Discurso durante a 189ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cobranças de investigações a veiculação de cartazes com a figura de S.Exª com conotações nazistas.

Autor
Jorge Bornhausen (PFL - Partido da Frente Liberal/SC)
Nome completo: Jorge Konder Bornhausen
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Cobranças de investigações a veiculação de cartazes com a figura de S.Exª com conotações nazistas.
Aparteantes
Almeida Lima, Aloizio Mercadante, Antonio Carlos Magalhães, Antonio Carlos Valadares, Arthur Virgílio, Cristovam Buarque, César Borges, Edison Lobão, Jefferson Peres, José Agripino, José Jorge, José Sarney, Leonel Pavan, Marco Maciel, Mão Santa, Ney Suassuna, Paulo Octávio, Paulo Paim, Rodolpho Tourinho, Romero Jucá, Sérgio Cabral, Tasso Jereissati, Teotonio Vilela Filho, Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 27/10/2005 - Página 37143
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, BIOGRAFIA, ORADOR, APRENDIZAGEM, ETICA, POLITICA, OPOSIÇÃO, CALUNIA, INJURIA, DIFAMAÇÃO, PROTESTO, MANIPULAÇÃO, DECLARAÇÃO, IMPUTAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, AUTORITARISMO, REPUDIO, CORRUPÇÃO, CONFLITO, MEMBROS, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PUBLICAÇÃO, IMPRENSA.
  • REPUDIO, DIVULGAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), CARTAZ, VINCULAÇÃO, ORADOR, NAZISMO, REITERAÇÃO, AUSENCIA, ACOLHIMENTO, INVESTIGAÇÃO, ANUNCIO, PROVIDENCIA, EXPECTATIVA, APURAÇÃO, POLICIA CIVIL, AÇÃO JUDICIAL, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, SUSPEIÇÃO, UTILIZAÇÃO, VERBA, ORIGEM, CORRUPÇÃO.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na biografia monitorada, que redundou em um livro do jornalista e escritor Luiz Gutemberg, há um capítulo, o de nº 6, intitulado “Lição na Varanda”.

Para não falhar com a minha memória, vou ler aqui trechos do episódio que vivi no longínquo ano de 1960. Eu era estudante de Direito no Rio de Janeiro, trabalhava no Departamento Jurídico do Banco Indústria e Comércio de Santa Catarina e, um dia, o diretor regional do Banco, Dr. Mário Lins, chamou-me para atribuir uma incumbência que, embora da área jurídica, nada tinha a ver com o Banco.

Eu devia percorrer as varas criminais do Rio e obter certidões de processos em que o Deputado Doutel de Andrade fosse réu.

O Dr. Mário me explicou o objetivo da providência. Ele tinha indicações de que esses processos incriminavam, seriamente, Doutel de Andrade, candidato a vice-governador do Estado, e com isso estaria comprometida a candidatura de Celso Ramos, concorrente de meu pai nas eleições daquele ano.

O Dr. Mário contou-me que as informações sobre os processos contra Doutel lhe haviam sido passadas pelo ex-Senador Saulo Ramos, antigo chefe do PTB catarinense, e muito amargurado com Doutel de Andrade por haver derrubado Saulo, que queria se vingar. Queria atingi-lo e, no caso, ajudaria a UDN de Santa Catarina e, mais precisamente, meu pai, candidato a governador.

Fiz as buscas, encontrei certidões, levei-as e entreguei-as na varanda da casa de meu pai. E ele terminou a leitura das certidões. Parecia-me enigmática a ausência de comentários ante tão pesada documentação. Finalmente, tratava-se de uma demonstração passada em cartório das ocorrências vexatórias a que excessos da vida boêmia haviam levado seu novo adversário eleitoral.

Observei-o dobrar vagarosa e cuidadosamente os papéis e, silenciosamente, sem demonstrar nenhuma pressa em devolvê-los, o fez. Tomei-os meio inerte e, nesse momento, nossos olhares se encontraram. Sem emoção, sem dramaticidade, ele me disse: “Se eu tiver que usar isso para me eleger, prefiro perder a eleição”. A lição estava dada. Lembro com emoção.

E, nos meus 38 anos de vida pública, nunca dirigi ataques pessoais aos meus adversários. Mantive-me na linha da discussão de idéias e no limite das críticas administrativas e políticas, sem procurar vasculhar a vida pessoal de quem quer que seja, para não atolar o meu nome no crime da calúnia, da injúria e da difamação.

Fui Vice-Governador, Governador, Senador, Ministro duas vezes e novamente estou aqui como Senador. Mantive a mesma linha, mas sempre que atacado na minha honra desmascarei os detratores e procurei a Justiça, lugar certo para processar criminosos.

Foi assim que procedi com o Procurador da República Luiz Francisco. Interrompi o seu depoimento na CPI no Senado, classifiquei-o como ladrão da honra alheia, demonstrei com documentos as suas mentiras e entrei na Justiça com duas queixas-crimes, por injúria, por calúnia e por difamação.

A primeira já foi recebida por unanimidade, e o processo está em curso. A segunda, na semana passada, recebeu dez votos da Corte Especial favoráveis à sua abertura, e o julgamento foi interrompido por um pedido de vistas.

Recentemente, o professor Emir Sader, na Carta Maior, escreveu artigo contra mim em que, entre outras barbaridades, colocou: “Sr. Bornhausen, banqueiro e racista, muita antes do que sua mente suja imagina, a esquerda, o movimento popular, o povo estarão nas ruas, lutarão de novo por uma hegemonia democrática, anti-racista, popular no Brasil”.

Não respondi. Determinei aos meus advogados que o processassem, porque o caminho do caluniador é a Justiça, é pagar a sua pena.

Em função de notícias que se repetiam, procurando distorcer frase que havia pronunciado em reunião em São Paulo, para não haver dúvidas, escrevi um artigo na Folha, intitulado “Raça Segundo São João”, para deixar claro que a minha intenção fora uma só: a de atingir os corruptos, essa raça que deve ser eliminada.

Destaquei que não poderia estender àqueles do PT que não mereciam esse título. Destaquei que tinha que respeitar as esquerdas na posição dos seus Partidos, do PDT. O primeiro a dizer-me que o Governo não ia dar certo por incompetência foi o ex-Governador Leonel Brizola. Como eu poderia atingi-lo? Como eu poderia atingir Roberto Freire? Seu Partido está na Oposição. Como eu poderia atingir a Senadora Heloísa Helena, que teve a coragem de dissidir e formar um partido político defendendo suas idéias?

Isso tudo não foi suficiente. O artigo foi motivo para um novo artigo do Sr. Emir Sader, ao qual respondi no painel de leitores da Folha de S.Paulo, tal a insignificância que tem esse notório cidadão a serviço das más causas.

O pior estava por acontecer, e os sinais foram aparecendo. O Ministro do Trabalho, Sr. Luiz Marinho, no dia 20 de outubro de 2005, em solenidade no Ministério das Relações Exteriores em que acompanhava o Presidente da República, ao atacar a CPI dos Bingos, extemporaneamente, sem nenhum motivo, fez a declaração de que o Senador Jorge Bornhausen estava com saudades do Hitler. Respondi, com serenidade, que, em vez de mostrar o seu temor às investigações de Santo André e em vez de dizer impropérios, deveria trabalhar, assumir o Ministério e pagar a promessa do seu chefe, o Presidente Lula, de criar dez milhões de empregos e de dobrar o salário mínimo.

Porém, hoje, eu me pergunto: seria uma senha para os fatos que se seguiram?

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Vou concluir e aguardarei, com muita honra, o seu aparte.

Em seguida, eu me lembrei que também, na Carta Capital, o Presidente da CUT, de maneira inopinada, virulenta e caluniosa, havia declarado que toda a minha formação tinha sido autoritária. “O projeto dele sempre esteve vinculado ao que há de mais autoritário; a visão dele é a de classe mesmo, existe uma classe lá em cima, da qual ele faz parte; e o resto é a gentalha, é o resto.”. Numa evidente provocação, numa orquestração sincronizada, CUT, Ministro do Trabalho. E, finalmente, Sr. Presidente, ontem, a cidade foi tomada por cartazes que, de forma caricata, apresentavam-me como alguém que fosse um admirador de Hitler.

Ora, Sr. Presidente, o ato criminoso - repito - de fazer essa fotomontagem e de alugar pobres e pequenos motoqueiros para pregar nos pirulitos de Brasília, sem dúvida alguma, revela - aí, sim - a índole nazi-fascista daqueles que o praticaram. Não há quem, neste País, retire dinheiro limpo do seu bolso para pagar um crime desse tipo. Esse dinheiro é sujo, é podre, provém da corrupção.

Mais uma vez me lembrei da lição que recebi em 1960. Respondi e procurei os meus direitos.

Tinha um almoço marcado com o Governado Roriz para conversar sobre política, mas tive que me submeter à sensação desagradável de levar-lhe o problema. E o fiz. Pedi que fossem acionados, de um lado a Polícia Civil, de outro lado o Departamento de Limpeza Urbana. Fui à delegacia de polícia, apresentei a representação. Não fiz acusações falsas, não indiquei nomes, mas tenho certeza que eles vão aparecer. E não vou perdoar culpados, não vou perdoar criminosos; vou querer que a lei seja cumprida, que a minha posição seja respeitada, que os meus 38 anos de vida pública não sejam achincalhados por pessoas que não mereçam o respeito da sociedade brasileira.

Por fim, Sr. Presidente, antes de conceder os apartes, devo dizer aqui a meus Pares que não adianta, não resolve, não me ameacem porque não serei intimidado de forma alguma. Não tenho medo, porque cumpro o meu dever. Faço oposição responsável e fiscalizadora. Sigo as lições que recebi de meu pai.

Concedo o aparte ao Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Jorge Bornhausen, vou procurar ser muito breve até porque sei que V. Exª não está pronunciando este discurso em busca de solidariedade de ninguém, até porque não precisa. Mas desejo, como Líder do Partido presidido por V. Exª, manifestar a mais absoluta indignação com a forma debochada de fazer política de um grupo que tem de ser identificado, a forma debochada de um grupo que faz política com irresponsabilidade e que deve, evidentemente, ser punido. O aparelho policial do Distrito Federal evidentemente vai cumprir a sua obrigação, vai identificar os culpados. Quero louvar a serenidade do discurso de V. Exª, que não está praticando o “olho por olho, dente por dente”, desaforo por desaforo. Não! Quem tiver praticado um crime, vai pagar pelo crime praticado. Agora, vamos ver quem é. Vamos ver se há ilação entre a declaração do Ministro Luiz Marinho, que é ex-Presidente da CUT, e os responsáveis pelo debochado cartaz que espalharam pela cidade não sei com que objetivo. Porque objetivo político não vão conseguir nenhum. É um gracejo, é uma brincadeira. Tenho certeza de que vão pagar caro pela brincadeira, porque vamos fundo na investigação. Queremos saber quem foi os responsáveis, qual foi o dinheiro que financiou e até onde vai a prática do crime. De forma, meus cumprimentos pela serenidade do pronunciamento de V. Exª.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Muito obrigado.

Concedo um aparte ao eminente Senador José Sarney.

O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Senador Jorge Bornhausen, eu não quero entrar na culpa ou nas conclusões sobre as motivações políticas do agravo a V. Exª. O meu aparte tem a carga do afeto e da justiça. Primeiramente, quero dizer a V. Exª que foi revoltado - esta é a palavra que eu tenho que usar - que vi esses cartazes com essa sórdida agressão a V. Exª. É a face cruel da política. Não sei quais são as motivações, mas realmente esta é uma face sombria de participar do jogo político, a calúnia, a injúria, a truculência verbal, as invenções infamantes. Mas o meu testemunho também é sobre V. Exª e sobre a sua vida. Fui amigo de seu pai, Irineu Bornhausen, nos tempos do Rio de Janeiro, quando ele foi presidente do meu então Partido, a UDN. Conheci, a partir dele, V. Exª e seus irmãos e pude testemunhar a sua ascensão política, a rigidez moral com que V. Exª se conduziu, a partir dos exemplos da sua família, dos exemplos de seu pai. V. Exª foi meu Ministro da Educação e teve uma passagem admirável naquele Ministério. Os caminhos da política nos separaram, mas jamais conseguiram afastar o afeto, a admiração, o carinho - posso dizer - que sempre tive por V. Exª e a amizade que sempre mantivemos. E é sob o peso desse afeto, dessa amizade, da justiça, do testemunho da sua integridade que eu me junto a sua revolta para condenar esse que eu considero quase que um ato de grande infâmia.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Eu agradeço a V. Exª. Digo que tive muita honra em participar como Ministro da Educação de seu Governo. Seu testemunho é muito válido para mim. Muito obrigado.

Ouço o Senador Cristovam Buarque. Depois, o Senador Ney Suassuna, o Senador Paulo Octávio e o Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Jorge Bornhausen, agradeço ter-me concedido o aparte exatamente neste momento, continuando a fala do Presidente Sarney, porque ele trabalhou com o senhor de cima e eu trabalhei de baixo, como Reitor da Universidade de Brasília, quando o senhor foi Ministro. Eu quero testemunhar a sua lisura e o seu espírito democrático, além de seu compromisso com a Educação. Não era eu de partido algum naquele momento, mas é óbvio que eu vinha e era parte da esquerda que existia no Brasil. Provavelmente, teríamos muita discordância se conversássemos sobre política, mas nunca conversamos. Recebi do senhor toda a contribuição que foi necessária, todo o respeito e muita democracia, naqueles tempos até conturbados. O Presidente Sarney, como seu chefe, reconheceu isso e eu, como seu subordinado, quero deixar claro o meu testemunho.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Eu agradeço a V. Exª. Acredito que mantivemos um diálogo muito bom quando estávamos tratando dos interesses da Educação do Brasil e de Brasília. O seu depoimento, para mim, é muito valioso.

Concedo o aparte ao Senador Ney Suassuna.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Nobre Senador Bornhausen, foi com indignação que vimos a divulgação dos cartazes. Ainda hoje, pela manhã, estávamos numa reunião o Presidente Renan, o Presidente Sarney e eu, e eles, indignados também, revoltados, chocados, falavam sobre o assunto. Naquela ocasião, consultei o Presidente Renan, o Presidente Sarney e outros companheiros de Bancada e, em nome do PMDB, não só apresentamos nossa solidariedade a V. Exª como manifestamos nossa indignação. É preciso que se veja isso, porque não é a primeira vez que acontece em Brasília. Já vimos esses cartazes espalhados pela cidade por outras razões, mas isso não pode ser um tipo de política a ser usada. Trata-se de uma política torpe e dessa forma não vamos longe. Por isso a nossa indignação. Espero que V. Exª tenha, depois, a informação sobre os culpados. Receba a solidariedade do PMDB e, como eu disse, entre os que consultei, a indignação era total.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª e, por extensão, a todos os componentes da Bancada do PMDB.

Concedo o aparte ao Senador Paulo Octávio.

O Sr. Paulo Octávio (PFL - DF) - Presidente Jorge Bornhausen, os fatos ocorridos em Brasília talvez tenham origem no próprio crescimento do Partido que V. Exª preside. Em Brasília, o PFL atinge trinta mil filiados, é composto por seis Deputados Estaduais, três Deputados Federais e um Senador. É um Partido que cresce na cidade e atinge a sua preferência de votos. Talvez por isso essas manifestações tenham ocorrido aqui, na Capital de todos os brasileiros. Hoje, pela manhã, a Executiva do Partido em Brasília se reuniu e quero deixar registrado nos Anais do Senado uma nota de desagravo que foi construída e assinada por todos os seus membros. A nota diz o seguinte:

A Executiva Regional do Partido da Frente Liberal do Distrito Federal vem a público, por seu Presidente Regional, para:

- repudiar veementemente ato que fora praticado por grupos que não estão habituados ao exercício democrático contra o seu Presidente Nacional, Senador Jorge Bornhausen;

- reafirmar a sua crença no exercício livre da democracia e na liderança inconteste de seu Presidente Nacional;

- exigir que os órgãos do Governo apurem e punam com severidade os responsáveis por tamanha insanidade contra um homem público da mais alta relevância para o País, probo, democrata e que exerce com vigor e respeito o papel de oposição a ele determinado pelas urnas e por todos do PFL;

- finalmente, dizer que a construção da democracia é dura, é lenta, não cabendo atitudes nazi-fascistas, principalmente bancadas com recursos provenientes da corrupção que grassa em nosso País.

            A nota é assinada por todos os membros da Executiva do Diretório de Brasília, Sr. Presidente.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª e peço que transmita a todos os componentes do nosso Partido em Brasília os meus agradecimentos.

Concedo o aparte ao Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Peço a V. Exª que me conceda também um aparte.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Pois não.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Presidente Jorge Bornhausen, fico impressionado, se é que setores deste Governo ou de Partidos ligados a ele tenham alguma coisa a ver com isso, com essa ambivalência, com essa dupla personalidade, com esses Dr. Jekyll e Mr. Hyde na mesma entidade, e me explico. É claro que isso tem um fundo político. Não acredito, sinceramente, que tenha sido feito pelo namorado de quem V. Exª tirou a namorada há não sei quantos anos. A primeira namorada sua. Não acredito que seja rivalidade com alguém que tinha 13 anos na época. Logo, refere-se, certamente, à sua atuação presente. Então, tem a ver com a oposição dura que V. Exª faz. Portanto, os responsáveis, e queremos chegar perto da verdade, devem estar próximos do Governo que aí está, que se sente incomodado com a palavra e com a autoridade de V. Exª. Agora, veja o ponto para o qual quero chamar a atenção. V. Exª descende de alemães e eles dizem: “Hitler”. Se V. Exª fosse negro, não sei qual seria a versão do deboche. Se V. Exª fosse judeu, não sei se não estampariam o mais deslavado anti-semitismo. Se V. Exª fosse árabe, não sei se não estampariam o mais rasgado preconceito contra esse povo. Se V. Exª fosse qualquer coisa que não o descendente dos alemães honrados que compõem a sua família há tanto tempo, não sei qual seria a forma de deboche. Mas, atenção: para mim, há um espírito racista nisso, sim. Mais ainda, não é difícil achar essa gráfica. Mais ainda, estou curioso para saber se fizeram isso com o dinheiro público, por exemplo, com os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Era só o que estava faltando a esta Nação indigitada: brincadeira com quem quer que seja usando dinheiro público. Tomara que a patacoada tenha sido feita com o dinheiro dos próprios debochados e não com o dinheiro de uma Nação que não agüenta mais os debochados. Parabéns a V. Exª pelo discurso, com a veemência e, ao mesmo tempo, com a serenidade que o fazem o grande Presidente do PFL que é.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª. Estou tranqüilo em relação às investigações. Tenho certeza de que elas chegarão a um final e que os responsáveis serão punidos.

Concedo o aparte ao Senador Marco Maciel.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE. Com revisão do orador.) - Nobre Senador Jorge Bornhausen, desejo, antes de mais nada, externar a V. Exª a minha irrestrita solidariedade. Sei que esse é o sentimento não só do Partido do qual faço parte e que V. Exª preside, mas, com certeza, de toda a Casa, porque, na realidade, na campanha que movem contra V. Exª, há um componente que atinge a instituição. V. Exª tem tradição na vida política brasileira. Há pouco, foi lembrado pelo Presidente Sarney o seu honrado pai, ex-Senador da República e ex-Governador do seu Estado. V. Exª descende, portanto, de uma família que vem engrandecendo a vida política brasileira com excelentes figuras. Esse também é o seu caso. V. Exª, em todos os cargos que ocupou, houve-se com espírito público, probidade, competência e, sobretudo, bom senso. Investido na condição de Presidente do Partido, função que exerce há mais de dez anos, V. Exª vem se caracterizando também como alguém que tem contribuído, e muito, para fortalecer a nossa agremiação. E mais: agora, em que o Partido se encontra na Oposição, V. Exª fez questão de que a nossa posição fosse definida como democrática, responsável e vigilante, mas atenta ao interesse público. Isso foi extraído de uma nota que o PFL ofereceu à Nação tão logo saíram os resultados das eleições presidenciais de 2002. E V. Exª vem cumprindo esse papel: de Presidente do Partido, de um Partido na Oposição. E mais do que isso: de Presidente de um Partido de Oposição que praticamente lidera a Oposição em nosso País, V. Exª vem se caracterizando como um político que o faz com serenidade, espírito público, de forma responsável, conseqüente. Por isso mesmo, estranhamos que V. Exª esteja sendo vítima de ações de irresponsáveis que incidem, inclusive, em infração a regras constitucionais e na chamada Lei Afonso Arinos. Não tenho dúvida em afirmar que esses cartazes, que mãos invisíveis afixaram na cidade de Brasília, certamente, revelam uma posição preconceituosa. A Casa não pode deixar de se manifestar neste instante. Estou seguro de que os fatos serão apurados e os responsáveis punidos. Mais do que isso, estou seguro também que o País estará solidário com V. Exª, porque constituímos uma Nação que se caracteriza por um elevado nível de coesão social e um forte pendor à conciliação e ao entendimento. V. Exª é um intérprete desses sentimentos. As mãos que fabricam essas peças, que produzem esses cartazes estão na contramão da história do País. Estão, conseqüentemente, lançando a cizânia no meio do trigo. Espero que esses fatos sejam apurados, mesmo porque interessa à Nação e até ao próprio Governo, porque este não pode, em absoluto, pelo silêncio, pela omissão, deixar a dúvida de estar aceitando esses expedientes. Quero, com a minha solidariedade e renovado apreço a V. Exª, expressar, mais do que a convicção, a certeza de que tudo isso seja esclarecido, o que concorrerá não somente para o aperfeiçoamento e o fortalecimento das instituições democráticas. A democracia é, por excelência, o sistema do conflito, da divergência, do debate. Mas do conflito, da divergência e do debate são resolvidos pelo diálogo, pelo entendimento, como aqui operamos todos os dias. Portanto, espero que esses fatos sejam devidamente apurados, os responsáveis punidos e criadas condições de fortalecimento democrático e de respeito às divergências partidárias em nosso País.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª, Senador Marco Maciel, exemplo de homem público, que honra o nosso Partido, o Partido da Frente Liberal.

Concedo o aparte ao Senador Edison Lobão.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Senador Jorge Bornhausen, o princípio da ampla liberdade na vida pública constitui a beleza fundamental do regime democrático. Mas a liberdade não pode chegar à fronteira da licença, e muito menos da delinqüência. E o que ocorreu em relação a V. Exª foi até mais do que isso. Os delinqüentes, na vida pública, são piores do que os criminosos dos socavões, que se encontram à distância das delegacias. Aquilo que se fez em relação a V. Exª foi uma revanche à ação política responsável, porém firme, desempenhada por V. Exª no Congresso Nacional e por todo este País no exercício da presidência do nosso Partido. V. Exª tem a nossa solidariedade completa: a do seu Partido, a dos seus companheiros de Parlamento e a de todos aqueles que cultuam a vida pública com honestidade. Nenhum de nós pode aceitar ou sequer silenciar diante do que ocorreu. V. Exª não foi afetado sozinho; nós todos o fomos por igual. Tem, por isso, a segurança da nossa mais completa e total solidariedade e do nosso repúdio ao que aconteceu nesta cidade.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Muito obrigado, Senador Edison Lobão. Agradeço a manifestação de V. Exª.

Concedo o aparte ao Senador Romero Jucá.

O Sr. Romero Jucá (PMDB - RR) - Senador Jorge Bornhausen, assim como todos que aqui usaram da palavra, também eu não poderia deixar de me pronunciar para prestar solidariedade a V. Exª pelo ataque covarde, vil, inapropriado, enfim, todos os termos que podem ser elencados para criticar esse tipo de postura, à qual não condiz com o processo democrático e com o embate político limpo. Quero também dar o meu testemunho ao depoimento dado por V. Exª desta tribuna de que, durante toda a sua vida pública, V. Exª sempre esteve no limite da discussão das questões de forma construtiva e respeitosa. Já estivemos juntos, em trincheiras, debatendo do mesmo lado; estivemos em trincheiras opostas, e V. Exª sempre foi, ou um parceiro, ou um adversário leal, que sempre atuou de forma a construir convergências e nunca para destruí-las. Portanto, além da imensa injustiça feita a V. Exª, V. Exª também coloca, na sua forma de ser, mais um demonstrativo de como se responde com grandeza e com inteireza política este momento. Quero lhe prestar a minha solidariedade e registrar a nossa amizade, a admiração que tenho por V. Exª, pela forma como V. Exª conduz o PFL. Infelizmente, vivemos um momento político de fatos como esse. Portanto, é importante que o Congresso Nacional e os seus políticos mais experientes, nesta e na outra Casa, com a vida pública brasileira possam ter o discernimento e o equilíbrio demonstrado por V. Exª agora, com o objetivo de buscarem um caminho que acalme a situação e que recoloque o País na direção da discussão construtiva, que é o que a sociedade brasileira espera de todos nós. Deixo o meu abraço a V. Exª.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Muito obrigado pelo aparte e pelas considerações, Senador Romero Jucá.

Concedo o aparte ao Senador Leonel Pavan, à Senadora Roseana Sarney e ao Senador César Borges, respectivamente.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Senador Jorge Bornhausen, solidarizo-me com V. Exª por conhecê-lo e por saber como V. Exª costuma fazer política por meio do debate no campo das idéias. Quero dizer a V. Exª que a queda do Governo nos índices pesquisados, o seu baixo prestígio e toda essa corrupção que envolve alguns de seus membros, faz com que o desespero bata à porta e que pessoas tomem posições e iniciativas que já tomaram no passado. Isso certamente não irá abalar o trabalho de V. Exª e a forma positiva como V. Exª atua neste Senado, uma posição coerente, transparente e leal a seu Partido, a seus princípios, àquilo que sempre defendeu. Mas é preciso, Senador Bornhausen, identificar aqueles que fizeram todo esse trabalho, certamente não aprovado pela população, para que sejam levados à Justiça, para que não o façam mais. Se eu assim fosse atacado, tomaria essa posição. Cumprimento-o pelo pronunciamento e endosso as palavras de V. Exª.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª, companheiro de representação de Santa Catarina, Senador Leonel Pavan. Fico sensibilizado, porque V. Exª tem uma oportunidade maior que os demais de acompanhar minha posição política quer no Estado, quer nesta Casa.

Concedo o aparte à Senadora Roseana Sarney.

A Srª Roseana Sarney (PFL - MA) - Senador Jorge Bornhausen, sou suspeita para falar porque V. Exª conhece o carinho e o apreço que sempre tive por V. Exª, mas gostaria de lhe dizer que pode contar com a minha total solidariedade e o meu total apoio. Falo também em nome do Partido da Frente Liberal no Maranhão. Muito obrigada.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª, a quem também saúdo pelo retorno a esta Casa, o que é muito importante para todos os seus Pares e companheiros de Partido.

Concedo o aparte ao Senador César Borges.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Senador Jorge Bornhausen, creio que posso falar na condição, primeiro, de amigo de V. Exª - condição que muito me honra -, seu correligionário no Partido da Frente Liberal, mas, acima de tudo, seu admirador como homem público de reputação ilibada, que é um exemplo, para o Brasil, de equilíbrio, sensatez, educação, que V. Exª, creio, traz do berço. V. Exª tão bem tem sabido postar-se na cena pública brasileira, em particular, para satisfação de todos aqueles que militam no Partido da Frente Liberal, nosso Partido. Neste momento em que V. Exª sofre um ataque que, sem sombra de dúvida, foge às raias de qualquer ambiente político aceitável, quero que o veja mais como um desespero daqueles que cometeram esse ataque, seja quem for, esteja onde estiver. São homens que não estão à altura de participarem da cena política brasileira. Nem arranharam a imagem de V. Exª, que continua do jeito que estava: inatacável. Portanto, solidarizo-me inteiramente com V. Exª. Espero que o Brasil passe rapidamente por este momento que estamos passando, que não é dos melhores. É um momento em que se atacam reputações ilibadas de homens de sua extirpe, do seu caráter. Muito obrigado pela concessão do aparte.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª, Senador César Borges. V. Exª me honra com a sua amizade, com seu trabalho como Secretário-Geral do Partido, cuja palavra muito admiro e aprecio.

Concedo aparte ao Senador Jefferson Péres.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Jorge Bornhausen, qualquer pessoa entendeu o que V. Exª quis dizer quando disse “dessa raça”. V. Exª estava referindo-se ao PT, mais precisamente a uma parte do PT, não a todo o PT, mas àquela banda podre do PT, certamente. Então, é desvirtuamento desonesto dar conotação racista a essa sua expressão e, pior ainda, apelar para o verdadeiro terrorismo, espalhando esses outdoors difamatórios contra V. Exª. Receba, pois, a inteira solidariedade do PDT.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª, que também compreendeu que as minhas palavras foram dirigidas aos corruptos, àqueles que desonraram o Governo, e não foram generalizadas, porque respeito aqueles que, de maneira correta, honesta, estão trabalhando e honram o Partido dos Trabalhadores.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Jorge Bornhausen?

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Concedo o aparte ao Senador Mão Santa e peço desculpas ao Sr. Presidente. Vou procurar ser rápido no encerramento do discurso.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Jorge Bornhausen, na democracia, to be or not to be - ou se é Governo, ou se é Oposição. Falo aqui representando a unidade dessas oposições de que V. Exª foi um general, e as suas raízes alemãs são satisfatórias. Heidelberg, cultura, ciência, saber e bravura, não os de Hitler, mas os de Beckenbauer, aquele beque alemão. Éramos poucos. Esta Casa nunca abrira às segundas-feiras e sextas-feiras. A iniciativa dos Senadores Efraim Morais, Arthur Virgílio e Antero Paes de Barros mudou isso. V. Exª, o general das Oposições, fez renascer a democracia em nosso País.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª.

Concedo o aparte ao eminente Líder Aloizio Mercadante.

O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Senador Jorge Bornhausen, sou petista há 25 anos e sou de Esquerda desde que me conheço por gente, desde que comecei a participar da vida na sociedade civil. Tenho orgulho dessas duas condições. Quando li a frase “Nós podemos acabar com essa raça nos próximos 30 anos” - e havia uma interpretação que se dirigia ao PT -, senti-me profundamente agredido, porque, nas duas condições, de ser de Esquerda e ser do PT, carregamos, ao longo da história, um tempo longo de censura, de opressão, de tortura, de uma intransigência que realmente queria acabar com a Esquerda, com todos os instrumentos que estavam à disposição. No entanto, V. Exª escreveu, em mais de uma oportunidade, dizendo que a frase não dizia nem respeito ao PT, nem à Esquerda. Considero extremamente importante na vida pública permitir que as pessoas esclareçam, porque nem sempre o que é publicado é exatamente o que se diz, e quem está na vida pública sabe disso. Portanto, fiquei feliz que aquilo pudesse ser interpretado não com o sentido que alguns deram, porque realmente era uma frase que expressava intransigência e o absoluto descompromisso com os valores do pluralismo, da diversidade e da democracia. De outra parte, não posso aceitar que a resposta a esse sentimento venha a ser feita dessa forma, com cartazes. É uma agressão inconcebível a quem quer que seja; uma agressão anônima, que tantas vezes foi utilizada contra lideranças do nosso Partido. Temos de afastar isso do debate democrático. Também quero responder àqueles... Quem conhece o Presidente Lula sabe que Sua Excelência jamais toleraria esse tipo de atitude. Isso não é da nossa história, da nossa cultura e dos nossos valores. Por tudo isso, espero, sinceramente, que atitudes como essa não voltem a acontecer porque não contribuem para o debate democrático, para a diversidade, para a disputa das idéias, para o contraditório, que é a essência da vida democrática e do valor do pluralismo das idéias.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª.

Devo dizer que, tal como V. Exª se declara um homem de esquerda, eu me considero um homem de Centro. De um Centro reformador e moderno, que quer um País melhor, uma reforma do Estado, um Governo com choque de competência. Críticas, eu as faço, porque as encontro com facilidade pelos erros e desacertos do Governo, mas com respeito. E jamais poderia estender de forma generalizada aos integrantes do PT uma expressão, porque, na verdade, ela tinha um endereço certo: aos corruptos, aos que o próprio PT começa a expulsar, num reconhecimento dos seus erros, que têm sido matéria constante das reuniões, segundo os jornais brasileiros.

Agradeço a V. Exª.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Concedo um aparte ao Senador José Jorge. Em seguida, Sr. Presidente, com rapidez, irei encerrar minha fala.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senador, gostaria de merecer a honra também do aparte.

O Sr. José Jorge (PFL - RN) - Sr. Presidente, Sr. Senador Bornhausen, em primeiro lugar eu gostaria, como, aliás, já declarei neste Plenário ontem, de oferecer a minha inteira solidariedade a V. Exª por essa agressão injusta que sofreu. Na realidade, o Presidente Lula deveria tomar uma providência em relação ao seu Ministro do Trabalho, que se não foi S. Exª que comandou esses cartazes, pelo menos foi S. Exª quem os inspirou com uma declaração que deu no Ministério das Relações Exteriores a respeito de V. Exª. Então, cabe uma providência do Governo, porque o Ministro do Governo não pode dar uma declaração irresponsável. Na hora em que age assim faz com que outras pessoas menos qualificadas possam tomar atitudes desse porte. Então, eu gostaria de me solidarizar com V. Exª e cobrar uma atitude do Governo em relação ao feito pelo seu Ministro do Trabalho. Muito obrigado.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço, Senador José Jorge. Acredito que as investigações da Polícia Civil vão chegar aos culpados e eles serão responsabilizados.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senador Jorge Bornhausen.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Solicito a paciência do nosso Presidente, que é a solidariedade que pode me dar neste momento, para conceder ainda um aparte ao Senador Antonio Carlos Valadares e ao eminente Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senador Bornhausen, nós todos que fazemos parte do Senado Federal o admiramos acima de tudo pela sua seriedade, pela sua honestidade de propósitos, pela sua forma sempre equilibrada em conduzir o debate no recinto desta Casa. Por outro lado, se os seus adversários fortuitos surgem de vez em quando isso é uma decorrência da política. Entretanto, aqueles que se escondem por detrás de panfletos, de outdoors, sem uma inscrição para identificá-los, não passam de pessoas covardes que não têm como enfrentar V. Exª no debate democrático livre e consciente, como tem sido a sua vida. V. Exª enfrenta o debate com quer que seja. Podemos divergir num determinado momento, mas essa divergente tem que ser pública. Alguém que acusa V. Exª da forma como o fez não passa de um racista, de um preconceituoso, de uma pessoa que adota a discriminação como regra na sua vida. V. Exª nunca foi disso, nunca fez discriminação nesta Casa, e há anos convivemos juntos. Por isso, a minha solidariedade efetiva e que esse crime perpetrado contra a honra de V. Exª seja descoberto e os culpados punidos exemplarmente. Parabéns a V. Exª pela atitude que adota neste momento de vir ao Senado, que é a Casa do povo para manifestar o seu protesto e a sua repugnância.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a manifestação do Senador Antonio Carlos Valadares que, liderando um Partido, muito me honra com as suas palavras.

Concedo um aparte ao Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Senador Bornhausen, Senador Almeida Lima pede a V. Exª um aparte.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Senador Bornhausen, V. Exª faz um discurso, como é de seu hábito, colocando os pontos verdadeiros. Mas, V. Exª não deve se incomodar com essas atitudes que partem do Governo. São dirigidas ao Presidente do nosso Partido, nem é a V. Exª. Qualquer um que fosse Presidente e que tivesse tendo o êxito que o Partido está tendo, graças também a V. Exª, estaria sofrendo a mesma coisa. Mas isso só faz engrandecê-lo. Toda vez que esses malandros fizerem isso, com essa molecagem que é muito própria, que é característica dos que estão hoje no Governo, V. Exª cresce na opinião pública e cresce entre os seus correligionários. De modo que eu gostaria de dizer a V. Exª que não se incomode tanto. Não se irrite, como dizia Cirilo Júnior, irrite os outros com as suas atitudes e com o seu trabalho em nosso Partido.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Eu o agradeço muito, Senador Antonio Carlos. Posso garantir ao eminente companheiro e amigo que sou um homem paciente. Por isso, aguardarei, serenamente, a busca da verdade. O que não sou é leniente com criminosos, e estes terão que cumprir as suas penas na Justiça. Aqui, a minha palavra é para dizer que nada vai me intimidar, que continuarei na Oposição fazendo as críticas que eu considerar merecidas e a fiscalização a que devo proceder. Agradeço a V. Exª.

Concedo o aparte ao Senador Tasso Jereissati, ao Senador Teotonio Vilela, ao Senador Almeida Lima, ao Senador Sérgio Cabral, pedindo desculpas ao Presidente Renan Calheiros, pois eu não queria de forma alguma estender esta sessão. Trata-se de uma sessão na qual teremos uma matéria muito importante a ser votada, mas eu não posso deixar de pedir a sua paciência e atender aos eminentes Senadores.

Com a palavra o Senador Tasso Jereissati.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Muito obrigado, Senador Bornhausen. Serei o mais breve possível, mas eu não poderia deixar de me solidarizar com V. Exª, até porque sou testemunha há longos anos da coerência da vida pública de V. Exª, coisa cada vez mais rara nos dias de hoje. Nós já estivemos algumas vezes, poucas vezes, mas algumas vezes em campos opostos, mas sempre tive oportunidade de admirar a sua coerência e firmeza de princípios e de convicções das quais não abre mão, o que é muito importante e admirável. E talvez por causa disso haja algumas manifestações, algumas incompreensões e, mais do que isso, algumas intolerâncias. Mas, eu queria chamar a atenção de V. Exª para outra coisa inquietante em alguns cartazes que eu vi pela rua: assim como nas campanhas de prefeito de 2002, houve uma mudança nas campanhas do PT. Havia uma mudança na qualidade das campanhas, comparadas àquelas de base, feitas com bandeiras pelas ruas; houve uma mudança de patamar: mega-shows, bandeiras enormes etc. Agora, são cartazes caríssimos, enormes, com muitas cores. Senador Jorge Bornhausen, ao mesmo tempo em que lhe presto minha solidariedade, quero dar os parabéns a V. Exª, que está muito prestigiado. Aquilo foi muito caro! Custou muito dinheiro fazer aqueles cartazes! Aproveito a oportunidade para voltar a colocar uma questão que está no ar nesses dias de crise: de onde vem esse dinheiro, Senador Bornhausen? Parabéns a V. Exª. Tenho certeza absoluta - não precisaria dizer isso porque lhe conheço - de que V. Exª não vai se intimidar, não vai recuar ou fraquejar. Ao contrário, essas demonstrações de intolerância - aquelas fardas deveriam estar vestidas em quem mandou fazer isso - vão dar a V. Exª mais força ainda para que continue nessa luta que tem dirigido tão bem como Líder do seu Partido.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª. Pode ter certeza, Senador Tasso Jereissati, de que suas palavras me darão mais força para cumprir o meu dever. Agora, tenho certeza de que cartazes dessa natureza não vêm do bolso de ninguém. Isso é dinheiro sujo, é dinheiro podre, é dinheiro da corrupção, é dinheiro de quem não se conforma. E vamos aguardar a verdade e os culpados. Tenho certeza de que eles não estão nesta Casa ou nesta sala.

Concedo um aparte ao Senador Sérgio Cabral e, depois, aos Senadores Almeida Lima, Tião Viana, Teotônio Vilela Filho e Paulo Paim. E peço, mais uma vez, desculpas e paciência ao Presidente.

O Sr. Sérgio Cabral (PMDB - RJ) - Senador Jorge Bornhausen, dinheiro sujo ou recursos não contabilizados, como alguns gostam de denominá-lo. V. Exª, com muita altivez, correção e educação, com o estilo que o caracteriza, vem ao Plenário com contundência, solicitando investigação, investigação que também espero que seja a mais competente e breve possível, para que os culpados sejam identificados. V. Exª tem uma biografia de compromisso com a democracia. V. Exª inscreveu seu nome na história brasileira recente, contemporânea, junto a vários eminentes Senadores que aqui se encontram, num processo tão bonito da história brasileira, da luta pela redemocratização. Então, V. Exª é um democrata; V. Exª é um grande presidente de um partido de expressão nacional. Nesses anos aqui no Senado, principalmente nos últimos dois anos e dez meses, tem se manifestado de maneira transparente, honesta, democrática, como um Senador de Oposição, como presidente nacional de um partido, de maneira absolutamente limpa. Quem dera todo país democrático tivesse, na Oposição, figuras como V. Exª, jogando limpo, em alto nível, que não merece um jogo tão sujo. Quem fez isso, sim, é nazista, fascista, e merece pagar. V. Exª registrou muito bem: irá às últimas conseqüências na identificação desses bandidos. Parabéns a V. Exª pela iniciativa.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª, que lembra um belo momento vivido neste País, do qual participamos com os Senadores José Sarney, Marco Maciel e José Jorge: a formação da Frente Liberal, da Aliança Democrática, em uma transição sem seqüelas para a democracia plena no Brasil.

Concedo o aparte ao Senador Almeida Lima.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Senador Bornhausen, criticar, discordar, divergir é um direito. Anonimato é covardia, pusilanimidade. Quando se quer divergir, acusar, denunciar, usam-se meios transparentes. Posso até afirmar que os recursos usados seriam legítimos quando da ditadura militar, ocasião em que tínhamos a necessidade de usar panfletos apócrifos, pichações, cartazes dessa ordem. No entanto, no Estado de direito democrático, não é legítimo o uso desse meio para a discordância. Por essa razão, receba V. Exª a minha solidariedade.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª, Senador Almeida Lima.

Concedo a palavra e o aparte ao Senador Teotônio Vilela. Depois, ao Senador Paulo Paim e, finalmente, ao Senador Tião Viana.

O Sr. Teotônio Vilela Filho (PSDB - AL) - Senador Jorge Bornhausen, a luta é o clima do homem. O deboche e a covardia são o clima dos medíocres e dos covardes. V. Exª é um homem! Homem de coragem, homem que trava a luta política à luz do dia, mostrando as suas idéias, a sua cara e a sua coragem. Os autores dessa infâmia contra V. Exª são covardes, menores. Como disse o Senador Antonio Carlos, fique tranqüilo, não se incomode. O Brasil o conhece muito bem. Há décadas, V. Exª se revela um político lúcido, homem público competente, equilibrado, que tem dado uma grande contribuição ao nosso País. Meu respeito e minha solidariedade a V. Exª.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Muito me honra o aparte de V. Exª, Senador Teotonio Vilela.

Concedo o aparte ao Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Jorge Bornhausen, acho que eu, neste Senado, devo ser o Senador que mais fala nas palavras racismo, raça, preconceito. Quero ser muito rápido e dizer que V. Exª foi muito feliz quando de pronto, ao ser provocado, respondeu que não tinha nada a ver com preconceitos contra esse ou aquele setor, contra essa ou aquela raça. Quero ir além ao dar a minha solidariedade a V. Exª, inclusive ao seu Partido. No Estatuto da Igualdade Racial, em debate aqui no Congresso Nacional, o Relator, que concluiu o último trabalho, Senador Rodolpho Tourinho, fez um belíssimo trabalho. Está pronto para ser votado e, efetivamente, vai combater as formas de racismo e preconceito. Digo mais: a Relatora, numa outra comissão, foi a Senadora Roseana Sarney, também do seu Partido. E o Relator, numa outra comissão, foi o Senador César Borges. Então, mostra que V. Exª e o seu Partido não têm nada de preconceito, nem de racismo. Por isso, a minha solidariedade a V. Exª, discordando radicalmente da forma como o atacaram, esta, sim, preconceituosa e racista, com os cartazes ora colocados. Sempre digo que o racismo é contra o branco, contra o negro, contra o índio. Não importa contra quem seja feito, mas todo ato de racismo tem de ser condenado. E, no seu caso, sem sombra de dúvida, é puro preconceito. Por isso, minha solidariedade a V. Exª.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª. Concordo integralmente com a sua posição na explicação sobre o racismo. Compartilho dela e agradeço as suas palavras.

Concedo o aparte ao Senador Tião Viana.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Caro Senador Jorge Bornhausen, uso a palavra apenas para expressar a minha solidariedade a V. Exª. Tenho em V. Exª um parlamentar que tem história política dentro desta Casa, dentro da sua vida de homem público. Foi uma pessoa importante no processo de redemocratização do País. Sei dos seus movimentos políticos naquela fase de construir uma aliança democrática para que o Brasil se reencontrasse na estabilidade plena da democracia e tenho em V. Exª um parlamentar que trata com absoluta lealdade os seus adversários,. é claríssimo nas suas definições, nos seus conceitos, na sua concepção ideológica. Faz o ataque de idéias com muita lealdade e respeito aos adversários e não abre mão das suas convicções. Só esses itens são suficientes para que eu possa manifestar sempre respeito por V. Exª e lamentar que tenham procurado ofender a sua honra e a história de alguém que prefere o caminho da democracia e do respeito dentro da sociedade, de uma pessoa para com a outra, no exercício da sua cidadania e da sua vida parlamentar. Era isso.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª. Como V. Exª sabe, uma das poucas vezes em que alterei a minha voz numa comissão foi numa discussão com V. Exª. E, quando terminei, pedi desculpas, porque penso que quando se erra...

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Do mesmo modo, disse que era um momento triste meu, pelo respeito de que V. Exª é merecedor, por também ter me exaltado. Lamentei muito aquilo também, da minha parte.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Quando se erra, pedem-se desculpas. Quando se erra de forma mais grave, pede-se perdão. Agora, quando se é acusado de forma infame, queremos a justiça.

Eu não perdi a calma, a tranqüilidade, nem o rumo. Vou prosseguir fazendo a minha oposição, a oposição do meu Partido, sem me intimidar, porque sei que estou cumprindo o meu dever. Sei que o povo nos colocou na Oposição e nos quer ver fiscalizando, apontando os erros, as culpas e não perdoando a quem comete crime.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O Sr. Rodolpho Tourinho (PFL - BA) - Senador Jorge Bornhausen, um aparte, por favor?

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Senador Rodolpho Tourinho, desculpe.

O Sr. Rodolpho Tourinho (PFL - BA) - Estou aqui um pouco escondido, discreto. O Senador Paulo Paim tocou num ponto que é muito importante quando mencionou que os três Relatores do projeto de lei que trata dessa questão de racismo são do partido que V. Exª dirige. Acho que só isso já bastaria para deixar claro qual é o posicionamento de V. Exª. Além disso, há que se mencionar as posições que V. Exª tem assumido ao longo de sua vida profissional, imensa, bem sucedida. De forma que me solidarizo com V. Exª e quero registrar que entendo ser o acontecido algo absurdo, algo que jamais poderia ser aceito por nenhum partido, por ninguém da sociedade. Fico satisfeito porque vejo a notícia de que a Polícia do Distrito Federal já teria identificado os responsáveis pela caracterização do Senador Jorge Bornhausen como nazista em cartazes espalhados pela cidade. Acho que esse é o caminho; é o caminho que o senhor está apontando; é o caminho correto para responder de forma correta a essa agressão tão hedionda.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a V. Exª, eminente Senador Rodolpho Tourinho, e quero agradecer ao Presidente Renan Calheiros pela paciência, pelo prazo excessivo...

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senador Bornhausen...

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - E dizer que eu acho que teria que fazer este pronunciamento, porque, na minha opinião, ele atinge a classe política e atinge o Senado Federal.

Muito obrigado.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senador Bornhausen...

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Senador Jorge Bornhausen, a Casa é testemunha da serenidade, da competência, da honradez e do espírito público de V. Exª, que tem o respeito e a admiração de todos nós.

Em nome do Senado Federal, como seu Presidente, eu repilo com veemência essa prática absurda. E, mais do que repelir, eu exijo a responsabilização imediata desse delinqüente que praticou uma covardia como essa, na expressão do Senador Teotônio Vilela.

Penso como o Senador Antonio Carlos Magalhães: não se preocupe com isso. V. Exª é uma das melhores referências do Senado Federal. A cada dia, o respeito da Casa aumenta verdadeiramente por V. Exª. Precisamos esclarecer tudo isso, punir esses malfeitores para que essa prática, efetivamente, não volte a acontecer. Conte com a amizade, o respeito e a admiração, que são cada vez maiores, dos seus colegas Senadores.

O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC) - Agradeço a manifestação de V. Exª, que honra esta Casa à frente de sua Presidência.

Já havia terminado o meu pronunciamento, mas considero nele incluídos os depoimentos do Senador Antero Paes de Barros e do eminente Senador Luiz Otávio para não nos excedermos no tempo e podermos votar matéria importante.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/10/2005 - Página 37143