Pronunciamento de José Jorge em 10/10/2005
Discurso durante a 176ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Análise do comportamento do Presidente Lula diante das denúncias de corrupção em seu Governo, e diante das apurações levadas a cabo pelas CPIs.
- Autor
- José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
- Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
- Análise do comportamento do Presidente Lula diante das denúncias de corrupção em seu Governo, e diante das apurações levadas a cabo pelas CPIs.
- Aparteantes
- Heráclito Fortes.
- Publicação
- Publicação no DSF de 11/10/2005 - Página 34718
- Assunto
- Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, JUSTIFICAÇÃO, CONDUTA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), VINCULAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
- COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRISE, NATUREZA POLITICA, EFEITO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
- REGISTRO, ATUAÇÃO, BANCADA, CONGRESSO NACIONAL, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, EFICACIA, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
- REGISTRO, DENUNCIA, TRAFICO DE INFLUENCIA, IRMÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FAVORECIMENTO, FILHO, JOSE DIRCEU, DEPUTADO FEDERAL.
O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há algumas semanas o Presidente Lula veio a público pedir desculpas à Nação pelos escândalos que envolviam o Partido dos Trabalhadores e o seu Governo e confessar que havia sido traído.
Na última sexta-feira, Sua Excelência reuniu-se com 66 dos 83 integrantes da Bancada petista na Câmara dos Deputados e desculpou os Parlamentares envolvidos nos esquemas de corrupção que assolam o Governo Federal.
Na presença de seis Deputados relacionados pela CPMI dos Correios e da Compra de Votos como beneficiários ou envolvidos no “valerioduto”, o Presidente Lula declarou: “Vocês não são corruptos. Cometeram erros, mas não de corrupção!”.
O que deveria ser uma vergonha para o Governo acabou sendo interpretado por Lula como um motivo de orgulho para o Brasil, que é a realização simultânea de três CPIs que apuram escândalos na máquina estatal, mesmo depois de ter feito tudo, e continuar tentando fazer, para embaraçar ou impedir as Comissões de Investigação.
Lula ainda exortou o restante da Bancada, dizendo: “É preciso ter mais solidariedade, pois todos são construtores do PT e não pessoas que podem nos contagiar com alguma doença.”.
Na ótica do Presidente Lula, existem crimes que merecem ser punidos e outros não, pois reconhece que o Partido usou caixa dois mas não houve corrupção. É difícil entender a lógica do Presidente e seu comportamento dúbio.
No início da crise, dizia: “Tudo deve ser apurado, doa a quem doer”, ou “que deveria cortar na própria carne”. Agora, vem com panos quentes, tentando encobrir o mais escandaloso caso de corrupção da República, que as CPIs, só agora, começam a revelar a origem dos recursos que comprovarão a corrupção do Governo Lula.
Assusta ver o comportamento errático e dúbio do Presidente.
Sr. Presidente, a revista Veja merece ser elogiada pela matéria didática que fez durante a semana. Ela colocou as diversas fases do Presidente no acompanhamento da CPI.
A primeira foi a fase em que dizia: “Crise?! Que crise?”. Dizia que não tinha crise. Depois, veio a fase dois: “Doa a quem doer, nós vamos apurar.”. Mentira! Terceira fase: “Eu fui traído.”. Quarta fase: “Vão ter que me engolir!”. Quinta fase: “Ah, esse Congresso!”. E a sexta fase, a atual: “Era tudo mentira!”.
Na realidade, Sr. Presidente, nos primeiros momentos agiu com indiferença, negando que as denúncias poderiam atingir o seu Governo. Mostrou-se um Presidente omisso e alheio ao dia-a-dia da administração federal.
Na fase seguinte, o Presidente parece acordar e reconhece que existe uma crise e ameaça com investigação rigorosa, mas nos bastidores move céus e terras para evitar a instalação das CPIs.
A terceira fase é quando Lula percebe a dimensão da corrupção e vai à TV dizer que seria vítima de traição de pessoas próximas, mas não diz quem são os traidores, não cita aqueles, Senador Heráclito Fortes, que ele está acusando de traição.
Finalmente, na fase ciclotímica da euforia, o Presidente procura desqualificar os escândalos e tenta abafar as denúncias. Este é o ciclo que vivemos agora. Lula tenta iludir a opinião pública dizendo que as denúncias são inconsistentes e não atingem o seu Governo, são “coisas da Oposição e das elites” para derrubá-lo do poder ou, como disse na semana passada: “O País vive, hoje, uma situação em que as denúncias aparecem e depois não se concretizam, e fica o dito pelo não dito.”.
Ora, Senador Mão Santa, se não existem denúncias concretas, fica no ar a dúvida sobre alguns fatos recentes: o que derrubou o ex-primeiro-ministro José Dirceu? Por que toda a Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores foi rechaçada, inclusive o Sr. Delúbio Soares? Por que os Líderes de Partidos aliados foram afastados? Por que diretores do Banco do Brasil, Furnas, Correios e IRB foram afastados? O que fazia um dirigente estadual do PT quando foi flagrado com os famosos “dólares na cueca”?
Se as denúncias são infundadas, por que tantos membros do Governo já caíram? Até agora, dois Ministros de Estado, nove funcionários do Governo e 14 executivos de estatais foram demitidos. Pela nova lógica palaciana, esses governistas defenestrados deveriam requerer suas reincorporações aos cargos, já que foram afastados sem razões concretas.
Percebe-se, por trás dessa nova estratégia de defesa, o objetivo de levar os petistas envolvidos nos escândalos à renúncia, com a intenção de iludir a opinião pública e livrar o Presidente e seu Partido da responsabilidade pela corrupção.
Ao declarar publicamente sua inocência e garantir legenda para que os que renunciarem possam concorrer no próximo ano pelo PT, a estratégia é criar um novo fato político. O Presidente estaria argumentando que a saída dos Parlamentares aliviaria a crise, à semelhança do que aconteceu com o presidente do PT, José Genoíno, que sumiu dos noticiários depois de deixar a direção do Partido.
Mais uma vez, nas suas maquinações ilusionistas, o Governo deixa de lado os Partidos aliados. O Presidente defendeu, publicamente, a companheirada do PT, mas deixa os Parlamentares dos outros Partidos - PP, PL e PMDB - envolvidos nas mesmas denúncias sem qualquer tipo de proteção, e estes acabarão levando sozinhos todo o ônus das maracutaias promovidas pelo Governo Federal.
Enquanto isso, novas denúncias deverão surgir na medida em que as CPIs avançam sobre os dados já coletados. As duas mais recentes envolvem um irmão do Presidente Lula, suspeito de traficar influência, e o filho do ex-Ministro José Dirceu, sendo beneficiado pelo Governo Federal.
Enquanto isso, o Presidente Lula se agarra ao único argumento que ainda lhe resta: o relativo sucesso da economia nacional, que vem sendo influenciado pelo crescimento econômico que vive o mundo e pela continuidade das bases estabelecidas no Governo anterior.
Ao concluir, eu gostaria de reafirmar as palavras do Líder Arthur Virgílio e de dizer que a Oposição não vai deixar que os escândalos se transformem em uma grande pizza. Se as pressões governistas prejudicarem o resultado de alguma CPI, garantiremos aqui no Senado a criação de tantas Comissões quantas forem necessárias.
O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?
O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não, concedo o aparte ao Senador Heráclito Fortes.
O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador José Jorge, já não sei mais de nada. Não sei se a arte imita a vida ou se a vida imita a arte. Eis que aparece o Vavá, o tio Vavá, famoso. Nós tínhamos um tio Vavá, que, até bem pouco tempo, encantava todos os brasileiros fazendo trapalhadas exclusivas na área de turismo: a famosa “Vavá Tur”. Era uma figura muito bem representada pelo insuperável ator Luiz Gustavo, que fez a alegria de muitos brasileiros. Agora, vem o novo Vavá. Este, sofisticado, montou dois escritórios da “Vavá Tur”, a matriz e a filial, naturalmente porque a matriz ficou pequena, e é próprio da atividade privada expandir, por meio de filiais, negócios lucrativos. Imagine V. Exª se o jornalismo brasileiro e esta Casa não fossem atentos! Daqui a seis ou oito meses, haveria Vavá Tur pelo Brasil inteiro, e não há nada demais, ninguém sabe, ninguém viu, é tudo normal. Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, está na hora de se dar um basta. Aqui já se quis crucificar... O PT quis crucificar, num passado recente, filho de Presidente da República, genro de Presidente da República, amigo de Presidente da República, por menos do que isso. Agora tudo pode. Não quero nem discutir a figura do Sr. Vavá, porque a entrevista e a declaração que ele dá é a de um homem de pureza franciscana, embora o franciscano seja outro, o Frei. Sr. Presidente, o Presidente Jimmy Carter se envolveu em graves dissabores quando presidiu os Estados Unidos por causa de um irmão que resolveu fazer lobby de cervejaria e que, na época do lançamento da cerveja em lata, se fantasiou com aquele lacrezinho da cerveja, aquela modalidade recém-lançada como inovação na época. É preciso que o Presidente Lula dê um basta. Aliás, meu avô já dizia que “para homem público, parente só presta longe da gente”. E aí está, não toma providências, Senador Cristovam, dá no que dá! Se não pune o primeiro, o segundo se sente no direito de repetir. Quero encerrar, lamentando tudo isso e dizendo, Senador José Jorge: sai de baixo!
O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Realmente, Senador Heráclito Fortes, o aparte de V. Exª foi exatamente na linha do que citamos. Houve o caso do filho do Presidente Lula. Como providências não foram tomadas, aparece o do irmão, e certamente vão aparecer outros.
Sr. Presidente, quero encerrar dizendo que considerei o fato mais grave deste final de semana o Presidente Lula reunir toda essa Bancada do PT para montar uma estratégia, para que os Deputados renunciem aos seus mandatos. Penso que renunciar ou não é uma decisão individual de cada Deputado, que cada um deve fazer de acordo com a sua consciência. O Presidente da República sair do seu lugar para coordenar uma renúncia em massa dos Deputados que estão sendo atingidos pelas CPIs, Senadores Heráclito Fortes, José Agripino e Cristovam Buarque, foi o máximo a que o Presidente Lula chegou nas inconseqüências com suas atitudes!
Muito obrigado.