Discurso durante a 175ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao projeto de gestão das florestas públicas no Brasil.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE. ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Críticas ao projeto de gestão das florestas públicas no Brasil.
Aparteantes
Heloísa Helena, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2005 - Página 34605
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE. ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, OPOSIÇÃO, PROJETO, GESTÃO, FLORESTA, PAIS, AUTORIZAÇÃO, INICIATIVA PRIVADA, UTILIZAÇÃO, EXPLORAÇÃO, RIQUEZAS, TERRA PUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, PREJUIZO, POPULAÇÃO, TRABALHADOR, REGIÃO.
  • ESCLARECIMENTOS, PARTICIPAÇÃO, ASSEMBLEIA SINDICAL, SERINGUEIRO, AGRICULTOR, ESTADO DO ACRE (AC), DISCUSSÃO, INEFICACIA, RESULTADO, PROJETO, MANEJO ECOLOGICO, MADEIRA, REGIÃO, DESCUMPRIMENTO, GOVERNO ESTADUAL, INICIATIVA PRIVADA, PROMESSA, INSTALAÇÃO, SERRARIA, INSUFICIENCIA, PREÇO, PAGAMENTO, CONTRATO, RETIRADA, ARVORE, AREA.
  • DENUNCIA, CAMPANHA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO ACRE (AC), AGRESSÃO, OPOSIÇÃO, ORADOR, MOTIVO, AUSENCIA, ACEITAÇÃO, IRREGULARIDADE, ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srª Senadora Heloísa, Sr. Senador Mão Santa, senhoras e senhores, só temos palavras de elogio para o Presidente Fiquene, com quem convivemos nesta Casa, pela sua postura como Parlamentar. O Senador Mão Santa revelou hoje um fato que devia ter revelado há muito mais tempo: que o Senador Fiquene é amante da música, gosta de cantar, tem algumas composições. Isso teria nos aproximado muito, além do convívio que já é normal entre nós.

Esse fato, Senador Fiquene, lembra-me o espírito do povo brasileiro. O povo brasileiro, em que pese a dor da miséria, da pobreza, da fome, se vê representado em versos, numa marcha muito bonita e muito importante da música popular brasileira, que diz: “No entanto, é preciso cantar. Mais que nunca, é preciso cantar”.

O povo brasileiro é assim, Senador Mão Santa, apesar de trombar com um Governo corrupto, apesar de ter de suportar a fome, a miséria...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Já que V. Exª está falando em música, lembro-me da Rita Lee que diz: “Não quero luxo nem lixo”. Estamos entrando numa barca furada. E barca furada é este Governo, em quem está entrando água. Mas não é uma água limpa, é uma água podre por todos os lados. Não é um mar de corrupção, é um oceano de corrupção!

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Mas é isso. Era só para registrar a nossa alegria em saber de mais essa qualidade do Senador Fiquene.

Há poucos instantes, o Senador Mozarildo me propunha que iniciássemos uma greve de fome aqui no Senado, eu e ele, para marcar posição contra a aprovação do Projeto de Gestão de Florestas Públicas. Ponderei a S. Exª que talvez não tivéssemos resultado concreto e útil, fazendo um movimento como esse. Lembrei-lhe que Dom Luiz, que acaba de interromper uma greve de fome dentro da discussão acerca da transposição do rio São Francisco, pode ser considerado um aliado deste Governo. E tudo foi feito para que ele fosse demovido e suspendesse a greve de fome; ouço falar inclusive que, por meio de ardis, ele teria sido ludibriado. Não quero acreditar nessa possibilidade. Mas veja que a situação é completamente distinta. Se eu e o Senador Mozarildo iniciássemos aqui uma greve de fome, Senador Mão Santa, um bando de gente estaria torcendo para que fôssemos às ultimas conseqüências e morrêssemos mesmo à míngua. Já não aconteceu com Dom Luiz, que, de fato, é um aliado deste Governo, ou pelo menos é aliado daquilo que ele imaginava que este Governo poderia ser.

Mas quero referir-me a esse imbróglio que se tornou essa discussão acerca do Projeto de Gestão de Florestas Públicas. Tenho-me manifestado firmemente contra esse Projeto. Tenho-me envolvido nessa discussão. Por que razão, Senador Fiquene?

Tenho tentado sintetizar algumas questões que dizem respeito a esse Projeto. Por exemplo, ele introduz a possibilidade, mais uma vez, de instituirmos, agora restritos à região amazônica, as velhas capitanias hereditárias. O que o Projeto prevê? Prevê a entrega à iniciativa privada, mediante concessões públicas, de imensos lotes de florestas que poderão ser explorados econômica e comercialmente, por quarenta anos, pelo menos.

Isso me lembra, Senador Fiquene, uma das questões que me fazem bater forte nesse Projeto: é o precedente que observamos da atividade econômica na região amazônica. Não me lembro de exceção. Praticamente todas ocorreram dentro da seguinte lógica: pequenos grupos sempre se deram muito bem, sempre ganharam muito dinheiro na exploração econômica dentro da Amazônia. E a população da Amazônia, a população que chamamos de tradicional, a população local, muitas vezes entrou nessas relações de produção, nessas relações econômicas como trabalho escravo. Lembro sempre a saga do soldado da borracha, décadas atrás, num esforço de guerra para a produção de borracha para as forças aliadas. Milhares e milhares de amazônidas e nordestinos que para lá migraram entraram nessa relação de produção, Senador Fiquene, como trabalho escravo. Com toda sinceridade, não conheço a história de um soldado da borracha, de um seringueiro que tenha logrado sucesso, que tenha tido uma melhoria substancial na sua vida. Pelo contrário, milhares morreram de fome e de miséria, jogados dentro da mata feito bichos, e um grupo muito pequeno de pessoas ganhou rios e rios de dinheiro com a exploração da borracha na Amazônia, principalmente no meu Estado do Acre.

Esse é um precedente triste e sombrio da atividade econômica na região amazônica, particularmente no meu Estado. E eu trouxe, para discussão nesta Casa, o fato de que esse Projeto, de certa forma, já está sendo implementado no Estado, numa escala reduzida, sob os auspícios do Governo do Estado do Acre, com uma parcela da iniciativa privada, pessoas que lidam com madeira. Quero relatar aqui as tentativas de se desvirtuar esse fato nesta Casa. Presto aqui um esclarecimento.

Participei, há cerca de um mês, de uma assembléia de seringueiros, de agricultores que moram dentro da Florestal Estadual do Antimari, no meu Estado. Mais de 85 seringueiros, agricultores, ocupantes daquela grande área, passaram mais de quatro horas discutindo os resultados de um projeto de manejo de madeira, executado sob os auspícios do Governo do Estado, por intermédio da Funtac e de parcelas da iniciativa privada. Depois de quatro horas de intenso debate e discussão, chegaram à conclusão de que grande parte daquilo que seria a contrapartida, tanto do Governo do Estado como da própria iniciativa privada, deixou de ser implementado ou deixou de ser cumprido.

Foi prometida a instalação de uma serraria no projeto, para que os seringueiros beneficiassem sua madeira e, com isso, agregassem valor e uma renda um pouco maior. Dessa serraria, eu fui lá e vi pessoalmente - ninguém me falou - estão lá o galpão e os trilhos sentados, e absolutamente nada implementado acerca da sua instalação. As condições de vida das pessoas continuam praticamente inalteradas. Os seringueiros continuam comendo a jacuba. Senador Ribamar Fiquene, eles saem para colher a seringa - muitas árvores ainda produzem borracha naquela região -, levando no bisaco farinha, sal e água. Isso é a jacuba, muitas vezes a alimentação deles.

Autorizaram que fossem retiradas árvores de suas áreas. O contrato estabelecia um preço absurdamente vil, irrisório, e, mesmo assim, até hoje os seringueiros e agricultores que ali estão reclamam que esse preço não foi pago totalmente. Além disso, Sr. Presidente, parte desse pagamento não foi combinada em espécie. Quando o Estado contrata com os grandes empresários, o pagamento é feito em cash, em dinheiro. No entanto, com os pequenininhos - seringueiros e pequenos agricultores -, parte desse pagamento, que, repito, já era um pagamento irrisório, vil, foi contratada na forma da construção de uma casinha de madeira. Peço que os acreanos que estão ouvindo o meu pronunciamento me desmintam se eu estiver incorrendo em imprecisão, mas as casinhas feitas para alguns dos seringueiros contemplados poderiam ser construídas com R$2 mil. Pois bem, como parte do preço pelo pagamento da retirada dessas árvores, essas casas foram entregues aos seringueiros - quatro ou cinco casas, diga-se de passagem, numa comunidade de cerca de cem famílias - por R$14 mil. Então, além de o preço ser vil, parte do preço era mais vil ainda porque convertida em uma obra que poderia custar cinco, seis vezes menos.

Ao final daquela assembléia a que assisti, vi todos, entusiasticamente, levantando os braços e aprovando uma deliberação no sentido de realizarem um ato de protesto, em que tentaram resgatar uma postura assumida pelo ex-líder Chico Mendes, assassinado no meu Estado. Refiro-me à figura do empate. Nas décadas de 70 e de 80, muitos foram para o Acre com boas intenções - diga-se de passagem que muita gente foi lá também para picaretar; era grileiro para dar com pau, era muita gente. Na ocasião, Chico Mendes liderava os seringueiros da região de Xapuri, de Brasiléia, do Alto Acre. Colocavam-se dentro da mata com as famílias e tentavam, pelo menos, impedir a derrubada da floresta.

Mulheres e homens que moram dentro da Floresta do Antimari resolveram realizar o primeiro empate do séc. XXI, como eles chamaram. Infelizmente, por força de uma grande chuva que caiu na região no dia marcado, eles não conseguiram sair para o local onde iam realizar o ato. Mesmo assim, o ato repercutiu, e a população do Acre tomou conhecimento do que está acontecendo em Antimari.

Por que estou trazendo este assunto à baila?

Tenho denunciado deste plenário que o Estado democrático de direito no Acre foi parcialmente suprimido. O atual Governo se perdeu completamente. Originalmente, havia um projeto bonito, do qual me honro de ter feito parte. Fui chefe de gabinete do atual Governador e enxergava de forma entusiasmada tudo o que poderia ser feito no nosso Estado, com uma parceria forte com a parte mais humilde da população.

Não digo que poderíamos viver no paraíso, mas, se essa parceria tivesse sido efetivada, a população do nosso Estado estaria em situação muito melhor do que aquela em que se encontra hoje. Infelizmente, o Governo se desorientou - para não dizer outra coisa - e, talvez, tenha-se encantado com as benesses do poder. Hoje, a qualquer preço, tenta manter esse poder, buscando controlar o Poder Judiciário, o Ministério Público, o Tribunal de Contas da União e a imprensa. No nosso Estado, em grande parte, a imprensa rendeu-se à pressão e à volúpia de poder do atual governante, reproduzindo apenas aquele Governo, aquele Estado virtual que é dado a ela reproduzir.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faço sempre a ressalva de que isso não ocorre de forma integral. Há setores da imprensa acreana com espírito democrático. Em Cruzeiro do Sul, por exemplo, as rádios e as televisões abrem as suas emissoras para o debate democrático. Em Rio Branco, há o jornal O Rio Branco, a TV Rio Branco e um periódico semanal chamado Segunda-Feira, que ainda fazem o contraponto. De resto, Senador Ribamar Fiquene, tenho tristeza no meu coração com relação a isso, pois grande parte da imprensa do meu Estado se rendeu à pressão econômica, inclusive, de um governante que se perdeu, apaixonado pelo poder.

Por sinal, este Governo cobrou-me, inclusive, o mandato. Reconheci sempre, aqui e no meu Estado, que fui eleito no contexto da Frente Popular do Acre, da qual o PT é o carro-chefe. Sempre fui e serei grato às lideranças da Frente Popular, pelo esforço que fizeram no sentido de que eu alcançasse este mandato que exerço no Senado hoje. Mas, no momento em que nos aproximamos de uma posição de ruptura, coloquei, inclusive, o mandato à disposição, Senador Ribamar Fiquene, porque me foi cobrado intensamente: “Este mandato não é seu, este mandato é da Frente Popular”. Cheguei a colocar o mandato à disposição antes de me decidir por uma ruptura, e isso não foi aceito.

Hoje, para que V. Exªs tenham idéia, no meu Estado, há uma campanha sórdida, há uma campanha imunda em torno da figura do Senador Geraldo. O menos que me chamam lá é de traidor, de figura insignificante. Nunca pretendi ser absolutamente nada, mas quero registrar isso nesta Casa. Já que no meu Estado não tenho espaço, em grande parte da imprensa, para me pronunciar, uso o único instrumento que tenho hoje, que é a tribuna desta Casa, à qual tenho orgulho de pertencer, para fazer esse tipo de denúncia.

Creio que esse Governo cometeu uma ingratidão. Foi realizada nesta Casa recentemente uma reunião no gabinete do Senador Aloizio Mercadante, e tentei fazer com que a reunião fosse pública. O Senado autorizou que viesse do Antimari um representante para relatar o que se passava ali, e, ao mesmo tempo, o Governo do Estado patrocinou a vinda de dezenas de pessoas - deputados estaduais, empresários e algumas pessoas que se dizem lideranças no Projeto Antimari.

Para que V. Exªs tenham uma idéia, o presidente da associação mora em Rio Branco, e o Projeto Antimari fica a 70 quilômetros de Rio Branco. Não tenho nada contra o rapaz. A outra representante é uma professora do Estado. São pessoas que têm forte vinculação com o Governo do Estado e que, lastimavelmente, se colocam em situação de subserviência a esse Governo despótico e truculento, que, no dia 7 de setembro, não teve escrúpulo em mandar baixar a borracha em professores e estudantes que se manifestavam livremente na rua contra atos de corrupção tanto do Governo estadual quanto do Governo federal.

E esse Governo comete uma ingratidão comigo, porque, ao puxar a discussão sobre o projeto de gestão de florestas públicas, de certa forma, eu ajudei a tirar o foco de um fato absolutamente preocupante que ocorre em nosso Estado e que vincula o Governo do Estado a atos de improbidade, e de corrupção, inclusive.

Isso não é o Senador Geraldo Mesquita Júnior que está falando: o Tribunal de Contas da União tem, sistematicamente, apontado obras irregulares no meu Estado. Há dois anos, o Tribunal de Contas apontou irregularidades graves na construção do Centro Olímpico, na capital do meu Estado, em Rio Branco. Isso seria suficiente para um governo que se diz popular e democrático tomar medidas radicais no sentido de impedir que tais fatos viessem a ocorrer mais uma vez. No entanto, o Tribunal de Contas da União acaba de entregar ao Congresso Nacional, ao Senado Federal, uma relação de obras irregulares. Desse relatório, constam mais duas grandes obras: a construção de trechos da BR-364, que liga Rio Branco ao extremo do Estado, a Cruzeiro do Sul, e a obra que diz respeito à construção de uma ponte que liga o Brasil aos países vizinhos, Bolívia e Peru, em Assis Brasil.

Além disso, a imprensa, inclusive nacional, divulgou fartamente a ocorrência de um contrato que o Governo do Estado mantém, ou mantinha pelo menos - o Ministério Público, enxergando o tamanho da irregularidade, mandou cancelá-lo -, por muitos anos, com uma agência de publicidade chamada Asa, cujos sócios tinham relações com Marcos Valério. Mas isso não é o pior dos mundos. O pior dos mundos é que esse contrato estava recheado, Senador Mão Santa, de irregularidades, de aditivos que foram firmados em períodos eleitorais e publicados 143 dias depois - um extratozinho pequenino para ver se as pessoas não percebiam. Observa-se que há, no Estado, uma lógica de procedimentos sistemáticos que visa a fazer com que procedimentos licitatórios de obras do Governo do Estado sejam envoltos em gestos que denotam irregularidades, para dizer o mínimo.

Então, creio que este Governo foi, inclusive, ingrato comigo, porque desviei a atenção da população do meu Estado e do País para o que está acontecendo. E não é o Senador Geraldo que está dizendo: é o Tribunal de Contas da União, que aponta graves irregularidades em obras importantes patrocinadas e promovidas pelo atual Governo do Estado.

Concedo o aparte ao Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Quis Deus que eu estivesse lendo um livro, um pensamento de Sócrates, que me levou a uma passagem em que um filósofo de Atenas andava com uma lanterna. Era Diógenes. Toda noite, ele estava com a lanterna nas ruas. “Diógenes, o que você tanto procura?” Ele disse: “Um homem de vergonha”. Eu queria dizer, Senadora Heloísa Helena, que aqui não é Diógenes, mas todo o povo brasileiro que está procurando políticos de vergonha. Lá era só um que procurava, era Diógenes, que era filósofo, pensava que era uma virtude essencial. Aqui, não: é o povo que está procurando políticos de vergonha. Brasileiros e brasileiras, está aí um desses políticos de vergonha, que enriquecem, ainda, e justificam a nossa presença aqui neste plenário, porque V. Exª representa essa esperança de que o bem vai vencer o mal.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Muito obrigado, Senador Mão Santa, mas, olhe, o senhor está ao lado de uma dessas políticas às quais o povo acreano e o povo brasileiro procuram se vincular: a Senadora Heloísa Helena, a quem concedo um aparte.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Senador Geraldo Mesquita Júnior, meu querido e combativo companheiro de tantas lutas, de tantas dores compartilhadas e de tantas alegrias conquistadas também no P-SOL. Sei que nem seria necessário fazer um aparte a V. Exª, até porque estamos juntos na construção do P-SOL. Sei não apenas da dignidade pessoal de V. Exª, mas da coragem que tantas e tantas vezes já demonstrou nesta Casa. Sei que o caminho mais cômodo e sedutor à disposição de V. Exª era o de estar lá, como digo sempre para a raiva de alguns, se lambuzando no banquete farto do poder. Sei que bom é ser base de bajulação, sei que bom é se render ao convescote do capital, sei que isso é o melhor dos mundos. Sei exatamente qual é a dor, Sr. Presidente, de enfrentar a estrutura do poder. Meu Deus do Céu, são tantas cicatrizes na alma, no coração, no corpo e na vida! Apesar das cicatrizes no corpo, na alma e no coração que se traz, sei da importância de não se render e não se ajoelhar covardemente diante daqueles que, volto a repetir, ousam pensar que são donos de nossa cabeça e de nosso coração. Sei das cicatrizes na alma que V. Exª traz, que eu trago e que trazem também tantos outros que estamos na construção do P-SOL, assim como as trazem muitos outros que estão em outras experiências, porque, como digo sempre, a história da esquerda brasileira nem nasceu com o PT nem se encerra com o P-SOL. Sabemos exatamente disso, porque ninguém é proprietário das bandeiras históricas da classe trabalhadora nem das concepções programáticas acumuladas pela esquerda socialista e democrática. Foram muitos os que lutaram. Vivemos lutando no P-SOL até para honrar a memória de tantos outros que lutaram muito antes da existência das construções partidárias que se apresentam como depositárias maiores das aspirações belas e legítimas da classe trabalhadora. Então, V. Exª, que é essencial na construção desse abrigo para a esquerda socialista e democrática, tem a minha solidariedade em relação a tudo o que está acontecendo lá. A propósito de cicatrizes, li em algum lugar, Senador Mão Santa - gostaria de dizer exatamente onde foi para dar mais precisão e reconhecer a autoria dele ou dela em relação a uma frase tão bonita -, que as lágrimas fazem cicatrizes na alma. Completo essa frase tão bonita com outra simples: só tem cicatrizes na alma quem não se acovardou, quem esteve no campo de batalha, quem lutou pelo que acredita. Nossas cicatrizes da alma, temos que ostentar orgulhosamente, não com vaidade imbecil, cretina, porque são um sinal de que não nos curvamos e continuamos lutando pelo que acreditamos. Então, minha solidariedade de sempre e meu testemunho do papel tão importante que V. Exª tem na construção desse pequeno partido que é o P-SOL - humildemente reconhecemos que somos pequenininhos, mas não somos como esses nanicos que viram satélites dos partidos grandes, porque tem partido grande que fala dos nanicos mas os usa.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Somos pequenos com alma grande.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Não somos como esses que funcionam como moeda de troca no jogo eleitoral ou acabam sendo satélites para serem aproveitados pelos grandes partidos. Este partido, pequeno com o coração bem grande, Presidente, na alegria, na combatividade, reconhece-se humildemente pequeno, mas também como uma ferramenta de luta a serviço da classe trabalhadora, a serviço da grande maioria do povo brasileiro. Portanto, a minha solidariedade, o meu carinho. A vida é assim mesmo: às vezes, a gente chora tanto, fica tão triste! Quando vejo as facadas que levei, tanto daqueles que ajudei na construção de estrutura partidária como daqueles do meu Estado, penso: Deus do céu! Às vezes fico vendo aqueles que fazem a política do “mel na boca e bílis no coração” - quando digo isso, Sr. Presidente, o Senador Lobão fica rindo. Não é com ele, claro! O que quero dizer é que tem alguns, no meu Estado e espalhados pelo Brasil, que fazem a política do “mel na boca e bílis no coração”, sorriem e lhe abraçam pela frente e, por trás, a facada. Deus do céu! Essa é a pior. Essa é a que dói no coração, viu, Mão Santa? Sei exatamente o que é isso, porque estou cheia de cicatrizes na alma, inclusive feitas por aqueles que tantas vezes me abraçaram como se fosse com sinceridade, com delicadeza, com ternura, com o abraço dos irmãos da estrutura partidária e que... Pensem quantas facadas tenho nas costas! Então, saúdo V. Exª pelo pronunciamento. Sei da dor, porque a sinto permanentemente, mas deixamos para lá, não guardamos mágoa nem rancor, porque isso até nos faz adoecer. Não é, Dr. Mão Santa? Seguimos a vida com fé em Deus e fé na luta do povo. Todo dia temos que repetir isso: fé em Deus e fé na luta do povo. Assim, podemos agüentar tantas tristezas, tantos cinismos e tantas facadas nas costas que acabamos levando nesse mundo da política. Então, manifesto minha solidariedade e meu carinho, Senador.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Muito obrigado, Senadora Heloísa Helena.

É verdade: essas coisas nos abatem, deixam-nos tristes, amargurados. Mas saiba V. Exª que, ao mesmo tempo em que nos sentimos abatidos, o convívio com pessoas como V. Exª... Aliás, tenho dito sempre que vim para o P-SOL por sua causa, principalmente, por enxergar no P-SOL um instrumento político partidário que poderia estar a serviço das lutas do povo brasileiro, comecei a namorar com o P-SOL desde a observação da figura de um Milton Temer, um companheiro tão querido, ex-deputado de vários mandatos nesta Casa, de uma Luciana Genro, de um Babá, um guerreiro, dessa militância do P-SOL, que, apesar de toda a dificuldade pelas quais passamos e continuamos a passar, não perde a garra, a vontade, o brio e o ânimo de se juntar realmente ao povo brasileiro e de promover neste País grandes transformações.

Então, ao mesmo tempo em que nos abatemos com essas coisas, sentimo-nos atraídos para a luta. O ruim é nos abatermos e nos rendermos. Não é o caso do Senador Geraldo Mesquita, pois jamais vou me render. Essas pessoas não vão conseguir me intimidar. Eu já disse isso, eles sabem disso. É do jogo e eles estão fazendo a parte deles, o jogo deles. Agora, fiquem certos de que não vão me abater, não vão me tirar dessa luta, até por que, enquanto eu estiver ao seu lado, ao lado de tantas pessoas tão queridas do P-SOL, vou-me sentir protegido, fortalecido.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Senador Ribamar Fiquene, agradeço a condescendência pelo tempo.

Quero encerrar meu discurso apenas trazendo um fato que ilustra, primeiro, a falta de argumento dessas pessoas. Quando as pessoas não têm argumento para participar do debate, elas agridem pessoalmente. Estou sendo alvo de agressões pessoais no meu Estado.

Senadora Heloísa Helena, tenho a honra e o privilégio de ter como meu assessor uma pessoa que V. Exª conhece, o Osmarino Amâncio, um seringueiro, um homem simples, um homem do povo, um ex-líder sindical, seringueiro até hoje, que vive numa colocação lá, no Município de Brasiléia, um companheiro valoroso, que foi companheiro de luta do Chico Mendes, que tem participado de lutas históricas no meu Estado.

Como algumas pessoas não têm argumento, resolveram utilizar o fato de ele ser meu assessor para desqualificar a nossa luta. O Osmarino participa da luta de forma legítima. Ele esteve comigo nessa assembléia lá no Antimari e eu, tal a minha responsabilidade num processo desses, recomendei a ele: “Osmarino, não tente conduzir um processo que não é seu! Nós estamos sendo convidados para participar dessa assembléia, de um processo que não é exatamente seu. Então, não tente conduzir!” Eu tive a decência de pedir isso ao companheiro Osmarino. Ele participou da assembléia, como eu, mas o processo era lá dos moradores do Antimari.

Na tentativa de nos desqualificar, de nos agredir, de nos atingir, já que não têm argumentos, usam o fato de Osmarino ser meu assessor, servidor do meu gabinete, para dizer que ele não tem legitimidade para estar ali no meio do povo, no meio dos seringueiros, condição que ele ostenta com orgulho, por sinal.

Então, quero deixar aqui, para encerrar, Senador Ribamar Fiquene, um recado para o povo do meu Estado. O atual governante trouxe e distribuiu para o Senado Federal manifestos, da CUT, de entidades que estão ali, de forma servil, atendendo a seus propósitos, me desqualificando, me destratando. Não tenho nenhum problema com relação a isso. O que me deixou triste foi um manifesto que chegou com assinaturas, supostamente, de pessoas que moram no Antimari. A capacidade e o poder de intimidação do atual Governo do Estado é imenso. Mas quero deixar um pedido, ao povo da minha terra, ao povo do Antimari, ao povo de todo o Acre, para que não se intimide, pois nenhum mal é exercido eternamente neste mundo. Todo mal um dia cessa, Senadora Heloísa Helena, pela força da mobilização popular. Todo mal um dia acaba. As pessoas precisam saber disso. O que está instalado no nosso Estado hoje em dia é uma força poderosa, sim, é uma força que se vale do instrumental público para intimidar as pessoas, para intimidar o cidadão mais comum, para tentar cooptar instituições públicas. Mas os acreanos devem saber o seguinte: não há mal que dure para sempre. Tenho certeza absoluta de que, se o povo acreano não se deixar intimidar por essa força maligna que hoje reina absoluta no nosso Estado, um dia seremos um Acre feliz, próspero, desenvolvido, sim.

Quero finalizar dizendo, Senador, que a minha oposição a esse projeto não é a oposição ao desenvolvimento da minha terra. Quero, sim, desenvolvimento para o meu Estado, assim como para o meu País, mas desde que esse desenvolvimento signifique a participação efetiva dos pequeninos, do povo que está lá numa miséria absoluta no nosso Estado, porque o Governo do Estado do Acre hoje se transformou num governo de patota, um governo que está a serviço de uma patota e que virou as costas para a grande maioria do povo acreano, que está lá numa pobreza absoluta, numa miséria absoluta, vivendo dias difíceis no nosso Acre. Mas amanhã, tenho certeza, esses dias vão se transformar em dias de alegria e de felicidade.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2005 - Página 34605