Discurso durante a 185ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Debate a respeito do referendo sobre o desarmamento. Comentários à denúncia publicada hoje na imprensa envolvendo o Senador Geraldo Mesquita Júnior. Protesto pela exploração de mulheres.

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR. FEMINISMO.:
  • Debate a respeito do referendo sobre o desarmamento. Comentários à denúncia publicada hoje na imprensa envolvendo o Senador Geraldo Mesquita Júnior. Protesto pela exploração de mulheres.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/2005 - Página 35877
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR. FEMINISMO.
Indexação
  • REGISTRO, DECISÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), RESPEITO, LIBERDADE, ESCOLHA, MEMBROS, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, VOTO, REFERENDO, DESARMAMENTO.
  • REPUDIO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), INCENTIVO, PRODUÇÃO, ARMA DE FOGO, GUERRA, CRITICA, VISITA, CHEFE DE ESTADO, BRASIL.
  • ANUNCIO, APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, DEPOIMENTO, GERALDO MESQUITA JUNIOR, SENADOR, CONSELHO, ETICA, DECORO PARLAMENTAR, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, EXTORSÃO, FUNCIONARIOS, GABINETE.
  • COMENTARIO, DENUNCIA, EMPRESARIO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, EXPLORAÇÃO, PROSTITUIÇÃO, NEGOCIAÇÃO, LIDERANÇA, SINDICATO.
  • REPUDIO, CONDUTA, CONGRESSISTA, PARTICIPAÇÃO, FESTA, EXPLORAÇÃO SEXUAL, MULHER, COMEMORAÇÃO, RECEBIMENTO, PROPINA, GOVERNO FEDERAL, REALIZAÇÃO, HOTEL, CAPITAL FEDERAL.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos sendo visitados por uma comissão de jovens surdos-mudos.

(A Srª Senadora faz uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras).

            A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Sejam muito bem-vindos. Aqui, no Senado, no dia de hoje, há alguns que trabalham, há alguns que passeiam...

Srª Presidente e Srs. Senadores, vou tratar, rapidamente, no tempo que me cabe, de três assuntos.

Um deles é o debate que está vinculado ao “sim” ou “não” no referendo. No P-SOL, do qual sou Presidente, adotamos a resolução de respeitar os nossos militantes e Parlamentares, que farão as duas opções. Como já tive oportunidade de dizer na Casa, há mulheres e homens de bem e de paz que votam “não” e mulheres e homens de bem e de paz que votam “sim”, do mesmo jeito que existem demagogos, corruptos, cínicos, fascistóides que votam “sim” e demagogos, cínicos, corruptos, fascistóides que votam “não”. Então, estabelecer um maniqueísmo em relação ao “sim” ou “não”, efetivamente, não é algo sério.

Senadora Iris, teremos a oportunidade de, já na outra semana, identificar quem está-se posicionando nesse referendo de forma demagógica ou fascistóide, ou de ambas as formas, durante a visita do Presidente Bush ao Brasil - o neofascista, assassino em série, que dinamiza a economia local dos Estados Unidos produzindo armas e guerras. Todos sabem exatamente o que são as guerras patrocinadas pelos Estados Unidos, disputando petróleo e destruindo nações inteiras, estuprando mulheres com fuzil e estourando cabeças de crianças com as mais diversas formas de armas, cuja produção é incentivada pelo governo americano. Não é à toa que o Presidente Bush e o governo americano disponibilizam mais de 60% do seu orçamento para a produção de armas.

Nessa ocasião, teremos a oportunidade de identificar quem está votando “sim” ou “não” por concepção, por honestidade, pelo argumento responsável, e quem é cínico, demagogo ou fascistóide, porque é evidente que quem votar “sim” não poderá receber o Presidente Bush. É até uma demagogia explícita, pois vão comer carne. Pena que a aftosa não seja transmitida aos seres humanos, senão eu até desejaria que comessem carne contaminada. Se não bastassem todas as guerras que tem patrocinado, o Presidente Bush virá comer um churrasco em companhia do Presidente Lula e de outras lideranças políticas. Isso é, no mínimo, um cinismo gigantesco, porque se deveria fazer um protesto e mostrar ao Presidente Bush que ele é persona non grata no Brasil, solicitando-lhe que não produzisse mais armas e guerras e que não matasse nações inteiras como está fazendo.

Do mesmo jeito, quem tem um bom coração e, por motivos nobres, está votando “não” também não poderá apoiar a vinda do Sr. Bush, porque o que está por trás da indústria de armas é uma coisa absolutamente abominável, especialmente no caso das que são produzidas nos Estados Unidos, que são diferentes daquelas compradas pelo cidadão comum: são fuzis, granadas, AR-15 e outras coisas mais.

Assim, teremos oportunidade de, na visita do Bush, identificar quem vota “sim” ou quem vota “não” por princípio, concepção e argumento honesto, ou quem o faz por cinismo, dissimulação e uma concepção fascistóide qualquer.

Portanto, volto a afirmar que os militantes do P-SOL, bem como os seus dirigentes e Parlamentares, estão liberados para votar no referendo. Continuo acreditando que existem mulheres e homens de bem e de paz que votarão “sim” e mulheres e homens de bem e de paz que votarão “não”, do mesmo jeito que existem corruptos, cínicos e demagogos nas duas posições também.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou tratar de mais dois outros temas.

Hoje, um importante jornal do Brasil apresentou, em manchete, um problema envolvendo o Senador Geraldo Mesquita, dizendo que S. Exª cobra “mensalinho” de funcionários do seu gabinete.

Evidentemente, como todos os Parlamentares e militantes de Partido sabem, todas as pessoas são obrigadas a dar uma contribuição para o Partido. Todas as pessoas fazem isso, ou por obrigação, ou por vontade de fazê-lo. Todo mundo faz isso, que é completamente diferente de extorsão. Obrigar-se uma pessoa a disponibilizar o dinheiro é algo completamente diferente.

Falei com o Senador Geraldo Mesquita, que me disse estar com a consciência tranqüila, pois não tem absolutamente nada a ver com qualquer mecanismo de corrupção.

Doar dinheiro a uma estrutura partidária é uma coisa completamente diferente e não tem relação com mensalão. Eu estou dando mais de 70% para a construção do meu Partido, que será um instrumento de luta para a classe trabalhadora. Ninguém está-me extorquindo, ninguém está exigindo que eu dê 70% do meu salário para contribuir com o P-SOL. Da mesma forma, há militantes do P-SOL que dão zero, zero do salário, porque não podem dar. É completamente diferente. Inclusive, como nosso estatuto é provisório, não estabelece qual o percentual que vai ser dado. Assim, há quem não dê absolutamente real algum, há os que dão e aqueles que, como nós, Parlamentares, damos muito mais - e não são os nossos assessores.

Discuti com o Senador Geraldo Mesquita, que diz que isso é perseguição, inclusive dos adversários do PT que tem no Estado. Ele continua insistindo que foi uma grande armação feita contra ele e terá oportunidade de se defender, tanto na Executiva do P-SOL, como no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar desta Casa. Ainda hoje, estarei protocolando um requerimento para que o Senador Geraldo Mesquita, nosso companheiro, dê as suas explicações no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado. Ao contrário de outros que, quando aparecem denúncias, fazem o abafão e jogam lama nos outros para, de alguma forma, tentar espalhar a podridão e esconder o seu próprio odor fétido, vamos esclarecer a verdade, porque eu não tenho dúvida de que isso ocorrerá.

O Senador Geraldo Mesquita Júnior disse que está absolutamente tranqüilo. Também queremos ficar tranqüilos e esperamos que S. Exª, que hoje está no Acre, se reúna com a Executiva do P-SOL. Ainda hoje, protocolaremos, no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar desta Casa, requerimento para que ali S. Exª preste os seus esclarecimentos.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, também quero abordar outro tema. Hoje não vou tratar da pocilga de corrupção do Governo Lula, mas da exploração de mulheres pelos militantes os mais diversos. É algo realmente impressionante. Não vou falar no nome de ninguém, nem de Ministro, nem de Senador, nem de Deputado, embora eu tenha a má-sorte de ter conhecimento de alguns Senadores e Deputados que eram fregueses da cafetina, aqui em Brasília, quando iam comemorar o dinheiro público roubado que recebiam da promiscuidade Palácio do Planalto-Congresso Nacional. Não vou dizer os nomes porque quem quiser preservar os seus casamentos de mentira e de fachada que o faça e que as suas consciências um dia serão capazes de falar ou não alguma coisa. Também não vou falar o nome do Ministro até porque não sei ao certo se S. Exª estava envolvido, embora a própria direção da Volkswagen esteja dando declarações sobre isso. Não vou falar o nome de Ministro.

Quero apenas deixar aqui registrado - já tive oportunidade de fazê-lo outras vezes - o quanto de infâmia existe na exploração de mulheres. É absolutamente abominável. Agora, um jornal alemão... Uma das maiores indústrias automobilísticas do mundo, a Volkswagen, está abrindo várias auditorias, vários procedimentos porque se descobriu que os altos executivos dessa grande empresa pagavam viagens de turismo sexual, portanto alugavam meninas espalhadas pelo mundo, para convencer - imaginem que safadeza! -, para, de alguma forma, tentar minimizar as relações tensas entre a liderança sindical e o altos executivos da empresa automobilística. E eles usavam dinheiro dessas empresas automobilísticas para promover turismo sexual, contratando garotas de programa. Os altos executivos diziam que faziam isso com o dinheiro da empresa, promoviam turismo sexual para, de alguma forma, “convencer” as lideranças sindicais para que estas agissem com mais tolerância diante dos executivos.

Do mesmo jeito, para mais uma vez deixar aqui registrado, lembro a forma absolutamente promíscua, desavergonhada como se comemorava o recebimento do dinheiro público roubado aqui, no Congresso Nacional, em Brasília. Como é de conhecimento de todos, o atual Governo montou um balcão de negócios sujos aqui, no Congresso Nacional, onde, além de liberar cargos, prestígio, emendas, poder. Além do “propinódromo”, metodologia que outros Governos também faziam para comprar Parlamentares, o atual Governo parece que acabou inovando, porque muitos Senadores e Deputados da base de bajulação do Governo, quando iam receber o dinheiro público roubado, comemoravam alugando andares nos hotéis de luxo daqui de Brasília, contratando meninas - certamente, meninas pobres - de programa, para promoverem orgias sexuais às custas do dinheiro público roubado. Isso, sem dúvida, merece o nosso protesto veemente. E eles agiam de maneira tão desavergonhada que não possibilitavam sequer que as meninas comessem, para que elas não pudessem ter sono. Eles faziam isto: colocavam as pobres meninas de programa para pegarem dólar ou os reais roubados que eles recebiam da promiscuidade Palácio do Planalto-Congresso Nacional e mandavam que elas pegassem o dinheiro com a boca.

Então, fica realmente muito difícil: além de agüentar a pocilga da corrupção, implementada na relação promíscua Palácio do Planalto-Congresso Nacional, ainda identificar orgias sexuais e exploração de mulheres para comemorarem o recebimento do dinheiro público roubado, do mensalão ou qualquer denominação que essa podridão tenha, merece o veemente protesto de qualquer pessoa de bem e de paz.

Portanto, aqui fica também o meu protesto.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/2005 - Página 35877