Discurso durante a 177ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração ao "Dia do Professor" e ao "Dia da Criança".

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Comemoração ao "Dia do Professor" e ao "Dia da Criança".
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/2005 - Página 34790
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, CRIANÇA, PROFESSOR, APOIO, MANIFESTO, SENADOR, DEFESA, EDUCAÇÃO.
  • DEPOIMENTO, VIDA, ORADOR, CONJUGE, EXERCICIO, MAGISTERIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, PROFESSOR.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente; Senador Renan Calheiros; Senador Aloizio Mercadante; Senador José Jorge; Dr. Jorge Werthein, que representa a Unesco, que tanto serviço tem prestado à criança não só do Brasil como também de todo o mundo, importante vitalizador das futuras gerações, nossos agradecimentos a V. Sª por tudo que representa; Srª Vandercy Antônia, nobre Secretária de Educação do Distrito Federal; Sr. Francisco das Chagas, Secretário de Educação Básica do MEC; e os alunos do Colégio Sigma, que infelizmente se retiraram;

Aqui ouvimos com muito prazer, Presidente Renan Calheiros, o seu pronunciamento, uma reprodução da atualidade da questão da infância e do ensino em nosso País. Com ele V. Exª abriu esta cerimônia tão importante e histórica, que ficará para sempre nos Anais do Senado e, principalmente, no coração de todos nós.

O Dr. Aloizio Mercadante também, ao usar da palavra, fez uma análise do projeto desse manifesto, que, com muito carinho e atenção, li mais de uma vez. Senador Aloizio Mercadante, sei que V. Exª, o Senador José Jorge e os membros da Unesco elaboraram esse documento com todo carinho objetivando que realmente se busque, pelo cumprimento do que ele prediz em todos os seus itens, melhorias para a infância e para a educação. Ele é um compromisso moral assinado por todos os Senadores. Não há reversão porque a assinatura confirma o texto.

O Senador Cristovam Buarque, professor emérito, ex-reitor da Universidade de Brasília, foi meu chefe no Ministério da Justiça e o conheço bem: é um homem dedicado à área de ensino.

A Senadora Ideli Salvatti fez um belo pronunciamento e nos emocionou com o poema que leu.

O Senador Mozarildo Cavalcanti fez referência inclusive à visita que fez a Cuba.

Eu, por uma singeleza da Drª Cláudia, tendo em vista que nosso Líder, José Agripino, ainda não havia designado alguém para usar da palavra em nome do PFL, por amabilidade, S. Exª me concedeu a oportunidade de ocupar a tribuna para falar em nome do PFL.

Senador José Jorge, eu gostaria de lembrar que, mais do que ninguém dentro do PFL, V. Exª é a pessoa indicada para discutir todo e qualquer assunto relativo à educação. Acompanhei de perto suas manifestações, às vezes críticas, na Comissão de Educação, sobre projetos que lá são apresentados, Presidente Renan Calheiros. O Senador José Jorge é profundo conhecedor da legislação e de tudo aquilo que diz respeito à formação futura dos nossos jovens. Agora mesmo recebi seu livro atualizado sobre a educação.

Eu não sabia o que falar sobre a criança e a educação. Será que poderíamos voltar no tempo e conhecer um pouquinho da nossa história? Cada um de nós tem uma história de vida na infância, na adolescência e na fase de adulto.

Eu consultei àquela jovem que está ali sobre se ficaria triste ou desafiador eu contar a minha própria história e a da minha mulher, Senador Renan. Eu fiquei pensando aqui, com muita emoção, na historinha de uma professora. Falou-se muito aqui daquelas professoras que foram para o interior para ensinar as crianças que não tiveram a sorte de ir para as capitais. Minha mulher trabalhou como professora em Martinópolis, uma cidade que fica bem no interior de São Paulo. Já se vão alguns anos! Minha mulher é jovem para mim, amada por mim, mas tem alguns anos nas costa. Ela foi professora rural do Estado, em Martinópolis. Morava numa fazenda e nos finais de semana se deslocava com a irmã, que era professora em outra fazenda, para Presidente Prudente, onde passavam o sábado e o domingo, para poderem se divertir. As grandes autoridades, Senador Renan Calheiros, à época que lá se vai, eram o juiz, o delegado de polícia e a professora, que hoje perdeu praticamente essa condição maravilhosa de ser uma das principais autoridades da cidade. A Senadora Emília Fernandes pode confirmar isso, porque também foi professora no Rio Grande do Sul, lecionou numa fazenda. À época, contavam-se pontos para se fazer a escolha de remoção - não era assim, Senadora Emília?

Eu ainda era solteiro. Fui namorar. Peguei um trem na Sorocabana, fiquei quase vinte horas dentro dele até chegar a Presidente Prudente e encontrá-la. A primeira coisa que fiz foi enfiar o dedo no olho. Fiquei deitado, enquanto elas terminavam a reunião. Na volta, Senador Aloizio Mercadante, eu a pedi em casamento, dentro do trem, voltando para umas férias. Assim começou minha admiração mais direta pelos professores, com quem convivi e vi toda a sua história.

Chegando a São Paulo, ela ingressou em algumas escolas, depois foi sendo removida. A primeira era em Sapopemba. Quando fui candidato a prefeito, um adversário me disse: “Você não conhece São Paulo”. Falei: conheço um pouco, como polícia a gente anda por todos os lugares. “Quero saber se você conhece Sapopemba”. Caiu do céu a pergunta, porque Sapopemba está na história da minha vida, da minha alma, do meu coração, é onde minha mulher ingressou como professora. E lá não havia transporte, Senadora Emília Fernandes, senhores e senhoras. Então, eu a levava até um determinado trecho, e ela, depois, voltava num caminhão de lixo. O lixeiro oferecia carona para algumas professoras poderem voltar para casa - porque às vezes tinha muita chuva, ruas enlameadas, sem calçamento -, para cumprir a sua obrigação de dona-de-casa. Por isso a mulher tem mais valor do que o homem. Ela exerce com dignidade duas profissões. Nunca deixou de ser a dona-de-casa e a mãe de família, exercendo outras profissões.

Um dia o Secretário de Educação de São Paulo me chamou - eu era diretor de polícia lá -, e disse: “Você não quer convidar a D. Zilda para vir trabalhar aqui comigo na Secretaria? Ela conhece bem a legislação, é uma professora bem-sucedida.” Eu falei: vou conversar com ela, é um problema de decisão pessoal. Ela disse: “Não!”. Você não quer pensar? “Não, minha vida é dentro da sala de aula, é respirando giz, conversando com as crianças e sentindo o drama de cada família que lá está, num bairro pobre da nossa cidade.” E assim foi toda a vida dela. Passou por várias escolas, conseguindo, depois, com um decreto que tornou obrigatório fazer psicologia, ganhar um pouquinho a mais, Senadora. Era também um requisito para fazer o concurso para diretora de escola. Conseguiu. Foi diretora de duas escolas em São Paulo.

Depois, à época, para se aposentar, ela me deu uma história dramática: “Eu saio da escola com muita tristeza”. Por quê? Você não se realizou? - perguntei. “De coração e alma sim, mas como profissional não”. Por quê? Em Sapopemba, houve a necessidade de escolas de primeiro grau, e poderia ser professor quem arrumasse quarenta alunos e uma sala de aula. Ela falou com o padre da igreja, o padre ofereceu um barracão que havia lá. Ela percorreu o bairro, arrumou os alunos e foi professora do Estado e do Município. Então, o professor começou a ter de correr para tentar completar um salário melhor, lecionar em duas escolas.

O Senador José Jorge deve saber que professor tem de ter dedicação exclusiva. Estamos entrando num período de muita dificuldade. Não existem mais as normalistas. Não vejo mais na minha cidade aquela normalista linda, vestida de azul e branco, que enchia nossos corações e nossa alma, não é, Senadora Ideli Salvatti? Mas eu tinha uma normalista no meu coração, e a sua poesia me fez lembrar dela.

Mas Zilda disse assim: “Nós não temos mais tempo de preparar a aula, porque temos de correr de uma escola para outra, buscar uma criança ou falar com uma família de um aluno que não está comparecendo, saber por que ele não está comparecendo, quais são as necessidades para acompanhar a sala de aula”. Então, tudo isso está-se esvaindo na falta de interesse e de investimento dos governantes.

Senador José Jorge, não foi isso mesmo que aconteceu de um período a esta data? Hoje, Presidente Renan Calheiros, com esse ato e com esse Manifesto, tenta-se recuperar, porque quem ler este Manifesto vai ver que essas exigências estão aqui.

Eu li e anotei. Não vou ler, mas esta seria a única cerimônia mais correta a ser feita aqui: alguém ler este Manifesto, ser aplaudido, e não se fala mais nada, porque o Manifesto representa para todos nós, brasileiros, o que realmente se deseja para a criança, para a educação e para o professor.

Eu ouvi a Senadora Ideli e outros falarem que os professores não ganham o suficiente. É uma vocação sacerdotal, mas tem que ser respeitada e amada pelos governantes, porque a criança depende do professor.

A mulher tem duas funções sagradas e, às vezes, tem alguns homens que se metem nisso aí: é ser mãe e professor. O homem pode ser professor, mas mãe, não.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Mas vamos dar um jeito.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Vamos dar um jeito, mas é difícil. Eu não quero nem entrar no mérito senão o movimento gay vai bater em nós dois, Senador. Então, é melhor ficarmos quietos.

A minha mulher, no primeiro ano do primeiro grau, ficou numa dúvida. Um dos meus filhos - que hoje, graças a Deus, é um grande médico, professor e neuro-oncologista - é canhoto e as professoras ficavam brigando porque ele tinha que escrever com a direita. Era obrigatório. Às vezes amarravam a mão. Ela disse assim: quem vai alfabetizar meus filhos sou eu. Como ela podia escolher, escolheu o primeiro ano do primeiro grau para alfabetizar os filhos. Ela alfabetizou os quatro. Foi professora de primeiro ano de primeiro grau durante quatro anos no Romão Puiggari, uma escola no Brás, para poder dar as primeiras letras aos filhos. Ela somou o papel de mãe ao de professora. E eles levavam cada bronca, Senadora, em casa e fora!

Mas foi uma coisa maravilhosa essa soma, porque a professora, como disse a Senadora Heloísa Helena ontem, é a mãe dos pobres, daqueles que realmente têm necessidade de um carinho, de um aprendizado, de uma assistência à família. Tudo isso representa o professor. Hoje, casam-se muito bem, como disse o Senador Ramez Tebet, duas datas importantes na vida de cada um de nós, porque fomos crianças e fomos alunos.

Então, é isso. Peço desculpa por ter me emocionado, mas, para mim, têm um valor inestimável essas datas, Sr. Presidente.

Muito obrigado. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/2005 - Página 34790