Discurso durante a 190ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre as acareações na CPMI do Mensalão. (como Líder)

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA.:
  • Considerações sobre as acareações na CPMI do Mensalão. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/2005 - Página 37787
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MESADA.
Indexação
  • COMENTARIO, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, GRAVIDADE, ARTICULAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, OBSTACULO, INVESTIGAÇÃO, HOMICIDIO, EX PREFEITO, OCULTAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), FAVORECIMENTO, CANDIDATURA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, GOVERNO FEDERAL, ANALISE, FALTA, APOIO, POPULAÇÃO, POSSIBILIDADE, IMPEACHMENT, FRUSTRAÇÃO, CORRUPÇÃO, CLASSE POLITICA.

*********************************************************************************

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ALVARO DIAS NA SESSÃO DO DIA 27 DE OUTUBRO ,DE 2005, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

*********************************************************************************

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pela Liderança do PSDB. Com revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

O Senador José Agripino, falando pela Liderança do PFL, destacou acontecimentos importantes, revelações significativas feitas no dia de ontem e no dia de hoje em duas CPI’s que trabalham investigando denúncias de corrupção.

Ontem, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, procuramos questionar o depoente com base em gravações de conversas telefônicas que nos conduzem a uma conclusão inevitável: houve uma articulação oficial que partiu das Lideranças mais expressivas do Partido dos Trabalhadores para a construção da versão que, naquele momento, consideraram mais adequada para as pretensões de eleição do Presidente Lula, então candidato à Presidência da República.

O Sr. Gilberto Carvalho, hoje Chefe de Gabinete do Presidente, articulou a estratégia, discutindo permanentemente com o ex-Ministro José Dirceu a tática a ser adotada em cada semana, naqueles dias de grande preocupação, que poderiam significar o comprometimento definitivo da candidatura de Lula à Presidência da República, já que se investigava um crime de proporções na opinião pública, com repercussão incrível, tendo em vista ter ocorrido na esteira de um escândalo de corrupção que, supostamente, havia sido arquitetado para alimentar os cofres do PT durante a campanha à Presidência da República.

As gravações, Sr. Presidente, por exemplo, como esta, levam-nos aqui a uma degravação resumida de um diálogo de Gilberto Carvalho com Klinger.

Gilberto Carvalho disse que ele e Greenhalgh “foram preparar os meninos para depor na polícia”. Depois disse que teve reunião com José Dirceu para discutir a tática. Disse que o Partido ia entrar meio pesado. Em seguida, Gilberto Carvalho fala com Sérgio Sombra, reafirma que vai encontrar com José Dirceu para discutir a tática.

Nessa conversa gravada fica evidente a construção de uma versão de crime comum, para evitar que a conclusão naquele momento fosse exatamente crime político. Uma vez que havia orientação de testemunhas, monitoramento de entrevistas à imprensa e uma tentativa de convencimento do irmão do Prefeito assassinado, o Dr.João Francisco, para que não destilasse ressentimentos em seu depoimento, já que João Francisco informava que, em viagem à Itália com o seu irmão Celso Daniel, fora comunicado de que ele estava preparando um dossiê para denunciar corrupção na sua administração, uma vez que não concordava com o fato de que os recursos oriundos da corrupção estavam sendo destinados a beneficiar pessoas e não o projeto político do seu Partido. Que entendia que o fim justificava os meios e que estava admitindo um esquema de corrupção na Prefeitura para alimentar a campanha do seu Partido, mas que não poderia concordar com a utilização do esquema para o enriquecimento ilícito de pessoas.

E o Dr. João Francisco denunciou que o crime, portanto, teve origem política e que seu irmão foi torturado antes de ser assassinado, exatamente porque se pretendia queimar o arquivo decorrente da eminência de uma denúncia da maior gravidade que poderia comprometer, de forma definitiva, as pretensões do Presidente Lula de chegar à Presidência da República.

Há também uma outra conversa em que Klinger diz que está preocupado com a entrevista coletiva que Sombra vai conceder no dia. Marca de almoçar, ele e Gilberto Carvalho, com o Sombra antes da entrevista, ou seja, monitoramento de entrevista concedido à imprensa. E há nessa conversa preocupações com o negócio do carro, há conversas relativamente à calça utilizada pelo Prefeito Celso Daniel no momento do seu assassinato, há também uma conversa, por exemplo, em que Klinger diz que está mandando aquele negócio, a parte dele, supostamente para Michel, que é o Secretário de Saúde do Município que pergunta se tem numerário e Klinger diz que sim. Fala que o Fernando é quem vai entregar o envelope com numerário. Aí diz onde Fernando o encontraria, que seria no Paço Municipal. E pede para ele descer para o décimo andar. E o Michel pergunta se vai entregar tudo em dinheiro; pergunta se ainda vai dar tempo de depositar o dinheiro no mesmo dia. Enfim, há aqui uma série de outras conversas que apontam para essa tentativa de construção de uma versão, como Gilberto Carvalho, afirmando a Greenhalgh sobre a necessidade de convencer o Dr. João Francisco a orientar o seu depoimento. E Carvalho diz: “Pelo amor de Deus, isso vai ser fundamental. Vamos ter que preparar bem isso aí!”

Ou seja, são os arquitetos da mentira. São os arquitetos da versão falaciosa. São, lamentavelmente, os arquitetos do engodo, da escamoteação da verdade e, naturalmente, Sr. Presidente, acabam sendo artífices da impunidade: a impunidade que revolta, que provoca indignação, que leva a Nação brasileira a este estado de trauma e de expectativa em relação às conclusões a que poderemos chegar em função das CPIs instaladas no Congresso Nacional.

Tem razão o Senador José Agripino: “há revelações da maior gravidade!”. E não há como ficar em dúvida em relação a esse fato tão contundente, tão expressivo, tão elucidativo, com gravações telefônicas que não são montagem. São gravações de inteiro teor que revelam, sim, esta articulação deplorável em favor da preservação de corruptos e de criminosos para salvar uma candidatura à Presidência da República.

            O Governo deve esclarecimentos ao País. Não é a Oposição que busca respostas. É a Nação brasileira, indignada, que espera, embora tardiamente, que o Governo faça mea-culpa diante de fatos tão relevantes que, lamentavelmente, de forma perversa, leva o brasileiro a imaginar que não existe hipótese de decência na atividade pública deste País.

Não quero, neste momento, voltar a propor, como fez o Deputado Moroni Torgan na CPI na manhã de hoje, a que se peça o impeachment do Presidente Lula, porque, lamentavelmente, o seu mandato está contaminado pela corrupção eleitoreira confessada por Delúbio, confessada por Marcos Valério, confessada por Duda Mendonça e reconhecida por ele próprio...

(Interrupção do som.)

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR) - Estou concluindo, Sr. Presidente.

...reconhecida pelo próprio Presidente na patética entrevista concedida em Paris, depois da armação estabelecida com Marcos Valério e Delúbio Soares em entrevistas concatenadas, construindo a mesma versão de corrupção eleitoral, na esperança de minimizar o maior escândalo de corrupção que abalou o País.

Sr. Presidente, há, sem dúvida alguma, elementos suficientes para a proposição de impeachment do Presidente da República. Mas não há o apelo popular indispensável para tal. Até porque o desencanto se generalizou e a população, desencantada com a vida política deste País, entende que essa solução não é a ideal, porque, após o impeachment, não há alternativa que possa convencer a população do atendimento das suas aspirações em relação a um futuro melhor para o País.

Temos grande responsabilidade neste momento: erigirmo-nos dos escombros provocados pelos escândalos de corrupção para um tempo diferente, para uma postura nova, para a conquista de credibilidade, a fim de que o povo brasileiro possa ter sonhos e esperanças de que o País será muito melhor do que aquele em que vivemos hoje.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/2005 - Página 37787