Discurso durante a 178ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Denúncia publicada na revista Veja contra o irmão do presidente Lula, Sr. Vavá. (como Líder)

Autor
Demóstenes Torres (PFL - Partido da Frente Liberal/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Denúncia publicada na revista Veja contra o irmão do presidente Lula, Sr. Vavá. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2005 - Página 34923
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AVALIAÇÃO, HISTORIA, CORRUPÇÃO, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DENUNCIA, IMPUNIDADE, MEMBROS.
  • ANALISE, CRISE, POLITICA NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, NEPOTISMO, CORRUPÇÃO, TRAFICO DE INFLUENCIA, PARENTE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, OMISSÃO, PROVIDENCIA.
  • OPOSIÇÃO, PROJETO, TRANSPOSIÇÃO, AGUA, RIO SÃO FRANCISCO, MOTIVO, INCOMPETENCIA, GOVERNO FEDERAL, RESPONSABILIDADE, OBRA PUBLICA.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO. Pela Liderança do PFL.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, “tinha gente de todo lugar no pagode do Vavá”. (Paulinho da Viola)

            Eu passei o fim de semana preocupado. Não houve momento apreensivo nem de estupor, mas de uma preocupação responsável, o que me conduziu a fazer uma reflexão, como diriam os petistas nos tempos das assembléias revolucionárias. Para entender a apoplexia do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, diante da diversidade do escândalo, a mim se tornou urgente me localizar nas inúmeras singularidades da crise. Encerrei o recolhimento passageiro na pena de Álvaro de Campos, especialmente no “Poema em linha reta”. A cada estrofe, o heterônomo de Fernando Pessoa se reconhece parvo, grotesco, ridículo, arrogante, desonesto, covarde e farto dos semideuses. Ao final do último verso há uma construção espetacular do poeta português, a qual o Presidente Lula deveria pronunciar pelo menos uma vez antes de dormir. Ao primeiro da hierarquia, inclusive, deveria ser concedido o direito à expansão física na solidão das madrugadas tórridas do seu penúltimo outubro para que pudesse se reconhecer em Álvaro de Campos e finalmente declarar: “Eu, que venho sido vil, literalmente vil. Vil no sentido mesquinho e infame da vileza”. Eu sei que é uma inutilidade apelar à Literatura. O Presidente não é leitor. Se resiste às letras, onde estará a resposta para tão babilônico desvio político?

A crise provocada pela emersão do sistema corruptor engendrado relevou que o Governo Lula, antes mesmo da posse, já partira para exaurir todas as possibilidades do ganho ilegal. O PT fez de tudo em matéria de corrupção. Para capitalizar os milhões das verbas publicitárias e do sangramento das licitações ordinárias, ingressou no universo sofisticado e restrito dos paraísos fiscais. Enquanto isso, dava fluxo ao mensalão por intermédio do tráfico de malas de dinheiro, uma prática corriqueira do século passado devidamente renovada no terceiro milênio. A “cena um” do escândalo, quando se operou a tradição da propina ao funcionário dos Correios, vai ficar impagável na memória do brasileiro. Para impedir a instalação da CPMI da Corrupção, muito pronunciamento foi realizado no sentido de que seria um absurdo traumatizar as tais instituições por conta de um flagrante de R$3 mil. A apropriação do numerário, realmente, não era nada comparada aos bilhões movimentados pelo pacto criminoso estabelecido nas vísceras do PT, mas se converteu em tema de um trailler extraordinário, que já teve uma ex-secretária que praticou a delação apaixonada e ensaiou posar nua para uma revista masculina e os tais dólares na cueca, um caso realmente singular de corrupção em estado cômico.

O filme começou com o Sr. Maurício Marinho. Em fração de segundos, ele conferiu o valor concedido para, ato imediato, embolsar a sinecura e trazer à cena do crime o Deputado Roberto Jefferson. Enquanto durou o personagem que cantava o repertório dos Três Tenores, com recaídas nacionalistas em “Caçador de Mim”, o primeiro Deputado cassado expôs a profundidade do mal que o PT fez ao Brasil. Por ter promovido a delação privilegiada, o ex-Deputado obteve reconhecimento público de patriota, fez palestras e concedeu autógrafos para, finalmente, imergir de forma melancólica.

Nas cenas da derrocada que se seguiu à grande comilança, ministros despencaram do panteão e dezenas de dirigentes de estatais perderam o assento. Um Deputado foi cassado, três renunciaram e ficou para a próxima semana o Dia “D” da vergonhosa desistência do mandato para 13 Parlamentares. O PT ruiu, perdeu a estrela, desceu ao limbo, roubou o País, traiu o trabalhador, assaltou os fundos de pensão, furtou recursos destinados a comprar medicamentos de hemofílicos, mas não se emendou. Até agora, nada foi apurado no âmbito partidário, ninguém foi punido, e a luta continuou com a aquisição, em plena crise, do mandato do Presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo. Houve um momento em que o filme caiu na alegria das comédias românticas com o ensaio de um “abafou geral”, mas o sangramento do Presidente, as ramificações do valerioduto, a conexão dos esquemas contemporâneos aos pecados pretéritos das administrações locais do PT e a atuação desastrada de um certo Severino renovaram os ingredientes da trama. Até um homem, tido como da maior qualidade moral, o Ministro Antonio Palocci, foi tragado ao centro do escândalo. Ainda é um mistério, mas a CPI dos Bingos poderá fazer o retrato falado dos verdadeiros executores de Celso Daniel. O caso do ex-Prefeito de Santo André poderá conduzir muitos personagens da crise ao cenário do Tribunal do Júri, daí o extraordinário apego de alguns ao mandato parlamentar.

Srªs e Srs. Senadores, uma das grandes singularidades da crise mora no caráter misto dos acontecimentos. O PT conseguiu, em uma obra de estelionato administrativo, a proeza de engrenar o nepotismo à corrupção - um vale-tudo do berço à cozinha do Presidente. O caso do favorecimento ilegal da Telemar ao filho do Presidente Lula é o primeiro exemplo. Fosse outro pai, teria obrigado a devolução do benefício ilegal, pediria desculpas ao País e mandaria apurar as responsabilidades. Lula preferiu permanecer como estava. Nada soube! Nada viu! Tampouco se interessou a que ofício se dedicava ultimamente o irmão mais velho. Ante a omissão do Presidente, Genival Lula da Silva, o Vavá, decidiu que chegara a hora de ver qual era a gleba que lhe caberia neste latifúndio. O bonachão ex-metalúrgico descobriu as benemerências da atividade lobista e foi à caça testar o potencial de cafajeste de pornochanchada.

De paletó e gravata, montou escritório para intermediar influência em Brasília. Conforme declarou à revista Veja, ainda não recebeu nada, mas tem certa a chegada da caixinha. Do que realmente debocha o Presidente Lula, quando deveria explicar ao Brasil os negócios de família? Deveria elucidar, definitivamente, como é que o “faz-tudo” para os Lula da Silva, o Sr. Paulo Okamotto, pagou uma dívida do Presidente Lula de R$29 mil com o PT. Como era muito amigo do ex-Ministro José Dirceu, deveria chamar o ex-auxiliar às falas e repreendê-lo, por ter permitido que o seu filho, José Carlos Becker de Oliveira, praticasse uma derrama de irregularidades no Governo Federal para beneficiar seu curral eleitoral. Com toda certeza, a população de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, deve estar esperando uma explicação do Presidente Lula com especial atenção, pois foi vítima de fraude política.

Sr. Presidente, mesmo sem se dar conta da natureza da teologia, ontem Lula aproveitou a ocasião, em Niterói, para redefinir a consagração da Santíssima Trindade. Em tom de deboche, afirmou que Deus é brasileiro, metalúrgico e carioca, ou seja, Senador Mão Santa, Lula tem pelo menos duas particularidades do Altíssimo. No mesmo pronunciamento, valeu-se das comparações extracampo das suas teorias de futebol para acabar no terreno do Vodu. Para Lula, a Oposição lança urucubacas em seu Governo. O Presidente deveria encomendar uma novena para setores oposicionistas. Se ainda tem palanque é porque as oposições avaliaram mal o momento de pedir impedimento de Lula. O Presidente da República precisa diminuir os excessos dominicais. Agora, toda segunda-feira, especialmente após o jogo do Brasil, tem ladainha. O bate-fundo da perseguição das elites tem motivação de véspera. A Oposição faz o papel de fiscalizar o Governo e tem a obrigação de verificar qualquer ato suspeito patrocinado pelo PT.

Não vou ingressar no mérito, Sr. Presidente, da transposição do rio São Francisco, pois são inúmeras as lacunas do projeto. No entanto, considero altamente inoportuno o início das obras, uma vez que o Governo Lula não tem autoridade, sequer moral, para executar um empreendimento dessa natureza. O Brasil não suporta mais o acinte do elefante branco. Nesta altura da crise, mesmo que o nosso querido Paulinho da Viola não goste, é mal menor se o Presidente se acabar como no pagode do Vavá. É preferível e mais econômico para o País do que Lula tocar em frente o delírio de faraó.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2005 - Página 34923