Discurso durante a 185ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Indicadores sociais e econômicos do Distrito Federal. Rejeição do rótulo de cidade corrupta para Brasília.

Autor
Paulo Octávio (PFL - Partido da Frente Liberal/DF)
Nome completo: Paulo Octávio Alves Pereira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL. IMPRENSA.:
  • Indicadores sociais e econômicos do Distrito Federal. Rejeição do rótulo de cidade corrupta para Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/2005 - Página 35889
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL. IMPRENSA.
Indexação
  • ELOGIO, INDICE, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, CAPITAL FEDERAL, IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, REGIÃO CENTRO OESTE.
  • LEITURA, MANIFESTO, GRUPO, CIDADÃO, BRASILIA (DF), PARTICIPAÇÃO, ORADOR, REPUDIO, DECLARAÇÃO, IMPRENSA, OPINIÃO PUBLICA, VINCULAÇÃO, POPULAÇÃO, CAPITAL FEDERAL, CORRUPÇÃO.
  • SOLICITAÇÃO, APOIO, CONGRESSISTA, PRESERVAÇÃO, REPUTAÇÃO, CAPITAL FEDERAL.

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente, Senador Luiz Otávio, Srªs e Srs. Senadores, inicialmente, quero cumprimentar o Senador Ney Suassuna por ter a capacidade de fazer um pronunciamento conciso, em tão curto espaço de tempo.

O que me traz à tribuna é Brasília, esta cidade construída em mil dias. Brasília marca uma epopéia de brasileiros de todos os quadrantes, sob a liderança forte e determinada de Juscelino Kubitschek. Esta cidade está impregnada de misticismo e de espiritualismo, pois nasceu sob o signo da religiosidade, a partir do sonho de Dom Bosco e do idealismo dos inconfidentes, de Tiradentes e do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva.

Ocorre que a nossa Capital, que hoje abriga 2,3 milhões de habitantes, tem uma iniciativa privada pujante, com indústrias não poluentes, com pequenas fábricas, como indústrias de mobiliário e de vestuário, com um comércio forte, com segmentos importantes, e torna-se, a cada dia que passa, uma referência no comércio de toda a Região Centro-Oeste, um grande pólo atacadista. Trata-se de uma cidade que trabalha, que produz e que não vive somente dos salários governamentais. Brasília não se circunscreve unicamente à Praça dos Três Poderes.

Brasília possui os melhores indicadores sociais e econômicos do País. Aqui, temos uma das mais altas rendas per capita, uma quantidade enorme de telefones celulares - a maior média da América do Sul -, de automóveis, enfim, a cidade tem buscado o desenvolvimento econômico e o tem conseguido com muito sucesso. No entanto, não é só dos indicadores econômicos que nos orgulhamos.

Queremos falar alto e bom som sobre os indicadores sociais, como o mais alto índice de pessoas com nível superior - temos nada menos do que 64 faculdades -, a menor evasão escolar, o maior índice de escolaridade, de serviços de eletricidade e de água por habitante, e muitos indicadores de saneamento e de saúde e outros sociais, educacionais e culturais.

O Distrito Federal tem a sua maior concentração fora da área da Capital, onde se instauram os bolsões de carência social, cuja assistência por parte do Governo dá-se por conta dos 64 programas sociais por ele empreendidos, atendendo às mais diversas áreas e instâncias das necessidades da população mais pobre. Mais de 500 mil pessoas no DF foram atendidas, no ano passado, por alguns dos projetos sociais empreendidos pelo Governo.

Esta cidade tem outra característica: é uma cidade sem favelas, graças ao trabalho do Governador Roriz, que, pacificamente, de forma ordeira e organizada, extinguiu mais de 60 favelas no Plano Piloto, criando os chamados assentamentos populacionais, no início e, hoje cidades, com regiões administrativas, e dispondo dos serviços básicos de água, eletricidade, escolas, hospitais, asfalto, comércio e indústrias.

São cidades que surgiram do dia para a noite e, com as dimensões gigantescas da nossa capital, em menos de dez anos, transformaram-se em verdadeiras metrópoles, maiores do que milhares de cidades centenárias brasileiras. Falo de Ceilândia, Samambaia, cidades que têm mais de 300 mil habitantes, um fenômeno que, no Brasil, só acontece em Brasília.

Além de tudo isso, a cidade propiciou, facilitou e ajudou a desenvolver todo o Centro-Oeste: o nosso querido Estado de Goiás - que cedeu uma parte de seu território para a construição da capital -, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, ampliando nossas fronteiras agrícolas, que se tornaram campeãs de produtividade no campo, superando, em soja, milho e outros produtos, os índices de produtores tradicionais, como o Rio Grande do Sul.

Sr. Presidente, essa pujança econômica e social de Brasília que acabo de relatar rejeita o rótulo de cidade corrupta que lhe vem sendo imputado pela imprensa e por grande parte da opinião pública brasileira, em função do escândalo político atual que abala o PT e o Governo.

No último dia 18, terça-feira, foi a vez de a modelo Daniela Cicarelli - que, recentemente, obteve destaque pelo seu casamento, desfeito de forma muita rápida, com o nosso craque Ronaldinho - fazer um pronunciamento extremamente infeliz no programa do Jô Soares, da Rede Globo, afirmando, em alto e bom som, para todo o Brasil, referindo-se ao jogo de buraco, em que rouba profissionalmente: “Parece que nasci em Brasília”. Ela demonstrou profundo desconhecimento da sociedade candanga, pautada nos melhores valores éticos. Indignou a nossa sociedade ao associar os filhos de Brasília a atos de corrupção no meio político.

Existe aqui uma confraria, dentre as muitas existentes na cidade, à qual me orgulho de pertencer: a Confraria dos Cidadãos Honorários de Brasília, fundada pelo jornalista de Taguatinga, Wilon Wander Lopes.

O título de cidadão honorário é a maior honraria que me orgulho de ter recebido e é conferido pela Câmara Legislativa de Brasília.

Em função das declarações da apresentadora Hebe Camargo, em que disse ter medo de vir a Brasília, e de outras publicações na imprensa, referindo-se equivocadamente a Brasília como foco da corrupção, a Confraria divulgou um manifesto à Nação sob o título: “O Povo de Brasília Merece Respeito”. Repito: O Povo de Brasília Merece Respeito. Nele, a Confraria se manifesta a favor da cidade e de seus valores contra a ironia e o sarcasmo com que setores da imprensa, especialmente comentaristas e humoristas, têm tratado a nossa cidade, confundindo sua comunidade com políticos que, vindos de todo o Brasil, usam a Praça dos Três Poderes como palco para as suas atividades.

Esses comentários maldosos afetam a boa imagem de Brasília, envergonhando as pessoas mais humildes e jovens que, não tendo condições de rebatê-los de pronto ou por não terem idéia de que tais comentaristas tomam a parte pelo todo, aderem à infeliz “brincadeira”, ou fogem do assunto, sempre se envergonhando ante outras pessoas, especialmente parentes de outras cidades. Isso ocorre muito no período das férias escolares, quando os brasilienses vão às praias e são objeto de escárnio e de comentários maldosos, quando não de desprezo por parte dos brasileiros. E são cidadãos honestos, trabalhadores, que nada têm a ver com os erros dos Parlamentares que vêm a Brasília eleitos por todos os Estados brasileiros.

Por isso, a apresentadora Hebe Camargo, diante da reação da Confraria dos Cidadãos Honorários de Brasília, divulgou nota publicada na íntegra pelo jornal Correio Braziliense, em que pede desculpas aos brasilienses do Plano Piloto e cidades satélites. E diz que muita gente dos mais variados pontos do País incorre no mesmo erro: Brasília assume o ônus de abrigar políticos de todos os Estados brasileiros, políticos do País.

No Manifesto, a Confraria proclama a todo o Brasil que:

1. Brasília não é apenas a Praça dos Três Poderes; é uma cidade humana e vibrante, admirada em todo o mundo, vivida por mais de dois milhões de habitante, os quais têm orgulho e satisfação de abrigar e de servir a todos os nacionais e estrangeiros que a procuram como capital de todos os brasileiros.

2. Responsável por realizar a maior obra da história do Brasil em apenas três anos, o povo de Brasília não concorda com os fatos negativos praticados por políticos que aqui aportam, eleitos por todas as demais unidades da federação e que usam Brasília na sua condição de capital federal.

3. Refuta, por isso, com vigor e indignação cidadã, a infeliz confusão que setores da mídia fazem, com sarcasmo e ironia, entre a capital federal e a comunidade de Brasília, cidade construída e habitada por gente honesta e trabalhadora, orgulhosa de ter realizado, também, em apenas 45 anos, o sonho de integração nacional que foi proposta pelo saudoso Presidente Juscelino Kubitschek.

Esse é o teor da nota da Confraria dos Cidadãos Honorários de Brasília.

Sr. Presidente, Senador Luiz Otávio, V. Exª que vive em Brasília, que ama Brasília; Senadora Iris Araújo, nossa Senadora de Goiás, que representa tão bem o povo goiano, tão bem integrado a esta cidade, todos sabemos da epopéia da construção desta cidade. Foi difícil construir Brasília - um gesto corajoso daqueles brasileiros, há 50 anos, num manifesto iniciado em Jataí, cidade goiana onde começou a construção desta cidade. Foi muita coragem de todo o País.

Por isso, temos de preservar esta cidade. Brasília tem de ser motivo de orgulho nacional. A capital de um país é o símbolo dele. Brasília é o símbolo da cidadania brasileira. Realmente, temos muita responsabilidade por esta cidade. Então, é importante que brasileiros, que muitas vezes assistem, nos noticiários de televisão, a problemas da política, não venham a culpar e a punir Brasília e seu povo, trabalhador, ordeiro, honesto, que nada tem a ver com as mazelas políticas. Brasília merece respeito.

Por isso, Sr. Presidente, vim aqui hoje, fiz questão de fazer este pronunciamento, pedindo ao Senado, aos Senadores, ao Congresso Nacional o devido apoio, a todos os Deputados e Senadores que vivem em Brasília, que sabem como a cidade é importante, como ela tem um papel importante para o desenvolvimento do nosso País. Esta cidade merece respeito. Não podemos mais aceitar brincadeiras desse tipo, feita por comentaristas, jornalistas, atletas. Não podemos aceitar.

É importante que o Brasil todo tenha a visão do que é a cidade que abrigou brasileiros de todos os cantos do País, e os abrigou bem. Quem veio para Brasília ama esta cidade, e vieram para cá pessoas de todos os Estados brasileiros. E o que é mais importante: estamos aqui construindo uma sociedade melhor, pautada, talvez pela miscigenação, em valores éticos, em valores de responsabilidade social. É por isso que, em Brasília, muitas vezes, campanhas de cidadania dão certo. Brasília iniciou aqui, há algum tempo, a campanha de apoio à faixa de pedestre. E foi um sucesso. É uma das poucas cidades no Brasil onde os automóveis param para as pessoas atravessarem as ruas. Foi lançada recentemente no Senado uma campanha de valorização às pessoas portadoras de necessidades especiais, de atendimentos especiais. E Brasília tem mostrado a cara nesse sentido. São vários e vários setores que estão abrigando as pessoas, que estão abrindo as portas para as pessoas portadoras de deficiência, o que realmente é um marco da cidade.

Aqui, em Brasília, temos um governo comprometido com o social, tanto é que há 64 projetos atendendo ao social, projetos que realmente têm dado às comunidades mais carentes possibilidade de viver melhor.

Então, Brasília é uma cidade marcada pelo social. Aqui foi feito um programa urbanístico, uma revolução urbanística onde conseguimos acabar com as favelas. Brasília é uma cidade que construiu, em quinze anos, várias cidades, mais de dez cidades, que hoje abrigam pessoas que moravam em favelas.

Estamos dando um bom exemplo. Brasília tem passado ao Brasil esse sentimento de participação, de solidariedade. A cidade é solidária. Uma cidade solidária como esta, que recebe brasileiros vindos de todos os cantos do País, que aqui vêm e são recebidos com calor humano; todos os dias chegam brasileiros, muitas vezes desamparados em seus Estados, e são bem recebidos. Uma cidade que não têm porta fechada para ninguém. Bem sabem os Senadores que vêm de outros Estados brasileiros como são bem recebidos aqui em Brasília, com carinho. E, de repente, a Cidade passa a ser estigmatizada por questões políticas.

Não é justo. Não é justo, e quero aqui deixar muito claro o meu manifesto contrário a esse tipo de insinuações, de brincadeiras. É o momento de parar. Os jornais e as televisões brasileiras devem ter essa responsabilidade de parar de brincar com uma Cidade que tem de ser o símbolo do País, motivo de orgulho nacional.

Por isso, trago essa manifestação, em nome da comunidade brasiliense, que está revoltada, indignada. Ontem, os jornais da cidade fizeram seus manifestos. O Jornal de Brasília foi muito claro, trouxe o Manifesto do Povo, várias pessoas dando as suas opiniões; o Correio Braziliense fez o mesmo - os jornais que têm peso na cidade.

Agora, é importante que todos os Senadores façam isso em seus Estados, resgatem a moral, a dignidade desta cidade em que vivem. Mostrem ao Brasil que não é a Cidade culpada pelas dificuldades políticas de partidos, de Deputados ou de Senadores; pelo contrário, abriga e recebe a todos com carinho, com dignidade, com humanidade. Realmente, eu diria, é um exemplo a ser seguido por tantas outras cidades brasileiras. Brasília é um símbolo do nosso País.

Sr. Presidente, era isso que eu tinha a dizer, resgatar para todos os brasilienses, para essa comunidade candanga os melhores valores, que conheço bem porque sou representante desta cidade, amo esta cidade e, conseqüentemente, sei, na minha caminhada por todos os cantos de Brasília, como esse tipo de maldade prejudica a vida das famílias, principalmente dos jovens, que ficam desarmados e não sabem que respostas podem dar às pessoas de outros Estados que, em brincadeiras maldosas, acabam prejudicando a imagem da sociedade e a imagem da nossa cidade.

Fica, portanto, registrada a minha indignação e o meu pedido para que manifestos como esses, declarações como essas não venham jamais a serem incentivadas ou publicadas nos jornais brasileiros.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/2005 - Página 35889