Discurso durante a 185ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o meio ambiente no Amazonas. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Preocupação com o meio ambiente no Amazonas. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/2005 - Página 35879
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, SECA, REGIÃO AMAZONICA, COMENTARIO, EFEITO, DESMATAMENTO, POLUIÇÃO, COBRANÇA, PROVIDENCIA, AUTORIDADE, SUGESTÃO, DEBATE, CONGRESSO NACIONAL, COMUNIDADE, ATIVIDADE CIENTIFICA, POPULAÇÃO, REGIÃO, OBJETIVO, DIAGNOSTICO, CALAMIDADE PUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, venho à tribuna para abordar um tema que, eu insisto, não é jamais paroquial, não é meramente regional; ao contrário, é de enorme interesse do País, até porque é de interesse visivelmente planetário. Refiro-me à vazante, que é cíclica, mas desta vez, no meu Estado, com conseqüências, em vários Municípios, desastrosas, conseqüências que me fazem pensar se estamos ou não à beira de um desastre ecológico.

Há desmatamentos nas cabeceiras dos rios. Isso é grave. Há atividades, como a soja, rentáveis, boas para exportação, geradoras - sobretudo do ponto de vista indireto - de empregos, que têm de ser avaliadas do ponto de vista do peso que podem ter sobre esses eventos.

            Há, de fora para dentro, a responsabilidade de países desenvolvidos e a poluição desenfreada que produzem, gerando o aquecimento das águas dos oceanos e, sem dúvida alguma, talvez exercendo influência sobre o regime de chuvas na região Amazônica.

Eu tenho a crença de que não se precisa desmatar toda a floresta Amazônica para se transformar esse tesouro num deserto.

Eu tenho a crença de que basta se chegar a um determinado nível, a um determinado percentual de desmatamento e, a partir daí, se terá uma alteração radical no regime de chuvas e, a partir daí, se terá o chamado point of no return, o ponto de não retorno, que, na aviação, é muito bem conhecido como aquele avião que sofre pane: ele tem três horas de viagem e já cruzou mais da metade do caminho; com pane ou sem pane, ele tem de seguir para algum lugar. É melhor ir para a frente do que retornar, porque é mais perto ir para o próximo aeroporto, que está a menos da metade do percurso total. Então, temo muito isso.

Aqui digo que um Senador do meu Estado, o Senador Evandro Carreira, nem sempre tratado com a seriedade que o seu discurso merecia, foi o primeiro parlamentar a abordar a questão da Amazônia, tentando dar a essa abordagem foro de cientificidade. Não foi muito ouvido, mas gostaria de começar a resgatá-lo. Gostaria, mais ainda, de dizer que é preciso se juntar a experiência empírica dos habitantes da minha região ao acúmulo de cultura científica de entidades como o Museu Goeldi, como a Universidade Federal do Pará, a Universidade Federal do Amazonas, as Universidades Federais dos Estados da região, todos, o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia(*)), para nós, fazendo um grande brainstorm, uma grande tempestade cerebral, podermos chegar a diagnósticos precisos sobre o que se passa na Região Amazônica.

É extremamente grave, a meu ver, não o fato de a vazante ter ocorrido, mas o fato de a vazante ter ocorrido com as conseqüências que nós vimos e que, a meu ver, diferem de outras de décadas passadas.

Quando cheguei, Sr. Presidente, de volta ao meu Estado - eu estudava no Rio de Janeiro, cheguei em 1978 de volta ao Amazonas - eu estava reiniciando uma vida que tinha deixado de ser minha. Cheguei lá e vi alguém se referir, no interior do Estado, ao período da “seca”. Eu dizia: período da “séca”? Será que ele não está pronunciando direito a palavra seca? E fiquei pensando naquilo; fui para casa pensando naquilo com muito cuidado: período da “séca”? Eu sabia que período da cheia era água. Todo mundo sabe que cheia é igual a água. E “séca” eu ligava à seca que vemos comumente no Nordeste.

O homem do interior da Amazônia é tão sábio que inventou uma palavra. Ele dizia: seca é para o Nordeste, é um fenômeno do Nordeste. “Séca” é um fenômeno de uma região que tem tanta água, que não se pode dizer que nela há seca. Então, inventou a palavra “séca”. Isso mereceria um verbete no dicionário Houaiss, no dicionário Aurélio. E até uma idéia, escrever a sugestão aos dicionaristas para que incluam esse verbete.

Recomendo que além desse rame-rame, de todo esse feijão com arroz, toda essa história de ministro sobrevoa e governador visita - e eu estou solidário com o Governador para estar solidário com o meu povo - mais cesta básica. E o governo promete, o governo cumpre, o governo não cumpre. Isso tudo faz parte de um certo rame-rame, de um certo feijão com arroz, que não é o que estou propondo. Estou propondo, primeiro, um governador com inserção no mundo, com interlocução com o mundo.

(Interrupção do som.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Proponho, Sr. Presidente, um governador do Amazonas com capacidade de falar para o mundo, de estabelecer uma interlocução com o mundo. Ser recebido numa ONU, não trivialmente, mas, pelo menos, com o status que cabia, digamos, a um Yasser Arafat*, falecido líder da OLP.

Afinal de contas, o Amazonas é a pátria da água; com a Amazônia, é a pátria da biodiversidade, da cobertura florestal. É a pátria do futuro mais brilhante desta Nação.

            Proponho, portanto, que, além das providências de praxe e que dão a impressão de uma falsa normalidade, ou seja, tão assim as águas voltarem - elas já estão voltando - tudo passa, e temos que aguardar algumas décadas para termos nova enchente, nova vazante, com proporções que ainda não podemos definir quais seriam - e temo que sejam mais desastrosas ainda. Quero pensar numa Amazônia para milênios, quero pensar na Amazônia como “galinha dos ovos de ouro”; não quero pensar na Amazônia para ganhos de curto prazo, para ganhos egoísticos, privilegiando uma racionalidade que não seja a racionalidade do futuro.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, proponho uma grande reflexão do Congresso Nacional, da comunidade científica brasileira, da comunidade científica da minha região, levando em conta a experiência empírica dos habitantes da Amazônia e, sem dúvida alguma, nós todos nos alçando à compreensão de que não tem nada mais importante neste País do que diagnosticar a Amazônia com inteligência e precisão, porque, para mim, a vazante não foi meramente uma repetição do que houve de outras vezes - as conseqüências foram funestas - e não hesitarei em me colocar contra qualquer ganho econômico de curto prazo se eu perceber que está em jogo o futuro do meu povo, o futuro dos nossos netos, dos nossos filhos, dos nossos bisnetos, dos nossos pósteros, o futuro de uma região sem a qual o Brasil será um país medíocre.

Com a Amazônia, o Brasil será, necessariamente, um país brilhante. Sem a Amazônia, o Brasil será, forçosamente, um país medíocre, e não pretendo a mediocridade nem a insanidade para este País. E deixar a Amazônia ao Deus dará significa contemplar a idéia da insanidade em nome de ganhos econômicos imediatos. Recomendo que o Governo brasileiro seja duro cobrando dos países desenvolvidos a parte que lhes cabe nesse processo que pode estar sendo iniciado de irreversível destruição da floresta amazônica.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/2005 - Página 35879