Discurso durante a 177ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração ao "Dia do Professor" e ao "Dia da Criança".

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Comemoração ao "Dia do Professor" e ao "Dia da Criança".
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2005 - Página 34774
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, CRIANÇA, PROFESSOR.
  • APOIO, MANIFESTO, SENADOR, DEFESA, EDUCAÇÃO, LEITURA, TRECHO, CONCLAMAÇÃO, PACTO, GOVERNO, SOCIEDADE CIVIL, CUMPRIMENTO, PLANO NACIONAL, EDUCAÇÃO BASICA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, TEXTO, REPRESENTANTE, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), DETALHAMENTO, PROGRAMA, GOVERNO.
  • IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, PROFESSOR, MAGISTERIO, LEITURA, OBRA LITERARIA, HOMENAGEM, PAULO FREIRE, PEDAGOGO.

A SRª IDELI SALVATI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, membros da Mesa, Dr. Jorge Werthein, Embaixador da Unesco, nesta sessão homenageado pelos inestimáveis serviços prestados à educação do nosso País, de forma muito especial e carinhosa, como sempre, não poderia deixar de, ao cumprimentar todos os que se fazem presentes neste quase início da tarde de terça-feira, saudar a iniciativa do Senador Aloizio Mercadante de propor esta sessão em homenagem ao Dia das Crianças e ao Dia do Professor. Nós o fazemos de forma marcante, juntamente com outros Senadores e com o apoio integral de todos os membros desta Casa, aproveitando para lançar um Manifesto do qual lerei o trecho que considero mais forte e o motivo central de realizarmos esta sessão que, por si só, por homenagear as crianças e os professores, teria plena razão de existir, mas será marcada pelo Manifesto dos Senadores em defesa da educação.

O trecho que eu faço questão de ressaltar é o seguinte:

Governo e educadores, instituições e sistemas de ensino, políticos, lideranças de todos os setores, só um pacto nacional pela educação básica, fomentado por uma consciência engajada na sociedade civil, poderá mobilizar todos, exigindo o cumprimento das metas acordadas” (em tantos acordos, em tantas conferências, mas, fundamentalmente, no Plano Nacional de Educação do nosso País). “Se quisermos associar democracia e modernidade ou o país como um todo toma a decisão de priorizar a educação como tarefa inadiável, ou não nos incluiremos na velocidade transformadora da História”.

Essa é, do meu ponto de vista, a síntese desse Manifesto, o apelo, o chamamento, a meta daquilo que estamos nos propondo ao lançá-lo. Exatamente essa conclamação a todos os agentes que têm responsabilidade, nas esferas onde atuam, de colocar este País sob a ótica da mola transformadora da História, que só acontece a partir da educação. Não existe outra mola transformadora com o potencial que tem o processo educativo.

Como disse o Senador Ramez Tebet, também não sou da Unicamp nem da Universidade de Brasília, mas sou professora da rede estadual de ensino. Atuei em Curitiba, em Joinville, em Florianópolis, nas escolas de periferia, junto às populações mais carentes. E é exatamente lá, atuando na educação básica, no ensino fundamental, no ensino médio que entendemos a necessidade de termos a educação como essa mola propulsora para produzir as transformações profundas que este País tanto exige.

Eu não gostaria, neste discurso - e até como professora de matemática talvez para mim fosse muito simples e muito fácil -, de ficar aqui citando estatísticas, fazendo comparações numéricas, apontando as deficiências, todas as situações que os números normalmente apresentam de forma muito contundente. Mas os números, apesar da contundência, não nos mostram o que pode mover as pessoas a abraçar a causa da educação.

Eu também não queria aqui deixar de mencionar esforços significativos que o País vem desenvolvendo no sentido de fazer com que a educação seja efetivamente a mola propulsora da transformação da nossa sociedade e da emancipação de cada um dos brasileiros que estão ainda amargando situações de exclusão social tão trágicas.

Não vou aqui me deter, até porque vou pedir, Sr. Presidente, que seja considerado lido na íntegra um texto do Dr. Francisco das Chagas Fernandes, que, nesta Mesa, está representando o Ministério da Educação. Ele reporta os esforços desenvolvidos pelo Ministério da Educação - que teve à frente nosso querido companheiro Cristovam Buarque, depois Tarso Genro e atualmente, o Fernando Haddad -, todas as iniciativas adotadas, que vão desde programas que complementam o esforço educacional, como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, o da Bolsa Escola, o do transporte escolar, do Programa Nacional de Alimentação Escolar, o Programa Nacional do Livro Didático, que está se estendendo agora também para o ensino médio, como a alimentação escolar se estendeu para a educação infantil. Toda essa iniciativa maravilhosa que precisamos coroar agora com a aprovação da transformação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) em Fundo de Manutenção de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb); todas as iniciativas no sentido de termos uma formação permanente de nossos professores, capacitando-os, dando-lhes condições para que possam efetivamente desenvolver um trabalho adequado em sala de aula; todas as iniciativas de integrar toda a educação básica com o ensino universitário, o Programa Universidade para Todos (Prouni), o Programa Nacional de Incentivo à Formação Continuada de Professores de Ensino Médio (Pro-Ifem); essas iniciativas estão aqui, e não quero me deter nisso porque todos esses esforços ainda não são suficientes para termos a educação colocada no patamar necessário de prioridade de todos, para que tenhamos efetivamente o desenvolvimento.

Teríamos também muitos números, muitos índices para relacionar o quanto um ano ou mais na média de escolaridade traz resultados impressionantes em termos de desenvolvimento do Produto Interno Bruto, das condições de saúde, da produtividade dos trabalhadores. Não quero falar de matemática, não quero falar de números, não quero trazer aqui para este discurso a relação numérica fria. Quero trazer a emoção de ensinar e aprender, porque é a emoção mais impagável que existe - e é impagável inclusive pelos baixos salários, porque, infelizmente, os professores brasileiros, em todos os níveis, em todas as áreas, recebem salários muito aquém do trabalho maravilhoso que desenvolvem. Mas esta emoção de ensinar e aprender, se for absorvida pelo que estamos fazendo hoje no lançamento deste manifesto em prol da educação, com este pacto a ser desenvolvido pela sociedade, se nós incorporarmos a emoção do ato de ensinar e o brilho dos olhos, aquela emoção, aquele apropriar-se, tornar-se dono, tornar-se proprietário de um conhecimento que permite transformar, se conseguirmos colocar esta emoção no lançamento deste manifesto, com certeza, vamos ter a educação colocada no patamar transformador que ela tem.

Quero contribuir com esta emoção terminando este meu pronunciamento com um dos poemas mais lindos, que trata exatamente da emoção de ensinar e aprender. É um poema do nosso maravilhoso Thiago de Mello, dedicado ao educador-mor deste País, que é Paulo Freire:

Canção dos Fonemas da Alegria.

Peço licença para algumas coisas.

Primeiramente, para desfraldar

este canto de amor publicamente.

Sucede que só sei dizer amor

quando reparto o ramo azul de estrelas

que em meu peito floresce de menino.

Peço licença para soletrar,

no alfabeto do sol pernambucano

a palavra ti-jo-lo, por exemplo,

e poder ver que dentro dela vivem

paredes, aconchegos e janelas

e descobrir que todos os fonemas

são mágicos sinais que vão se abrindo

constelação de girassóis girando

em círculos de amor que de repente

estalam como flor no chão da casa.

Às vezes nem há casa: é só o chão.

Mas sobre o chão quem reina agora é um homem

diferente, que acaba de nascer:

porque unindo pedaços de palavras

aos poucos vai unindo argila e orvalho,

tristeza e pão, cambão e beija-flor,

e acaba por unir a própria vida

no seu peito partida e repartida

quando afinal descobre num clarão

que o mundo é seu também, que o seu trabalho

não é a pena que paga por ser homem,

mas um modo de amar - e de ajudar

o mundo a ser melhor.

Peço licença para avisar que, ao gosto de Jesus,

este homem renascido é um homem novo:

ele atravessa os campos espalhando a boa-nova,

e chama os companheiros

a pelejar no limpo, fronte a fronte,

contra o bicho de quatrocentos anos,

mas cujo fel espesso não resiste

a quarenta horas de total ternura.

Peço licença para terminar

soletrando a canção de rebeldia

que existe nos fonemas da alegria:

canção de amor geral que eu vi crescer

nos olhos do homem que aprendeu a ler.

Sr. Presidente, solicito a V. Exª que mande publicar na íntegra o meu pronunciamento.

Muito obrigada.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DA SRª SENADORA IDELI SALVATTI.

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2005 - Página 34774