Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Anúncio de sua desfiliação do P-SOL.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (S/PARTIDO - Sem Partido/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Anúncio de sua desfiliação do P-SOL.
Aparteantes
Arthur Virgílio, José Agripino, Luiz Otavio, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 27/10/2005 - Página 37141
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • RECEBIMENTO, ORADOR, ACUSAÇÃO, ILICITUDE, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, OPINIÃO, NECESSIDADE, PROTEÇÃO, REPUTAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), PERIODO, INVESTIGAÇÃO, JUSTIFICAÇÃO, DESLIGAMENTO.
  • ANUNCIO, AUSENCIA, TROCA, FILIAÇÃO PARTIDARIA, CONTINUAÇÃO, APOIO, LUTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL).

O SR. GERALDO MESQUITA JUNIOR (P-SOL - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, o clima nesta Casa anda nervoso, emocional. Ainda ontem perdemos um companheiro valoroso, Senador João Capiberibe, que com grandeza defendeu o seu mandato até o último minuto. Ouvimos, da mesma forma, o pronunciamento do Senador Eduardo Azeredo, feito igualmente com grandeza. Na Casa funcionam várias Comissões Parlamentares de Inquérito. A Senadora Roseana Sarney, que há poucos instantes conversava comigo e a quem saúdo por estar com a saúde restabelecida, observou que o clima é realmente esse.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje venho à tribuna para praticar um ato político dos mais graves da minha vida.

Como todos sabem, eu me filiei ao P-Sol por questões, ideológicas, políticas, programáticas. O P-Sol se constituiu, se constitui e se constituirá sempre para mim a perspectiva da construção coletiva de um Brasil completamente diferente desse em que nós vivemos. Lamentável e involuntariamente eu, membro do P-SOL, me vi envolvido em um fato de ampla repercussão, que é do conhecimento de todos. Desde aquele momento, estou pensando, estou refletindo solitariamente, Senador Mão Santa, se eu tenho o efetivo direito de permitir que um milímetro de constrangimento atinja o meu Partido. Eu fiquei pensando neste tempo curto mas, ao mesmo tempo, enorme, se eu tenho o direito de permanecer no Partido. Mesmo provocando o Conselho de Ética para que investigue os fatos a mim imputados, eu fiquei me perguntando neste tempo se eu tinha o direito de, permanecendo no Partido, permitir que as pessoas, mesmo de longe, imaginassem a possibilidade de eu estar querendo me valer do P-Sol como um colchão de proteção e cheguei à conclusão de que eu não tenho nem um e nem outro direito. Eu tenho grande respeito pelos militantes e simpatizantes do P-Sol, particularmente pelas companheiras e companheiros do Acre e por todos que nos acompanham em todo o Brasil.

Está aqui o Deputado João Alfredo, um companheiro valoroso e também a Senadora Heloísa Helena, que é o sol do P-SOL. Quero dizer a todos que cheguei à conclusão de que não tenho absolutamente o direito de continuar filiado ao P-Sol. A reputação do meu Partido está acima de qualquer situação pessoal.

Dizia-me há pouco um repórter: “Mas se o Senhor se desfiliar, o Senhor não poderá ser candidato nas próximas eleições”. Não importa, Senador Mão Santa. A importância desse fato é bem menor do que a minha preocupação de que mesmo involuntariamente esteja causando constrangimento, por menor que seja, ao meu Partido, aos militantes dele, aos Parlamentares valorosos e honrados que o P-SOL tem o orgulho de exibir para este País.

Por essa razão, eu tomei a decisão, doída, solitária, de pedir a minha desfiliação do P-SOL. Quero deixar o meu Partido longe desse cenário de confusão. Eu me desfilio do P-SOL, mas não me afasto dele.

Perguntaram-me a qual partido vou me filiar. Respondi que não vou filiar-me a nenhum, Senador Renan Calheiros, a nenhum!

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Peço um aparte, Senador.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Continuarei. Continuarei P-SOL. Continuarei militando. Mesmo desfiliado, continuarei trabalhando no limite da minha capacidade, no limite da minha possibilidade em ajudar companheiras e companheiros, no meu Estado, a conquistar mandatos, a conquistar instâncias de poder ou ajudar a que este Partido consiga, juntamente com o povo acreano e brasileiro, colher uma grande alegria - quem sabe, a eleição de uma Heloísa Helena para a Presidência da República. Continuarei, sim, desfiliado do P-SOL, mas ao lado do P-SOL, junto à militância, trabalhando no limite da minha possibilidade, para fazer com que este Partido continue a brilhar, cada vez mais, no cenário político brasileiro.

Concedo um aparte ao meu querido amigo Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Geraldo, eu dou um testemunho bem simples, louvando-me no que sei, no que realmente pautei acerca do comportamento de V. Exª como Parlamentar. É irrepreensível! Eu não o pilhei num voto duvidoso, num gesto subalterno, em nada que me fizesse, porventura, querer distância da sua figura política aqui dentro, onde temos feito - com todas as diferenças ideológicas que apontam para o mundo que o P-SOL quer, que não é o mundo que o PSDB desenha - uma luta de Oposição, muitas vezes pela necessidade que a realidade triste que o Governo que aqui está nos impõe. Nunca eu me senti constrangido de ter V. Exª eventualmente ao meu lado, próximo de mim. Portanto, devo dizer, e tenho certeza absoluta que esse gesto, que não surpreende, é o gesto do homem corajoso, do homem abnegado, capaz da doação, que demonstra amor efetivo pelo Partido, consideração pelos seus companheiros. E, quem sabe, isso não é uma despedida, isso é um até breve. V. Exª tem dito isso através não das suas palavras, mas da linguagem do seu coração. Foi o que eu percebi.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Muito obrigado, Senador Arthur Virgílio, por quem eu tenho não só respeito como um carinho especial nesta Casa, em que pese, como diz sempre a Senadora Heloísa Helena, termos eventualmente visões diferentes de Estado.

Ouço o Senador José Agripino com prazer.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Geraldo Mesquita, deixe-me fazer uma consideração de ordem muito pessoal - política e pessoal. Eu me sento ao lado da Senadora Heloísa Helena e, pela proximidade física, acompanho muitas emoções de S. Exª. Ouvi a Senadora fazer um dos mais bonitos discursos desta Casa da tribuna em que está V. Exª; acompanho a luta dela; temos concordâncias e discordâncias em momentos diferentes. Com relação ao pensamento programático do P-SOL, nós temos divergências claras, mas nós temos uma relação pessoal muito próxima, com a Senadora Heloísa e com V. Exª, de muito tempo. Tenho apreço pessoal por V. Exª e tenho respeito político por V. Exª. Tenho respeito pessoal e tenho apreço político por V. Exª. Está V. Exª sendo alvo de acusações. Eu não quero fazer nenhum prejulgamento, mas tenho certeza de que V. Exª vai comprovar a sua honestidade pessoal e vai passar a limpo este momento ruim pelo qual passa. Neste momento, o que me cabe dizer é que, divergências políticas à parte, divergências programáticas à parte, lamentando que V. Exª se desfilie do P-SOL, Partido novo que nasce sob a esperança do povo brasileiro, estou convencido de que V. Exª - seja para onde for - vai conseguir provar a sua inocência e mostrar que V. Exª é o Geraldo Mesquita que eu conheço e que guardo com muito respeito.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Senador José Agripino, com emoção, ouço o seu aparte e agradeço, sensibilizado, a manifestação de carinho e respeito que V. Exª me transfere.

Concedo um aparte ao Senador Mão Santa, com o maior prazer.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Geraldo Mesquita Júnior, V. Exª tenha a convicção da sinceridade da minha afirmação, porque inúmeras vezes tenho buscado aconselhamento de V. Exª no campo jurídico, já que sou oriundo da área da saúde. Inúmeras vezes, recorri ao seu saber jurídico, e não apenas ao seu saber jurídico, mas também às suas virtudes. V. Exª simboliza neste Parlamento, na vida democrática do Brasil, o que Abraham Lincoln deixou escrito: “Caridade para todos; malícia para nenhum e firmeza no Direito”.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Querido amigo.

O Sr. Luiz Otávio (PMDB - PA) - Senador...

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Lamento dizer que o tempo de V. Exª está esgotado, Senador Geraldo Mesquita Júnior.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Vou encerrar, Sr. Presidente.

O Sr. Luiz Otávio (PMDB - PA) - Senador Geraldo Mesquita Júnior, V. Exª demonstra cabalmente o quanto é querido no plenário desta Casa. Mesmo em pontos distintos, em situações antagônicas e, principalmente, nas questões político-partidárias, V. Exª se apresenta sempre como um cavalheiro, como uma pessoa educada. Como Procurador da Fazenda Nacional, tem dado a sua parte, a sua competência, a sua capacidade, principalmente nas questões tributárias, que são muito discutidas nesta Casa. Portanto, além de reconhecer a sua capacidade, solidarizo-me com V. Exª, sabendo que este momento será superado e que brevemente V. Exª estará nas fileiras de outro Partido, ou até mesmo de volta ao P-SOL, e com certeza voltará a ter sua vida político-partidária.

 O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (P-SOL - AC) - Muito obrigado. Agradeço sensibilizado os apartes. Apenas reafirmo, até aproveitando o fecho do seu aparte, que neste momento desfilio-me do P-SOL, mas não me desligo do P-SOL. Continuarei com o P-SOL, solidariamente, construindo esse Partido no qual o povo acreano e o povo brasileiro têm a maior expectativa de mudança e de construção de um Brasil bonito com que tanto sonhamos.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/10/2005 - Página 37141