Discurso durante a 178ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Protesto contra artigo do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Geraldo Majella Agnelo, publicado na Folha de S.Paulo do último domingo, sobre os conflitos na reserva Raposa Serra do Sol. (como Líder)

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. POLITICA INDIGENISTA.:
  • Protesto contra artigo do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Geraldo Majella Agnelo, publicado na Folha de S.Paulo do último domingo, sobre os conflitos na reserva Raposa Serra do Sol. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 29/10/2005 - Página 34872
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. POLITICA INDIGENISTA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, PRESIDENTE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), IGREJA CATOLICA, ACUSAÇÃO, CLASSE POLITICA, ESTADO DE RORAIMA (RR), OBSTACULO, RECONHECIMENTO, DIREITOS, COMUNIDADE INDIGENA, REGIÃO.
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), TENTATIVA, COMPROMETIMENTO, POPULAÇÃO, REGIÃO, AUSENCIA, RESPONSABILIDADE, INCENDIO, FESTA, MUNICIPIO, RESERVA INDIGENA, ESTADO DE RORAIMA (RR).
  • ANUNCIO, REMESSA, CARTA, ORADOR, RESPOSTA, PRESIDENTE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ENTRADA, AÇÃO JUDICIAL.

************************************************************************************************

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI NA SESSÃO DO DIA 11 DE OUTUBRO, DE 2005, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

************************************************************************************************

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aprendi muito cedo, como católico, que padre não deve mentir. Pelo contrário. Aprendi que quando alguém mentia devia se confessar ao padre para receber uma penitência e ser absolvido das mentiras, portanto, dos pecados que havia cometido.

Li, Sr. Presidente, no jornal Folha de S.Paulo, de domingo passado, dia 9, matéria assinada por ninguém menos que o Cardeal D. Geraldo Majella Agnelo, 71, doutor em Teologia com especialização em liturgia, Arcebispo de Salvador (BA) e Arcebispo Primaz do Brasil, e Presidente da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), o artigo intitulado “Raposa/Serra do Sol: da festa à violência”.

Não vou cansar as Srªs e os Srs. Senadores com a leitura de toda a matéria, que é uma mentira desde o titulo, porque o título Raposa/Serra do Sol é mentiroso. A região Raposa é uma e a região Serra do Sol é outra. E a Igreja Católica, em Roraima, conseguiu, colocando uma barrinha - Raposa/Serra do Sol -, fazer com que todos acreditassem ser uma região só. Mas o Presidente da CNBB, quer dizer, Bispo da Igreja Católica, Apostólica e Romana, diz em seu artigo: “É sabido que a elite e a classe política de Roraima têm forte resistência ao reconhecimento dos direitos dos indígenas.”

Peço que o artigo seja transcrito como parte integrante do meu pronunciamento, porque espero desdobrá-lo, já que o presidente da CNBB colocou, aqui, uma série de mentiras e acusações. Eu não me considero parte da elite do Estado de Roraima. Considero-me, sim, da classe política. Portanto, sinto-me acusado por este artigo, que é mentiroso de ponta a ponta, e vou escrever uma carta a Dom Geraldo Majella Agnelo, dizendo, em primeiro lugar, que aprendi, quando pequeno, ainda como cruzado, que ninguém deve mentir e, se mentisse, tinha que se confessar ao padre, no confessionário, a fim de ser perdoado.

Há aqui uma série de mentiras. Mentiras ditas por um sacerdote desse naipe vão soar como verdade. E não é verdade! Fui Presidente da Comissão Externa do Senado, e o Relator foi o Senador Delcídio Amaral. Fomos a Roraima, ouvimos e vimos toda a realidade. Elaboramos um relatório circunstanciado, não religioso, não ateu, mas de responsabilidade do Senado Federal. Enviamos esse relatório ao Presidente da República e ao Supremo Tribunal Federal. A questão ainda está sub judice, pois, apesar de haver um decreto do Presidente, existe uma ação contra o decreto no Supremo Tribunal Federal, impetrada por mim, outra pelo Senador Augusto Botelho, outra pelo Governo do Estado, e aqui há um outro decreto legislativo contestando essa razão.

A elite da Igreja Católica, comandada pelo Arcebispo Primaz do Brasil e Presidente da CNBB, entende, como entendeu a Igreja Católica no passado, que o que ela pensa tem que ser a verdade divina, que ela não pode se enganar, que ela não se enganou quando fez a Inquisição, que ela não se enganou quando promoveu as santas cruzadas, que ela não se enganou ao interpretar Jesus e ao acreditar que podia colocar pessoas na fogueira, condenar, chamar de herege quem não admitisse os princípios, que podia chamar de bruxa quem tentasse ousar o que atualmente muitos seguidores da Igreja Católica chamam de medicina natural; ou seja, quem fazia isso era bruxa, e várias pessoas foram queimadas. A mesma coisa nas santas cruzadas.

E, agora, esta falsa cruzada, querendo rotular toda a população de Roraima - incluindo os políticos, portanto, onde estou, e demais roraimenses, que não concordam com o que pensa a Igreja Católica - de elite que não quer reconhecer os direitos dos indígenas. Nós moramos lá, no meio dos indígenas. Como médico, dediquei boa parte do meu trabalho, assim como o Senador Augusto Botelho, para atender os indígenas. Conheço os indígenas não por ouvir falar, ou pela televisão, ou por filmes, e não posso aceitar essa violência, já que o título da matéria é “da festa à violência”.

E sabe qual foi a festa, Senador Tião Viana? Uma festa realizada em setembro. A homologação foi no dia 15 de abril, mês da mentira, e a festa em setembro. E quem estava lá? O Bispo Dom Aldo Mongiano, que deu início à farsa Raposa/Serra do Sol e que mora atualmente em Turim, na Itália, e uma senadora italiana. Agora, vem o Presidente da CNBB secundar toda essa festa falsa e essa violência falsa, pois não faz rodeios para acusar determinadas pessoas de culpadas pelo incêndio durante essa falsa festa. Tenho dúvidas de que o incêndio tenha sido causado por quem tinha interesse em promover esse aspecto negativo, digamos, do sentimento antiindígena, que não existe na sociedade de Roraima, já que lá muitas pessoas são casadas com índios, tanto mulher quanto homem; existem aldeias em que há miscigenação completa, vilas em que há maioria de brancos morando com índios, e vice-versa. No entanto, o Presidente da CNBB, que vive na mordomia tranqüila de não ter mulher nem filhos, não ter responsabilidade familiar, entende de dar lição de moral a quem tem responsabilidade com o futuro daquela terra, como eu, o Senador Augusto Botelho e tantos homens de bem que lá vivemos.

Portanto, digo ao chefe da elite da CNBB que não aceito este artigo. Responderei, inicialmente, com uma carta. Posteriormente, pretendo entrar com uma ação judicial contra ele.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

******************************************************************************

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno)

******************************************************************************

Matéria referida:

“Raposa/Serra do Sol: da festa à violência”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/10/2005 - Página 34872