Discurso durante a 178ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem às crianças e aos professores.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Homenagem às crianças e aos professores.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2005 - Página 34931
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, CRIANÇA, PROFESSOR, SAUDAÇÃO, PRESENÇA, PREFEITO, ESTADO DE RONDONIA (RO).
  • ANALISE, OBJETIVO, EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO, CIDADANIA, BUSCA, BEM ESTAR SOCIAL, CRITICA, QUALIDADE, ENSINO, ATUAÇÃO, DEFESA, CONSCIENTIZAÇÃO, PROFESSOR, ESTUDO, NECESSIDADE, ATENDIMENTO, CRIANÇA, ADOLESCENTE.

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado pela generosidade, nobre Presidente Magno Malta.

Neste dia em que se avizinha a comemoração, em todo o Brasil, do Dia da Criança e, logo em seguida, no próximo dia 15, do Dia do Professor, presto homenagem, primeiramente, às crianças e aos professores do meu Estado, que podem ser representados pela prefeita reeleita do meu Partido, o PMDB, Prefeita Sueli Aragão, do Município de Cacoal, presente nesta sessão. Gostaria também de homenageá-la, ela que é administradora de empresas, mas professora por formação. Portanto, nossa homenagem aos professores e professoras, bem como às crianças de Cacoal e de Rondônia.

Agradeço também a presença do Prefeito Hélio Machado de Assis, da cidade de Costa Marques, no meu Estado também; S. Exª é prefeito do PMDB já pelo segundo mandato. Nossos agradecimentos também ao Vereador Amauri, também da cidade de Costa Marques.

Na pessoa da Deputada Federal Marinha Raupp, minha esposa, professora também, que está aqui presente, na pessoa da Senadora Heloísa Helena, quero homenagear todas as professoras e professores do Brasil.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ser professor ainda é apenas uma função técnica, ser educador vai além. A escola que trabalha voltada para o conteúdo, onde cada professor pensa que sua obrigação maior é “dar o programa”, precisa reestudar a sua função. Temos de nos convencer de que a base do compromisso educacional é o “objetivo”, e não a “matéria”, pois não basta a escola sem um simples difusor do conhecimentos. Ensinar a ler, a contar, a conhecer a geografia, a história, as ciências é sem dúvida tarefa meritória. Mas a vida moderna exige da escola muito mais: ela tem de levar o aluno a pensar, a contextualizar, a analisar comparativamente, a quebrar preconceitos, a buscar soluções gradativas para problemas que afetam a sua comunidade.

Enfim, a escola tem também a nobre função de formar cidadãos, e, para isso, é necessário transformar o pessoal docente de instrutores em educadores. Mas essa é uma proposta repetida inúmeras vezes em cursos e palestras a que eventualmente assistimos.

O importante é como conseguir isso.

A escola e o professor, em particular, têm uma responsabilidade extraordinária na formação do adolescente, no aperfeiçoamento da pessoa como ser integral. Esse aperfeiçoamento deve embasar-se em uma filosofia de vida indispensável à formação do ser humano. É o homem em condições de zelar pela sua dignidade individual perante a coletividade; é o ser ajustado à família, à comunidade de vivência, ao trabalho, às instituições, ao respeito aos demais indivíduos; é a pessoa cultivada para servir ao próximo, sem preconceitos de qualquer natureza, visando ao aprimoramento individual, coletivo, universal, etc.

Segundo o Professor Eustáquio Lagoeiro Castello Branco, os parágrafos acima mostram, em resumo, quais seriam os objetivos da educação ou as finalidades legais da educação contidas nos documentos oficiais. Mas a realidade do texto legal não corresponde à realidade das nossas escolas. Uma análise, por mais superficial que seja, não pode fugir a uma constatação de imediato: o professor e as escolas, de modo geral, ainda não colocaram o aluno no centro de seus interesses, procurando, de forma compatível com aquelas finalidades, atender às verdadeiras necessidades da adolescência e do ser humano.

Nossas escolas oscilam entre dois campos gravitacionais (e os professores devem, ou é aconselhável, seguir essa orientação): o conteúdo e o documento. Umas vivem em função do conteúdo: é necessário “dar a matéria”, “cumprir o programa”, mesmo que os alunos não os acompanhem. Nessas, os índices de reprovação são elevados, o que se constitui motivo de glória e de qualificação do estabelecimento. Outras, talvez a maioria, vivem em função do documento. É preciso ter documentos para arquivar ou apresentar à inspeção. A realidade e o valor do que consta no documento é de segunda importância. Cumpridos os dias letivos, o número de disciplinas de cada série, provas realizadas, certidões anotadas, pagamentos em dia, tudo foi perfeito. Para o aluno, essa escola dá uma lição imediata: a questão é estar documentado e, para ele, documento é “nota de aprovação”. Tudo então se resume na campanha para obtenção da nota de aprovação - isso com aplausos docente, familiar e social.

Algumas escolas “inovam inteligentemente”, chamando a nota de “conceito”. Há até as que inventaram um processo de tirar média de conceitos! E o pior: para se chegar a essas “brilhantes” conclusões, vêm aí “reuniões pedagógicas” eivadas de “nobres”, “brilhantes” e “maravilhosas” opiniões e conclusões, verdadeiras pérolas da intelectualidade pedagógica.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é necessária uma mobilização ou conscientização do docente para o seu papel de educador e não de instrutor de conteúdo. É necessário que reflitam sua vivência para que possam atender às reais necessidades de sua clientela, ou seja, da criança, do jovem, do adolescente. Quais seriam essas necessidades? Seriam elas hoje idênticas às de gerações passadas? Podemos apontar algumas.

A aceitação social: os adolescentes precisam encontrar maior aceitação social, têm permanente preocupação de evitar as acusações dos maiores. Até que ponto são eles os responsáveis pelos fatos em que se envolvem? O pertencer a um grupo, fazer parte de um grupo, é uma necessidade imperiosa, mas como ser aceito pelo grupo? As atividades escolares precisam cuidar atentamente disto: preparar o aluno para que ele saída escolher e participar ativa e construtivamente de seus grupos de trabalho e de lazer.

A afeição: os adolescentes, na instabilidade biopsicológica que os caracteriza, necessitam freqüentemente de afeição. O tratamento distante e padronizado provoca acúmulo de descontentamento e juízos deformados. Tal fato ocorre na família também, provocando demonstrações aparentemente ridículas de adolescentes que procuram mostrar o oposto, isto é, que são auto-suficientes e não precisam da simpatia e amizade de parentes e professores. A escola, dentro daquelas finalidades, não pode alhear-se ao problema.

A responsabilidade: os adolescentes gostam de assumir responsabilidades e de serem considerados responsáveis. A escola que dá “matéria” e “notas” para cada classe não toma conhecimento de cada aluno. Mesmo quando exige uma responsabilidade dos alunos, não se apresenta de forma compatível com a necessidade dos adolescentes; é responsabilidade imposta, não aceita.

Outras necessidades poderão ser facilmente levantadas por uma escola que tenha o espírito de pesquisa. Associando as finalidades da educação com o atendimento das necessidades da adolescência por meio do emprego de disciplinas e práticas educativas no seu exato sentido, as escolas têm elementos para realizar excelente ação educativa.

Segundo Rubem Alves, os educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma “estória” a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os ligam aos alunos, sendo que cada aluno é uma entidade sui generis, portador de um nome, também de uma “estória”, sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo para acontecer nesse espaço invisível e denso, que se estabelece a dois.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Valdir Raupp.

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) - Pois não, nobre Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Desde a manhã, esta Casa homenageia os educadores e as crianças. Sem dúvida alguma, o seu pronunciamento é o mais profundo. Acho que deve ser convertido em livro. Sendo assim, eu queria - não é uma inspiração minha - que V. Exª aproveitasse algo para o que pode se tornar um dos mais profundos livros sobre educação. Segundo Albert Einstein, em seu livro Escritos da Maturidade, educação é o que fica quando esquecemos tudo aquilo que aprendemos na escola; é a disciplina, a capacidade de decidir entre o bem e o mal, o pensar, o raciocinar, o pesquisar, o saber estudar. E, para enriquecer sua obra, uma mensagem lá do Piauí. Na ditadura Vargas, um médico foi nomeado interventor do Estado e, por dez anos, dez meses e seis dias, ele dirigiu o Piauí. Trata-se de médico pneumologista famoso: Leônidas de Castro Melo. Famoso administrador, chegou ao Senado da República e era professor. No seu livro, ele disse que, de tudo o que ele foi, o mais importante, o que ele gostava de ser, era professor. Essa é uma homenagem de Leônidas Melo, quem mais tempo governou o Estado do Piauí.

O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) - Muito obrigado, nobre Senador Mão Santa. Incorporo o seu aparte ao meu pronunciamento. Quem sabe, um dia, poderemos, juntos, escrever esse livro?

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, além de homenagear os nobres professores/educadores brasileiros, não posso deixar de lembrar o Dia das Crianças, que comemoraremos amanhã. Elas são o símbolo dos sonhos e da esperança deste Brasil imenso. É nas nossas crianças que depositamos todas as nossas esperanças.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2005 - Página 34931