Discurso durante a 182ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro das comemorações da Semana Mundial da Alimentação, no período de 16 a 22 de outubro, e do lançamento, pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, do Guia Alimentar para a População Brasileira.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Registro das comemorações da Semana Mundial da Alimentação, no período de 16 a 22 de outubro, e do lançamento, pelo Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social, do Guia Alimentar para a População Brasileira.
Aparteantes
Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 19/10/2005 - Página 35325
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • APOIO, ATIVIDADE, SEMANA, ALIMENTAÇÃO, BUSCA, COMBATE, FOME, DESNUTRIÇÃO, DOENÇA, LANÇAMENTO, POLITICA NACIONAL, SETOR, PUBLICAÇÃO, ORIENTAÇÃO, POPULAÇÃO, PESQUISA, MINISTERIO DA SAUDE (MS), MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE A FOME.
  • ANALISE, REDUÇÃO, QUALIDADE, ALIMENTAÇÃO, BRASILEIROS, RETIRADA, ARROZ, FEIJÃO, FRUTA, AUMENTO, INDUSTRIALIZAÇÃO, ALIMENTOS, IMPORTANCIA, CONSCIENTIZAÇÃO, CRIANÇA.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, quero agradecer a gentileza, mais uma vez, do Senador Paulo Paim, de fazer a permuta de horários, de tal forma que eu possa cumprir as minhas responsabilidades. Haverá três oitivas nas sub-Relatorias da CPMI dos Correios. Então, vou fazer o meu pronunciamento e dirigir-me àquelas atividades.

Trago ao plenário do Senado, nesta terça-feira, um tema que entendo ser da maior relevância, tendo em vista que, de 16 a 22 de outubro, ocorrerá a Semana Mundial da Alimentação. Em todo o mundo, haverá atividades, promoções, eventos e iniciativas que busquem superar não somente a fome e a desnutrição, como também todas as doenças decorrentes de uma alimentação inadequada, o que, infelizmente, cada vez mais, no mundo e também no nosso País, acaba-se transformando num verdadeiro problema de saúde pública. Hoje, a questão da alimentação é encarada, indiscutivelmente, como problema de saúde pública.

Na Semana Mundial da Alimentação, haverá, entre muitas atividades, algo que considerei extremamente relevante, inclusive para trazer à tribuna do Senado. Pela primeira vez, teremos uma política pública oficial, lançada depois de estudo profundo realizado, por meio de pesquisa feita nos últimos três anos, pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério do Desenvolvimento Social, que resulta no Guia Alimentar para a População Brasileira.

O evento de lançamento desse Guia, que traduz toda uma política para essa questão no País, será no dia 20 de outubro, numa solenidade no Itamaraty, durante as comemorações da Semana Nacional da Alimentação, e contará com a participação do Presidente da República, do Ministro da Saúde, Saraiva Felipe, e do Ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias.

Esse Guia contém informações sobre as diretrizes alimentares oficiais para o nosso País, resultantes desse estudo de três anos, e orienta e estabelece os parâmetros, dando sustentação para as políticas que tanto o Ministério da Saúde quanto o do Desenvolvimento Social adotarão depois do seu lançamento. Ele também traz elementos das deficiências nutricionais, das doenças infecciosas e do quadro de saúde ou de conseqüências das doenças provocadas por desvios, erros e equívocos na alimentação da população brasileira.

Pela avaliação do Ministério da Saúde, em torno de 260 mil pessoas morrem em decorrência da má alimentação, vitimadas não somente pela desnutrição, mas também pelas doenças crônicas vinculadas a ela, como diabetes, hipertensão e outras. Assim, existem cada vez mais elementos que classificam a má alimentação como uma questão muito grave.

Os brasileiros estão abandonando a tradicional alimentação baseada no feijão com arroz, aquela mistura quase mágica e de tão agradável sabor, mas não a estão substituindo por algo melhor em termos de calorias, de proteínas ou de fibras, ou seja, não ocorre melhora de qualidade.

Esses dados permitem-nos visualizar para qual direção, atualmente, está seguindo a dieta da população e, além de demonstrarem que a população vem deixando, gradativamente, o arroz e o feijão, revelam que o consumo de frutas, por exemplo, teve uma queda acentuada. De 1974 até 2003, houve uma diminuição no consumo de frutas da ordem de 31%.

O regime alimentar da população brasileira vem sendo substituído por refeições que não atendem à demanda nutricional, com muitos produtos industrializados e deficientes em termos de vitaminas e de fibras.

O consumo de refrigerantes, por exemplo, cresceu 400%, Senador Tião Viana. Isso é assustador por todo o déficit alimentar que esse tipo de produto causa no organismo das pessoas e, de forma muito mais acentuada, no das crianças.

As refeições prontas e as misturas industrializadas aumentaram a sua participação em 82%, também nesse período de 1974 a 2003, numa demonstração inequívoca de mudança no comportamento alimentar.

Devemos salientar - e acredito que este seja o fato relevante da política pública colocada no Guia Alimentar para a População Brasileira, que será lançado na quinta-feira, dia 20 de outubro, no Itamaraty - que a alimentação não se dá única e exclusivamente com o consumo de alimentos. Precisamos levar sempre em consideração os nutrientes, e, para isso, é necessária uma série de quesitos que, muitas vezes, precisam ter relevância na hora de se incentivarem as pessoas.

Nós, que temos experiência, Senadora Iris, de tentar alimentar filhos ou netos - não é o meu caso ainda, apesar de eu estar com muita vontade de ter logo os meus netinhos -, sabemos como é difícil a tarefa de fazer com que as crianças se habituem a comer legumes, verduras e frutas, aquele verde de que elas têm horror. Quando se põe muito verde no prato, elas já não querem comer. No entanto, é de fundamental importância que possamos ter esse trabalho de conscientização de que os alimentos têm gosto, têm cor, forma, aroma, textura e que exatamente a combinação desses ingredientes é que faz com que tenhamos uma alimentação balanceada, uma alimentação que tenha carboidratos, proteínas, vitaminas necessárias a uma saúde bastante adequada para o desenvolvimento da nossa realização pessoal e coletiva.

O alimento é fonte de prazer e é também identidade cultural. Num país de riqueza culinária como o Brasil, é de fundamental importância valorizarmos os produtos. Às vezes fico muito indignada quando vejo que, em vários cantos do Brasil em que turistas e população circulam, em locais de turismo, em vez de se valorizarem os produtos daquela região, muitas vezes há o consumo de alimentos que nada têm a ver com a cultura brasileira e que são uma verdadeira aculturação. Vamos traduzir isso no famoso hot dog. Com tantas delícias gastronômicas que tem o Brasil, vemos determinadas situações de aculturamento, ou seja, uma imposição cultural em cima da nossa realidade gastronômica, o que é efetivamente uma afronta.

Não sei se o Senador Ramez Tebet está desistindo do aparte...

Não? Desculpe-me.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Como é que vou desistir de uma oportunidade como esta? Jamais faria isso. Eu estava aguardando que V. Exª me concedesse o aparte para parabenizá-la, porque o discurso de V. Exª hoje está diferente. V. Ex ª me desculpe. Hoje V. Exª está fazendo um discurso didático, de interesse para a vida das pessoas. Por isso quero aplaudir o seu pronunciamento.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Senador Ramez Tebet. Faço este discurso conscientemente, em primeiro lugar, como Parlamentar, como Senadora da República, como mulher, como mãe e até como exemplo físico do que significa uma alimentação equivocada. No meu caso, por conta de eu estar já ultrapassando a obesidade mórbida, tive que me submeter a uma cirurgia que me deu uma qualidade de vida absolutamente diferenciada e que é visível.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Agora V. Exª me desculpe. Agora quero mesmo um aparte para dizer que a elegância de V. Exª está muito comentada aqui na Casa. V. Exª está realmente de parabéns.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço. Com este testemunho físico, visível, mostro o quanto os erros cometidos na alimentação acabam trazendo problemas gravíssimos para a saúde, para a auto-estima, para a convivência, para as relações interpessoais. Portanto, não poderia deixar de saudar exatamente o lançamento deste Guia.

O Governo está preocupado com a alimentação não apenas sob a ótica de superar a fome. Inclusive, eu não poderia também deixar de registrar a emoção que todos os brasileiros devem ter sentido quando o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu da FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura - a medalha em homenagem à luta que o Presidente Lula tão bem representa de combate à fome por meio de uma série de iniciativas e políticas.

Ontem, eu tive a oportunidade aqui de resgatar o sucesso e o aperfeiçoamento do Bolsa-Família, que em 2005 completa dois anos e atende a quase oito milhões de famílias. Nós devemos completar o ano com 8,7 milhões de famílias atendidas pelo Programa de Transferência de Renda. Esta semana ainda houve o lançamento deste Guia Alimentar para a População Brasileira, que traduz uma política pública voltada para a alimentação saudável, exatamente para que a população brasileira possa ser incentivada a, cada vez mais, se alimentar adequada e corretamente. E que isso resulte, obviamente, na melhoria da qualidade de vida de todos porque. quando o corpo está bem alimentado, também a alma e a mente se manifestam de forma mais adequada.

Sr. Presidente, era isso o que eu queria deixar aqui. Peço a transcrição, na íntegra, do meu discurso, até pelos dados que o próprio Guia apresenta.

Muito obrigada.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DA SRª SENADORA IDELI SALVATTI.

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/10/2005 - Página 35325