Discurso durante a 182ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagens pelo transcurso do Dia da Criança e do Dia do Professor, respectivamente, em 12 e 15 de outubro.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Homenagens pelo transcurso do Dia da Criança e do Dia do Professor, respectivamente, em 12 e 15 de outubro.
Publicação
Publicação no DSF de 19/10/2005 - Página 35395
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, CRIANÇA, PROFESSOR, IMPORTANCIA, DEBATE, EDUCAÇÃO, BUSCA, BEM ESTAR SOCIAL, MELHORIA, QUALIDADE, ENSINO, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, EXERCICIO PROFISSIONAL, MAGISTERIO.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o mês de outubro nos traz duas efemérides que merecem ser lembradas, o dia da criança e o dia do professor. significativamente, ambas as datas estão separadas por poucos dias, caindo, respectivamente, nos dias 12 e 15 de outubro. difícil evitar que essa proximidade nos leve a pensar sobre o tema incontornável da educação, de que os professores são os protagonistas e as crianças, seu alvo privilegiado.já a própria palavra “criança”, Sr. Presidente, remete à idéia de criação - portanto, de educação. a criança não ganha toda a sua existência ao nascer: precisa ser criada, cultivada, educada para que todas as potencialidades humanas floresçam nela. essa é a maior beleza do ofício de professor: o professor é um criador, um artesão que trabalha com a matéria-prima mais valiosa que existe, que é própria natureza humana.é muito comum - é, na verdade, quase inevitável -, quando falamos sobre educação, lembrar as correlações que existem entre boa educação e bem-estar social e econômico. muitos estudos tentam mostrar, por exemplo, que maiores salários estão associados a maior escolaridade. outros enfatizam o investimento na educação como um dos instrumentos mais poderosos na luta contra a pobreza e a desigualdade. outros ainda não se esquecem de trazer o exemplo dos países que conseguiram superar o subdesenvolvimento investindo pesadamente em educação.

Tudo isso, Srªs e Srs. Senadores, é verdadeiro. Mas mesmo que não fosse, a educação tem, em si mesma, um valor insubstituível - um valor intrínseco, por assim dizer. É ela, na medida em que busca o aperfeiçoamento de nossas faculdades intelectuais, de nossa sensibilidade e de nossos afetos, que nos permite alcançar a excelência de que somos capazes.

Por isso, Sr. Presidente, acho especialmente preocupante o descaso com que muitas vezes tratamos dos problemas relacionados à educação no Brasil. E não falo apenas aqui dos governos e de suas políticas educacionais. Refiro-me, também, à tendência, mais freqüente do que seria desejável, de reduzir o esforço educativo à distribuição de diplomas ou títulos. Também isso demonstra um descuido com a educação que não deixa de ter efeitos perversos. Sinto falta, às vezes, de uma preocupação mais integral com a educação, que vá além dos muros das escolas, que impregne nossa vida social e política, que passe pelo papel fundamental dos meios de comunicação, pela educação política e cívica que enriqueça a cidadania, pelo próprio papel pedagógico que nós, políticos, temos, seja por nossa atividade legislativa, seja pelo nosso próprio exemplo.

Talvez não haja índice mais eloqüente desse relativo descaso com que tratamos a educação do que a desvalorização do professor, não apenas em termos salariais, mas também de prestígio e reconhecimento social. Já houve um tempo em que a profissão de professor, em todos os níveis de ensino, do fundamental ao superior, merecia respeito e admiração. Hoje, as perspectivas de baixos salários e de condições de trabalho às vezes extremas - em ambientes degradados e, muitas vezes, marcados pela violência - afastam os jovens que poderiam se interessar pela bela carreira de educadores.

A conseqüência mais visível disso pode ser medida pelo assustador número de brasileiros que, apesar de terem passado pela escola, são analfabetos funcionais, ou seja, são incapazes de compreender e interpretar textos ou de escrever textos com sentido. Recentemente, uma pesquisa do Instituto Paulo Montenegro divulgou que 68% dos brasileiros são analfabetos funcionais. Quase dois terços da população brasileira, Sr. Presidente, composta por analfabetos funcionais! Se somarmos a isso os analfabetos absolutos, chegamos a 75%, ou três quartos da população! Não é apenas triste ver o desempenho dos estudantes brasileiros em testes comparativos internacionais, nos quais não é raro estarmos ocupando os últimos lugares: é também preocupante, alarmante mesmo.

Tudo isso não tem solução se não passar por uma valorização do professor. Valorizar o professor significa investir em sua formação, melhorar as perspectivas da carreira, oferecer melhores salários e melhores condições de trabalho. Mas implica também que a sociedade, como um todo, passe a olhar para esse profissional com a atenção que ele merece.

Não nos esqueçamos, Srªs e Srs. Senadores, que nossas crianças - nossos filhos -, que são o futuro, serão, em grande parte, aquilo que seus professores farão delas. Poderão ser melhores ou piores - ou seja, nosso futuro poderá ser melhor ou pior -, dependendo do trabalho, melhor ou pior, de seus professores.

Voltamos, assim, às duas efemérides que motivaram este meu pronunciamento. No dia 12 de outubro, costumamos presentear nossas crianças, como parte das comemorações desse dia. No dia 15 de outubro, festejamos os professores. Juntemos as duas datas: o melhor presente que podemos dar a nossas crianças e a melhor homenagem que podemos prestar aos educadores é a valorização e o reconhecimento do professor.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos nós temos na memória pelo menos um professor ou uma professora querida, aquele ou aquela que fez diferença em nossas vidas, que não só nos ensinou, mas deixou em nós a sua marca, como um escultor deixa sua impressão na pedra que esculpe. Reconheçamos as nossas dívidas e, por intermédio desses educadores em nossa memória, prestemos a justa homenagem que os professores merecem.

Sei bem como é dura a vida de professor. Conheço os desafios de preparar aulas, de preparar-se para as aulas, de enfrentar turmas às vezes turbulentas, de eventualmente lutar contra as barreiras da falta de preparo, de interesse ou de motivação dos alunos. Mas conheço também o prazer de ensinar, de transmitir conhecimento, sobretudo para os mais jovens, de ver os alunos crescendo e se tornando mais autônomos. Se há frustrações e dificuldades, poucas outras ocupações são capazes de produzir a mesma satisfação.

Deixo aqui, portanto, as homenagens do PMDB a todos os professores e professoras do Brasil, que, muitas vezes motivados apenas por seu idealismo, contra todas as dificuldades, têm ajudado a dar forma ao futuro deste País.

Muito obrigado.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/10/2005 - Página 35395