Discurso durante a 180ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a crise política. Estranheza com a mudança de discurso e posicionamento do governo do PT com relação à política econômica e social.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre a crise política. Estranheza com a mudança de discurso e posicionamento do governo do PT com relação à política econômica e social.
Aparteantes
Mão Santa, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/2005 - Página 35122
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, RESPONSABILIDADE, GOVERNO FEDERAL, CRISE, CORRUPÇÃO, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, TENTATIVA, OBSTACULO, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
  • CRITICA, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMPROMETIMENTO, MERCADO FINANCEIRO, AMBITO INTERNACIONAL, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), AREA DE LIVRE COMERCIO DAS AMERICAS (ALCA), NOMEAÇÃO, PRESIDENTE, BANCO ESTRANGEIRO, PRESIDENCIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), CONTRADIÇÃO, DISCURSO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • QUESTIONAMENTO, ELEIÇÃO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ANTERIORIDADE, CONDUTA, PREJUIZO, APOSENTADO.
  • COMPARAÇÃO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEMONSTRAÇÃO, COMPROMISSO, GOVERNO FEDERAL, ATUALIDADE, PAGAMENTO, DIVIDA, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), FAVORECIMENTO, EMPRESA, PUBLICIDADE, FUMO.
  • ANUNCIO, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, PRESIDENTE, BANCO ESTRANGEIRO, ESCLARECIMENTOS, PARTICIPAÇÃO, FUNDOS, PENSÕES.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srs. Senadores, o Presidente Lula, Senadora Serys, acusa o golpe e o chama de urucubaca. É evidente que os fatos negativos acontecem no Governo aos borbotões, às enxurradas. Alguns - quero até ser justo - não são da cota de culpa do Presidente da República, mas a grande maioria sim, inclusive da incompetência de parte da sua equipe.

Senador Paulo Paim, V. Exª que é dissidente do Partido, dissidente do bem, aquele que tem o seu cheque ouro mensalmente ensagüentado pela...

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - E muito, e muito.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Pois é. Deve ser duro ver o sofrimento dos colegas, que são maioria no Partido, exatamente vítimas dos que meteram a mão no cofre sem dó nem piedade. Sabe muito bem V. Exª que, se, na primeira crise, a do Waldomiro, o Governo tivesse feito uma incisão cirúrgica na questão, talvez aquele mal tivesse sido estancado pelo bom exemplo. Mas não. Qual foi a providência do Governo, Senador Mão Santa? Não permitir que CPI acontecesse. Retirar, misteriosa e magicamente, não só o Sr. Waldomiro como também o Sr. Silvio Pereira da órbita do Governo, o Sr. Marcelo Sereno e outros mais.

Mau exemplo atrai mau exemplo! Quando se ouviu aquela frase do Presidente Lula de que, no palanque dele, não subiria corrupto e que, no Governo dele, não se praticaria corrupção, os que levaram a sério deram com o burro n’água, porque, já naquele palanque, havia uma trama aliciatória, principalmente dos banqueiros internacionais! E falo isso com a alegria de saber que a Senadora Serys, que preside esta sessão e que é do PT, não concorda com o que está acontecendo no Partido! Ela tem andado cabisbaixa, conheço a Senadora Serys! E, hoje mais do que nunca, porque também está entristecida com a incompetência do Governo destruindo o seu Estado, vítima na questão da aftosa.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Gostaria de explicar, Senador Heráclito Fortes, que são dois Mato Grossos: o nosso Mato Grosso não tem aftosa; o do Sul é que tem. Tem que ficar claro isso!

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª é tão benquista no Mato Grosso do Sul que eu não queria tirá-la de lá! Foi uma questão de justiça que quis fazer a V. Exª. Para mim, a divisão geográfica não altera a divisão do coração. Quando V. Exª lá chegou, era um Mato Grosso só. E V. Exª, como Senadora grata, tenho certeza de que quer bem aos dois Mato Grossos, que, àquela época, eram um só e a acolheram ao chegar do Rio Grande do Sul. Mas, Senadora, o Governo perdeu o tempo, perdeu o timing ao fazer o jogo do empurra quando a primeira questão aconteceu.

Mas aí, Senador Pedro Simon, que chega em boa hora, há algo que me intriga: saber exatamente a data, como, quando e por que, ainda na época de campanha, o PT fez um acordo com os banqueiros internacionais.

Estou mandando pesquisar, Senador Simon, porque, mais ou menos entre agosto e setembro, após um jantar do qual participou o então candidato Lula em uma abastada casa ou apartamento de banqueiros em São Paulo, a partir daí tudo mudou. O discurso mudou, a carta aos brasileiros já era uma carta de garantia ao mercado financeiro internacional, as críticas ao FMI arrefeceram-se, a campanha contra a Alca mudou de tom, e os banqueiros começaram a ser defensores implacáveis do atual Governo. Talvez aí esteja o mistério para se descobrirem muitas coisas.

Qual foi o preço disso, Senador Paulo Paim? É preciso que a imprensa brasileira, investigativa como sempre e que tem desempenhado um papel fantástico, desvendando alguns mistérios recentes, decifre este enigma. Ninguém tem dúvida, Senador, de que houve um acordo, e um acordo com critério, com começo, meio e fim, garantindo a relação entre o governo que ia assumir e os banqueiros.

Senador Simon, V. Exª se lembra de que, nas três campanhas em que Lula foi derrotado, houve uma mobilização nacional dos empresários e, acima de tudo, dos banqueiros, amedrontados com a ameaça da vitória? Nessa última não; houve festa, comemoração. Tudo aquilo que foi prometido ao longo do tempo foi colocado de lado. Senador Simon, diga-me uma medida tomada por este Governo que tenha contrariado os banqueiros. V. Exª se lembra muito bem de que aqueles que se julgam pais da economia e que são do Partido dos Trabalhadores se ufanavam quando os balanços saíam, a cada semestre. Esses balanços apontavam que os bancos brasileiros tinham tido lucros exorbitantes. Eles festejavam. Eles eram Oposição e condenavam o governo da época. Hoje esses bancos estão batendo recorde sobre recorde; e os juros alcançam números estratosféricos. E nada acontece!

Aí vem o segundo fato estranho, Senador Pedro Simon: a escolha do Presidente do Banco Central. Esse, sim, vai mudar a política econômica, vai ajustar os juros!... Escolheram para presidir o Banco Central um banqueiro brasileiro de sucesso mundial, Presidente do Banco de Boston, comprometido com o capitalismo estrangeiro, tão combatido, recém-eleito Deputado Federal pelo Estado de Goiás. Pagou o preço da renúncia; renunciou ao mandato conferido pelo povo. Nunca vi um mandato tão espontâneo, com o povo goiano tendo tanta vontade de votar para homenagear aquele homem que orgulhou Goiás, com o sucesso praticado mundo afora, como a eleição do Sr. Meirelles! Sacrificou, em nome do Brasil, o seu mandato e foi ser Presidente do Banco Central.

Mas as coincidências e os fatos estão aí, Senador Pedro Simon. Agora, temos a eleição do Presidente do PT. Trata-se de economia interna, não tenho nada a ver com isso, Senador Cristovam Buarque, mas é muito esquisito que o escolhido tenha sido exatamente o que mais massacrou, Senador Paulo Paim, os aposentados neste País. Cadê aquele discurso de combate às mazelas que os governos de então praticavam contra os aposentados? É o “samba do crioulo doido”, ninguém entende mais nada. Senador Simon, Senador Cristovam, nada mais salutar para o Brasil do que essa divisão bem delineada entre as correntes internas do Partido a que V. Exª pertenceu há até bem pouco tempo. Mas por que se escolher exatamente o grande algoz do aposentado brasileiro? E aí se feriu de morte o coração de Paim. Senador Paim, V. Exª que tem sido aqui o grande defensor do aposentado, das suas reivindicações, da sua luta, como é que vai ficar? Se eu não o conhecesse, poderia pensar outra coisa, mas o Rio Grande do Sul e o Brasil podem ter certeza que V. Exª não vai baixar a cabeça, vai continuar lutando e defendendo as suas convicções.

Senador Simon, vem para cá a MP do Bem, aí arrumam um cirurgião da base do Governo para, na calada da noite, inserir maldades e massacrar mais uma vez setores da sociedade brasileira e rasgar, de uma vez por todas, aqueles discursos com o qual enganaram a população brasileira por mais de vinte anos.

Senador Mão Santa, com o maior prazer.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito Fortes, V. Exª, com inteligência e coragem, traz um tema muito importante. O padroeiro dos banqueiros hoje é o Meirelles, não é? Quero advertir...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Está mais em cima um pouco; é aquele que não vê nada. É aquele que nada sabe, que nada vê. Mas tudo acontece. É mais em cima.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Sim, mas quero advertir V. Exª nesse negócio de banqueiro. O descaramento está tão grande que está longe o povo brasileiro de saber como eles estão proliferando. Atentai bem! Hoje, qualquer grande empresário dessas casas comerciais é banqueiro. Eles não querem mais vender à vista, estão vendendo a 10%, 12% ao mês. Então, quando o brasileiro é enganado, como V. Exª disse, um mal nunca vem só, o exemplo arrasta. Os grandes empresários brasileiros são verdadeiros banqueiros. Quando o brasileiro compra um produto, uma geladeira, acaba pagando três geladeiras, porque está pagando ali a taxa de 10% a 12% ao mês, Senador. É esta desgraça que está aí, esta entrega ao sistema. Como Heloísa Helena diz: aos gigolôs do dinheiro; aos banqueiros internacionais. Está aí, V. Exª deu o quadro, fez o diagnóstico. Então, temos que advertir e voltar a Rui Barbosa, que diz: “Só tem um caminho: é a valorização do trabalho, do trabalhador”. O trabalho e o trabalhador vêm antes. Eles fazem a riqueza. E o nosso sistema está valorizando, está prestigiando, está enriquecendo cada vez mais os banqueiros, que agora irradiam aos empresários, que estão vendendo a prestação, enquanto os trabalhadores, os bancários estão na pindaíba, como nunca estiveram. E falo isso com autoridade porque Adalgisa é filha de bancário. Casei com uma filha de bancário. E como viviam bem! Hoje estão uns pobres coitados. Atentai bem: por eles passa dinheiro, passam vultosas somas, e eles, com honestidade, trabalham e são punidos. Agora estão em greve, querendo ter um salário digno e não conseguem.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Agradeço a V. Exª o enriquecimento que dá ao meu pronunciamento.

Concedo um aparte ao Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª é um colega que conheci ao longo do tempo numa luta comum, nossa, pelo restabelecimento da democracia. Naquela época nós, o velho MDB, nem sempre tínhamos o apoio do PT porque o PT era autêntico demais. O PT, por exemplo, não votou a Constituição porque ela não tinha os elementos de defesa do capital nacional que ele exigia. O PT não votou no Dr. Tancredo porque era contra o Colégio Eleitoral. A grande verdade é que vejo V. Exª, que integra o Partido da Frente Liberal, criticar o PT. Eu jamais poderia imaginar que o PT pudesse ser alvo de uma crítica como a que V. Exª está fazendo. Ninguém, ninguém, por mais pessimista que fosse, acreditaria que o PT, chegando ao Governo, se resumiria a isso que está aí. Eu ainda não tinha ouvido falar nisso que V. Exª está dizendo. É a primeira vez que escuto. Realmente, todas as vezes que o Lula foi candidato, os banqueiros estavam contra ele. Eram duros, enérgicos com ele. Havia uma frente ampla contra ele. E dessa vez não aconteceu. E imaginávamos que não acontecera porque realmente o PT estava mais light, o PT estava mais... O Lula dizia que dessa vez não queria concorrer só por concorrer, que só concorreria se fosse para ganhar... Mas, daí a imaginar que aconteceria o que está acontecendo... Esse cidadão que devia estar sendo processado está consolidado, endeusado na Presidência do Banco Central, e com uma política incrível, como diz V. Exª. Há muito não se ouve da Bancada do PT uma vírgula contra o Fundo Monetário Internacional, nem contra o Banco Mundial. Pelo contrário, se há um setor que está satisfeito é realmente o setor financeiro. E se há um setor que se identifica com o PT é o setor financeiro. V. Exª chama a atenção e diz que não tem nada a ver com a disputa interna lá no PT, porque não é o seu Partido. Acho que nós todos temos de nos preocupar com aquela disputa que está havendo no PT. Olhei com muito otimismo o ex-Ministro Tarso Genro. Perdoe-me estar lhe tirando o tempo, mas há tão poucos aqui. O pronunciamento que S. Exª fez, a proposta que apresentava para refundar o PT era algo que eu considerava realmente sério. Era uma proposta, era um mea-culpa, era uma limpeza geral no próprio PT.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Na realidade, era para “desafundar” o PT.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - O PT, antes da CPI, iria reunir-se para fazer sua própria justiça e botar para fora aqueles que ele achava que não mereciam pertencer ao Partido, porque podiam, dizia o Dr. Tarso, até estar na política, mas não se identificavam com a ética e com a moral do PT. Ficou falando sozinho. Ficou falando sozinho! Aí apareceu a perspectiva da eleição do Dr. Raul Pont. Realmente não acreditei na eleição do Raul Pont, porque a política dele é bem mais radical do que a de Tarso Genro. É uma linha muito mais avançada, muito mais extremada do que a de Tarso Genro. Eu me surpreendi com a votação dele: 48,6%. Ao contrário do PT, que andava, viajava, passeava por aí o tempo todo, ele dizia que não podia viajar porque não tinha dinheiro para fazer mais viagens. Por isso ele não pôde fazer todas as visitas que ele tinha de fazer. O fato de ter obtido 48,6% dos votos é uma demonstração de que realmente o Governo tem de entender que, a rigor, nem o Partido dele está do seu lado. Por isso eu guardo poucas expectativas; as que eu tinha morreram na eleição do Presidente da Câmara dos Deputados quando o próprio Lula chamou o Sr. Fleury, quando o próprio Lula chamou o presidente que renunciou ao mandato para não ser cassado para fazer com ele um para o segundo turno, quando o próprio Lula liberou R$500 milhões para as emendas, quando o próprio Lula prometeu um Ministério ao PP. Antes diziam que o Lula não sabia o que aconteceu nas votações anteriores, não sabia da compra de votos, não sabia do mensalão, mas a eleição do Presidente da Câmara escandalosamente feita, ocorreu sob o comando do Lula. Foi ele que a comandou. Então, o novo PT - o Tarso falava do novo PT, dizia que ia refundar o PT - é o da eleição do Presidente da Câmara. Esse é o novo PT, com novos métodos, com a fórmula empregada. Sobraram os R$500 milhões para o Governo destinar às emendas dos Parlamentares, para que votassem no atual Presidente da Câmara dos Deputados. No entanto, no caso da aftosa, como sempre, o Ministro da Fazenda cortou as verbas necessárias. Cortou as verbas e deixou que acontecesse isso que presenciamos e que é uma irresponsabilidade. Febre aftosa só existe por causa da irresponsabilidade. E não venham dizer que é irresponsabilidade do pobre colono de Mato Grosso. É irresponsabilidade do sistema, da coordenação do Governo, daqueles que têm a obrigação de fiscalizar e ver como as coisas andam. E estamos, aqui, de maneira ridícula e estúpida, sofrendo o deboche da opinião pública nacional porque, de uma hora para outra, sem mais nem menos, apareceu a versão “dizem que o Movimento dos Sem Terra estaria envolvido, devido a cabeças de gado que estão vindo do Paraguai, sem controle e sem fiscalização”. Ali estaria o início de tudo. Enquanto isso, essas coisas estão acontecendo. Eu felicito V. Exª. Lamento a extensão do meu aparte. Acho muito mais importante o pronunciamento de V. Exª. Perdoe-me. Eu quero elogiá-lo. Não quero atingi-lo, mas me parece muito estranho que V. Exª, em nome do PFL, faça este discurso e não o PT, que tem de ouvi-lo. É uma coisa que não me passava pela cabeça. Eu nunca imaginava ver o que estou vendo, lamentavelmente.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Nobre Senador, o PFL, comovido, agradece o aparte de V. Exª e lamenta não poder dizer o mesmo ao PT, com todo o respeito ao Senador Paulo Paim.

Senador Pedro Simon, nos últimos 20 anos, o PT foi campeão em apontar brasileiros e mandá-los ao banco dos réus. Acusou, denunciou, destruiu honras, acabou com carreiras públicas, criou factóides, mas apontando para o banco dos réus.

A extraordinária jornalista Dora Kramer, Senador Cristovam, na sua coluna de ontem, diz uma coisa fantástica, que é verdade cristalina e absoluta. O PT, hoje, já não se incomoda tanto com o banco dos réus, porque admite estar sentado nele. Quer companhia. Como está no banco dos réus, quer companhia, quer mostrar que não está sozinho.

Aquela cristalinidade, aquela pureza era só discurso, era só balela. Aliás, ela diz isso a propósito de uma declaração da Senadora Ideli, que agora anda comemorando, nas raias do PT, o fato inusitado de ter descoberto que alguns oposicionistas, eventualmente, usaram aviões particulares, ou aviões de empresários brasileiros.

            Quero repetir agora, Senador Pedro Simon, o que disse Mário Covas há doze anos na CPI do Orçamento, quando quiseram usar essa mesma técnica: Para uso de jato, no Brasil, de avião particular, com a dimensão continental, só uma CPI.

            É preciso clareza e que se mostre, Senador Paulo Paim, todos os que usaram, e não vir para cá com memória seletiva. Aliás, eu acho que a Senadora cometeria um ato de dignidade se começasse examinando quem do seu Partido usa os aviões, os usos diretos e os usos indiretos, aqueles que são pagos pelas empresas que recebem apoio dos grandes conglomerados financeiros e dos Fundos de Pensão; examinar quem pagou os vôos dos jatos do PT e os que estão em débito - tem muito pendura aí em companhia aérea - quem andou e por que andou e por que está andando, porque não parou.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Senador!.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Pois não.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Desculpe-me, mas V.Exª está abordando um tema também muito importante. V. Exª diz que o PT está sentado no banco dos réus e quer companhia. Pode até querer companhia, mas o que tem de grave, grave mesmo, é que o PT foi para o Governo, se encarregou de fazer o esquema dele, que era mais um esquema de poder do que o esquema de governar, e esqueceu-se de fazer aquilo que devia ter feito. Tudo isso que ele está dizendo que o PSDB fez, que o Fernando Henrique fez, ele devia ter apurado nos primeiros meses de governo, no primeiro ano de governo, no segundo ano de governo. Mas não disse uma palavra, não disse uma linha, não pediu uma palavra, não pediu uma CPI, não fez nada. Não houve uma ação. Não houve mudança de governo mais civilizada, mais elegante do que a do Sr. Fernando Henrique com o Sr. Lula. Pareciam até do mesmo partido. Teve gente que disse que, se o Serra tivesse ganho, não teria sido assim, ele iria dizer algumas coisas...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Com toda certeza.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - ...que o Fernando Henrique não iria gostar, porque do que o Lula disse o Fernando Henrique gostou de tudo. Quer dizer, dois anos depois é que vão buscar? Eu posso buscar, alguém pode buscar, mas o PT não pode. Não pode porque escondeu, engavetou, arquivou. E está lá, inclusive o Ministro da Fazenda, está lá o Sr....

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Simon, vou dar mais um minuto - de fato, já dei vinte minutos. Faço questão de dizer que serei tolerante. Estou apenas esclarecendo o tempo porque a Mesa me alerta...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Apelo para a sua generosidade gaúcha.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - ...que seriam dez mais dois, e estou dando quinze mais cinco.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Seja forte como o minuano na sua bondade.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Com certeza. Darei, então, a V. Exª, mediante os apelos do Senador Simon e de V. Exª, em vez de um, mais cinco, vai para 25.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Pronto!

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Simon, pode concluir.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Então, o natural teria acontecido. Surgiu o PT, 25 anos, vinte de ditadura, cinco de Sarney, oito de Fernando Henrique. Está na Constituição que vamos fazer auditoria da dívida externa. Ninguém fez. Todo mundo esperava que o PT fizesse. Bom, o PT vai fazer. Mas não houve nada.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª tem toda razão.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Então, agora, diz V. Exª, porque eles estão no banco dos réus, querem levar o PT para o banco dos réus. Perdeu a graça.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador Simon, aí é que é o grande mistério e a minha vontade de decifrar isso aí.

O Senador Cristovam Buarque estava envolvido na campanha, talvez não saiba como essas coisas se procederam. Até julho, agosto, o PT tinha uma pregação em palanque de que a economia brasileira estava no caos, que o Governo ia estourar e assustou, inclusive, setores do PSDB. De setembro, depois daquele jantar - eu não sei o que foi servido -, mudou tudo. E, aí, V. Exª se lembra de um fato: aquela transição pacífica e ordeira foi interesse nacional, interesse republicano ou dos banqueiros?

Senador Paulo Paim, há três pessoas aqui em plenário que, direta ou indiretamente, participaram desse processo. Serra, certo ou errado, fez um combate ao consumo de tabaco no Brasil genial, duro, proibindo propaganda, fazendo restrições, botando cenas chocantes nas carteiras de cigarro, e por aí afora. Assume o Presidente Lula. Vem a corrida de Fórmula 1 - o Senador Cristovam deve saber essa data até melhor do que eu, acho que era fevereiro. É editada uma das primeiras medidas provisórias, autorizando - e com isso revogando a decisão anterior - propaganda de cigarro na corrida de Fórmula 1 durante dois anos seguidos. E é aí que se vê: qual era a empresa de publicidade que estava por trás? Qual era o interesse do Sr. Delúbio em fazer com que a medida provisória viesse?

Mas, naquele período, estávamos anestesiados. Os fatos se passaram sem que se percebesse o que estaria por vir e esse mar de lama com que a Nação depara hoje.

Senador Pedro Simon, durante vinte anos, nós ouvimos aqui uma catilinária de que o mal brasileiro era que os governos de então privilegiavam o pagamento ao Fundo Monetário Internacional, e que, enquanto o brasileiro dormia, o dragão do Fundo, representado neste País pelo Citibank, que era usado nas manifestações populares, roubava nossa riqueza.

Pois bem! De maneira espontânea, o Governo brasileiro já pagou mais ao FMI, nesses três anos, em antecipação do que o Governo Fernando Henrique nos oito anos. De maneira espontânea! Tanto é que, para o FMI, não é mais o Patinho Feio, e sim o exemplo que deve ser seguido pelas outras nações.

E o Citibank, o que é hoje? Parceiro dos negócios envolvendo entes governamentais e os seus interesses tão combatidos antigamente.

Senador Pedro Simon, V. Exª, que é um homem de prática católica conhecida no Brasil inteiro, há de se lembrar de um movimento que o PT liderou de combate à assinatura do Tratado da Alca e que envolveu a Igreja. A Igreja, na campanha eleitoral, usou a questão da Alca para combater os governantes de então. O Governo não esperou nem a posse, já antes dela, na missão que foi ao Equador, mostrou a alguns que a posição brasileira era outra.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Senador Heráclito Fortes, mais um minuto para V. Exª concluir.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Vou concluir, agradecendo a V. Exª.

Portanto, Senador Pedro Simon, o mundo virou de cabeça para baixo. Já pensou V. Exª se voltassem à terra para alegria nossa figuras como Ulisses, Severo - fiquemos nesses dois, mas inclua vinte - sentassem ao fundo do plenário e vissem o que está acontecendo, iriam pedir imediatamente para voltar, porque iriam ver que tudo aquilo que fizeram, que lutaram pela transição, pela democratização foi em vão, que aquela medida de não votar no colégio eleitoral por alegação profilática era apenas interesse não confessável, era aproveitar-se de uma situação.

Senador Pedro Simon, terça-feira, vem depor nesta Casa em uma das CPIs, e não me lembro de qual, o presidente do Citybank para prestar esclarecimento de negócios duvidosos entre ele, o Banco e os fundos de pensão. Esse cidadão está sendo blindado pelo partido do Governo de uma maneira tão desavergonhada, que é capaz de que não venha.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - O médico não vem mais. O médico legista não vem mais.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Pois é, o médico legista já não vem mais. Se nós fôssemos irresponsáveis, estaríamos aqui agora já anunciando o assassino, como no passado se fazia. É este o clima que nós estamos vivendo. Se o Presidente Lula chama isso tudo de urucubaca, ele tem duas posições a tomar: a primeira é saber quem está botando urucubaca em cima dele...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Faço um apelo a V. Exª ...

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - ...e a segunda é sal grosso, patuá, seja o que for, pedir, com urgência, ao povo brasileiro proteção, mas proteção nas ruas e dentro de casa porque é onde o foco está nascendo. O simplório Vavá, um inocente filho... Tudo começa assim. Quando não se tem rédea, quando não se tem cabresto, o gado vai para o pasto solto e aí ninguém sabe o destino que toma.

Espero que o Presidente Lula ainda tenha tempo suficiente para acordar e não culpar os outros pelos erros cuja origem está dentro de casa.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/2005 - Página 35122