Discurso durante a 182ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao artigo publicado na revista Veja desta semana, intitulado "Pizzas no Caminho", do articulista André Petry.

Autor
Garibaldi Alves Filho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RN)
Nome completo: Garibaldi Alves Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Comentários ao artigo publicado na revista Veja desta semana, intitulado "Pizzas no Caminho", do articulista André Petry.
Aparteantes
Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 19/10/2005 - Página 35370
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AVALIAÇÃO, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO, INSUFICIENCIA, CASSAÇÃO, MANDATO PARLAMENTAR, ACUSADO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, COMENTARIO, DISCURSO, ALMEIDA LIMA, SENADOR.
  • DISCORDANCIA, INJUSTIÇA, AVALIAÇÃO, PERIODICO, DEFESA, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), REGISTRO, DESCONHECIMENTO, JORNALISTA.
  • DETALHAMENTO, ANDAMENTO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), MESADA.

O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores: “Quem não quiser fazer papel de bobo deve parar de perguntar se o escândalo do mensalão vai ou não acabar em pizza. É uma indagação despropositada, porque o escândalo do mensalão já está cheio de pizzas pelo caminho...”

Sr. Presidente, esse é o início de um artigo escrito pelo Sr. André Petry, na revista Veja de 19 de outubro, e que já foi praticamente lido desta tribuna pelo Senador Almeida Lima. O Senador também destacou:

Os casos mais graves envolvem os atores mais poderosos da cena - o presidente Lula e o ministro Palocci. Por exemplo:

O Ministro da Fazenda foi acusado de receber propina de 50.000 reais (...). Mais tarde, descobriu-se que a contabilidade da empresa registrava saques mensais que corroboravam a acusação. E o que aconteceu? Nada. O Ministro não foi sequer chamado para prestar explicações. Não foi à CPI nem à Polícia. Pizza.

Uma empresinha do filho do presidente da República recebeu, de bandeja, um investimento de 5 milhões de reais (...). O investimento é cinqüenta vezes maior que o capital da empresinha. (...) Nada aconteceu. Nem o filho do presidente nem seus sócios na empresinha foram chamados para explicar-se.

O marqueteiro do presidente recebeu 10,5 milhões de reais em dinheiro ilegal, pagos num paraíso fiscal. Quanto a isso, não há dúvidas. Há provas e confissões. (...) E o que aconteceu? Nada. O presidente acha que tudo não passa de urucubaca e seus súditos saem por aí dizendo que dinheiro clandestino em campanha é coisa normal, corriqueira, desprezível.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não vou ler tudo, até porque o Senador Almeida Lima já leu todo o artigo desse articulista da Veja.

A conclusão do artigo:

Só mesmo o vasto histórico brasileiro de impunidade explica a satisfação geral com que se recebe a notícia de que meia dúzia de deputados será cassada e outra meia dúzia vai renunciar... É pouco. É pouquíssimo. É quase nada diante da corrupção que se desvendou ao país.

Sr. Presidente, não nego as dificuldades que as CPIs estão encontrando para apurar os fatos. Eu mesmo, ao lado de diversos Senadores, participo de uma dessas CPIs, que é a dos Bingos e reconheço que não é fácil chegar a determinadas conclusões. Mas, Sr. Presidente, entre reconhecer dificuldades, achar que existem incompreensões que cercam o nosso trabalho e qualificá-lo de pizza, existe uma diferença muito grande.

Daí por que eu já protestei junto ao Senador Almeida Lima - inclusive pedi a S. Exª que me fornecesse a revista Veja para tirar cópia - por ter S. Exª endossado o raciocínio, as conclusões do jornalista. S. Exª é um Senador, é um companheiro nosso e sabe do nosso esforço para fazer justiça, para julgar, o que é muito difícil. No Evangelho, há a citação: “(...) atire a primeira pedra”. Não é fácil! Ainda mais quando as CPIs do Mensalão e dos Correios se deparam com casos de colegas! Já integrei a CPI do Orçamento e sei como é difícil. V. Exªs precisam entender, aqueles que ainda não participaram de perto de um processo desse, como é difícil empregar uma coisa, investir contra um colega.

Mas, Sr. Presidente, desprezar esse trabalho, atropelá-lo, querer jogá-lo na vala comum da impunidade é uma injustiça muito grande, que eu e nossos colegas não aceitamos. Creio que os jornalistas que cobrem as CPIs, se fossem ouvidos, não aceitariam.

Senador Flávio Arns, que participa comigo da CPI dos Bingos, vamos passar aos fatos concretos, para que não se diga que ficamos nas abstrações: a apuração a respeito do caso de Ribeirão Preto, que tanto contraria lideranças petistas que crêem que lá não há impugnação de jogos, sendo a CPI dos Bingos, não terminou. Não se está dizendo que o Ministro Palocci não será convocado. Poderá ser convocado, como já foram outros Ministros. O Sr. Gilberto Carvalho vai participar de uma acareação sobre o caso de Santo André, juntamente com dois irmãos do ex-Prefeito Celso Daniel, que foi brutalmente assassinado, que foi violentamente assassinado.

Ora, Sr. Presidente, qualificar a apuração que está sendo feita desses casos de pizza!

O outro caso concreto apontado é o do filho do Presidente da República. Não compete à nossa CPI apurar, mas ninguém sabe - eu não sei - em detalhes qual foi a apreciação que se fez sobre esse caso nas outras CPIs, mas deve ter sido discutido. O caso do marqueteiro, do publicitário está sendo rastreado o dinheiro no exterior. E por aí vai. O caso da GTech com a Caixa Econômica, que não é citado aqui, está sendo apurado em todos o seus aspectos.

Sr. Presidente, não tolero, como este Colegiado não deve tolerar, a injustiça. O trabalho que está sendo aqui feito merece o respeito da população brasileira, merece que os brasileiros tenham deste Congresso outra imagem e não a daqueles que estão procurando abafar, silenciar e fazer com que as coisas não sejam apuradas. Invoco - não é o caso precisamente - o testemunho daqueles que acompanham mais de perto esses trabalhos, da imprensa que os acompanham mais de perto. Existem jornalistas, como o Sr. André Petry que escreveu este artigo, que não acompanham tão de perto esses trabalhos e, certamente, não sabem o que custa apurar esses fatos.

Por último, Sr. Presidente, dirijo-me ao Senador Almeida Lima, que me falou quer dar um testemunho a respeito desse caso, acrescentando algo, que não se precipite quanto a essa conclusão de dizer que nós estamos preparando uma pizza. E aqui já se vai muito mais adiante. Aqui se diz: “A pizza não se está preparando; a pizza está preparada.”

Então, Sr. Presidente, um membro do Senado Federal da credibilidade do Senador Almeida Lima vir a esta tribuna e ler esse artigo?! Não poderíamos ficar calados! Temos o direito de divergir! Ele tem o direito de achar que as investigações não estão sendo conduzidas como ele deseja, como espera, mas, entre ele desejar e esperar que a apuração esteja sendo conduzida, ele precisa reconhecer uma coisa: está havendo apuração. Quando se diz que há pizza é que não está havendo apuração nenhuma. E não se trata disso, Sr. Presidente.

Por isso, venho a esta tribuna, para que não se fique calado numa hora dessas.

Concedo o aparte ao Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Garibaldi Alves Filho, sou testemunha do exemplar trabalho que V. Exª vem conduzindo como Relator da CPI dos Bingos. Poucas vezes se tem visto relatar-se e conduzir-se o trabalho de uma CPI de tal responsabilidade - mais do que isso, de tal delicadeza - com tanta competência. Em casos como esse se ferem muitos interesses, e pessoas podem ser melindradas, mas V. Exª conduz o trabalho com equilíbrio e competência. Portanto, o trabalho de V. Exª é digno de nossos parabéns. Quem tem realmente acompanhado de perto o trabalho de V. Exª como Relator da CPI dos Bingos só tem a parabenizá-lo e a elogiá-lo. Se alguém falou em pizza em relação aos trabalhos na CPI dos Bingos, com certeza não podemos acreditar em maldade. É porque ouve falar, é porque acompanhou outras CPIs, é porque leu na imprensa. É simplesmente impossível, acompanhando as audiências, vendo os relatórios, os questionários montados, as avaliações feitas e o critério com que V. Exª tem conduzido o trabalho, chegar a uma conclusão como essa. E mais: não é fácil fazer um trabalho sob pressão, vinda de um lado e de outro, e eu sou testemunha das pressões que V. Exª tem sofrido. Pressões para não fazer essa pergunta; pressões para não trazer, ou não convidar, ou não convocar aquela pessoa; pressões para convocar aquelas outras... E estamos falando de pessoas de altíssima importância, ligadas aos mais altos escalões do Governo, ou estamos falando de colegas de V. Exª, ou de pessoas ligadas a seu próprio Partido ou ligadas a companheiros aqui do Senado. V. Exª tem conseguido fazer isso sem criar nenhum tipo de ruído, sem nenhum tipo de mal-estar, mas sem ceder à pressões. E sem nenhum tipo de vedetismo - o que é importante. E muitas vezes as pessoas confundem um trabalho estar dando resultados com aquele grande estardalhaço que é feito em determinado momento, sendo que, logo a seguir, o estardalhaço desaparece. V. Exª tem optado pelo caminho correto, a meu ver: um trabalho discreto, consistente, constante, que claramente tem um rumo, que é o de tentar descobrir a verdade, e a verdade com equilíbrio. Portanto, não poderia deixar de dar-lhe os meus parabéns, de elogiá-lo, de trazer esse testemunho pelo trabalho sério que V. Exª e também o Senador Efraim Morais têm feito à frente da CPI dos Bingos.

O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN) - Agradeço-lhe, Senador Tasso Jereissati. Quero esclarecer que o artigo lido pelo Senador Almeida Lima não faz referência a um caso individual. Não faz referência a mim, individualmente, nem a nenhum dos Relatores ou ao Presidente; faz referências generalizadas a todos.

Agradeço a V. Exª o testemunho. V. Exª, inclusive, faz parte de nossa CPI e dá sua colaboração, uma colaboração brilhante. Só posso ter palavras de agradecimento.

Contudo, acredito que minha indignação foi tão grande que V. Exª, que não estava no plenário o tempo todo, deve ter chegado aqui e pensado que era comigo. Não é exatamente comigo. Estou aqui em defesa de Osmar Serraglio, de Abi-Ackel, de Efraim Morais, de Amir Lando, do Senador Delcídio Amaral, não apenas dos que dirigem, mas de todos aqueles que participam do trabalho, enfim, de todos os que participam das CPIs.

Fiquei preocupado não por causa do artigo, porque o jornalista apenas expressa sua opinião, mas porque o Senador Almeida Lima, membro desta Casa, veio para cá e endossou totalmente as palavras do jornalista. Então, fiquei preocupado, porque quem vê de fora diz: “Olha, a pizza está ocorrendo mesmo, porque um Senador disse que está tudo terminando em pizza, está tudo acabando em pizza” E não podemos tolerar isso.

Sr. Presidente, agradeço a V. Exª e também ao Senador Tasso Jereissati.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/10/2005 - Página 35370