Discurso durante a 172ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de carta de autoria de Dom Luiz Flávio Cappio, escrita antes de iniciar a greve de fome em protesto contra a transposição das águas do rio São Francisco.

Autor
Almeida Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SE)
Nome completo: José Almeida Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Leitura de carta de autoria de Dom Luiz Flávio Cappio, escrita antes de iniciar a greve de fome em protesto contra a transposição das águas do rio São Francisco.
Aparteantes
Eduardo Azeredo.
Publicação
Publicação no DSF de 05/10/2005 - Página 33938
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • LEITURA, CARTA, BISPO, ESTADO DA BAHIA (BA), DECISÃO, GREVE, FOME, REIVINDICAÇÃO, SUSPENSÃO, PROJETO, GOVERNO FEDERAL, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO.
  • CRITICA, PROJETO, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, PREJUIZO, MEIO AMBIENTE, VIDA, PLANETA TERRA.

O SR. ALMEIDA LIMA (PMDB - SE. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, Dom Luiz Flávio Cappio, Bispo da Diocese de Barra, antes do seu gesto, escreveu esta carta:

“Uma Vida pela Vida”

Declaração

Em nome de Jesus Ressuscitado, que vence a morte pela Vida plena, faço saber a todos:

1. De livre e espontânea vontade assumo o propósito de entregar minha vida pela vida do Rio São Francisco e de seu povo contra o Projeto de Transposição, a favor do Projeto de Revitalização.

2. Permanecerei em greve de fome, até a morte, caso não haja uma reversão da decisão do Projeto de Transposição.

3. A greve de fome só será suspensa mediante documento assinado pelo Exmo. Sr. Presidente da República, revogando e arquivando o Projeto de Transposição.

4. Caso o documento de revogação, devidamente assinado pelo Exmo. Sr. Presidente, chegue quando já não for mais senhor dos meus atos e decisões, peço, por caridade, que me prestem socorro, pois não desejo morrer.

5. Caso venha a falecer, gostaria que meus restos mortais descansassem junto ao Bom Jesus dos Navegantes, meu eterno irmão e amigo, a quem, com muito amor, doei toda minha vida, em Barra, minha querida diocese.

6. Peço, encarecidamente, que haja um profundo respeito por essa decisão e que ela seja observada até o fim.

Barra, Bahia, domingo de Páscoa de 2005.

Dom Frei Luiz Flávio Cappio.

“Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho”.

Sem dúvida, um gesto extremo de Dom Frei Luiz Flávio Cappio o de doar a própria vida em defesa da vida. Recordo-me de que, outro dia, com amigos, companheiros diletos, fazíamos uma reflexão e chegávamos à conclusão de que Deus é harmonia. Estar com Deus é estar e viver em harmonia com os homens, é viver em harmonia com a natureza. A natureza é criação divina, é o próprio Deus. A natureza, seja ela qual for, é a harmonia de Deus. Contrariar a natureza, portanto, é destruí-la, é contrariar sua harmonia, é contrariar Deus. A destruição da natureza é um crime contra a humanidade, é um crime contra o próprio Deus, seu Criador.

O projeto do Presidente Lula de transposição das águas do rio São Francisco fere de morte a natureza, a sua harmonia. Está mais do que comprovado que projetos dessa ordem, em todo o mundo, vieram contra a natureza e a favor da destruição dos próprios rios.

Hoje se fala no efeito estufa, que nada mais é do que uma agressão do homem à natureza, à harmonia, àquilo que Deus criou.

O projeto de Lula é um crime contra a natureza. O projeto de Lula é um crime contra Deus.

É preciso, Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, que este Governo tenha o mínimo de sensibilidade. É mais uma vida que está em risco.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador, V. Exª me permite um aparte?

O SR. ALMEIDA LIMA (PMDB - SE) - Concedo um aparte a V. Exª, Senador Eduardo Azeredo.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador Almeida Lima, não estava aqui presente mais cedo, por outro compromisso, mas coloco-me na mesma linha do seu pronunciamento. Nós, de Minas Gerais, onde nasce o rio São Francisco, onde nasce a maior parte...

(Interrupção do som.)

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - As águas de Minas são as que mais precisam de proteção, porque o rio está assoreado, não tem as matas ciliares necessárias. Já temos uma outorga para o uso da água do rio São Francisco; mas, com a transposição, não se poderá mais outorgar água para outros projetos que venham a acontecer, como, por exemplo, os de irrigação. Trago a minha palavra de preocupação no sentido de que a vida do padre seja salva, de que não se permita que ele chegue ao ponto extremo, e, ao mesmo tempo, de que o Governo possa fazer uma nova rodada de estudos e de discussões em relação a esse projeto. Poderá ocorrer a transposição, desde que o rio seja recuperado e revitalizado, o que não aconteceu até agora. Infelizmente, apesar das promessas, o que foi feito no sentido da revitalização está realmente muito aquém do necessário. Cumprimento V. Exª pelo pronunciamento, somando-me a ele.

O SR. ALMEIDA LIMA (PMDB - SE) - Agradeço a V. Exª, nobre Senador Eduardo Azeredo. Devo dizer a V. Exª e a esta Casa que precisamos salvar a vida não apenas de Dom Luiz Flávio, mas do rio São Francisco, dos sertanejos ribeirinhos, dos nordestinos. Precisamos salvar a natureza, a sua harmonia. Espero um pouco de sensibilidade desse Governo. Tenho a certeza absoluta de que ele não está com Deus, porque não está em harmonia com a natureza, não está com a própria natureza; ao contrário, comete um crime contra a humanidade, idêntico a tantos outros que já foram cometidos neste universo. Daí o desequilíbrio e as catástrofes que hoje estamos vivenciando em quase todo o planeta.

Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. Deixo a minha irrestrita solidariedade ao gesto do Bispo Dom Luiz Flávio.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/10/2005 - Página 33938