom Frei Luiz. Hoje está aqui o sobrinho dele, porque os dois irmãos mais velhos dele estão com ele e com as populações peregrinas - quem está ao lado de Dom Frei Luiz são os pobres, os pobres do Nordeste com os quais ele se comprometeu. Ele é um homem pobre, um homem que fez a opção pela pobreza e que nunca fez a opção pela riqueza. Foi exatamente por isso que ele dedicou uma das mais belas cartas a toda a população nordestina para evitar o dissenso e a divisão absolutamente covarde do povo nordestino.

Assim sendo, quero fazer a minha homenagem a um homem de coragem, a um homem que fez sua opção pelos pobres, a um homem que nunca se rendeu ao poder político, aos grandes e aos poderosos: Dom Frei Luiz. Ele diz que faz uma opção de loucura, mas lembro que a opção de Cristo pela cruz é vista como a mais importante opção de loucura. Foi o que Jesus Cristo fez: embora pudesse sair dali, afastar-se do cálice e não passar por todas aquelas circunstâncias, não o fez. Então, eu não poderia deixar de fazer essa homenagem neste dia.

O Senador Teotonio Vilela Filho sabe que eu queria muito estar no rio São Francisco, em Alagoas. Eu queria estar lá, como tenho feito nesses últimos anos: há mais de cinco anos, celebramos uma missa dentro do rio São Francisco, dando uma declaração de amor a esse rio, com o Padre Heraldo e com toda a população pobre que mora no sertão das Alagoas. Só vim para cá hoje para homenagear Dom Frei Luiz, um homem digno que fez a opção pelos pobres, alguém incapaz de fazer qualquer gesto de demagogia, incapaz de fazer qualquer gesto que viabilizasse a disputa demagógica política. Assim sendo, sinto-me na obrigação de fazer esta homenagem.

Espero que o Governo Federal e a sua base bajulatória estabeleçam os mecanismos necessários, para que ele possa ao menos ser recebido pelo Presidente. Como o PT e o Presidente Lula muitas vezes usaram o apoio de Dom Frei Luiz, que agora, ao menos, ouçam-no para estabelecer uma discussão democrática e necessária! Nada existe de mais democrático que o plebiscito, no qual todo o povo nordestino, os Estados da bacia hidrográfica e os Estados que supostamente seriam beneficiados poderão discutir o assunto de forma ampla, democrática e respeitosa.

Hoje, dia de São Francisco, eu não poderia deixar de fazer esta homenagem a um homem digno, limpo, que fez a opção pelos pobres e que está dando a maior declaração de amor ao rio São Francisco: infelizmente, é greve de fome, que pode levá-lo à morte sim!

Alguns que são acostumados a cargos, a prestígio, a riqueza e a poder podem nem saber o que é isso. É claro que muitas pessoas vivem a fome, a pobreza, a miséria, o desemprego e o sofrimento não por opção, não por protesto, não por uma luta ecológica como essa. Eu vi a situação e sei de quem estou falando. Por isso, não poderia deixar de fazer o registro do meu respeito e da minha admiração por este lutador que sempre fez a opção pelos pobres: Dom Frei Luiz.

Espero que o Governo Lula e a sua base tenham a sensibilidade necessária para reabrir as discussões, a fim de que Dom Frei Luiz seja ouvido, assim como toda a comunidade pobre, ribeirinha, os povos indígenas, todos os nordestinos. A única forma de fazê-lo, sem dúvida, é o plebiscito. (Palmas.)

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/10/2005 - Página 33927