Pronunciamento de Serys Slhessarenko em 31/10/2005
Discurso durante a 192ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Repúdio a reportagem de capa da revista Veja, que denuncia a doação feita por Cuba à campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Referências aos assassinatos de integrantes do movimento sem-terra no Estado de Pernambuco.
- Autor
- Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
- Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
IMPRENSA.
REFORMA AGRARIA.:
- Repúdio a reportagem de capa da revista Veja, que denuncia a doação feita por Cuba à campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Referências aos assassinatos de integrantes do movimento sem-terra no Estado de Pernambuco.
- Aparteantes
- Antonio Carlos Magalhães.
- Publicação
- Publicação no DSF de 01/11/2005 - Página 37743
- Assunto
- Outros > IMPRENSA. REFORMA AGRARIA.
- Indexação
-
- COMPROMISSO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, QUESTIONAMENTO, CAMPANHA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIFAMAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, ACUSAÇÃO, IRREGULARIDADE, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ORIGEM, RECURSOS, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, SUSPEIÇÃO, ORADOR, DISPUTA, NATUREZA POLITICA.
- ANUNCIO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AÇÃO JUDICIAL, REU, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), FALSIDADE, ACUSAÇÃO.
- ANEXAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, LEITURA, TRECHO, ACUSAÇÃO, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), OBEDIENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), OPOSIÇÃO, SOCIALISMO, BRASIL, MUNDO.
- DENUNCIA, HOMICIDIO, TRABALHADOR RURAL, SEM-TERRA, PERSEGUIÇÃO, LIDERANÇA, MOVIMENTO TRABALHISTA, CAMPO.
- COMENTARIO, APROVAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POPULAÇÃO, ASSENTAMENTO RURAL, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), RECUPERAÇÃO, SITUAÇÃO, ABANDONO, GOVERNO, ANTERIORIDADE.
A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, eu gostaria de começar falando sobre uma questão que já foi tratada hoje aqui por vários Senadores e Senadoras, que está na capa da revista Veja desta semana.
Eu gostaria de dizer que o Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores, o ilustre Deputado Ricardo Berzoini, já se manifestou em nome do Partido dos Trabalhadores. Mas é importante que, neste momento, todos os petistas e brasileiros compromissados com a democracia se manifestem, repelindo e repudiando mais este capítulo desta triste novela que é a campanha que pessoas -que eu chamaria de raivosas - promovem contra o nosso Partido, que está na capa e como reportagem de maior destaque da revista Veja.
De imediato, devo dizer que é importante, sim - e tem-se que deixar bem claro -, que se investigue tudo, que se busquem todas as provas. E é importante que se saiba que nós, do Partido dos Trabalhadores, não tememos qualquer tipo de investigação. Nós, petistas, nos dispomos a tratar de todas as questões levantadas pela Veja nas CPIs, em todos os espaços que se fizerem necessários.
Mas, pelo amor de Deus! Nesta altura do campeonato a revista Veja reaparecer com essa história de ouro de Havana, de financiamento das Farcs ao PT, é qualquer coisa de, no mínimo, muito ridículo.
Em artigo publicado pelo blog do jornalista Ricardo Noblat, no dia 29 de outubro, o cantor e compositor Caetano Veloso referiu-se à revista Veja nos seguintes termos (Caetano Veloso!!): “Vários colegas meus sentem grande nojo da revista e, embora saiba que eles em geral têm razão, eu preferiria que não fosse assim”. E complemento: eu também. Eu, Senadora Serys, também preferiria que não fosse assim.
Acho que todos nós pensamos como Caetano Veloso. Seria melhor se a Veja não fosse assim. Seria melhor se a Veja não se transformasse, como bem analisa o Presidente do PT, Ricardo Berzoini, num panfleto de segunda linha de alguns partidos.
Mas já se vê que estamos diante de uma disputa política que se acirra. E é importante que todos nós nos preparemos para esta disputa com o melhor de nossas capacidades. Ao povo brasileiro, é claro, vamos apelar para que ele também se posicione, à medida que, acompanhando a refrega, julgar que tenha condições de se posicionar ao lado deste ou daquele lado. Esta é uma disputa que, todos nós sabemos, aponta para as eleições de 2006 e parece que será nestas eleições que tudo se decidirá.
Mas, antes disso, vamos atuar com o melhor de nós para esclarecer devidamente as nossas posições. A Veja lançou a sua matéria, motivando a Oposição a mais um ataque para que o PT explique se recebeu ou não recebeu o ouro de Moscou, que agora teria vindo da combalida Nação cubana. Estou certa de que, com paciência e tranqüilidade, o PT há de desmentir todas estas falsas alegações, por mais que a mídia antipetista se assanhe.
Do lado do PT, o Presidente Berzoini já anunciou que o Partido vai tomar providências legais contra a Veja, que não pode ficar toda semana disparando toda a sorte de mentiras e invencionices contra o PT. Temos uma honra partidária a defender e esta defesa, além desta tribuna e de todas as tribunas de que o PT dispõe, deverá ser feita também na Justiça - e eu acrescentaria que seria importante, sim, que o PT levasse à Justiça tantos quantos lancem acusações falsas, mentirosas, calhordas e inaceitáveis contra o Partido.
Como eu disse aqui no começo, queremos que tudo se apure. Mas chega desse denuncismo! Não se tem provas. Agora, além de tratá-lo politicamente, é na Justiça também.
Como a maré montante da imprensa contra o PT é muito grande, acho que os advogados do PT terão muito trabalho. Mas tenho certeza que este será um processo altamente educativo, porque a Imprensa também tem suas regras, regras de civilidade, regras de comportamento, que precisam e devem ser respeitadas.
Quanto à Revista Veja, gostaria de solicitar que fosse incorporado ao meu discurso o inteiro teor do texto do cantor e compositor Caetano Veloso, já citado, publicado no site do Jornalista Ricardo Noblat. Também pediria que se incorporasse ao meu discurso o artigo do Professor Emir Sader, que escreveu um texto muito ilustrativo, divulgado pela Agência Carta Maior. Vejam o título do texto do Professor Emir Sader, pessoa que ninguém discute a ilibada competência moral: “Por que a Veja mente, mente, mente, desesperadamente?”
O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª me permite um aparte?
A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Eu lhe concederei o aparte dentro em pouco, Senador Antonio Carlos.
O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Obrigado.
A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - É muito importante que todos os brasileiros tenham acesso a esse texto do Prof. Emir Sader, razão pela qual peço a sua transcrição na íntegra.
Encerro a parte do meu pronunciamento, citando alguns trechos do Prof. Sader:
(...)mas ela se esmera na arte da vulgaridade, da mentira, do sensacionalismo, no clima de “guerra fria”com que defende as cores do bushismo no Brasil. (...)Todo país tem esse tipo de publicação extremista, que defende hoje prioritariamente os ideais dos novos conservadores estadunidenses. Herdam os ideais da guerra fria, se especializam em atacar a esquerda, reproduzem as mesmas matérias internacionais (...)
O MST, o PT, a CUT, os intelectuais críticos - são seus alvos prioritários no Brasil. Para isso tem que desqualificar o socialismo, Cuba, a Venezuela, assim como tudo o que desminta o Consenso de Washington, do qual é o Diário Oficial no Brasil.
Só podem fazer isso, mentindo. Mentindo sobre o trabalho do MST com os trabalhadores do campo, nas centenas de assentamentos que acolhem a centenas de milhares de pessoas, famílias que viveram secularmente marginalizadas no Brasil. (...) Mentem sobre Cuba, porque escondem que nesse país se produziu a melhor saúde pública do mundo (...) Que o IDH de Cuba é bastante superior ao brasileiro [e de muitos outros países que estão por aí cantando de desenvolvidos].
A Veja tem que mentir sobre a Venezuela, país em que se promove a prioridade do social, com ¼ dos recursos obtidos com o petróleo irrigando os programas sociais. Que o governo de Hugo Chavez triunfou sobre a mídia privada golpista - as Vejas de lá -, pelo apoio popular que granjeou, quando a Veja, defasada - como sempre - já noticiava na sua capa a queda de Chavez. (...)
A Veja mente quando anunciou a morte do PT, no mesmo momento em que mais de 300 mil membros do partido, demonstrando vigor inigualável em qualquer outro partido, foram às urnas escolher, por eleição direta, seus novos dirigentes(...).
O PT e os petistas, que já enfrentaram tantos desafios, enfrentarão também de forma serena esses que estão postos. Minha esperança é a de aquelas brasileiras e aqueles brasileiros que lutam pelo aperfeiçoamento da democracia no Brasil e pela construção de uma mídia igualmente democrática haverão de ser nossos parceiros nessa luta.
Concedo um aparte ao Senador Antonio Carlos Magalhães.
O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Prezada Senadora Serys Slhessarenko, acho que V. Exª está sendo extremamente injusta com a revista Veja. Essa revista tem mais de um milhão de exemplares, tem o prestígio de toda a sociedade brasileira e é realmente conhecida, muito mais que o Sr. Emir Sader, que V. Exª citou como um grande economista, coisa que não é tida no meio dos economistas. Agora está certo que V. Exª esteja triste com a Veja, mas a Veja está dizendo muita coisa que V. Exª já disse aqui sobre o mensalão. Quando trata desses assuntos, sempre vi em V. Exª uma pessoa corretíssima, não aceitando esse tipo de política do seu Partido. Quando V. Exª diz que 300 mil afiliados votaram é um pouco de exagero, porque os afiliados, na realidade, são 800 mil. Por aí, veja como o seu Partido caiu em função do mensalão e dessas outras coisas. Mas eu respeito o ponto de vista de V. Exª, sobretudo porque V. Exª tem sido uma companheira extremamente agradável.
A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Senador Antonio Carlos, com relação àquelas questões, àqueles erros, aquelas irregularidades, que porventura possam ter acontecido - e aconteceram - na direção nacional do meu Partido, eu já declarei várias vezes aqui, como V. Exª confirma, que sou contra, que não aceito e que quero se apurem às últimas conseqüências e quero punição rigorosa. Como disse também aqui, não sou contra a Veja. Citei o artigo de Caetano Veloso e, inclusive, pedi a sua transcrição na íntegra, como também do artigo de Emir Sader. Em seu artigo, Caetano diz “(...) eu preferiria que não fosse assim”. Eu também não quero que seja assim. E não quero que seja assim, porque acredito na importância da imprensa. Mas existem muitos erros da Veja, muitos erros, sim, que depois não são desmentidos e fica aquela questão colocada para a sociedade de forma, muitas vezes, totalmente, errada e equivocada.
Eu queria ainda aqui rapidamente anunciar, com muita tristeza, o assassinato de militantes sem terra no Estado de Pernambuco. Mortes, mais uma vez, por encomenda, inclusive do líder do Movimento de Libertação dos Sem Terra, Anílton Martins, morto a tiros, de uma forma que, pela sua descrição, tem tudo para ser caracterizada como um assassinato por encomenda.
Essas situações têm que acabar. Nós não podemos continuar convivendo, em nosso País, com assassinatos de qualquer espécie.
(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)
A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Eu pediria mais dois minutos, Sr. Presidente.
Não somente não queremos mais assassinatos no campo, como há muito gritamos contra isso, em toda e qualquer situação. Não é por aí que o processo democrático avança. Não é dessa forma vil, cruel, covarde, traiçoeira que se resolve a questão da reforma agrária.
E por falar em reforma agrária, Srs. Senadores e Srªs Senadoras aqui presentes, no final de semana passado - e no anterior também, mas vou falar só do último; no anterior foi no Município de Barão de Melgaço, no meu Estado -, no sábado, estive no Município de Sorriso, no interior do Município de Sorriso, no assentamento de Poranga, onde também estiveram o Senador Jonas Pinheiro, a Deputada Federal Celcita, a Deputada Verinha e o Deputado Dal Bosco, Deputados Estaduais de Mato Grosso, e lá vimos o porquê da dificuldade de o Presidente Lula fazer reforma agrária do seu Governo para diante. Realmente é muito difícil, porque o Governo anterior - está claro e está explícito pelos assentamentos por onde se anda - jogou as pessoas na terra, sem energia, sem água, sem estrada, sem moradia, sem Pronaf, sem regularização das terras. No mínimo, seis itens sem os quais é absolutamente impossível de as pessoas que estão no campo, aqueles pequenos proprietários rurais que são jogados na terra, sobreviverem. Sem água, sem luz, sem casa, sem estrada, sem Pronaf, sem regularização das terras. Um verdadeiro absurdo!
E lá estive em um assentamento que está sendo recuperado pelo nosso Governo, assentamento esse onde, quando se toca no nome do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se é aplaudido em pé por mais de mil pessoas, sem exceção.
E não é a Senadora do PT que está dizendo isso aqui. O Senador Jonas Pinheiro estava lá presente e é testemunha disso. Quando S. Exª estiver presente aqui, poderá declarar para V. Exªs. As pessoas aplaudiram, por unanimidade, quando se tocou no nome do Presidente Lula; é uníssono: todos aplaudindo realmente o que vem sendo feito pela recuperação, pela restauração dos assentamentos. Isso, Srªs e Srs. Senadores, apenas nos três últimos finais de semana, quando estive em locais de assentamentos e onde a reação é absolutamente a mesma de ponta a ponta.
Gostaria até de ter estado em outros setores que não só de assentamentos, para ver realmente se a situação é a mesma. Mas, com relação aos assentamentos, deixo aqui o meu depoimento com o testemunho do Senador Jonas Pinheiro.
Muito obrigada.
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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE A SRª SENADORA SERYS SLHESSARENKO EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e o § 2º do Regimento Interno.)
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Matérias referidas:
“O mundo pelo avesso”, de Emir Sader;
“Of.SF nº2535/2005;
“Desatenção ou malícia”, de Caetano Veloso.