Discurso durante a 185ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do povo brasiliense frente ao rótulo de cidade corrupta para Brasília.

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Defesa do povo brasiliense frente ao rótulo de cidade corrupta para Brasília.
Aparteantes
Luiz Otavio, Paulo Octávio.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/2005 - Página 35897
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, DISCURSO, PAULO OCTAVIO, SENADOR, REPUDIO, DIVULGAÇÃO, IMPRENSA, ACUSAÇÃO, FALTA, IDONEIDADE, POPULAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), SEMELHANÇA, CORRUPÇÃO, CLASSE POLITICA.
  • AGRADECIMENTO, POVO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), ACOLHIMENTO, ORADOR, FAMILIA.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Srª Presidente, Senadora Iris de Araújo, de fato, eu faria um aparte ao pronunciamento do Senador Paulo Octávio, mas acabei não tendo a oportunidade de fazê-lo.

O Senador Paulo Octávio tem todo o direito de fazer considerações positivas acerca do Governador Roriz, da mesma forma que, quando eu era militante e Líder do PT, tive oportunidade de fazer as críticas que entendia necessárias. Não me manifestei naquele momento, Senador Paulo Octávio - respeito o pronunciamento de V. Exª -, até para evitar fazer outras considerações.

A fala do Senador Paulo Octávio é uma fala que também já fiz na Casa, e sei que todos aqui temos a oportunidade de fazê-lo. Tive a oportunidade de dizer, até na presença de sua esposa, que eu não queria me meter na confusão que foi instalada aqui, muito clara, entre os apaixonados pelo Governador Roriz e os apaixonados pelo Senador Cristovam Buarque. Eu não ia ficar nesse debate aqui, mas me sinto na obrigação de dizer o quanto Brasília sempre nos acolheu com generosidade. A mim, de forma muito especial, sempre me acolheu como uma filha querida, como uma mãe generosa que abraça uma filha querida, e foi assim em vários momentos da minha vida. Desde que cheguei aqui, pela primeira vez, em momentos muitos difíceis que passei nesta Casa, em momentos difíceis que passei com meu filho, em que foram feitas correntes de orações por católicos e evangélicos de Brasília, pessoas mandaram oraçõezinhas para mim quando o meu filho foi atropelado na cidade e ficou em coma no Hospital de Base.

Então, Brasília sempre me acolheu e acolhe a todos, não só a mim. Tenho a oportunidade de ver isso em todos os espaços, porque é como se fosse - o Senador Paulo Octávio também falou sobre esse aspecto - uma cidade de todos, é como se Brasília soubesse reconhecer que é uma cidade feita por todos, embora tenha sido idéia de Juscelino, pois todos participaram da construção das suas belezas arquitetônicas ou dos seus jardins.

É claro que tem banditismo político. Claro que o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto, com esse maldito balcão de negócios sujos, acabam fazendo com que as conseqüências sobrem para o povo de Brasília, que não tem nada a ver com isso, como já aconteceu em relação a Alagoas, à época da República das Alagoas, e a Rondônia. No entanto, ocorre mais em relação à Brasília, em função de todas essas malditas denúncias de corrupção.

E não tenho dúvida de que o povo de Brasília não ficou magoado com a Hebe, que só foi muito explícita, é o jeito dela. Ela disse aquilo que muitos brasileiros acabam dizendo, mas depois teve a grandeza de se desculpar perante o povo de Brasília. São as malditas forças de expressão que, às vezes, usamos de forma errada, depois nos arrependemos e temos de ter a grandeza de nos desculpar.

Tenho certeza de que o povo de Brasília não fica com raiva de uma ou outra pessoa que faz uma consideração. Fica com raiva mesmo - e tem razão - dos maus políticos, das pessoas que acabam criando problemas para a imagem de Brasília. Às vezes, até eu fico com raiva, não do povo de Brasília nem do Congresso Nacional. Sempre achei o Congresso Nacional tão bonito arquitetonicamente e hoje não consigo achar. Vejam só, uma obra tão maravilhosa de Oscar Niemeyer! São tantas coisas terríveis que vivenciamos aqui e que marcam o nosso corpo, a nossa alma, o nosso coração que, às vezes, nós olhamos os monumentos de forma diferente. Continuo a achar linda a Catedral, mas não acho mais lindo o Congresso Nacional, que nada tem a ver com isso, porque foi uma conquista da democracia. Tantas pessoas entregaram o seu sangue, as suas lágrimas para que estivéssemos aqui hoje. O Congresso não tem nada a ver com isso, mas às vezes, olho-o e não o acho tão bonito, porque fico lembrando da outra imagem que, de fato, representa.

Não sou Senadora de Brasília, mas me sinto Senadora daqui também. É a segunda casa de todos nós. De fato, é a segunda casa de todos os Deputados, de todos os Senadores e de todos que para cá vieram de lugares tão diferentes. Hoje, somos todos brasilienses também.

Concedo o aparte a V. Exª, Senador Paulo Octávio, mas não poderia deixar de dar a minha solidariedade e o meu carinho ao povo de Brasília, que é maravilhoso, trabalhador e generoso, como as pessoas dos outros Estados.

Então, tem-se que se arranjar um jeito de dizer as coisas para não machucar o coração e a dignidade das mulheres e dos homens de bem e de paz de Brasília, em função dos políticos, ou de Brasília ou que estão em Brasília, que de fato desrespeitam, com a corrupção, esse povo tão bom e tão generoso que acolhe a todos nós.

Ouço V. Exª, Senador.

O Sr. Luiz Octávio (PFL - DF) - Senadora Heloisa Helena, o seu pronunciamento me toca profundamente, porque não sou nascido em Brasília, mas cheguei aqui muito cedo, em 1962, e com 43 anos de Brasília, sinto-me brasiliense, sou da geração antiga. Hoje os brasilienses são maioria. Não é a primeira vez que V. Exª se manifesta defendendo esta cidade, como, recentemente, no aniversário de JK, no aniversário de Brasília. Seu pronunciamento é muito importante, porque morando em Brasília há tanto tempo, com seus filhos, com a sua família, vivendo a vida da cidade, sabe como ela é humana e recebe bem as pessoas. O que foi aqui colocado é isto: Brasília é uma cidade aberta, recebe muito bem todos os brasileiros, de todos os Estados. É diferente de outras cidades que muitas vezes fecham suas portas, onde a sociedade é fechada. Não. Aqui vivemos várias sociedades abertas, existem várias cidades se consolidando. Têm brasileiros de todos os lados e muitos alagoanos, muitos alagoanos. Quero dizer da minha alegria em ouvir o seu pronunciamento. Transmitirei sua mensagem a todo o povo candango, acho muito importante. Nós, que vivemos aqui, temos esse compromisso. E também os Senadores de outros Estados têm o compromisso de defender esta cidade, porque vivem aqui, sabem o que se passa e sabem que o povo que está trabalhando nesta Casa, servidores do Senado e da Câmara, que mora em Brasília, não tem nada a ver com as mazelas políticas do nosso País, com as dificuldades enfrentadas pelos partidos. Não têm nada a ver, são apenas trabalhadores. E são essas pessoas que pagam um preço, que sairão de férias em dezembro, chegarão aos Estados onde nasceram e lá serão vítimas de brincadeiras. É isso que temos de evitar, porque essas brincadeiras machucam principalmente os jovens, que não têm como se defender. Pensam que Brasília é o que muitas vezes um ou outro programa ou um ou outro humorista diz na televisão. Então, temos de tomar muito cuidado. Volto a repetir: esta cidade é símbolo de um país. Uma capital é motivo de orgulho. Toda capital, em todos os países, é motivo de orgulho. Temos de mudar esse simbolismo de Brasília, que tem de passar a ser o orgulho do povo brasileiro. Por isso, entendo que a sua mensagem é importante e conclamo todos os Senadores a fazerem o mesmo: defendam Brasília, que recebe bem os Senadores de todos os Estados, que diariamente trabalham no Senado e são muito bem tratados pelo povo da cidade.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - São mesmo. Tenho dito várias vezes que, quando eu for embora daqui - pode ser que eu tenha de ir -, vou guardar muitas recordações boas da cidade. Além dos funcionários da Casa, de todas as pessoas que nos cumprimentam com alegria e contam sobre as suas vidas, há aqueles que estão vendendo um paninho de chão no sinal ou a meninada pobre, que às vezes passa por situações terríveis na rodoviária. Isso porque Brasília não é só a ilha da fantasia: há os que trabalham, os que produzem, mas há os pobres, aqueles que passam por situações terríveis. Mas a imagem que mais passa é justamente a dessas malditas formas de se apropriar do dinheiro público, essas relações de gangues partidárias e essas outras coisas mais, que o povo de Brasília, como o povo de Alagoas, de Rondônia ou de qualquer outro Estado que esteja sendo denunciado por corrupção, acaba sofrendo, principalmente as pessoas mais simples, queridas e maravilhosas.

Às vezes, as pessoas sem querer acabam fazendo uma declaração ruim. Lembro-me de que, uma vez, eu disse: “É a cidade dos corações de pedra”. Eu estava falando do Parlamento, que não tem nada a ver com o povo de Brasília, que é um povo maravilhoso, generoso, acolhedor. A pessoa pode fazer uma colocação errada, mas tem a obrigação de se redimir. Às vezes, vêm aqui os estudantes e eu digo: “Vieram ver o templo dos rituais cínicos do Congresso Nacional”. Claro que não estamos dizendo que são todos os funcionários ou os Parlamentares. Então, é muito ruim que façamos esse tipo de colocação imprecisa, porque uma generalização muito perversa acaba machucando as pessoas que querem trabalhar no Congresso ou na cidade.

Que todos nós sejamos capazes de reconhecer as afirmações erradas, como a própria Hebe fez de uma forma muito altiva e generosa. Ela se arrependeu e saudou com alegria esse povo da nossa segunda casa.

Portanto, Brasília, o meu beijo, o meu abraço e o meu profundo agradecimento por todas as coisas boas que já passei aqui. Passei muitas coisas tristes, mas não com o povo de Brasília.

O Sr. Paulo Octávio (PFL - DF) - Senadora Heloisa Helena, fica o pedido para que se faça uma correção da visão de V. Exª para que possa ver o Congresso Nacional como ele é, um monumento bonito, onde trabalham milhares de brasilienses e que essa correção de visão se faça rapidamente, porque temos o compromisso de consertar esta Casa.

E acho que, realmente, estamos passando esta Casa a limpo.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - É por isso que estou aqui, senão já teria ido para casa, cuidar dos meus filhos. É porque tenho a esperança de que um dia isso mude. 

O Sr. Paulo Octávio (PFL - DF) - Senadora Heloísa Helena, sem dúvida, o Congresso de 2006 será muito melhor do que o Congresso de 2005.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Tomara!

O Sr. Paulo Octávio (PFL - DF) - Acho que nós fizemos um bom trabalho este ano e, certamente, a sua visão votará a ser o que era: um belo monumento de Niemeyer, um belo monumento da democracia, que é o Congresso Nacional.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Ainda mais Niemeyer, que é uma pessoa maravilhosa. Em pleno ano de 2005, alguém que ainda se reivindica um comunista convicto ...

A SRª PRESIDENTE (Iris de Araújo. PMDB - GO) - Concedo mais um minuto para que V. Exª conclua o seu discurso.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - ... que nunca abriu mão das suas convicções, sem dúvida, merece a admiração de todos nós, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/2005 - Página 35897