Discurso durante a 188ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio à série de acusações que vem sofrendo, na tentativa de atribuir a S.Exa. responsabilidade por irregularidades cometidas em sua campanha à reeleição ao Governo de Minas Gerais, em 1988. (como Líder)

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Repúdio à série de acusações que vem sofrendo, na tentativa de atribuir a S.Exa. responsabilidade por irregularidades cometidas em sua campanha à reeleição ao Governo de Minas Gerais, em 1988. (como Líder)
Aparteantes
Aloizio Mercadante, Alvaro Dias, Ana Júlia Carepa, Antero Paes de Barros, Antonio Carlos Magalhães, Arthur Virgílio, César Borges, Edison Lobão, Eduardo Suplicy, Flexa Ribeiro, Ideli Salvatti, José Agripino, José Sarney, João Batista Motta, João Ribeiro, Juvêncio da Fonseca, Leonel Pavan, Luiz Otavio, Lúcia Vânia, Magno Malta, Marco Maciel, Mão Santa, Ney Suassuna, Patrícia Saboya, Ramez Tebet, Romero Jucá, Sergio Guerra, Tasso Jereissati, Teotonio Vilela Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 26/10/2005 - Página 36197
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REITERAÇÃO, REPUDIO, ACUSAÇÃO, ORADOR, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, PROPINA, LEGISLATIVO, SUSPEIÇÃO, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, OCULTAÇÃO, GRAVIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL.
  • REPUDIO, INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, ORADOR, QUALIDADE, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), TENTATIVA, IMPUNIDADE, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), GRAVIDADE, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, ARRECADAÇÃO, RECURSOS, CAMPANHA ELEITORAL, PAGAMENTO, MESADA, SUBORNO, CONGRESSISTA, TRAFICO DE INFLUENCIA, EVASÃO DE DIVISAS, FRAUDE, CONTRATO, SETOR PUBLICO.
  • ESCLARECIMENTOS, CAMPANHA, REELEIÇÃO, ORADOR, GOVERNADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), PRESTAÇÃO DE CONTAS, DESCONHECIMENTO, EMPRESTIMO, BANCOS, AUSENCIA, AUTORIZAÇÃO, REGISTRO, DADOS, SEMELHANÇA, ALEGAÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • ANTECIPAÇÃO, SAIDA, ORADOR, PRESIDENCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), PROXIMIDADE, ELEIÇÃO, COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL, APOIO, CANDIDATURA, TASSO JEREISSATI, SENADOR, AGRADECIMENTO, SOLIDARIEDADE, CONGRESSISTA.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Pela Liderança do PSDB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, volto hoje a essa tribuna para manifestar o meu repúdio à série de acusações que me vêm sendo feitas nos últimos dias, tentando confundir minha pessoa e minha biografia com outros nomes que freqüentam o noticiário sob graves denúncias, de toda ordem, desde delitos de corrupção administrativa até a compra de consciência e de votos de parlamentares.

Sinto-me claramente, Sr. Presidente, sendo usado como instrumento de uma grande farsa, quando tentam desviar a atenção da população brasileira dos escândalos envolvendo o Governo e o Partido dos Trabalhadores. Não permitirei que usem o meu nome para encobrir a corrupção do Governo.

Escolheram a mim como alvo por estar exercendo, talvez, a presidência do PSDB. Mas não há como confundir fatos ocorridos durante uma campanha de reeleição para o Governo de Minas Gerais, em 1998, com a prática introduzida pelo Partido majoritário de arrecadação de fundos de origem inexplicável para garantir um esquema de compra de votos - compra de votos no Congresso Nacional! -, de tráfico de influência, de desvio de recursos e de má gestão de contratos públicos.

Rejeito essa malévola investida, cujo nítido propósito é jogar a opinião pública contra mim, contra o meu Partido, visando a atingir dois objetivos. Em primeiro lugar, fazer artificialmente de minha pessoa e de meu Partido contraponto a lideranças e parlamentares aliados do Governo, envolvidos na escabrosa e nunca vista prática de compara de votos no Congresso. Em segundo lugar, desviar a atenção da sociedade em relação a essas graves denúncias, acreditando que o povo tem memória fraca, que é ignorante e que pode ser vencido pelo cansaço ou pela exaustão.

Usaram e ainda usam expedientes os mais perversos e sórdidos para escapar de seus crimes de responsabilidade.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, pela ordem. Pela ordem, Sr. Presidente.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador) - Nada mais do que justos os cumprimentos que estão sendo oferecidos ao Senador João Capiberibe, mas, sendo esta uma sessão tão importante, com dois fatos tão relevantes, talvez fosse o caso de V. Exª a interromper por dez minutos, de modo que, a partir daí, com a concentração plena dos Srs. Senadores, S. Exª recomeçasse o seu pronunciamento para que todos pudessem ouvi-lo e fazerem um juízo perfeito a respeito deste homem que reputo um dos mais honrados do Parlamento brasileiro.

 

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - V. Exª tem razão. Faço um apelo ao Plenário para que ouçamos o orador.

Continua com a palavra V. Exª, Senador Eduardo Azeredo.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Sr. Presidente, montaram no Governo o mais amplo e corrupto esquema de cooptação de lideranças e setores partidários do Congresso Nacional para formar a maioria parlamentar que não conseguiriam obter por falta de apreço à via democrática de argumentos claros e convincentes. Mas como seus crimes foram revelados à opinião pública por denúncias fundamentadas, que resultaram na instalação de duas CPIs em andamento no Congresso, buscaram inverter a realidade por meio da mentira e das agressões que passaram a me ser feitas.

A estratégia de embuste sempre foi nítida, embora sempre camuflada por artifícios que confundem e enganam a opinião pública. Eu diria que, às vezes, até eu mesmo me enganei, achando que eram sinceras as palavras que me chegavam. A estratégia foi nítida, Sr. Presidente.

Esta cortina de fumaça que aqui denuncio não tem respaldo na realidade dos fatos. São ocorrências e motivações completamente distintas.

Eu não tinha conhecimento de tudo o que ocorria na administração de minha campanha de 1998, já que eu me dedicava à ação político-eleitoral e, simultaneamente, à administração do Estado. Entretanto, ao administrador moderno é imposto tudo saber. Se alguma falha cometi, foi exatamente de tudo não saber.

Mestres da técnica totalitária de se repetir mentiras à exaustão até que se transformem em pseudoverdades, nossos adversários conseguiram, primeiramente, confundir a prática do chamado mensalão com a existência de caixa dois nas campanhas eleitorais. Por isso, o passo seguinte da “operação despiste” foi começarem a focalizar o caixa dois como delito maior.

Para justificarem as próprias irregularidades nesse campo, estenderam-nas a todos os políticos e partidos, colocando no alvo representantes também da Oposição, remontando a campanhas passadas e misturando quem tinha ou tem responsabilidades nesses problemas com quem não tem nem tinha participação direta neles.

Trata-se de pura má-fé ou deslavada hipocrisia desconhecer que praticamente todos os candidatos a cargos majoritários - principalmente à Presidência da República e a governos de Estado - ficam entregues às articulações políticas e à busca do voto. As demais atividades de campanha estão a cargo de coordenadores que, de modo geral, têm autonomia para agir e tomar iniciativas.

Isso é particularmente verdadeiro nas campanhas à reeleição, nas quais os candidatos a Governador, a Prefeito e a Presidente mantêm ainda a seu encargo continuarem administrando seus governos.

Essa é a razão, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pela qual reafirmo, mais uma vez, que, ao contrário da versão maldosamente difundida pelos meus adversários, alguns de má-fé, outros mal informados, mas especialmente em meu Estado...

O Sr. Arthur Virgilio (PSDB - AM) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Sim, concedo um aparte ao Senador Arthur Virgilio.

O Sr. Arthur Virgilio (PSDB - AM) - V. Exª, Senador Azeredo, é estranhamente acusado por setores que têm explicações graves a dar, acusados que são até de financiamento de suas campanhas em dólar e acusados pelo marqueteiro do Partido dos Trabalhadores, Sr. Duda Mendonça. Estranhamente V. Exª vem dar a satisfação moral que sua família requer, que sua Nação exige, tendo toda e qualquer possível pena, do ponto de vista penal ou eleitoral, prescrevido. V. Exª, do ponto de vista objetivo do Direito, nada deve a ninguém, não há jurista inventivo nenhum que consiga enquadrar V. Exª em nada que leve a punição qualquer, a não ser essa punição que é a dor imposta a um homem de bem vitimado pelo oportunismo de tantos. É em satisfação à V. Exª, à família de V. Exª, em satisfação a tudo o que V. Exª representa, que comunico a V. Exª e à Casa que a Comissão Parlamentar de Inquérito para a qual hoje comecei a coletar assinaturas já conta com trinta assinaturas. Refiro-me a uma CPI destinada a investigar apenas caixa dois de todo e qualquer cidadão brasileiro, com mandato parlamentar, com mandato executivo ou derrotado, de quem quer que seja que tenha se envolvido nessa prática, que é uma prática condenável. Nós queremos separar o joio do trigo. Aliás, não é nem o joio do trigo, vamos separar, como diz o amazonense, as farinhas: farinha branca para um lado, farinha amarela para outro. Não queremos cortina de fumaça, queremos assim: uma comissão parlamentar de inquérito para investigar caixa dois de campanha e uma outra para pegar ladrão de dinheiro público pela gola. A cortina de fumaça que fez de V. Exª pára-raios vai ser desfeita hoje: vamos nos deparar com a verdade e vamos deixar quem é corrupto solitário com a sua corrupção. Quem não é corrupto que se junte aos homens de bem e procure a apuração dos fatos até o final. Dizia-me o Senador Sérgio Guerra: “Vamos perder os nossos requerimentos porque eles têm maioria.”. Têm maioria onde? Na CPI dos Correios? Mas não têm maioria na Nação, não têm maioria aqui na Casa. Tanto não têm maioria na Casa, que já estamos hoje com trinta assinaturas e pretendo apresentar o requerimento amanhã à Mesa com quarenta assinaturas, exigindo que não se deixe pedra sobre pedra, dúvida sobre dúvida em cima dessa questão. É em homenagem a V. Exª e na permanente busca da verdade que nos incumbe fazer que comunico à Casa que a CPI do Senado já é uma verdade. Ou seja, Senador Sérgio Guerra, comuniquemos à maioria falsa de uma eventual CPI que não adianta, não há quem nos impeça de investigar o que disse Duda Mendonça e o que disse Marcos Valério sobre vestais que acusaram V. Exª e que prestarão contas dos seus atos perante a Nação, perante seus eleitorados e perante a história de um País que tem que aprender mesmo a cobrar a vergonha na cara dos seus políticos e a cobrar história de quem esteja na vida pública. Muito obrigado, Sr. Senador.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador Arthur Virgílio, agradeço mais uma vez as palavras de V. Exª.

            Senador Arthur Virgílio, tenho aqui uma relação, que está disponível na Internet, que diz respeito à última eleição para Governador em todo o Brasil. É ridículo ver algumas declarações que aqui estão.

Veja V. Exª como é irônico o fato que eu vivencio. Na minha campanha para Governador de 1998, a minha prestação de contas foi a mais alta do Brasil, mas não por ter sido a campanha mais alta, não foi a campanha mais alta. Na minha campanha para o Senado, o mesmo se repetiu, Senador Arthur Virgílio. O Senador Hélio Costa e eu, que fomos eleitos, tivemos as duas prestações de contas mais altas de todo o Brasil.

Veja a ironia, veja a hipocrisia que querem jogar contra mim. É muita hipocrisia! Repito aqui: não tomei conhecimento prévio nem autorizei nenhum empréstimo junto a nenhum banco para cobrir despesa da campanha de 1998. Já disse isso mais de uma vez. Reafirmo o que disse, estou sendo coerente, o que eu disse é a verdade. Não era do meu conhecimento o famoso empréstimo que foi feito naquela época, durante a campanha de 98.

Prestei contas à Justiça Eleitoral do meu Estado do que, efetivamente, sabia até o final da campanha. Os problemas surgiram posteriormente, e a solução dos mesmos coube àqueles que se responsabilizaram pelo que criaram com a autonomia que tinham.

Quero dizer também que lamento ver algumas notícias que, às vezes, saem e a denúncia recente de que uma dívida da minha campanha de 1998 teria sido paga de forma indevida, uma dívida de 700 mil. É mentira. Essa dívida foi paga com muita luta, com muita dificuldade, com a ajuda de amigos meus, com empréstimo - cuja cópia distribuí hoje - que o Ministro Walfrido dos Mares Guia, que era Deputado Federal à época, mas que é meu amigo pessoal - não tenho patrimônio para tirar um empréstimo de R$500 mil - tirou com o meu aval pessoal. E isso está disponível para quem quiser ver. Esse empréstimo, com juros inclusive, é que quitou o adiantamento que foi feito entre o tesoureiro da minha campanha.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é mentira que a minha campanha tenha tido dívidas pagas pelo Sr. Marcos Valério.

            O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Com prazer, ouço V. Exª.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Sinto-me sempre obrigado a dar um aparte a V. Exª quando se trata da sua dignidade e da sua moral, que, por tradição, vem do seu pai e passou para todos os filhos. V. Exª é um dos políticos mais dignos do Brasil, mas vai ser caluniado não só esta vez, outras vezes também, sobretudo por aqueles que estão roubando a Nação e não se conformam de ficar sozinhos no campo da roubalheira.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - É verdade, Senador Antonio Carlos Magalhães. Eu, que sou uma pessoa ponderada, sim, que tenho procurado ser justo nos meus pronunciamentos, vejo que, lamentavelmente, a corrupção é grande no País hoje, e a corrupção que existe e que se tenta, na verdade, despistar...

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - ...agredindo outros, como me agridem agora.

Insisto, pois, em reafirmar que os problemas da gestão administrativo-financeira de campanha, criados por inadequação à atual legislação eleitoral, não podem ser confundidos nem misturados com a compra de consciências e votos de liderança de partidos governistas.

Esse, sim, é um crime nefando que representa um tapa na cara dos brasileiros e que precisa ser punido exemplarmente.

Como admitem os próprios setores responsáveis aliados ao Governo, é inaceitável levantar suspeições sobre fatos de campanhas eleitorais, para misturá-las com os delitos que dizem respeito à compra de votos de congressistas.

Fossem cabíveis as acusações de caráter eleitoral no bojo das investigações das CPIs em andamento no Congresso Nacional, elas teriam de abranger todos os últimos pleitos e todos os candidatos, inclusive aqueles que, como eu e a grande maioria dos eleitos até hoje, foram alvos de problemas de gestão em campanha, cometidos por inadequação à atual legislação eleitoral.

Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, alguém, neste País, tem qualquer dúvida de que a quase totalidade das campanhas eleitorais de nossos adversários - principalmente aos cargos majoritários - custaram muito mais do que declararam à Justiça Eleitoral?

Que dizer, por exemplo, do custo da campanha de 1998 do então candidato a Presidente Luiz Inácio Lula da Silva? Perante a Justiça Eleitoral, ela teve despesas de apenas R$3 milhões - valor irreal para um País do tamanho do Brasil.

Consultando esta lista de Governadores, vejo aqui vários valores acima de três milhões para Governador, e não para Presidente: Paulo Hartung, do Espírito Santo, foi de R$3,1 milhões. E o Presidente da República, o Presidente Lula, declarou apenas R$3 milhões, em 1998, no ano em que eu declarei R$8,5 milhões para Governador do Estado. E estou sendo muito tripudiado, criticado, por ações que não foram tomadas por mim, que foram irregulares, talvez, por empréstimo que foi feito pelo ex-tesoureiro da minha campanha. Mas não fui eu quem tomou esse empréstimo, fato declarado em carta por ele, a qual eu entreguei, aqui, pessoalmente. Ele declarou pessoalmente isso na CPMI.

E digo mais uma vez que esse último pagamento, divulgado neste fim de semana, não foi pago de maneira indevida, ele teve um adiantamento temporário, mas foi pago por mim, com ajuda de amigos meus, para poder liquidar, com muita dificuldade, sim, porque todos sabem que sempre fui assalariado e vivo do meu salário.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senador Eduardo Azeredo, V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Concedo o aparte ao Senador Antero Paes de Barros e, depois, ao Senador José Agripino.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senador Eduardo Azeredo, inicialmente gostaria de cumprimentar a V. Exª por dizer algo que esta Casa, que faz política disputando eleição majoritária, sabe que é absolutamente verdadeiro. V. Exª diz: eu não tinha conhecimento do que ocorria na minha campanha na área financeira. Quem disputa eleição majoritária sabe que se tem que indicar um comitê financeiro. Penso até que temos que mudar a lei para que o próprio candidato seja o único a poder receber o recurso, para acabar com essa dicotomia de, às vezes, até tentando ajudar, fazer a arrecadação de recursos que efetivamente não são do conhecimento do próprio candidato. Agora, além dessa mudança na lei, é lamentável que a Câmara não tenha aprovado o projeto do Senador Jorge Bornhausen, que diminui os gastos da campanha eleitoral, e, muito menos, a reforma política. Isso é inteiramente diferente do que ocorreu com o Governo. Hoje, o que se vê é uma roubalheira pública, um assalto aos cofres públicos. As campanhas municipais foram irrigadas com favorecimentos para “delúbios” e “valérios” da vida. Aconteceram problemas na Petrobras. Nunca existiram tantos problemas no Banco do Brasil como neste Governo. Há o caso da Gtec, da Caixa Econômica Federal. Há o caso dos Correios, que está sendo investigado por esta Casa. A arrecadação para as campanhas municipais foi realizada durante o exercício do Governo. A máquina pública foi utilizada para arrecadar dinheiro. Ou seja, houve corrupção instalada no Governo brasileiro. Portanto, é inteiramente diferente. Finalizo meu aparte, lembrando a V. Exª que, uma vez, levamos o Dr. Ulysses Guimarães a Cuiabá para fazer um comício. O Dr. Ulysses olhou para o nosso candidato e falou: “Estou vendo-o pela primeira vez, mas dá para perceber, Coronel Meireles, que o senhor é um homem de bem”. E era! Assim também acontece com V. Exª. Conheço V. Exª. Sei que é um homem de bem. Basta vê-lo, conversar com V. Exª, enfim, conhecê-lo para saber que V. Exª é um homem de bem. Fique absolutamente tranqüilo de que, no conceito dos tucanos de Mato Grosso - e tenho convicção absoluta de que dos tucanos do Brasil inteiro -, o PSDB se sente orgulhoso em tê-lo como um dos grandes companheiros nacionais do PSDB. Vamos apoiar a CPI proposta pelo Senador Arthur Virgílio para que possamos colocar os pingos em todos os “is” existentes nas campanhas eleitorais.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Antero Paes de Barros, pelo seu apoio e pelo apoio do PSDB de Mato Grosso.

Com muita honra, ouço o Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Eduardo Azeredo, sou daqueles que têm como pensamento que quem legitima uma vitória não é o resultado das urnas, mas o desempenho do mandato. É o mandato que legitima a vitória de um homem público. É o julgamento, depois do exercício do mandato, do comportamento do homem público no poder. É quando tem todas as oportunidades de mostrar o que é. Como V. Exª teve, como Governador do Estado, limpo que foi. V. Exª deixou o Governo limpo como quando entrou. As acusações que fazem a V. Exª procuram emporcalhar a sua vida pública com comparações absolutamente esdrúxulas, que repilo. Senador Eduardo Azeredo, cadê o seu Delúbio Soares? Quem é o seu Silvinho Pereira? Cadê o seu Land Rover? Cadê a sua Interbrasil? Onde está o seu Ademar Palocci? Cadê o seu caso IRB - Instituto de Resseguros do Brasil? Onde está o seu caso Banco do Brasil, o seu caso Caixa Econômica e GTec? Onde é que está o seu transportador de dinheiro, seu cuecão de ouro? Onde é que está seu caso Santo André? Onde é que está o seu Gilberto Carvalho, o seu Sombra, o seu Klinger?

Senador Eduardo Azeredo, a população do Brasil é sábia e perceberá isso. V. Exª está tomando uma atitude digna de um homem sério como é V. Exª, digno do cargo que ocupa de Presidente Nacional do PSDB, que tem a minha confiança e a confiança do meu Partido, o Partido da Frente Liberal. Cumprimentos a V. Exª.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Obrigado, Senador José Agripino, companheiro leal na oposição que fazemos no Congresso Nacional.

Às vezes, lamentavelmente, as pessoas interpretam mal a forma de fazer oposição. Faço uma oposição leal, sim; faço uma oposição consciente e responsável. Mas não se enganem comigo, não achem que sou uma pessoa mole. Eu sei reagir, sim, quando é necessário. Esta é uma hora de reagir, porque não posso aceitar a forma injusta e grosseira com que tentam me atingir, com artimanhas e ironias. Ironias como “corrupção não tem prazo de validade”. Não tem, Senadora Ideli Salvatti. V. Exª falou isso mais de uma vez, querendo me atingir. Eu não tenho nada a dever de corrupção. Graças a Deus, não tenho!

Continuando o meu discurso, quero dizer que, em que pesem minha indignação e revolta contra os ataques covardes que venho sofrendo e que visam atingir indiretamente o PSDB, um dos principais partidos da Oposição, tomo a decisão hoje de antecipar os fatos.

O meu Partido realizará uma convenção no dia 18 de novembro para eleger a sua nova comissão executiva. O nosso Partido tem uma tradição e terá consenso, com muita honra, em torno da volta do Senador Tasso Jereissati à Presidência do PSDB. (Palmas.)

Há algum tempo, o titular da presidência do PSDB, o Prefeito José Serra, havia manifestado o desejo de pessoalmente transmitir ao seu sucessor a presidência do nosso Partido. Considerando o desejo do prefeito José Serra e ainda a minha vontade de poder, do Plenário do Senado Federal, defender-me livremente, é que estou deixando a presidência do meu Partido, alguns dias antes do prazo previsto.

Usarei esta liberdade para me defender em nome da dignidade de minha família, especialmente, Senador Antonio Carlos Magalhães, especialmente do meu pai, Renato Azeredo, que me inspira e norteia neste Senado Federal.

Afasto-me com a consciência tranqüila. Minha serenidade vem da certeza de que desarmo meus detratores do único argumento de que dispunham, pois o fato de não saber de tudo, que de mim é agora implacavelmente cobrado pelos petistas, é a única e cínica desculpa daqueles que me agridem.

Agora exijo coerência por parte dos que ora me acusam. Atiram-me pedras por não ter tido conhecimento de uma irregularidade de campanha e, brandindo o mesmo argumento, lançam-se na defesa do Presidente Lula, que fez vista grossa para o maior escândalo já registrado na política brasileira.

E eu respeito o Presidente Lula pela sua história de vida, de um homem trabalhador que chegou ao poder.

Assim fazendo, creio estar contribuindo para que, além da tranqüilidade e concentração exigidas nesse processo sucessório, o PSDB fique mais à vontade para prosseguir em seu combate oposicionista contra erros do Governo. E contra também os germes da corrupção que contaminaram setores da administração e das siglas governistas.

Ouço, com muito prazer, o Senador Sérgio Guerra.

O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Senador Eduardo Azeredo, nos últimos dois ou três meses, falei algumas dezenas de vezes com V. Exª; acompanhei o seu sofrimento. Um homem decente não poderia ser submetido, com o mínimo de justiça, à fraude que se organizou contra o Senador Azeredo. Desde o primeiro momento alguns disseram: “Senador Azeredo é um homem honesto, como todos sabem. Eu gosto do Senador Azeredo; contra ele não cabe essa campanha”. Mas a campanha perdurou, todo tempo, ninguém considerou a verdade porque ninguém pode duvidar que o Senador Eduardo Azeredo não tem nada a ver com esse pessoal que comprometeu a história de um grande partido que é o PT, irremediavelmente. Entre outras razões, porque o PT não se mostrou à altura, no momento crítico em que foi acusado. O Presidente da República deu uma entrevista falando de traidores, para reuni-los um mês depois no seu gabinete e dizer apenas que eles estavam equivocados. Se os traidores não são aqueles, quem eles são? Esse Presidente que fala de elite, esse PT que fala de história acoberta um processo de corrupção massivo, comprometedor. Qual o papel desse Sr. Delúbio nessa história toda? Será que ele atuou sozinho? E esse Deputado José Dirceu que resiste com toda a sua imponência e falsa austeridade, quando é o presidente desse grande processo de corrupção? No entanto, foi contra V. Exª que as línguas se movimentaram, as intrigas prosperaram sem o menor respeito nem pela sua vida nem pela verdade. Não faz uma semana, V. Exª me perguntou se deveria deixar a Presidência do Partido. Eu lhe disse que não. Ontem, perguntou-me outra vez. Eu disse que não. Não gosto de ver a injustiça levar aparente vantagem e, muito menos, vantagem. Mas hoje V. Exª disse que mais importante do que a sua permanência eventual por mais dez dias na Presidência do Partido era sua palavra sincera, essa que V. Exª está dando hoje, a sua renúncia à Presidência do Partido, para deixar claro que não tememos nenhuma investigação. Vamos para a CPI das despesas eleitorais e das fraudes não para avaliar apenas o que aconteceu em Minas Gerais e que de nenhuma maneira se voltará contra o Senador Eduardo Azeredo, mas para levantar dezenas de campanhas milionárias que o PT fez pelo Brasil, com um dinheiro que ninguém sabe de onde veio. Gente que não tinha nem apoio empresarial, mas aparecia lá com os bolsos cheios para fazer campanha. Um partido que mudou de personalidade. No passado, você chegava no interior e encontrava um bancário do PT, candidato, com quase nada, fazendo campanha. Agora, na última eleição, eram bandeiras e mais bandeiras, camisas e mais camisas, shows e mais shows, uma provocação, um acinte. E essa gente se volta para falar da eleição de Minas Gerais, eleição perdida por um dos homens mais limpos da vida pública brasileira que é o Senador Eduardo Azeredo, como todos reconhecem. Hoje é o dia de marcarmos a nossa indignação, nada de radicalização, mas contundência sim. Vamos atrás da verdade, vamos investigar para onde foi o dinheiro do Delúbio, onde foram realizados os contratos do Duda Mendonça, os parceiros do Marcos Valério, todo esse conjunto que comprometeu a vida no Brasil e a história da Esquerda brasileira. V. Exª tem o apoio de muita gente, muito mais que V. Exª imagina, pois o povo é sábio e sabe separar o que é verdade do que não é. No dia de hoje, V. Exª afirma, com toda grandeza, o seu valor de homem simples, absolutamente conciliador. Mas foi exatamente contra o mais conciliador de todos nós, o mais tranqüilo de todos nós - e seguramente nenhum de nós é mais decente do que V. Exª - que se voltaram as baterias da intriga, da corrupção e da fraude. V. Exª tem o nosso apoio e a nossa grande admiração, não apenas como amigo mas como brasileiro.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador Sérgio Guerra, assim como fiz com todos Senadores que já se manifestaram, quero agradecer muito a V. Exª. Eu assisti aos seus depoimentos, às suas intervenções, sempre me defendendo, todas as vezes que vinha aquela lengalenga nas CPIs, em que o assunto volta à campanha de 1998.

Eu vou conceder um aparte à Senadora Ideli Salvatti, antes, dizendo - e a senhora sabe bem - que eu não sou radical. Desculpe-me se fui agressivo, pois não é essa a minha maneira de ser. Um dia eu disse aqui que essa era uma questão da campanha de 1998, uma campanha lá atrás, que eu não tinha tido responsabilidade e, depois, realmente, eu ouvi um discurso de V. Exª dizendo isso. De maneira que me desculpe se fui agressivo. Eu sou incorrigível; não consigo ser radical.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Eduardo Azeredo, em primeiro lugar, eu não ia fazer aparte. Só o estou fazendo...

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª não foi agressivo, Senador, agressiva foi a Senadora Ideli.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador José Jorge, eu vou discordar de V. Exª, porque hoje eu fui um pouco.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - O Senador José Jorge não contribui com a observação feita, até porque V. Exª sabe do apreço que lhe tenho. Em inúmeras vezes, eu já tive a oportunidade de expressar, publicamente, o apreço que tenho por V. Exª. E quero aqui dizer, de forma muito clara: todos são inocentes até prova em contrário. Todos! Principalmente as pessoas que têm comportamento e têm biografia como tem V. Exª. Mais do que quaisquer outra pessoa, quem tem biografia e comportamento como os de V. Exª merece essa intransigência na defesa da inocência até prova em contrário. Agora, Senador Eduardo Azeredo, eu vou reafirmar aqui o que eu disse.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Sim, eu concordo...

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - O que eu digo à imprensa, eu digo também aqui da tribuna, de forma muito clara: nós não podemos ter condescendência com corrupção ou ilegalidade seja qual for...

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Sim, perfeitamente.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC)- (...) seja de que Partido for, seja em que época for. E quero ter com todos, como tenho dito sempre, o mesmo rigor que quero ter para com os companheiros do PT que cometeram atos ilícitos ou corruptos, até porque eu quero recuperar o direito de poder fazer campanha e pedir votos e poder estar nas ruas colocando-me como petista com este rigor, de ter aprofundado, investigado e contribuído para a punição da corrupção...

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Perfeito.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permite-me um aparte, Senador?

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - (...) e da ilegalidade. E queria apenas, se o Senador Arthur Virgílio me permite, dizer que, na investigação que nós estamos executando na CPMI dos Correios e em outras CPIs, não há prescrição, não há data de validade, e o que está sendo investigado vem sendo investigado ao longo do período que determinados fatos aconteceram. Então, queria citar apenas três coisas que quem tem acompanhado a minha atuação sabe. Em relação à GTech, se houve irregularidade no Governo atual, houve irregularidade também no Governo anterior, até porque começaram antes todos os procedimentos. Quanto ao IRB, se houve irregularidade agora, houve também no Governo anterior, até porque estão aí os relatórios já apontando. Nos contratos dos Correios, se houve ilegalidades agora, também houve no período anterior, tanto que estão aí os demonstrativos dos vinte e cinco maiores contratos dos Correios, e as ilegalidades começaram no Governo anterior. Na questão do Duda Mendonça, se houve pagamento por fora etc. e tal, houve em outras campanhas e não apenas agora. Portanto, penso que temos de nos preocupar em fazer a investigação da ilegalidade e da corrupção. E quero aqui deixar registrados, de forma explícita, o apreço e a consideração que tenho por V. Exª, e já tive oportunidade de fazê-lo inúmeras vezes. V. Exª pode ter certeza, Senador Eduardo Azeredo, que vou defender a sua inocência até prova em contrário, até as últimas conseqüências, como farei com todas as pessoas por quem tenho apreço e consideração, pelo comportamento e pela biografia que têm.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Obrigado, Senadora Ideli Salvatti. Estamos juntos nessa. Eu também participei da fundação do PSDB, exatamente porque era um partido que surgia como moderno, que tinha como uma das bandeiras o combate à corrupção.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Eduardo Azeredo, peço dez segundos para aparteá-lo.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Ouço V. Exª, Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Eu fico, por um lado, triste porque o Partido e o Governo que vinham para mudar o País para melhor querem agora desculpas e companhias para as suas irregularidades. De outro lado, fico feliz porque a minha querida amiga e colega Senadora Ideli Salvatti, de maneira alvissareira para nós, se compromete, a partir de agora, a nunca mais retirar a sua Bancada para esvaziar a CPI e não permitir a votação de requerimento que vise a pegar corruptos pela gola na CPI dos Correios. Isso já aconteceu antes e não vai acontecer mais. Então, é uma boa notícia. Sempre vem uma má notícia e, depois, uma boa notícia e, assim, la nave và. Prossiga, Senador Eduardo Azeredo.

 O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Obrigado, Senador Arthur Virgílio.

Ouço o Senador Tasso Jereissati, nosso futuro Presidente do PSDB.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Eduardo Azeredo, é difícil para nós todos ouvirmos o seu discurso nesta noite. Para mim, mais difícil ainda, porque sou seu companheiro e conheço seu trabalho desde o tempo da Prefeitura de Belo Horizonte, quando V. Exª, ainda com as barbas pretas, não apenas se distinguiu como um dos melhores Prefeitos do Brasil, como deu uma demonstração de ética e seriedade à frente da Prefeitura, inaugurando até uma nova maneira de se fazer administração pública neste País. É triste termos que ouvir... Não vou citar nomes, mas conheço tantos políticos neste Brasil, conheço tantos políticos neste Congresso e conheço alguns nesta Casa mesmo que, com certeza, não merecem de mim, não merecem de muitos de nós, tenho certeza de que da maioria dos que estão aqui, esse respeito que V. Exª merece de nós. Estão aí passando, rodeando, andando por esses corredores, falando, deitando ordens, alegres e incólumes, enquanto vemos um homem do seu calibre tendo que fazer um discurso como esse. É triste vermos a inversão de valores que acontece nesta Casa no dia de hoje. Mas o que se pode fazer? É bom vermos a coragem e a humildade com que V. Exª enfrenta essa situação. Talvez se o Presidente Lula, no primeiro momento da crise, tivesse tido essa mesma coragem e essa mesma humildade, a História do Brasil e dessa crise fosse outra. E talvez essa inversão de valores que vemos hoje neste País também não estivesse acontecendo. Afinal de contas, ao Presidente da República, Senador Pedro Simon, não cabe apenas o papel de administrar o País, assinar papéis, cumprir as leis, dar ordens, inaugurar e ordenar obras; cabe o papel de liderar o País, de ser aquele homem que simboliza os grandes valores nacionais. Quando um Presidente da República, ele mesmo, começa a enaltecer de alguma maneira tudo aquilo que é o oposto daquilo que nós aprendemos a valorizar durante a História do Brasil, durante as nossas histórias, alguma coisa vai acontecer de errado. E eu acho que já está acontecendo. Lembro-me que, recentemente, choquei-me com uma coisa que me parece boba, que não é nada grave, mas que me chocou muito: vi o Presidente da República, no dia seguinte ao aparecimento da febre aftosa em Mato Grosso do Sul, vir à televisão em Portugal e dizer: “A culpa é do fazendeiro”. Aquilo me chocou muito, porque me pareceu um problema de personalidade sério, que um Presidente da República não pode ter. O Presidente da República é o homem que assume os problemas e os enfrenta, e não aquele que, justamente no momento da dificuldade, os empurra para os outros e foge, dizendo: “Eu não tenho nada a ver com isso.”. O resultado do referendo, que representou uma surra do “não” no “sim”, pareceu-me um pouco conseqüência dessa história do “salve-se quem puder”. Todos pensaram: “Não, vamos pelas armas, porque é um salve-se quem puder. Eu quero é andar com a minha arma, que eu me viro. Eu vou-me defender, porque não acredito nas instituições.”. O exemplo que V. Exª está dando agora serve para o Presidente da República, até porque há outra semelhança ou dessemelhança. Veja bem se eu estou errado, Senador Antonio Carlos, que, apesar de não ser advogado - é médico -, sempre gostou de Direito: ora, se estão crucificando o Senador Eduardo Azeredo pelo fato de o publicitário Marcos Valério ter pego recurso para financiar uma campanha com a qual S. Exª não foi eleito, o que dizer do Presidente Lula, para o qual o publicitário Marcos Valério também pegou dinheiro para financiar a campanha que o elegeu Presidente da República? No mínimo, um impeachment. No mínimo, um impeachment.

            O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - O maior amigo dele era o Delúbio!

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - O raciocínio é válido ou não? Estou enganado? O Senador Eduardo Azeredo não apareceu pegando dinheiro, não foi ao caixa do Banco Rural, não recebeu dinheiro na sua conta, não é patrão do Delúbio, mas existe uma declaração do Marcos Valério. Ora, é fato claro e notório que o Marcos Valério, patrão do Delúbio e a ele associado, fez a campanha do Lula. Então, quem apedrejou, por isso, o Senador Azeredo, deve estar pedindo, neste momento, o impeachment do Lula, o que não é válido. Neste momento, V. Exª está colocando o dedo na ferida, ao reconhecer que houve um problema, sim, na sua campanha eleitoral; que existe um problema de financiamento de campanha eleitoral. Corrupção não é invenção do PT, têm toda a razão, não foi o PT que a inventou. Não foi este Governo que a inventou.

            O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Apoiou muito!

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Este Governo inventou, no Brasil pelo menos, um sistema de corrupção organizado, com comando instalado no próprio Palácio do Planalto e estrutura formada pelo Partido que apóia e dá sustentação ao Governo, com locais marcados para a divisão do fruto do desvio do recurso público. Eu nunca ouvi falar disso na História deste País. Foi a primeira vez que aconteceu e foi invenção deste Governo e do PT, provavelmente do Delúbio e do José Dirceu. Pelo que sei, é a primeira vez que isso acontece. Aqui, há Senadores mais antigos, que talvez saibam se já ocorreu, mas nem em livro eu tive conhecimento de que já tinha acontecido isso neste País. Essa foi a sua falta de sorte, meu querido amigo, Senador Azeredo. Descobriram um homem digno e correto que tinha um problema de campanha eleitoral e pegaram esse grande sistema, invenção do PT, sistematizado, que vinha de cima para baixo e tinha um comando na Casa Civil, outro na Secretaria-Geral do Partido dos Trabalhadores e, em cada Ministério, seus prepostos, divididos entre os Partidos aliados, os quais partilhavam os recursos advindos das estatais e das Pastas, distribuindo-os para os Partidos, seus membros e sei lá para onde. Queriam reduzir isso tudo a um problema de campanha e encontraram um homem digno fazendo isso: pronto! Tudo foi problema de campanha e Eduardo Azeredo, e Eduardo Azeredo, e repete Eduardo Azeredo; em toda CPI: “E o Eduardo Azeredo? E o Eduardo Azeredo?”. E, sem dó nem piedade, foram em cima do Eduardo Azeredo. No entanto, hoje, V. Exª dá uma virada nessa questão importante. O Senador Arthur Virgílio separa bem as coisas. Então, vamos averiguar a questão da campanha, que é séria, sim. Vamos averiguar somente as campanhas eleitorais em que houve problema de caixa dois e fazer uma CPI para isso, deixando as outras para esse imenso, gigantesco, organizado, estruturado e sistemático esquema de corrupção montado no País, que não é para caixa dois, não! Não é para campanha eleitoral, não!

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - É para enriquecer!

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Aliás, quero aproveitar para dar uma notícia de que tive conhecimento na semana passada. Senador Antonio Carlos, o Presidente do PT do Ceará, Dr. Guimarães, recebeu do Sr. Marcos Valério R$500 mil e declarou que eram para a campanha do candidato do PT a Governador do Ceará. Muito bem. Esteve na Assembléia Legislativa do Ceará o candidato a Governador do Estado pelo PT, o Sr. José Airton, que disse que esses recursos não foram para a sua campanha - ele é Diretor do Dnit no atual Governo. Três dias depois, esteve na Assembléia Legislativa o tesoureiro do PT do Ceará, que disse que nunca viu esse dinheiro do Sr. Guimarães. Logo, estamos descobrindo, agora, o grande fluxo de dinheiro do PT, que é o famoso caixa três.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador Tasso, está aqui, na relação: no Ceará, o candidato do PT prestou conta de R$598 mil.

            O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Pois é, essa quantia não foi para o caixa dois. Já estamos descobrindo o caixa três. O PT tem o caixa três. Esse dinheiro não foi para a campanha, mas para o caixa três, que não sabemos de quem é. Senador Eduardo Azeredo, infelizmente, esse é um episódio da sua vida, mas a sua história não ficará manchada por esse pontinho. Ao contrário, ele lhe deu esta oportunidade de fazer um esclarecimento histórico para o País a respeito do que representou, realmente, este Governo, não somente quanto à corrupção, mas quanto à prepotência com relação aos valores morais e éticos da sociedade brasileira, exemplificada pela imensa desfaçatez com que trata a opinião pública nacional.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Obrigado, Senador Tasso Jereissati. V. Exª tem uma grande responsabilidade pela frente, que é a de dirigir o nosso Partido especialmente no ano que se avizinha, com difíceis eleições que serão realizadas com as mesmas regras.

A minha revolta é com a hipocrisia de quererem me crucificar. Essa é uma revolta, sim, que tenho no fundo do coração, porque V. Exªs e os eleitores mineiros sabem bem da minha preocupação com a ética, com a boa aplicação dos recursos públicos e com o meu trabalho. Sempre trabalhei, como Prefeito que fui, como Governador e como Senador.

Não vou dizer que estou feliz, não. Estou triste com a injustiça da qual tenho sido alvo nesses últimos dias, com a precipitação de alguns, com a pouca atenção de outros, que não têm atenção na prestação de contas.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Permita-me, Senador Eduardo Azeredo?

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Tem tanta gente aí que não presta atenção. Está na Internet. Não é tão fácil usar a Internet hoje?

Revolta-me essa hipocrisia!

Senador Alvaro Dias, ouço V. Exª, com muito prazer; depois ouvirei o Senador Ramez Tebet.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Em seguida, Senador Eduardo Azeredo, gostaria de me inscrever também.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Eduardo Azeredo, falar da dignidade, da decência, da honradez de V. Exª é repetir o óbvio. É a reafirmação de um entendimento que se generalizou entre todos os seus colegas do Senado Federal. É o reconhecimento da herança que V. Exª recebeu do seu saudoso pai, Renato Azeredo, padrão de dignidade e de honradez como V. Exª. V. Exª foi escolhido como vítima naquela armação inicial que pretendeu deslocar o foco das investigações. É bom recordar que aquela armação surgiu no ato de três entrevistas concatenadas por Delúbio Soares, por Marcos Valério e pelo Presidente Lula, diretamente de Paris, quando, na expectativa de minimizar o escândalo, pretendeu-se restringir à corrupção eleitoral, aquele que é o maior escândalo de corrupção na Administração Pública brasileira, estratégia, sem dúvida nenhuma, da má-fé, estratégia da manipulação dos fatos, estratégia de espertalhões. E V. Exª, que é mineiro, sabe que há um ditado popular em Minas que diz: “A esperteza, quando é demais, vira bicho e engole o dono”. Na verdade, o que pretendem é evitar que se identifiquem os artífices maiores desse esquema sofisticado e complexo de corrupção que se instalou no Governo do Presidente Lula. O que querem é tentar evitar que se identifique a origem dos recursos utilizados na manutenção desse esquema, que tinha por objetivo um projeto de poder de longo prazo para alguns, e a expectativa de enriquecimento ilícito para outros. Portanto, Senador Eduardo Azeredo, o que eu louvo nesta hora é exatamente o seu gesto, porque nem de longe se pode comparar o que aconteceu na campanha de V. Exª como o que ocorreu, por exemplo, na campanha do Presidente Lula. O mandato do Presidente Lula, sim, está contaminado por uma corrupção eleitoral confessada pelo Sr. Delúbio Soares, pelo Sr. Marcos Valério e pelo próprio Presidente Lula, na patética entrevista concedida em Paris. E o que faz o Presidente Lula? Ao contrário de V. Exª, o Presidente Lula afirma que não há provas, que é denuncismo e que ninguém pede desculpas. Senador Eduardo Azeredo, nós temos o dever - e V. Exª vai participar dessa tarefa certamente com altivez - de continuar investigando a corrupção no Governo Lula e o assalto aos cofres públicos. Essa é a nossa missão, evidentemente sem excluir a necessária investigação da corrupção eleitoral, que é também um mal, mas, certamente na dimensão desse mal colocado à luz para ser investigado, denunciado e condenado, que é o mal da corrupção na Administração Pública brasileira, que subtraiu bilhões dos cofres públicos do nosso País. Cumprimento V. Exª. Sei que não há necessidade mesmo de manifestação de solidariedade, porque V. Exª a tem de toda a Casa.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Alvaro Dias. Aproveito para agradecer publicamente a V. Exª pelas palavras ditas neste fim de semana quando eu ainda estava procurava informações sobre o que havia acontecido na campanha de 1998.

Ouço o aparte do Senador Ramez Tebet.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - É evidente que apóio as manifestações de solidariedade do Plenário a V. Exª. Não sou eu quem vou dar um depoimento a favor de V. Exª. O homem público deve estar muito atinado com a sociedade. Sou desses Senador que viajam pouco, percorro o meu e os outros Estados, dou algumas palestras, mas ninguém me pergunta sobre V. Exª. Senador Eduardo Azeredo, perguntam-me pelos Delúbios, pelos Marcos Valérios, se vai acontecer algo com alguém, com este ou aquele, mas ninguém fala de Eduardo Azeredo, a não ser para dizer que V. Exª está sendo uma espécie de bode expiatório, como se o ataque fosse a melhor forma de defesa. Então, para justificarem os seus erros, procuram encontrá-los em outras pessoas, em homens decentes como V. Exª. Daí por que dou este depoimento a favor. V. Exª tem o apoio da sociedade e não apenas a palavra dos Senadores que se manifestaram; há outros que, embora não tenham se manifestado, irão se pronunciar ou não, mas acredito que há uma unanimidade nesta Casa a respeito do comportamento ético de V. Exª. A sua vida de homem público é reconhecida não só no seu Estado. V. Exª não é padrão de dignidade só em Minas Gerais, V. Exª é padrão de dignidade no Brasil. Por isso, quero cumprimentá-lo e dizer-lhe que esta é uma fase que passará logo. A sociedade está com V. Exª. A sociedade não quer a punição de Eduardo Azeredo, mas, sim, a punição dos verdadeiros corruptores, que buscam jogar para outras pessoas suas responsabilidades, como forma de atenuá-las. Pensam assim. Mas a sociedade está atenta. V. Exª pode ficar tranqüilo.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador Ramez Tebet, agradeço as palavras de V. Exª.

V. Exª conheceu a minha mulher, a Heloísa, e pode aquilatar como é dura a injustiça, como é duro ver nossa família enfrentar essa injustiça. Por isso, venho a esta tribuna para mostrar a minha indignação. Chega de tanta covardia, eu diria!

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Isso engrandece V. Exª.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PMDB - MG) - Obrigado, Senador Ramez Tebet.

Ouço, com muita honra, o Senador Romero Jucá e, depois, o Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Romero Jucá (PMDB - RR) - Meu caro Senador Eduardo Azeredo, em rápidas palavras, quero também somar a minha posição, a minha confiança, o meu reconhecimento ao que representa V. Exª neste Senado na história política de Minas Gerais e na história do Brasil. Quero reafirmar a nossa confiança. Sei que falo aqui não somente em meu nome, mas em nome de companheiros do PMDB e do nosso próprio Líder, Senador Ney Suassuna, que não está aqui neste momento. V. Exª não tem por que se envergonhar. Sabemos como são as démarches da vida política. V. Exª abordou um assunto, sobre o qual eu iria falar aqui, que é exatamente a marca que fica na nossa família. Quando nós, políticos, somos atacados injustamente, quando somos vítimas de coisas como as de que V. Exª está sendo vítima agora, é muito duro para nós e para os companheiros de Partido, mas é muito mais duro para a família, que, muitas vezes, não entende o dia-a-dia da dinâmica política e, sem dúvida nenhuma, sofre muito mais, porque toma aquilo como algo que fere no fundo da alma. Fomos companheiros de Partido e trilhamos muitos caminhos juntos. Então, solidarizo-me com V. Exª e com a sua família. V. Exª não foi atingido um milímetro sequer nem aqui no Senado Federal, nem em Minas Gerais, nem no País. A avaliação que continuamos a ter de V. Exª, por conhecê-lo, por saber da forma como V. Exª age, é a de um homem íntegro, decente, honesto, que merece todo o respeito e, mais que isso, que vai continuar, sim, a colaborar e a contribuir cada vez mais para a vida pública brasileira, porque é de exemplos como V. Exª que o País precisa. Meu abraço e minha amizade.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Romero Jucá. Esteja certo V. Exª de que pretendo continuar, como disse aqui, trabalhando muito. Sempre aprendi a trabalhar. Estou-me afastando da Presidência do meu Partido, faltando poucos dias, para não constrangê-lo, para que o meu Partido não sofra mais com essa injustiça, com essa marcação que vinha acontecendo.

Senador Eduardo Suplicy, ouço V. Exª com muita honra.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Eduardo Azeredo, em primeiro lugar, reitero o meu respeito por V. Exª e, como aqui sempre tenho registrado, a seriedade de propósito que enxergo e percebo em sua atuação. Relembro que, na última quinta-feira à noite, ambos estávamos no mesmo vôo para São Paulo. Eu estava atendendo a um compromisso, pois fora convidado para a reunião de cerca de 180 Parlamentares de diversos países do mundo, da rede mundial de Parlamentares com o Banco Mundial, em Helsinque, na Finlândia. Naquela oportunidade, transmitindo a V. Exª o propósito da viagem que fiz neste final de semana, aproveitei para informá-lo da resolução que nós, os 12 Senadores da Bancada do Partido dos Trabalhadores, tomamos em nossa última reunião, propondo ao Diretório Nacional que, desde pronto, venhamos a assumir o propósito de registrar, conforme o que aprovamos aqui no Senado, independentemente até de que tenha sido aprovado na Câmara dos Deputados, daqui para frente, sempre em tempo real e diariamente, na rede mundial de computadores, a Internet, toda a receita e despesa, as fontes de receita e o conteúdo das despesas referentes às campanhas eleitorais. É o compromisso que nós, os 12 Senadores do PT, assumimos e propomos à Direção Nacional do PT, agora Presidida pelo Deputado Ricardo Berzoini, que seja também uma diretriz. Lembro-me perfeitamente de V. Exª ter saudado a decisão que lhe mostrei, porque considero ser algo relativo a um propósito comum do que temos em termos de objetivos para a vida pública. E que, se, por ventura, erros, utilização de caixa dois, recursos não contabilizados ocorreram ao longo destes últimos anos por quaisquer partidos políticos, inclusive o PT, ou se, por ventura, tenha ocorrido no PSDB ou no PFL, onde for, tenhamos todos o propósito de efetivamente superar, corrigir esses problemas. Ontem, ao término da reunião do Conselho Superior de Comércio Exterior da Fiesp, fui perguntado por alguns jornalistas a respeito de diversos temas, inclusive os relativos às questões do ex-Ministro e Deputado José Dirceu. Toco nesse assunto porque ainda há pouco V. Exª conversou comigo a respeito. Transmiti aos jornalistas na ocasião que considero importante - na medida em que o próprio Presidente Lula tem dito que quer a colaboração de todos nós e do seu Governo - o desvendar completo dos fatos, para que a verdade inteira apareça; considero que será útil que o Deputado José Dirceu - sobretudo S. Exª querendo - possa completar a sua defesa e comparecer às CPMIs. Estou ciente de que as CPMIs dos Correios e da Compra de Votos aprovaram relatórios encaminhando ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados para que o Deputado José Dirceu e outros sejam ali considerados para eventual perda de seus mandatos. Mas, ainda assim, é possível que haja necessidade de esclarecimentos, uma vez que os trabalhos das CPMIs prosseguem. Na ocasião, mencionei que considero importante que possa o caso do PSDB de V. Exª ser também objeto de esclarecimento. Na medida em que este assunto veio à tona outra vez nos últimos dias, inclusive com reportagens recentes, com novas informações, considero que será importante a disposição que vejo em V. Exª - que já o fez uma vez - de novamente estar na CPMI e se colocar à disposição para esclarecimentos. Li notícia no Estado de S.Paulo, hoje colocada e que está posta diante de mim pela Internet, e a observação relativa ao detalhe do que aconteceu é do jornalista que assina a matéria, não é uma descrição feita por mim, porque não conheço tão bem todos os detalhes da história, que inclusive saiu na reportagem deste final de semana, que ainda nem tinha tido tempo de ler em detalhes...

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Nem eu sabia direito Senador.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - E é natural que os membros da CPMI e nós do PT perguntemos a respeito dos esclarecimentos que V. Exª já começa a delinear com muita clareza. E espero que possa fazê-lo ainda com mais detalhes na medida em que este assunto possa ser objeto da indagação de maior profundidade - o que não vou fazer agora, porque não é o propósito neste instante. Mas quero dizer-lhe quão importante é a disposição de V. Exª em esclarecer toda e qualquer questão relativa a isso. E o propósito, que acredito seja de todos nós, é ir muito firme, a partir de tudo o que ocorreu. Erros foram cometidos em muitos Partidos. V. Exª mesmo reconhece que os personagens da história que nos preocupou a todos do Partido dos Trabalhadores estavam antes presentes na própria campanha do PSDB. Isso é um fato! Agora, não vou aqui começar a história dos detalhes, porque isso merece ser feito no âmbito da CPMI.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Suplicy. Esta sempre foi a minha disposição. Eu vim à tribuna logo no início, assim que esses fatos foram divulgados. E o fiz espontaneamente. Que eu saiba, a única pessoa que foi espontaneamente à CPMI fui eu. Não sei de mais ninguém que o tenha feito espontaneamente. Estou vindo aqui agora, trazendo as informações. Levantei os dados e divulguei hoje uma nota em que consta a cópia do empréstimo que subsidiou o pagamento dessa dívida de 700 mil, que era a dívida de um assunto que eu não havia autorizado, mas sobre o qual se achou melhor fazer um acordo.

De maneira que a minha disposição sempre foi essa, Senador Suplicy: a de esclarecer, até pela minha formação, essa é a minha linha. Agora, o que não posso é concordar com a precipitação de tantos, que às vezes nos agridem.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Um aparte, Excelência.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador Leonel Pavan, o Senador Juvêncio já pediu o aparte há mais tempo. Gostaria de ouvi-lo primeiro.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Pois não.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador Juvêncio da Fonseca, com muito prazer.

O Sr. Juvêncio da Fonseca (PSDB - MS) - Senador Eduardo Azeredo, V. Exª é uma pessoa correta, boa, ética, com sensibilidade emocional e até uma grande sensibilidade espiritual para o trato da questão pública - todos nós sentimos isso - e por isso V. Exª sofre ao fazer política. E aí eu sei a dimensão que V. Exª está tendo nesse instante dessas injustiças, dessas colocações feitas a V. Exª, cinicamente, no sentido de desviar o foco da verdadeira corrupção que está neste País. Mas, mesmo assim, nesse instante tão difícil da vida de V. Exª, amargo momento, V. Exª está prestando um grande serviço à Pátria e à Nação brasileira. Nós sabemos disso. E uma informação que V. Exª trouxe aqui bem mostra o que é a sua conduta correta e o que é a conduta incorreta do Presidente Lula: a prestação de contas da campanha de que V. Exª participou. V. Exª, como Governador, apresentou uma prestação de contas de R$8,5 milhões; e o Presidente da República, uma prestação de contas de R$3 milhões. Isto é um ardil! Isto é uma falta de respeito à inteligência de todos nós. Sabemos que nesta falta de meios necessários, ele não poderia jamais ter uma campanha eleitoral como aconteceu, eficiente, boa. Então, já aí, na campanha eleitoral, estava enganando o povo. E V. Exª não fez isso. Uma das maiores prestações de contas deste País. Que isso seja levado em conta por todo o povo brasileiro, porque a conduta de V. Exª, o exemplo de V. Exª é para nós um símbolo a seguir. Muito obrigado.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Juvêncio, V. Exª que é muito bem-vindo ao meu Partido, o PSDB. Agradeço a V. Exª por suas palavras, pelo seu testemunho dessa luta que é nossa, parlamentar; antes de tudo, uma luta pela ética e pela verdade.

Quero ouvir a Senadora Patrícia, uma mulher que possa nos saudar hoje com a sua palavra.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Em seguida me conceda um aparte, Senador Eduardo Azeredo.

A Srª Patrícia Saboya Gomes (Bloco/PSB - CE) - Senador Eduardo Azeredo, eu gostaria de também trazer neste momento a minha palavra de solidariedade a V. Exª. Conheço-o mais proximamente, é evidente, depois que cheguei ao Senado. Mas, desde muito antes tenho uma grande admiração por V. Exª, pela sua seriedade, pela sua honestidade, pela sua competência, pela forma como governou Belo Horizonte e Minas Gerais e pelo bem-querer e admiração que as pessoas daquele Estado têm por V. Exª. Hoje é um dia muito triste para todos nós nesta Casa. Ter que assistir o Senador João Capiberibe, como fizemos há pouco, fazer um apelo para que lhe fosse garantido o direito da ampla defesa e, logo em seguida, depois desse momento que mobilizou a todos nós no Senado, ouvir de V. Exª também uma justificativa sobre algo que tem sido colocado no momento de uma crise em que o País vive. Eu disse, uns 15 dias atrás, e já tinha falado isso no meu pronunciamento, que estava meio desencantada com as coisas na política. E a maioria das pessoas que leu essa matéria me fez uma crítica muito séria: um político não pode dizer que está desencantado, porque isso não pega muito bem e que, afinal de contas, são três anos de mandato como Senadora. Mas, eu o reafirmo porque é o que sinto. Conversava agora há pouco com outros colegas Senadores, e falava: “que País é este que vivemos, onde de repente parece que ninguém entende mais nada”. V. Exª, que é uma pessoa tão querida, tão séria... Acredito em V. Exª. Acreditei desde o primeiro momento. V. Exª nem precisou falar muito comigo, porque acreditei em V. Exª - e continuo acreditando. Como companheira no Senado, apesar de estarmos em partidos opostos - eu na Base do Governo e V. Exª, no PSDB, na oposição -, tenho uma grande admiração por V. Exª, pela forma generosa como sempre se dirige a qualquer um de nós ou a qualquer pessoa, pela forma disciplinada como trata temas tão importantes dentro do seu mandato, pelo carinho com que cuida das coisas do seu mandato no Senado, prestando contas ao povo de Minas Gerais. Tive o privilégio de trabalhar com V. Exª quando presidimos uma CPI que investigou as redes de exploração sexual de crianças e de adolescentes, e V. Exª me substituiu tão bem num momento difícil para mim, em que eu tive que me submeter a uma cirurgia, talvez num momento de consagração da CPI, que era a leitura do relatório final, e V. Exª imediatamente assumiu ali o lugar e, com muito êxito, com muita propriedade, levou adiante aquela missão, que era a missão de todos nós, Senadores. Eu só quero dizer a V. Exª isso: confio em V. Exª, confio no seu mandato, acredito na sua história; mesmo com essa desilusão que eu dizia há pouco que eu tinha da política, isso não significa que vamos sair da política. Pelo contrário, isso dá mais força e entusiasmo para que possamos trabalhar e lutar por aquilo em que acreditamos: nossos ideais. V. Exª é uma pessoa que, não precisa nem dizer, transparece, com a sua fisionomia, o seu jeito sereno, habilidoso, esse jeito mineiro de conduzir as coisas. Portanto, Senador Eduardo Azeredo, independente de questões partidárias ou de posições, de estar ao lado, na base do Governo ou não, toda a minha solidariedade, a minha palavra de que V. Exª é um homem sério e não merece de forma alguma isso que lhe está acontecendo.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senadora Patrícia Saboya Gomes, eu lhe agradeço muito. V. Exª pode ter certeza de que não se arrependerá de poder confiar na minha palavra. É a palavra que eu disse quando vim voluntariamente à CPMI, quando vim à tribuna dizendo que não era do meu conhecimento aquele empréstimo tomado. Só fiquei sabendo daquilo muito tempo depois, quando não era mais empréstimo, já era dívida. O sofrimento que passei para poder enfrentar essa questão, para tentar saldar dívidas, essas coisas todas por que passa quem disputa uma eleição majoritária como a que enfrentei.

De maneira que agradeço muito o seu testemunho. Esteja certa de que estaremos juntos aqui. Estou apenas me afastando da Presidência do Partido. Só isso. Espero poder colaborar na discussão dos temas importantes que temos no Senado Federal.

Senador Edison Lobão, ouço V. Exª com muita honra. Senador Leonel Pavan, V. Exª, como é de casa, pode esperar um pouco mais.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Senador Eduardo Azeredo, conheço a extensão do seu sofrimento. Imagino o quanto V. Exª medita em torno do negativo, ou seja, de uma injustiça que se pratica a um homem de bem. Ainda há pouco o Senador Antonio Carlos Magalhães dizia que conheceu seu pai. Eu também conheci. Era por igual um homem de bem. Olhando a trajetória política de V. Exª, não tenho dificuldade para acreditar na sua palavra, por inteiro. Estou também no convencimento, na persuasão de que este Plenário acredita na manifestação de inocência de V. Exª. Senador Eduardo Azeredo, o que se procura fazer neste caso é contrabalançar as coisas. É um sistema de pesos e contra-pesos. O que se quer é tapar o sol com a peneira, utilizando-se de fatos inexistentes, atribuindo-se a outrem aquilo que acontece do outro lado. V. Exª tem a minha solidariedade e a segurança de que acredito plenamente na inocência de V. Exª.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Lobão, pelas palavras que V. Exª, que é um homem experiente, me traz nesta hora. Saiba que o problema é exatamente este: estou cansado de ser o peso. Todas as vezes que aparece a questão do PT, voltam com Minas Gerais; vai o PT do Rio Grande do Sul, volta Minas Gerais; vai o PT não sei aonde, Minas Gerais; vai o outro peso, Minas Gerais. Não é possível, eu sou o contraponto de tudo! Elegeram-me para ser o contraponto, para ser pára-raio, quando, na verdade, eu já cansei de explicar corretamente o que aconteceu e continuo à disposição para os esclarecimentos que se fizerem necessários.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Ouço o Senador Flexa Ribeiro e, depois, o Senador Marco Maciel.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Eduardo Azeredo, é uma honra tê-lo como presidente nacional do PSDB. V. Exª toma uma decisão difícil. Eu poderia até não dizer isso antes de ouvir a Senadora Ideli, mas, depois de ouvi-la fazendo o aparte a V. Exª, diria que é unanimidade nesta Casa o reconhecimento da honradez, da probidade com que V. Exª sempre se houve em todos seus mandatos e em todas suas funções. Não há dúvida, Senador Eduardo, de que esta é uma técnica utilizada pelos malfeitores: tentar envolver todos os que estão fora desse processo e, com isso, desviar ou criar uma cortina de fumaça para impedir as investigações, como aqui foi dito muito bem pelo nosso Líder Arthur Virgilio. Vamos aprofundar a investigação, vamos fazer uma CPI para investigar o caixa dois, vamos ver quem realmente tem responsabilidade e separar o joio do trigo. Tenho certeza absoluta de que Minas Gerais e o Brasil reconhecem em V. Exª um homem honrado. V. Exª trouxe essa honradez de seu pai, o Deputado Renato Azeredo, e de sua família. Reconheço a sua dificuldade, sei como tem passado esses dias. A atitude de V. Exª de abrir mão desse restante de gestão à frente do PSDB, como disse o Senador Sérgio Guerra e como eu também disse a V. Exª quando conversávamos à tarde, não era necessária. No entanto, V. Exª, para proteger o partido - como V. Exª bem colocou, o Partido atualmente é um imã que atrai acusações de todos os Estados onde reconhecidamente houve caixa dois do Partido do Governo -, toma essa posição honrada, que enobrece e orgulha todos nós do PSDB. É uma honra ser presidido por V. Exª.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Flexa Ribeiro, agradeço as suas palavras também e quero dizer que, realmente, esta é uma linha que perseguirei sempre: a linha da transparência, a linha de trazer as informações quando elas forem necessárias.

Senador Marco Maciel, com muito prazer, ouço V. Exª.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Nobre Senador Eduardo Azeredo, gostaria, em rápidas palavras, de reiterar aquilo que tenho dito sobre V. Exª ao longo de sua vida pública. V. Exª é herdeiro das melhores tradições da política mineira, especialmente por ser filho de Renato Azeredo, que foi um parlamentar com o qual convivi durante duas legislaturas, com quem aprendi muitas lições de civismo, muitas lições de honestidade e de espírito público. E mais: o seu pai era conselheiro, posso assim dizer, do Presidente Tancredo Neves. Tanto isso é verdade que, tão logo o Presidente Tancredo Neves se licencia para assumir o Governo de Minas, seu pai é convocado para ser Secretário de Governo. E nessa função ele teve um papel muito importante no processo sucessório que culminou na eleição de Tancredo Neves e José Sarney para Presidente e Vice-Presidente da República respectivamente. Por isso, diria que V. Exª tem um passado do qual pode se orgulhar, mas, muito mais do que isso, V. Exª segue o exemplo de seu pai ao longo de sua vida pública e, por isso, faz-se merecedor do reconhecimento não somente dos seus colegas aqui do Senado, mas da opinião pública de Minas e do País. Neste momento em que V. Exª discursa nesta Casa para anunciar que se afasta da presidência do PSDB com o objetivo de facilitar a apuração de todos os fatos, dá mais uma demonstração de sua honestidade, da forma ilibada como V. Exª pratica a política em seu Estado e no País. Portanto, receba, com o meu abraço, mais uma vez, a renovação da minha confiança e os cumprimentos pela atitude que tomou, que atesta a sua conduta correta, sua honra sem jaça e, portanto, merecedora do reconhecimento de todo o País. Meus cumprimentos a V. Exª.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador Marco Maciel, V. Exª sabe muito bem que sua palavra para mim é uma palavra de grande importância. V. Exª é um homem experiente, foi Vice-Presidente da República, um Vice-Presidente leal. Quero agradecer as palavras que V. Exª me traz e a lembrança de meu pai, que é, como eu disse antes, o que me orienta na vida pública aqui no Senado.

Ouço a Senadora Lúcia Vânia e, em seguida, o Senador Tourinho.

A Srª Lúcia Vânia (PSDB - GO) - Senador Eduardo Azeredo, tenho procurado manter nas minhas falas aqui o equilíbrio, a sensatez, mas confesso a V. Exª que hoje, ao ouvir um membro da Oposição dizer aqui que V. Exª estaria entre todos, fiquei indignada, porque V. Exª é o melhor de todos nós. Isso é motivo de muita tristeza para nós neste dia. Eu, que sempre entendi que tínhamos de paralisar um pouco essas CPIs e voltar à vida normal do Congresso Nacional, hoje pensei seriamente que não vale a pena. E chego a essa conclusão quando vejo, aqui nesta Casa, uma pessoa do gabarito de V. Exª ser utilizada como cortina de fumaça para esconder crimes que a população brasileira toda espera ver solucionados, crimes que estão a olhos vistos e que, no entanto, não têm resposta. Quero dizer a V. Exª que respeito a sua posição de se afastar do Partido, embora não concorde com ela. Acredito que V. Exª teria de ficar até o último dia sim, porque este País precisa de homens de bem, este País precisa de pessoas que possam dar mostras de sensibilidade e de competência como V. Exª tem dado aqui nesta Casa. Sempre tenho respeitado muito o nosso Líder, mas às vezes acho que o Senador Arthur Virgílio exagera um pouquinho nas críticas. Hoje, porém, achei que ele foi suave demais, e achei mesmo, Senador Azeredo, que não deveríamos, a partir de hoje, votar nada mais nesta Casa. Esses dirigentes públicos, que vieram trazendo a esperança, dizendo que a esperança venceria o medo, não merecem o nosso respeito; nós todos aqui não sabemos aonde eles vão levar este País. Num dia como hoje, quando deveríamos votar uma medida provisória da mais alta importância para este País, não existe clima nesta Casa para colaborar com nada que diga respeito a este Governo. Deixo aqui as minhas palavras de solidariedade e o meu respeito a V. Exª, que tem sido um grande parceiro na Comissão de Assuntos Sociais - enquanto outros preferem as comissões que dão mais ibope, V. Exª está ao nosso lado defendendo o deficiente, a criança, o adolescente; V. Exª empresta o seu prestígio e a sua personalidade aos nossos trabalhos. Portanto, a minha indignação hoje é muito grande. Fujo agora do estilo que tenho mantido nesta Casa para dizer ao meu Líder que ele tem razão, que ele não exagera não, quem exagera são aqueles que não têm nos respeitado aqui. Muito obrigada.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senadora Lúcia Vânia, ao agradecer as suas palavras, peço desculpas por não atendê-la quando me disse: fique até o fim, fique até o dia 18 de novembro.

Estou rejeitando, como V. Exª disse logo no início do seu discurso, essa malévola investida. É uma histeria informativa em que não se consultam as fontes corretas, em que, às vezes, se soltam as notícias sem ouvir as fontes corretas, sem averiguar as fontes ou ouvindo fontes que são de pessoas processadas, pessoas que, sabe-se claramente, não merecem um mínimo de respeito.

Prefiro que o meu Partido não sofra mais por minha causa.

Concedo o aparte ao Senador Rodolpho Tourinho.

O Sr. Rodolpho Tourinho (PFL - BA) - Senador Eduardo Azeredo, quero hipotecar a minha solidariedade. V. Exª sabe que não é apenas por amizade, pelo companheirismo e por tantas coisas que temos feito juntos aqui, que o faço. Não é por isso, mas porque V. Exª é reconhecidamente um homem sério, um homem de bem. Por essa razão é que, neste momento, trago esta solidariedade, o abraço e a certeza de que isso passará muito rapidamente por V. Exª. Saiba que aprecio muito a sua reação neste momento. Penso que essa é a forma correta de fazer, esse é o caminho certo. Parabéns.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador Rodolpho Tourinho, muito obrigado pelas suas palavras de amigo, de colega aqui do Senado. Esteja certo também que estaremos juntos em novas lutas.

Tem razão a Senadora Lúcia Vânia. Há momentos em que a política desanima, mas temos que buscar...

O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Senador, V. Exª me concede um aparte?

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador José Sarney, com muita honra, ouço V. Exª.

 O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Perdoe-me interromper o final do seu discurso. Quero apenas deixar registrado nos Anais aquilo que V. Exª tem ouvido sempre, que é a minha solidariedade. Reconheço que V. Exª é um homem sério, correto e que, portanto, merece a solidariedade de todos nós. Sabe V. Exª a amizade que me ligava ao seu pai e a admiração que sempre tive pela sua carreira pública.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador José Sarney, muito obrigado pelas palavras de V. Exª.

Reitero, mais uma vez, o que eu disse aqui: quanto à campanha de 1998, quando era Governador de Estado e disputava a reeleição, naquela época, não tive conhecimento das irregularidades eleitorais que são agora levantadas.

Fico muito feliz em ouvir a palavra de V. Exª de apoio ao meu posicionamento aqui hoje.

Ouço o aparte do Senador César Borges, ex-Governador da Bahia, que foi nosso colega também.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Prezado Senador Eduardo Azeredo, associo-me a tantos que já se pronunciaram nesta noite numa palavra de total confiança nas suas atitudes, construídas ao longo de sua vida e que lhe credenciam hoje a vir a esta tribuna e tomar a posição que achar mais conveniente. V. Exª tem credencial para ser presidente de qualquer partido e é uma honra para qualquer partido tê-lo em sua legenda. Sua trajetória dá essa confiança. V. Exª tenha a certeza de que esta Casa, pelos pronunciamentos já feitos, renova essa confiança. Espero que V. Exª continue equilibrado, sensato, sempre cordato, mas que sabe reagir no momento certo. V. Exª disse hoje que não quer que confundam sua maneira educada com qualquer atitude de passividade. V. Exª sabe reagir à altura e com dignidade. Mas veja como são malévolos. Tentam levá-lo a confundir as posições. V. Exª exerce uma oposição responsável e sempre pronta a colaborar. Tentam lhe levar uma acusação como essa, tentando confundir a opinião pública. Nada mais é do que isso. Trata-se de uma atitude diversionista daquele que está no banco dos réus tentando levar outros. No entanto, há discernimento da população, principalmente no seu Estado. As pessoas que o conhecem e o amam têm, por diversas vezes, reiterado a confiança em V. Exª. Podem dar-lhe essa tranqüilidade. Portanto, quero associar-me a eles e dizer que estaremos aqui como parceiros, lado a lado, para fazer uma oposição responsável, fiscalizadora, mas sabendo reagir no momento certo. Parabenizo-o. Saiba que estaremos ao seu lado sempre que V. Exª necessitar de nossa presença, de nosso apoio. Muito obrigado.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador César Borges. V. Exª, como eu, fomos Governadores durante um período. Portanto, sabe bem a dificuldade que é governar Estados grandes como a Bahia e Minas Gerais, que possui 853 Municípios. Fazer uma campanha em Minas Gerais é, realmente, uma tarefa hercúlea. Daí a dificuldade adicional que se tem em uma campanha.

Ouvirei, agora, meus companheiros de Partido. Ouvirei, em primeiro lugar, o Senador Teotonio Vilela Filho, nosso ex-Presidente. Depois, ouvirei os Senadores Leonel Pavan e João Batista Motta.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Também estou inscrito, Senador Eduardo Azeredo.

O Sr. Teotonio Vilela Filho (PSDB - AL) - Senador Eduardo Azeredo, caríssimo amigo e colega, a Senadora Lúcia Vânia está coberta de razão. São 22h22 do último dia regimental para votarmos uma medida provisória da maior importância como a MP nº 255 que, acredito, iria resgatar erros cometidos por este Governo no passado, com a sua incompetência e a sua inapetência para tocar essas questões importantes aqui no Senado Federal e na Câmara dos Deputados. Veja como este Governo é despreparado, inapetente, incompetente e inepto, porque, ao invés de estar aqui movimentando o Congresso Nacional para votar as questões em favor do Brasil, vai justamente criar injúrias e infâmias contra o Senador Eduardo Azeredo, fato que não pode acontecer sem que este Senado Federal ocupe o tempo para fazer justiça a V. Exª. E é isso o que o Senado Federal fez hoje. O velho Teotonio Vilela dizia que se os amigos não mandarem flores, os inimigos é que não vão mandar nunca. V. Exª, Senador Eduardo Azeredo, nesta noite de hoje, recebeu flores dos aliados e dos adversários também. Flores de amizade, de solidariedade, até flores de remorso vimos hoje aqui serem enviadas a V. Exª, mas, sobretudo, flores de justiça, justiça a um homem de vida limpa, de vida digna, uma vida tão limpa como uma toalha que se forra numa mesa, numa tarde de domingo. V. Exª honra e orgulha os seus companheiros, Senador Eduardo Azeredo. Tenho muito orgulho de ser seu colega, seu amigo, seu correligionário. Aos quatro anos de idade, meu pai elegeu-se Deputado Estadual e, a partir daí, passei a conviver com políticos. Hoje tenho 54 anos. Conheci milhares de políticos. Mas V. Exª é um dos políticos mais sérios, mais dignos, mais honrados com quem já tive a satisfação e a alegria de conviver na vida. Meu forte abraço de solidariedade. Era o que eu tinha a dizer.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Obrigado, Senador Teotonio Vilela Filho. Estaremos juntos, agora, na galeria de ex-Presidentes do PSDB. Estarei muito honrado ao seu lado.

Ouço o Senador Leonel Pavan.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Eduardo Azeredo, uma das coisas que marca a minha passagem na vida pública é justamente o respeito de conviver com pessoas que nos servem de exemplo e, aqui no Senado, V. Exª serve como exemplo para todos. Claro que temos inúmeras outras pessoas também éticas e honradas, porém tenho dito em todos os lugares que vou e quando sou questionado por adversários, amigos e pela imprensa, que V. Exª é um dos maiores exemplos para um homem que quer seguir a vida pública. Convivi com V. Exª em uma viagem, e as nossas conversas sempre envolviam a família. V. Exª sempre falava com emoção da Heloísa, sua esposa; do Renato, seu filho; dos seus familiares, dos seus amigos, da sua historia, e dizia que, se existem coisas que marcam, são justamente a sinceridade e o respeito. Dizia para mim; não dizia para seus eleitores, para o público, dizia para mim pessoalmente. Quando cheguei em casa, repeti algumas de suas palavras para meus filhos e para minha esposa. Por inúmeras vezes, aqui nos referíamos aos projetos do Governo e sobre alguns pronunciamentos que deveriam ser feitos. V. Exª nunca usou a palavra com revanchismo e sempre nos disse que não podíamos fazer o que os outros faziam no passado e que condenávamos. Recentemente, ainda neste ano, foi votada aqui uma MP, não me recordo qual, para que o Presidente Lula venha a esta Casa e traga a mensagem do Orçamento, no início da Legislatura. E surgiu uma discussão sobre se os líderes poderiam falar durante o pronunciamento do Presidente. V. Exª votou contra e eu o acompanhei, porque V. Exª disse que a presença do Presidente nesta Casa deveria ser de magnitude e de respeito e que não deveríamos questioná-la. Isso mostra que V. Exª é ético, não faz política com o fígado, não faz política com rancor, não faz oposição por oposição, não aposta no “quanto pior, melhor”. V. Exª torce pelo Brasil e me disse que torcia muito para que o Governo não estivesse envolvido nesses escândalos, para que o País não pagasse um preço muito caro lá na frente. Infelizmente, querido amigo, Senador Eduardo Azeredo, todos esses conselhos que V. Exª nos deu, toda essa aproximação que fez para que alguns projetos do Governo realmente fossem aprovados, não tiveram repercussão e hoje essas pessoas o atacam, tentam atirar apenas com uma bala, uma bala pifada, falha, o gatilho não funciona. Tudo o que têm de acusação contra o Governo tentam apostar em apenas um tiro. E hoje V. Exª viu e sentiu quantos e quantos Senadores ainda há aqui para lhe prestar solidariedade, para dizer que confiam no seu passado e orgulham-se do seu presente. Com certeza, todos nós ainda vamos ouvir falar muito de Eduardo Azeredo, para o bem do nosso País. Como Presidente do nosso Partido, V. Exª foi um homem transparente, ético e um grande líder. E hoje deixa a Presidência do PSDB pela sua vontade, não por nossa vontade, não pela vontade dos militantes do Partido. Fui entrevistado hoje e me perguntam o que eu achava da atitude de V. Exª. Eu disse: “Respeito a posição do Senador Eduardo e acho que faria a mesma coisa”. Tenho certeza, como falou aqui a nossa querida Senadora Lúcia Vânia, de que V. Exª está renunciando à Presidência para que José Serra retorne e possa passar a faixa, a Presidência para o nosso outro grande Líder, Tasso Jereissati, no dia 18 de novembro, numa demonstração de que o Partido está unido e de que queremos o melhor para esta Casa, para o Congresso, mas, muito mais, queremos o melhor para a Nação. Parabéns pelo desempenho de V. Exª e pode contar conosco, porque o povo confia em V. Exª!

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Leonel Pavan, pelas suas palavras. V. Exª é, na verdade, um amigo que ganhei neste Senado. Os meus filhos não queriam que eu saísse, mas que ficasse até o dia 18, mas achei que me antecipar um pouco para proteger o meu Partido é o que eu deveria fazer.

Ouço o aparte do Senador João Batista Motta.

O Sr. João Batista Motta (PSDB - ES) - Senador Eduardo Azeredo, lamento, profundamente, pelo sofrimento que V. Exª está passando, vítima dos incompetentes; vítima daqueles que estão destruindo o nosso País. Senador Eduardo Azeredo, esse vendaval, esse furacão já passou pela Prefeitura do Ceará, já passou pelo Governo do meu Estado, já passou pela Prefeitura de São Paulo e está passando na Presidência da República. Mas, graças a Deus, podemos contar os dias para esse pesadelo acabar. Essa é a primeira coisa que eu queria dizer a V. Exª. A segunda, é confortá-lo dizendo que este País o conhece e respeita. Este País sabe que, quando prefeito de Belo Horizonte, V. Exª foi o orgulho do Município. Este País sabe que, quando V. Exª foi governador de Minas Gerais, foi também orgulho do seu Estado. E nós somos testemunhas de que V. Exª também é o orgulho desta Casa. Meus parabéns! Levante a cabeça! Isso passou. Isso não vai atingir, em nada, a sua moral e a sua honra. Meus Parabéns, meu Presidente!

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador João Batista Motta, vizinho do Espírito Santo.

Senador Ney Suassuna, com muita honra ouço V. Exª.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador Eduardo Azeredo, V. Exª sabe de longa data qual é a minha opinião a respeito de todo esse imbróglio. Eu já tive oportunidade de conversar com V. Exª e dizer que não devia estar-se levando adiante nada disso. E já disse a V. Exª várias vezes que eu me constranjo com esse assunto e que o meu voto pessoal será sempre a favor de V. Exª. Esse assunto não deveria ter sido puxado à baila porque não tem fundamento. Lamento muito tudo isso que V. Exª passou e está passando. Tenho certeza de que isso é como as ondas do mar, que passam e volta a calmaria. As coisas vão e vêm. Infelizmente, estamos vivendo dias difíceis, e V. Exª é uma das pessoas atingidas. Mas conte com o meu apoio pessoal. Tenho certeza de que, se o assunto for discutido na minha Bancada, V. Exª terá a simpatia de todos, como tem da minha pessoa. Meus parabéns pela atitude que V. Exª espelhou desde o primeiro momento. Lamento muito por tudo que está acontecendo!

 O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Obrigado, Senador Ney Suassuna. Estarei sempre pronto para responder a qualquer questionamento que venha, pois é uma obrigação minha.

Sr. Presidente, agradeço a V. Exª pela tolerância com o tempo, pois me estendi em demasia, mas quero ainda dizer que, para essa luta que interessa a toda a sociedade brasileira, continuarei firme na trincheira deste Senado e do meu Partido, que ajudei a fundar em 1988.

Devo ainda registrar aqui os meus agradecimentos ao Senador Tião Viana, que, publicamente, mesmo sendo de um Partido adversário, o PT, defendeu-me neste último fim de semana. Agradeço ao Senador Paulo Paim, que sempre esteve pronto dizendo-me do seu apoio, da sua solidariedade. Agradeço a todos os Senadores.

Agradeço, nesse período em que dirigi o PSDB, a todos que me ajudaram a dirigir o Partido: aos governadores do meu Partido, aos Prefeitos, aos Deputados Federais, na pessoa do Líder Alberto Goldman. Agradeço aos Senadores do PSDB, na pessoa do Senador Arthur Virgílio, mais uma vez. Agradeço ao Governador do meu Estado, Aécio Neves, que nunca me faltou com a sua solidariedade, com o seu apoio. Ainda hoje, quando lhe telefonei comunicando a minha decisão, S. Exª me disse que eu deveria tomar a decisão que quisesse, pois essa seria também a posição de S. Exª. Disse que, se eu quisesse continuar, teria o apoio de S. Exª. Assim também fizeram o Prefeito José Serra e o Governador Geraldo Alckmin, a quem também tomei a iniciativa de comunicar a decisão que estava tomando.

Assim, deixo aqui registrado o meu agradecimento a todos os Governadores do meu Partido, a todos os membros do PSDB. Foi, para mim, uma honra muito grande dirigir este Partido que eu ajudei a fundar, ainda que tenha sido de fevereiro até agora apenas.

Antes de concluir, ouço, com muita honra, os Senadores Luiz Otávio e Aloizio Mercadante.

O Sr. Luiz Otávio (PMDB - PA) - Senador Eduardo Azeredo, V. Exª conte com o nosso apoio e não apenas com a nossa solidariedade. O PMDB é um Partido da Base do Governo, mas que tem a sua capilaridade pelo Brasil inteiro e demonstra, neste momento, solidariedade a V. Exª, pelo conhecimento da causa que V. Exª abraçou ao presidir o PSDB Nacional, do seu discernimento, da sua competência e da sua capacidade de articulação e de relacionamento com todos os Partidos nesta Casa. V. Exª deu uma demonstração clara, a todos nós, do modo cavalheiro, do modo amigo de conviver com todos os Partidos, no nosso dia-a-dia, principalmente quando há discussão, polêmica e partidarização das discussões, trazidas não apenas dos Estados, mas da própria questão político-eleitoral em que nos encontramos permanentemente, seja nas eleições municipais, nas eleições estaduais e, no próximo ano, nas eleições federais, quando, com certeza, teremos momentos de embates. E esse embate sempre foi de alto nível por parte de V. Exª. V. Exª é capaz de ser cavalheiro, um homem elegante, educado e companheiro leal. Portanto, registro a nossa solidariedade a V. Exª, em meu nome, em nome do meu Partido, o PMDB, não apenas em nome da liderança, como fez o Senador Ney Suassuna, como do Partido em nível nacional, inclusive do Presidente do Partido, Deputado Michel Temer e do Senador Renan Calheiros, que preside esta Casa e o Congresso Nacional.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Luiz Otávio, pelas suas palavras, que vêm lá do Pará e que trazem realmente o tamanho do seu Partido, o PMDB, que foi o meu Partido no início, antes da fundação do PSDB.

Ouço, com muita honra, o Senador Aloizio Mercadante.

O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Senador Eduardo Azeredo, dediquei 25 anos da minha vida ao Partido dos Trabalhadores e lutei muito para que o Presidente Lula vencesse as eleições presidenciais. Tenho orgulho da trajetória da minha vida, acredito nesse projeto, não compartilho com as críticas e com a forma com que tem sido tratada parte das nossas diferenças, inclusive hoje nesta sessão e neste plenário, mas sou um homem de convicções e não poderia deixar de manifestar-me nesta oportunidade. O PSDB é um Partido que tem um projeto diferente de País. Nós temos, sim, algumas coisas parecidas, mas muitas diferenças e divergências políticas. E é bom para a democracia que haja o pluralismo, o pêndulo da história, a alternância no poder, que haja Partidos que tenham projetos, que tenham idéias diferentes, que possam disputar politicamente. V. Exª tem, como não poderia deixar de ser, um estilo mineiro de tolerância, de diálogo, de espírito público, e eu não poderia deixar de me manifestar, porque, ao longo desses dois anos e dez meses de convivência, em momentos muito importantes desta Casa, vi V. Exª assumir uma posição clara de defesa do interesse público, votando conforme o interesse público - muitas vezes, inclusive, dialogando, debatendo ou divergindo de companheiros de Bancada pelo interesse público. E, portanto, neste momento difícil, eu acho que V. Exª tem que ter a convicção do respeito que esta Casa lhe devota. É um processo que estamos vivendo no País, em que todos os fatos têm de ser esclarecidos, ninguém pode ser perseguido ou poupado. Mas V. Exª tem o respeito desta Casa, exatamente por essa atitude serena, equilibrada, de diálogo, de tolerância. E só fez bem, eu diria, à imagem do seu Partido uma Presidência com esse perfil. Espero que V. Exª supere essas dificuldades e continue contribuindo para o País e para o Estado de Minas Gerais, ao qual sempre se dedicou, com o mesmo empenho e com o mesmo estilo - diálogo, tolerância, convivência respeitosa -, que, a meu ver, é fundamental para a democracia, especialmente no momento que estamos atravessando. E eu não poderia deixar de dizer isso, pois, apesar das nossas diferenças e da disputa partidária, faço questão de manifestar aquilo que eu sempre sinto e penso. E sou um testemunho da convivência com V. Exª.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador Aloizio Mercadante, agradeço as palavras que V. Exª traz aqui, como Líder do Governo. Ela é importante, porque V. Exª é testemunha da atitude que tenho tido aqui. Se eu hoje tive de elevar o tom das minhas críticas, é porque realmente tenho sido muito injustiçado. Não por V. Exª, mas por alguns colegas do seu Partido neste processo em que me colocam como se eu fosse o demônio - eu diria, até, nessa questão eleitoral. Agradeço-lhe muito a palavra de V. Exª, que se reveste de mais importância por vir num momento em que estou me despedindo da direção do meu Partido. É um momento difícil. Poucos dirigiram um Partido em uma época tão difícil como esta em que o presidi, com essa crise interminável que o Brasil vive, especialmente a partir do último mês de junho.

Agradeço-lhe muito a sua palavra, Senador Mercadante.

Ouço a Senadora Ana Júlia Carepa.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - Muito obrigada, Senador Eduardo Azeredo. Não vou falar diferentemente de vários Senadores aqui, talvez de alguns. V. Exª sabe do apreço e do respeito que tenho por V. Exª. Convivemos inclusive numa Subcomissão que discute projeto importantíssimo, principalmente para os nossos Estados, mas importante para o Brasil - os royalties dos minérios. Ele trata não apenas das alíquotas desses royalties, mas da forma de distribuição, da forma de controle social, porque, afinal de contas, esses minérios, tão abundantes em nossas terras, são riquezas naturais não-renováveis. Sou testemunha da sua postura correta e favorável ao Brasil. V. Exª também me viu subir à tribuna para fazer críticas e exigir apurações, como continuo exigindo, em relação a erros cometidos inclusive por companheiros e ex-companheiros meus. Tenho agido dessa forma em relação a todos. Mas, em relação a V. Exª, eu fiz ressalvas, e V. Exª é testemunha disso.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Sou testemunha, sim.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - Senador Eduardo Azeredo, eu sei o que é sofrer perseguição; eu sei o que é sofrer injustiças; eu sei o que é perseguição política. Afinal, creio que todos nós sabemos o que é isso, porque, como políticos, quase todos aqui já sofreram, em algum momento da sua vida, perseguições e acusações políticas, muitas delas absolutamente injustas. Acredito que todos são inocentes até prova em contrário. Com respeito pela sua história, quero-me solidarizar com V. Exª, como tenho feito com todos aqueles que são acusados também de forma absolutamente injusta e equivocada. Eu não poderia deixar de fazer este registro, pela sua postura sempre favorável aos interesses do povo brasileiro.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senadora Ana Júlia. Pode continuar confiando em mim. V. Exª não se arrependerá, porque o meu compromisso é com a ética, a verdade e a defesa do interesse público.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Concede-me um aparte, Senador?

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Presidente Renan, peço licença para ouvir, ainda, os Senadores Mão Santa e Magno Malta.

Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Eduardo Azeredo, neste instante de tormenta e injustiça que sofre, eu queria apenas recordar bons instantes que o País teve. Aqui está presente o Senador Tasso Jereissati. Fomos Governadores na mesma época e fizemos, no palácio do Estado de V. Exª, a primeira reunião que tratou de reforma administrativa, responsabilidade fiscal e de todo o moderno modelo administrativo hoje existente no País. No segundo mandato, tivemos uma grande decepção, pois Mário Covas, o melhor de todos nós, foi para o céu. Sou do PMDB e notava que ele tinha uma estima toda especial por V. Exª e por Tasso Jereissati. Tasso Jereissati, dou este testemunho, era o sonho, o escolhido de Mário Covas. Deus escreve certo por linhas tortas. Hoje, cheguei cedo e estava sendo realizada uma sessão em homenagem ao Papa João Paulo II. Estava aqui toda a Igreja Católica e presidia a sessão o Senador Marco Maciel. Eu meditava que, em dezembro de 1995, V. Exª e eu fomos convidados para sermos abençoados. Minas tem muitos símbolos, mas, naquela oportunidade, V. Exª e sua esposa, dona Heloísa, simbolizaram a verdadeira família da pureza cristã do Brasil.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Obrigado, Senador Mão Santa. V. Exª me lembrou de Mário Covas e quero falar de uma passagem que mostra bem o que devemos esperar de um homem público.

Estávamos numa disputa por indústrias novas, depois do sucesso do real, e por investimentos no Brasil. Já estava praticamente definido que a Mercedes-Benz seria instalada em Juiz de Fora, no meu Estado. O então Secretário de Indústria e Comércio de São Paulo, Emerson Kapaz, entrou no processo, pretendendo dobrar os incentivos para levar a Mercedes-Benz para São Paulo. Liguei para Covas e disse-lhe: “Olha, sei que é difícil para você abrir mão de uma disputa como essa, mas é importante para São Paulo que outros Estados se desenvolvam.”. Ele me respondeu, com aquela voz grossa: “É uma coisa difícil o que você está-me pedindo. Dou-lhe uma resposta amanhã.”. E me ligou no dia seguinte, dizendo: “Pode estar certo, eu não vou mais competir. Eu vou preferir que você tenha no seu Estado uma nova indústria automobilística que possa ajudar no desenvolvimento de todo o Brasil.”

É disso que precisamos, de homens públicos que entendam o Brasil todo, Senador Mão Santa, e Mário Covas sabia muito bem disso.

Muito obrigado por suas palavras.

Ouço o Senador Magno Malta.

O Sr. Magno Malta (Bloco/PL - ES) - Senador Eduardo Azeredo, eu não me poderia furtar de ser solidário a V. Exª e, de igual modo, à sua família, esposa e filhos, que sei lhe assistem neste momento. Quando estamos no meio de uma tempestade, sofre muito mais a nossa família, por isso quero dizer à sua esposa, aos seus filhos e a V. Exª que Deus está no controle de todas as coisas. Eu conhecia V. Exª de ouvir falar, até que um amigo em comum, o Ministro Walfrido dos Mares Guia, com quem tive o privilégio de ser Deputado Federal, um homem educado, de bem, com quem eu mantinha conversas, falou-me de algumas coisas do seu Governo e da sua pessoa. Em seguida, outro amigo em comum, o cantor Zezé di Camargo, falou-me com muito carinho de V. Exª e da sua família. Senador Eduardo Azeredo, em nome do povo do Espírito Santo, sou-lhe muito grato pela maneira respeitosa como tratou o nosso Estado enquanto foi Governador. Alguns Governadores de Minas Gerais, inclusive o que sucedeu V. Exª, odeiam o incentivo que o Espírito Santo recebe devido ao seu complexo portuário, o Fundap. Houve um momento em que qualquer mercadoria vinda pelos portos do Espírito Santo, com incentivo do Fundap, não podia passar pelas barreiras de Minas Gerais, mas V. Exª, no exercício do seu Governo, respeitou os capixabas. Aliás, as nossas são as praias dos mineiros. Sob o ponto de vista da relação comercial, V. Exª sempre teve respeito pelo nosso povo, pelo nosso Estado e pelo seu complexo portuário. V. Exª não tem bola de cristal, assim como nenhum de nós, e não poderia adivinhar que Marcos Valério, que naqueles dias era dono de uma grande empresa e uma pessoa com bons relacionamentos, viria a se envolver num imbróglio como esse anos depois. Às vezes, temos relacionamentos com pessoas que, depois, vemos com dificuldade na vida e nem por isso V. Exª pode ser alvo de maus olhares, de palavras mal faladas e daqueles que tentam atingir a sua honra, o bem mais precioso que um homem pode ter. Neste momento de disputa, é como se V. Exª fosse pego em um abraço de afogado: “Eu me afogo mas eu te levo!”. É bonita a sua resistência ao dizer: “Não me vou afogar, porque eu não tenho razão para isso. Não existe razão para isso.”. Nenhum de nós está defendendo que alguma denúncia não deva ser investigada, mas tentar criminalizar a sua eleição porque Marcos Valério se envolveu num imbróglio, anos depois, é pedir demais, é tentar cansar a beleza ou até achar que somos ignorantes. Por isso, receba o meu afeto e a minha congratulação. Em momentos como esse, não sabemos o que falar, porque por mais que tentemos medir o sofrimento das pessoas, nunca chegamos ao ideal, sempre ele é muito maior do que imaginamos, e, como eu disse, os filhos e a família são os mais atingidos. Dói muito mais na sua alma do que na nossa, porque eles nos conhecem. Sua família o conhece, sabe o homem que é e lê as injustiças que são publicadas. Isso deve doer muito na sua alma e no seu coração, por isso digo-lhes que o nosso conforto e consolo estão em Deus e não devemos perder a perspectiva de que Ele está no controle de todas as coisas. Para aqueles que tentam atingi-lo, a Bíblia diz que não devemos construir fardos que não tenhamos condições de carregar. E muito mais: “Com a medida com que medirdes, vos medirão a vós.”. V. Exª tem na sua história e na sua trajetória o seu verdadeiro conforto. Busque o consolo que nenhum de nós pode-lhe dar, que é aquele advindo de Deus. A Bíblia diz que “o choro pode durar uma noite inteira, mas a alegria vem logo ao amanhecer”.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Magno Malta. V. Exª traz palavras realmente muito corretas e uma meditação importante na análise da situação. V. Exª lembra de um grande amigo, Walfrido dos Mares Guia, atualmente Ministro, e também de Zezé di Camargo, um outro amigo que conquistei na minha vida e que me alegra sempre.

O Sr. João Ribeiro (Bloco/PL - TO) - Senador Eduardo Azeredo, V. Exª me concede um aparte?

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Senador João Ribeiro, concedo a palavra a V. Exª.

O Sr. João Ribeiro (Bloco/PL - TO) - Senador Eduardo Azeredo, pedi-lhe este aparte para cumprimentá-lo, pois tenho presenciado a atuação de V. Exª nesta Casa. É justa a manifestação desta Casa para com V. Exª, que é um homem público sério e respeitado. Como um homem do Tocantins, não poderia deixar de cumprimentar V. Exª, de prestar-lhe minha solidariedade e de torcer para que não haja nada contra V. Exª - e, pelo que percebemos, não há. Senador, sou daqueles que pensam que tudo deve ser apurado com muito cuidado, porque acusação sem prova, acusação leviana é o pior que existe na política. Meus cumprimentos a V. Exª. Esta Casa realmente presta solidariedade a um homem público respeitado, ao Presidente Nacional do PSDB, Partido que milita muito forte em meu Estado. V. Exª visitou o Tocantins recentemente, e, embora pertençamos a Partidos diferentes, estivemos conversando. A voz do Tocantins aqui está para cumprimentar V. Exª. Já que os Senadores Eduardo Siqueira Campos e Leomar Quintanilha não estão presentes, não poderia ficar V. Exª sem a solidariedade dos representantes do Tocantins nesta Casa. Muito obrigado pelo aparte.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador João Ribeiro. Agradeço também o Senador Eduardo Siqueira Campos.

Senador Arthur Virgílio, meu Líder, agradeço muito o apoio de V. Exª nesse período em que presidi o Partido.

Senador Tasso Jereissati, V. Exª será um grande Presidente para o Partido, não tenho dúvida. V. Exª comandou o PSDB em 1994 e, agora, o comandará novamente.

Agradeço, mais uma vez, o apoio de todos os tucanos e o respeito de todos aqueles não-tucanos que aqui hoje se manifestaram.

Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros, agradeço pela tolerância de V. Exª. Excedi o meu tempo, mas era importante que, hoje, eu trouxesse esta palavra, esta explicação ao Senado e ao Brasil. Deixo aqui minha palavra final, como Presidente do meu Partido, o PSDB, de muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/10/2005 - Página 36197