Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a Vladimir Herzog, por ocasião dos 30 anos de sua morte.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Vladimir Herzog, por ocasião dos 30 anos de sua morte.
Publicação
Publicação no DSF de 27/10/2005 - Página 37031
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, VLADIMIR HERZOG, JORNALISTA, VITIMA, TORTURA, HOMICIDIO, DITADURA, REGIME MILITAR, VALORIZAÇÃO, LUTA, DEFESA, DEMOCRACIA.
  • ANALISE, CONSTRUÇÃO, DEMOCRACIA, DEFESA, PRIORIDADE, LIBERDADE DE PENSAMENTO, TOTAL, ACESSO, INFORMAÇÃO, AMPLIAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, POPULAÇÃO.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como disse anteriormente o Senador Cristovam Buarque, é difícil falar nessa sessão de homenagem a Vladimir Herzog depois da fala do Presidente Renan Calheiros, do Senador Eduardo Suplicy, do Senador Cristovam Buarque e também do Senador Mão Santa que, com coragem, leu nesta tribuna o discurso que hoje deveria ser feito por João Capiberibe, infelizmente afastado ontem do Senado da República do nosso País.

Estava presidindo a Mesa e inscrita para falar nesta sessão. Decidi não falar da Mesa, mas desta tribuna. Para a grandeza de Vladimir Herzog, todos nós devemos estar hoje na tribuna do Senado ao falar seu nome, ao homenageá-lo.

Quero trazer a minha solidariedade a sua esposa. Como Presidente do Ano Internacional da Mulher Latino-Americana e Caribenha, pelo Senado da República, sei, tenho muita clareza, juntamente com certeza com as outras Srªs Senadoras, e também com certeza juntamente com muitos - pelo menos preciso acreditar - dos Srs. Senadores, tenho consciência da luta contra a opressão e a discriminação que nós mulheres sofremos neste país.

Como eu disse, vim pronunciar-me, em pé nesta tribuna, em homenagem a Vladimir Herzog. Realmente a sua vida, Herzog, foi preciosa e precisa na luta pelo processo democrático, pelo fim da ditadura neste País. Às vezes a gente vê algumas pessoas dizerem: “Ah! O tempo da ditadura!” Parece que tem gente que relembra o tempo da ditadura com saudade. Eu diria que só os vis e os covardes podem pensar dessa forma. Só os vis e os covardes! Porque a tortura é a arma infame da ditadura. E foi a arma que matou Vladimir.

E quem valoriza a democracia precisa ter clareza disso.

O ato que se viu aqui ontem em todas as falas dos Senadores e Senadoras com relação à questão do Senador João Capiberibe foi uma demonstração daqueles lutadores pela democracia.

Professor Cristovam Buarque - permita-me chamá-lo de professor, porque nós somos professores, estamos Senadores; eu também fui, por 26 anos, professora na Universidade Federal do meu Estado -, a democracia nunca está pronta, é uma permanente construção. Eu costumo dizer que a democracia se deve fundamentar, para estar em processo de construção permanente, num tripé que contenha a liberdade total e absoluta de idéias e ideais. Isso é imprescindível. Nos momentos em que os nossos ideais e idéias forem condenados em determinado procedimento, em uma sociedade, a democracia estará em perigo. Pelo menos uma parte está sendo questionada, deixando pontos de dificuldade e de interrogação nas nossas cabeças.

A liberdade de idéias e ideais é um dos tripés fundamentais da democracia. O outro é o acesso total e absoluto à informação. Quem tem informação tem poder. Quem não tem informação não tem poder, pelo menos não em um sentido mais amplo.

A informação imparcial é necessária para que o processo democrático realmente avance. Quando essa informação é parcial, ela é extremamente perigosa e ameaçadora à democracia também.

E o terceiro tripé eu diria que é a viabilização e a possibilidade da participação de todos no processo democrático, na feitura - desculpem o termo - das regras do jogo. É a sociedade organizada se posicionando. É a sociedade organizada dizendo realmente o que é melhor, o que deseja, o que busca e o que quer, por meio de suas mais variadas organizações.

Aproveito este momento para saudar o Presidente do Sindicato dos Jornalistas em nome desta organização da sociedade, numa de suas mais variadas, necessárias e imprescindíveis formas para o avanço e a consolidação de um processo democrático. É por isso e por tantas outras questões que Vladimir Herzog morreu - morreu, não; foi assassinado, perdeu a vida; foi vil e covardemente assassinado por uma ditadura sanguinária.

Precisamos valorizar a democracia, construí-la e consolidá-la cada vez mais, com determinação, vontade, compromisso político e competência técnica, cada um em seu setor. Só assim vamos, realmente, honrar o sangue derramado por Vladimir Herzog e por tantos outros que vil e covardemente foram assassinados na ditadura. Temos a obrigação, o dever e a responsabilidade de honrar o sangue daqueles que o derramaram para realmente tornar este País livre e cada vez mais democrático, o que ainda hoje oferece algumas dificuldades. Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/10/2005 - Página 37031