Discurso durante a 184ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do Dia do Aviador e do Dia da Força Aérea Brasileira.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. FORÇAS ARMADAS.:
  • Comemoração do Dia do Aviador e do Dia da Força Aérea Brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 21/10/2005 - Página 35660
Assunto
Outros > HOMENAGEM. FORÇAS ARMADAS.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, AVIADOR, SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, FORÇAS ARMADAS, COMENTARIO, RELACIONAMENTO, ORADOR, AERONAUTICA, PERIODO, FUNÇÃO, POLICIAL, POLICIA FEDERAL, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, FORÇA AEREA BRASILEIRA (FAB), INTEGRAÇÃO, TERRITORIO NACIONAL, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, REFORÇO, SISTEMA DE VIGILANCIA DA AMAZONIA (SIVAM), OBJETIVO, DEFESA, EFICACIA, SOBERANIA NACIONAL.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Meu caro Presidente Renan Calheiros, que ilustra esta Casa, Srªs e Srs. Senadores, cumprimento meu querido amigo Tenente Brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, que conheci com três divisas, capitão da Aeronáutica - estamos ficando velhos, chefe -; e o Tenente Brigadeiro Sérgio Pedro Bambini, chefe do Estado-Maior da Aeronáutica.

Brigadeiro Bambini, hoje, ali sentado, ouvi a enunciação do seu nome e lembrei-me do Brigadeiro Brandini. O tempo passa, e as coisas vão-se repetindo, infelizmente, neste País. Trabalhei com o Brigadeiro Brandini na CGI, quando a Aeronáutica foi encarregada de apurar a corrupção existente. Na época, ele ainda era Coronel e, se não me engano, estava sendo promovido a Brigadeiro. Foi ali que dei os primeiros passos como profissional de Polícia, junto às Forças Armadas, por meio da Aeronáutica.

Então, com todo o respeito, Brigadeiro Bambini, lembrei-me do meu amigo, hoje falecido, Brigadeiro Brandini, herói da guerra, piloto de avião de caça da nossa esquadrilha. Ele tinha uma placa de aço na cabeça e, às vezes, dizia: “Tuma, de vez em quando, a minha cabeça esquenta, perco o equilíbrio, fico nervoso, quero partir para a luta”. Historicamente, a gente rememora esses heróis brasileiros, que deram praticamente tudo da sua vida em benefício da Pátria.

Saúdo também o General de Exército Renato César Tibau da Costa, Chefe do Estado-Maior das Forças Terrestres, representante do nosso Comandante e amigo General Albuquerque - ainda ontem, tínhamos oportunidade de vê-lo na Amazônia, sobrevoando várias áreas para constatar o sofrimento da população local pela dificuldade gerada pela seca de rios e de lagoas da região, algo que nunca poderia imaginar na minha vida. Ainda hoje, durante o jornal do meio-dia, vi lagoas repletas de peixes mortos por falta de oxigênio, em razão desse processo tão deletério que vem acontecendo na Amazônia.

O nosso Vice-Almirante Newton Cardoso, Chefe do Estado-Maior da Marinha, aqui representa o Comandante Almirante de Esquadra Roberto Guimarães Carvalho, que também não se encontra em Brasília e manda o ilustre oficial representá-lo.

Senador Aelton Freitas, primeiro, quero cumprimentá-lo pela iniciativa. Fico com um pouco de inveja, porque queria que tivesse partido de mim o pedido dessa solenidade. Sempre fico, na cabeça, com o 23 de outubro.

Hoje, pela manhã, ao pegar a agenda, vi que havia solenidade. Disse assim: “Meu Deus do céu, queria tanto cumprimentar a Aeronáutica, mas eu não vou ter tempo de pesquisar e atualizar o discurso que fiz no ano passado!”. Então, fiquei rememorando algumas histórias tão vibrantes do que representam as nossas Forças Armadas na preservação do território nacional e na manutenção da nossa soberania.

Lembro-me de, muitas vezes, voar com a Aeronáutica na Amazônia, para a eliminar o trabalho de garimpeiros que traziam enormes prejuízos à ecologia local. E, às vezes, partia-me o coração, Senador Ney Suassuna. Um dia, desci de um helicóptero pilotado por um oficial da Aeronáutica, e, na pista, estava um garimpeiro sentado numa barrica, num tambor de combustível. Falei: “Menino, vamos saindo daqui”. Ele devia ter uns 18 anos, 19 anos. Disse: “Temos de desocupar. Você vai pegando o seu caminho”. Ele falou: “Doutor, eu não consigo. Eu estou com malária, não consigo sair daqui de cima. A febre é alta”. O piloto, atendendo ao meu pedido, colocou o rapaz no helicóptero e levou-o para Rondônia para ser tratado no hospital. Eu o visitei na minha volta, e, sem dúvida alguma, seu estado de saúde estava melhor.

Visitei alguns locais ocupados por comunidades indígenas. Brigadeiro Bueno, os índios, provavelmente, não saberiam cantar o Hino Nacional, mas o Hino da Aeronáutica tranqüilamente eles cantaram sempre que estivemos nessas comunidades.

Em certa oportunidade, eu estava com um oficial, e havia um quadro feito pelos índios sobre o problema da Aeronáutica e a necessidade de sua existência até para a locomoção dos habitantes - eles desenvolviam um trabalho na região devido às dificuldades de transporte. Ele disse para mim: “Dr. Tuma, desculpe-me, mas vou levar esse quadro, porque ele está na nossa alma, explica o que representa a Aeronáutica. Com orgulho, eu preciso desse quadro”. Falei: “Então, vamos pedir, porque, se o furtar, terei de prendê-lo em flagrante”. E a comunidade entregou o quadro ao oficial, de quem infelizmente não me lembro o nome. Mas ele deve-se lembrar do fato.

Então, são histórias com as quais convivemos no nosso dia-a-dia, na profissão de policial. Deus resolve colocar as pessoas em alguns locais. Talvez, no dia em que me levar para cima, Ele possa me explicar o porquê disso, Senador Renan Calheiros, por que tive a oportunidade de conviver com esses homens das Forças Armadas, que demonstraram toda dedicação a serviço da Pátria.

Senador Ney Suassuna, sei que aqui não podemos falar de salário, porque senão vou ter de chorar duas vezes mais, vou sofrer dez vezes mais. Mas sei da dedicação dessas pessoas. O salário é questão de sobrevivência, não é o importante para aquele que, por vocação, vestiu a farda para servir a Pátria. E sentimos isso de perto em regiões inóspitas do nosso País.

Estamos falando da Aeronáutica, porque estamos às vésperas de comemorar o Dia do Aviador, 23 de outubro, mas todos, Marinha, Aeronáutica e Exército, sempre tiveram a vocação de servir à sociedade menos favorecida nesses locais a que somente as Forças Armadas têm acesso.

A Aeronáutica tem um trabalho excelente. Senador Ney Suassuna, V. Exª falou do Correio Aéreo Nacional - CAN, que foi uma das coisas mais importantes que o Brigadeiro Eduardo Gomes conseguiu formar, levando correspondência àqueles que jamais poderiam recebê-la por caminhos comuns. O CAN fez um trabalho maravilhoso.

Vimos de perto a instalação dos postos de vigilância na Amazônia, os pelotões de fronteira. A Aeronáutica construiu todas as pistas. Andamos naquele avião, o Búfalo, que estava começando a ser decapitado, porque não havia mais verba para recuperá-lo. Tinham de tirar peça de uma aeronave para a outra, e nem sei se já terminaram esses aviões. Estamos lutando. Tive uma reunião com V. Exª, conseguimos a aprovação da aquisição do P3. Eu falei P30, e ele me corrigiu que era o P3.

Foi a primeira vez, Senador Ney Suassuna, Senador Aelton Freitas, Senador Luiz Octávio, Senador João Maranhão - nós que aqui nos autoprestigiamos com esta cerimônia - que eu ouvi falar na Amazônia Azul, pela boca do Brigadeiro Bueno. Eu aprendi que o mar territorial brasileiro precisava ser preservado não apenas porque era interesse nacional, mas porque os acordos internacionais nos obrigavam a manter a vigilância e o serviço de salvamento para aqueles que precisassem da Aeronáutica sobrevoando. Tivemos uma luta interessante, em que fui aprendendo um pouco sobre essa importância.

Eu digo que sou um Segundo Tenente meio fajuto da Aeronáutica, por já ter voado muito com ela em tantos locais inóspitos, até com avião monomotor, pela Amazônia. Nós brincávamos, outro dia, que, às vezes, lá no garimpo, pegávamos alguns aviões de garimpeiros, que não tinham nenhum tipo de assistência mecânica. Precisava ter peito para voar naqueles aviões. Mas a Aeronáutica também tem demonstrado que o suprimento tem caído e tem havido muita dificuldade. Acompanho de perto, porque sou um apaixonado pelas Forças Armadas. Eu digo que minha alma tem farda. O meu corpo, uma vez, recebeu uma farda do Exército - eu fiz o CPOR - e eu sou um fardado.

Todos os países sabem o que representam as Forças Armadas. Nenhum país consegue manter a sua soberania sem as Forças Armadas em condições de agir.

Um dia, eu assisti a uma palestra do Comandante da Amazônia sobre todos os aspectos da presença do Exército na região e de outras forças que também colaboram. O importante, Senador Renan Calheiros, é que temos Forças Armadas unidas - Marinha, Aeronáutica e Exército trabalham como força-tarefa conjunta e permanentemente. E eu perguntei: “General, nós temos condições de manter o território livre de qualquer ação de uma força superior?” E ele respondeu: “Não. Aqui, nós só temos condições de agir como guerrilheiros e dificultar a ocupação”. Então, nós temos de repensar. O Governo tem de repensar.

Por mais vocacionada que seja uma atividade, o portador dessa vocação tem de ter o reconhecimento moral da importância que representa na sua atividade. Tenho sentido, às vezes, que algumas áreas do Governo não vêem com bons olhos a aplicação de investimentos nas Forças Armadas e nos homens que a compõem.

Ontem, aqui desta tribuna, fiz um apelo ao Presidente da República para que trocasse seus informantes, que pedisse ao Sivam e ao Sipam as informações detalhadas necessárias para evitar o que vem ocorrendo na Amazônia.

Conheço toda a evolução e as dificuldades que tiveram principalmente os oficiais da Aeronáutica na construção, na implantação e na manutenção do Sivam/Sipam. V. Exª me dizia que há mais de 200 pontos de vigilância na Amazônia.

Vemos a Colômbia, com um sistema de radares implantado pelo governo americano. Vemos o Paraguai, com cerca de 400 marines prestando serviço. Segundo consta, há uma orientação para um trabalho conjunto. E nós, como ficamos? Temos de aumentar a nossa vigilância, não sob suspeita dos americanos, mas porque temos de ter as costas resguardadas e vigilância permanente de fronteira.

Eu falei demais, Brigadeiro, mas peço a Deus que abençoe esses pilotos e que a Aeronáutica e as Forças Armadas sejam reconhecidas pelo papel importante que desempenha para a garantia da soberania e dos direitos individuais dos cidadãos, principalmente a cidadania.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/10/2005 - Página 35660