Discurso durante a 193ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário ao pronunciamento proferido pelo Senador Arthur Virgílio na sessão de ontem.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Comentário ao pronunciamento proferido pelo Senador Arthur Virgílio na sessão de ontem.
Aparteantes
Alvaro Dias, Antonio Carlos Magalhães, Demóstenes Torres, Flexa Ribeiro, Heloísa Helena, Ideli Salvatti, Lúcia Vânia, Mão Santa, Romeu Tuma, Tasso Jereissati.
Publicação
Publicação no DSF de 02/11/2005 - Página 37985
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • COMENTARIO, DISCURSO, ARTHUR VIRGILIO, SENADOR, AMEAÇA, AGRESSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACUSAÇÃO, CONGRESSISTA, DESRESPEITO, CHEFE DE ESTADO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador João Alberto Souza; Srªs e Srs. Senadores; Senadora Heloísa Helena, assim como eu, também V. Exª não estava presente à sessão de ontem. Por isso, novamente, gostaria de pedir a presença do Senador Arthur Virgílio, Líder do PSDB, porque resolvi comentar as palavras proferidas por ele, ontem, neste Plenário, especialmente no ponto em que S. Exª teria sido informado que estariam querendo pagar a essa pessoa que o informou para encontrar qualquer coisa que pudesse atingir a vida de S. Exª ou a de seus filhos. O Senador ficou tão indignado que resolveu reagir da seguinte maneira:

Mexer comigo é a mesma coisa que passar a mão no bumbum da mulher do Mike Tyson [...] Se eu identificar quem é, vou dar uma surra nele, pessoalmente. [...] Se ameaçasse o meu filho eu daria uma surra, pessoalmente, no Lula.

Ora, fiquei chocado com o procedimento do Líder do PSDB, por quem tenho estima e respeito. Sou seu companheiro no Congresso Nacional desde a Câmara dos Deputados - ambos fomos Deputados em 1983. Será essa a melhor maneira de procedermos? Poderá um Senador ou um Deputado dizer, Sr. Presidente, que “vai dar uma surra” no Presidente da República?

Sr. Presidente, estou ciente da instituição “imunidade parlamentar”, consagrada no art. 53 da Constituição, que diz respeito à inviolabilidade civil e penal do Parlamentar por quaisquer opiniões, palavras e votos.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Eduardo Suplicy?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Demóstenes Torres, permita-me concluir a reflexão principal.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Pois não, Senador.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Trata-se, portanto, de uma garantia do Parlamento, prevista no art. 53 da Constituição Federal; uma garantia dada desde a gloriosa Revolução de 1688.

Podemos aqui relembrar as importantes palavras de Voltaire: “Não concordo com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las”.

Então, claro que está assegurada ao Líder do PSDB, Senador Arthur Virgílio, a liberdade de expressão. Mas pondero: se o Senador Arthur Virgílio fosse um cidadão comum, sem imunidade parlamentar, teria de responder pelas palavras que, ontem, proferiu, não por crime contra a honra, mas por crime de ameaça, previsto no art. 147 do Código Penal.

A questão, Senador Demóstenes Torres, está na destemperança. Qual é a conseqüência de estarmos, aqui, destemperando? A perda da condição de respeito, de urbanidade, de cortesia, necessárias à atividade política. Se vamos, aqui, transformar o nosso oponente não mais em adversário, mas em inimigo de guerra, então, teremos de nos utilizar da força física?! Ora, o Senador Arthur Virgílio se dispõe a dar uma surra utilizando-se de quais instrumentos? Não sei se a especialidade de S. Exª é o Judô, o Box, o Caratê ou outra especialidade.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - É a verbal.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - A de V. Exª, nós a sabemos: é o Box.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Será que eu vou ter de entrar em forma novamente para tentar conter o Senador Arthur Virgílio?

Se olharmos o nosso oponente como um inimigo, o ambiente de diálogo, Senador Antonio Carlos Magalhães...

Outro dia, conversava informalmente com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse a Sua Excelência: “Olha, Presidente, outro dia dialogava com o Senador Antonio Carlos Magalhães, que, muitas vezes, tem demonstrado estima, carinho e respeito por Vossa Excelência. Disse ao Senador que talvez ele pudesse ter uma palavra de carinho e de respeito por Vossa Excelência”. Penso que o Senador Antonio Carlos Magalhães terá maior influência dependendo da forma como agir, ou seja, terá maior influência sobre o que acha que o Presidente deva fazer se usar uma forma mais construtiva e carinhosa do que a forma com que, às vezes, tem usado da tribuna.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - O Senador Antonio Carlos hoje é ternura, pura ternura.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Hoje S. Exª começou o dia, logo pela manhã, com muita ternura. Percebi isso em relação ao Senador José Sarney, lá na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.

Portanto, quero fazer uma recomendação ao Senador Arthur Virgílio: para que tenha um pouco de ternura e respeito. Lembro-me de que, muitas vezes, fiz críticas ao Presidente Fernando Henrique Cardoso. Nunca perdi o tom sincero, assertivo, mas com muito respeito a ele. E eu gostaria, inclusive, de aqui lembrar que o Senador Arthur Virgílio, na condição de Deputado Federal e Líder do Governo no Congresso, certo dia, quando o Deputado Jair Bolsonaro propôs o fuzilamento do Presidente Fernando Henrique Cardoso, bem naquela oportunidade, o Deputado Arthur Virgílio foi à tribuna da Câmara e pediu a cassação do Deputado Jair Bolsonaro: “Imaginem, quer fuzilar o Presidente!” Uma palavra agressiva. E, agora, o Senador Arthur Virgílio quer dar uma surra no Presidente!

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Permita-me, Senador. Deixe-me fazer uma intervenção. Permita-me, V. Exª...

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Ou não eram pra valer as palavras dele?!

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª está exagerando.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Atenção! Atenção! Senador Antonio Carlos Magalhães, eu quero que o orador conceda o aparte.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Certo. Eu vou conceder, com muita honra, delicadeza e ternura. Primeiro, ao Senador Demóstenes Torres; em seguida, ao Senador Antonio Carlos Magalhães e à Senadora Heloísa Helena, com toda certeza.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Eduardo Suplicy, também estou na fila.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - E ao Senador Alvaro Dias.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Pois não.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - V. Exª talvez não estivesse presente no momento...

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Eu não estava ontem presente. Mas me impressionou, porque os jornais hoje refletem...

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - O nosso Líder Arthur Virgílio, em momento algum, disse que faria isso com o Presidente da República. S. Exª contou uma história de que estava sendo ameaçado - sua família, seus filhos -, e que S. Exª, na hipótese de acontecer alguma coisa com seus filhos, seria capaz de dar uma surra até no Presidente da República. Quer dizer, todos nós sabemos da ferocidade que tem o nosso Líder Arthur Virgílio, mas é uma ferocidade verbal. Tanto é que o art. 147 jamais poderia ser utilizado em relação a S. Exª, porque S. Exª não ameaçou ninguém. Ameaça tem de ser um mal injusto, grave e atual e tem de haver possibilidade. Ninguém consegue nem chegar perto do Presidente da República. E o que o Senador Arthur Virgílio quis dizer é o seguinte: “Quero evitar que o Presidente da República caia naquela frase do Millôr Fernandes: ‘Chegou ao limite de sua ignorância; não obstante, prosseguiu’”. Então, era isso. O Senador Arthur Virgílio disse: “não extrapolem em relação a mim”. O exemplo do Presidente Lula foi apenas um exemplo utilizado. Em momento algum, S. Exª atacou a honra, a dignidade ou ameaçou a integridade física do Presidente. O que S. Exª quis dizer, disse com todas as palavras, com a veemência que lhe é habitual, é o seu estilo, assim como o de V. Exª é bastante conhecido e agradável a todos nós. Então, não tenho procuração para defendê-lo, mas quero dizer que o Senador Arthur Virgílio não procedeu dessa forma como V. Exª está se referindo a ele. S. Exª disse, com toda certeza...

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Espero que não, Senador Demóstenes Torres. Mas aqui leio, entre aspas, o que disse o Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Pois não.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - “Se alguma coisa acontecer com a minha família...

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Exatamente.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...eu seria capaz de bater na cara do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou de qualquer pessoa”.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Exatamente.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Seria!

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Então, o senhor conhece bem o Português, o vernáculo.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Veja só, mas eu gostaria... Bem, Senador Antonio Carlos, vou conceder o aparte a V. Exª, mas só quero fazer uma recomendação que sempre faço, até a fiz aqui ao Presidente George Walker Bush, quando estava para iniciar a guerra contra o Iraque, lembrando algo de uma pessoa que, acredito, V. Exª também tenha como uma grande figura da humanidade, e as palavras de recomendação valem para o George Walker Bush e para o Senador Arthur Virgílio, nesta situação. E daí eu passo a palavra a V. Exª:

Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo do cálice da amargura e do ódio. Precisamos sempre conduzir nossa luta no plano alto da dignidade e da disciplina.

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Atenção, Senador, por gentileza.

Quero dizer a V. Exª que estou vendo que quase todo o Plenário quer aparteá-lo. E tenho aqui inscritos a Senadora Heloísa Helena, o Senador Pedro Simon, o Senador Leomar Quintanilha; em seguida, o Senador Cristovam Buarque, o Senador Rodolpho Tourinho, o Senador Alberto Silva e, por último, o Senador João Batista Motta. V. Exª já extrapolou seu tempo em dois minutos. Façamos um acordo: concederei ainda mais cinco minutos a V. Exª para que inclusive incorpore os apartes. Fica bem assim?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Vou ser disciplinado.

Não podemos deixar nosso protesto criativo degenerar em violência física. Todas as vezes e a cada vez nós precisamos alcançar as alturas majestosas e confrontar a força física com a força da alma.

Senador Antonio Carlos, gostaria que aqui pudéssemos usar a força da alma muito mais que a força física. V. Exª tem o aparte.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª é sempre uma força física inigualável. V. Exª é um atleta que já derrubou muita gente. Agora, pense bem: se alguma coisa acontecesse ao Supla, o que aconteceria com o Senador Eduardo Suplicy?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Ah! Ficaria bravo.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Coloque-se nessa situação e veja a posição do Arthur Virgílio. Daí um excesso ou outro, que passa a ser natural em virtude do ambiente. De modo que V. Exª está colocando bem, mas precisa levar em conta que o Senador Arthur Virgílio fez essa questão considerando que o filho dele corre perigo de vida, porque foi contratado um sicário por R$100 mil para matá-lo. De maneira que, esse assunto, V. Exª deve respeitar, e cada um de nós que tem filho e que ama, como é natural, o filho.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Agradeço a ponderação de V. Exª. Quero dizer que também solicito ao Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que tome as medidas necessárias para averiguar se está havendo qualquer ameaça ao filho ou ao Senador Arthur Virgílio, porque isso é inadmissível. Então, neste ponto eu sou solidário. Mas quero também recomendar ao Senador Arthur Virgílio que aqui possamos utilizar mais da palavra assertiva; a crítica severa, quando se faz necessário, mas com formas de respeito. V. Exª sabe que eu próprio sugeri ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva vir aqui dialogar conosco. Mas imaginem agora. Sua Excelência vai me dar razão: “Puxa, eu vou lá e vão querer até me bater fisicamente”. Pois bem, eu fiz a sugestão ao Presidente Lula e Sua Excelência, por enquanto, ponderou, e eu disse: “No momento que Vossa Excelência considerar adequado”. Eu disse a Sua Excelência que tinha convicção, até por ter conversado com V. Exª e diversos Senadores e a Senadora Heloisa Helena, que, com certeza, e muitos aqui me disseram, o tratariam com todo o respeito. Quero até encorajá-lo a vir aqui, mas fiquei preocupado com essa reação. O Presidente falou: “Puxa, imaginem se quiserem me bater”.

Senador Alvaro Dias.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Vamos receber bem o Lula aqui.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Suplicy, o Presidente é corajoso, não iria ficar com receio de apanhar, não. Vamos deixar o pugilato de lado e colocar as coisas com clareza. O Senador Arthur Virgilio fez uso da força de expressão e não da força física. Quis dar ênfase à sua indignação, que extrapola os limites do que é normal, exatamente por se tratar da família. Quando se trata da família, a dimensão é outra. Quando se trata do filho, certamente é outra a dimensão. V. Exª conhece o Senador Arthur Virgilio, um esgrimista da palavra. S. Exª usa força de expressão, figura de retórica, para retratar com maior fidelidade e expressão o seu pensamento. E, ontem, o que quis retratar, dando ênfase, foi a sua indignação. V. Exª conhece bem: a cada ação corresponde uma reação naturalmente proporcional. Imagino que o Senador Arthur Virgílio tentou reagir de forma compatível com uma ação despropositada empreendida, colocando em risco a sua própria família. Ele não poderia reagir de outra forma. Mas, certamente, o Senador Suplicy entendeu a força de expressão utilizada pelo Senador Arthur Virgílio.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Agradeço a V. Exª.

Senador Romeu Tuma e Senadora Heloisa Helena, estou com receio de descumprir o que acordei com o Presidente João Alberto.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Só uma informação como Corregedor, se V. Exª permitir.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Pois não, Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - V. Exª disse que o Ministro tem de tomar providências. Como Corregedor, ontem, comuniquei ao Senador Arthur Virgílio, que ainda se encontrava na tribuna... É claro que qualquer um de nós, quando sente o filho ameaçado, mostra que não tem limites na defesa. Cada um gradua de acordo com a sua reação de alma e coração. V. Exª também faria o mesmo. Mas imediatamente tomei as providências necessárias. Hoje, estive pessoalmente com o Dr. Paulo Lacerda. Já mandei um ofício pedindo que ele ouça o Gilmar Reis Barbosa, que foi a pessoa abordada e que comunicou, por meio de um terceiro que aqui se encontrava. De forma que as providências da Corregedoria foram tomadas junto à Polícia Federal.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - V. Exª também recomendou ao Senador Arthur Virgílio que use mais a força da alma do que a força física como procedimento. Pelo menos, essa é a minha recomendação.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Cada um use o seu direito de se manifestar de acordo com a reação do seu coração.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Estou de pleno acordo com a sua providência.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Flexa Ribeiro, estou premido aqui.

A SRª HELOISA HELENA (P-SOL - AL) - Eu também quero fazer um aparte.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Serei breve, Senador Eduardo Suplicy. Penso que todos os Senadores e Senadoras que me antecederam já colocaram a posição correta da forma de interpretação. São fatos e versões. Todos sabemos da formação do Senador Arthur Virgílio, e V. Exª muito bem colocou aqui. Se tivesse a sua família sofrendo ameaça, também teria uma reação a essa altura. Ainda mais que V. Exª foi traído no instante em que estava na tribuna, quando o Senador Antonio Carlos Magalhães se referiu a sua expertise em boxe, e V. Exª disse: “Será que vou ter que voltar a treinar?” Ou seja, já estaria também colocando em xeque a própria palavra do Senador Arthur Virgílio. Só para mostrar a V. Exª que, como bem disse o Senador Alvaro Dias, trata-se de força de expressão. Permita-me V. Exª. Todos conhecemos a índole do Senador Arthur Virgílio. Deve, realmente, ter sido motivada por uma agressão ou por uma ameaça de agressão a sua família.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Agradeço, Senador Flexa Ribeiro.

Senadora Heloisa Helena, para concluir, porque tenho que prometer ser breve, e já estou abusando.

            A Srª Lúcia Vânia (PSDB - GO) - Eu gostaria de um aparte, Senador Eduardo Suplicy.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Vou me empenhar para que todos sejam brevíssimos.

A Srª Heloisa Helena (P-SOL - AL) - Gostaria, primeiro, de deixar o testemunho na Casa de como conheço o Senador Eduardo Suplicy. Sei que essas ressalvas que está fazendo não são ressalvas simplesmente ao Senador Arthur Virgílio porque, várias vezes, quando eu ainda era militante do PT, em muitos momentos, em função da minha forma de falar, da minha forma de reagir, em muitos momentos, o Senador Eduardo Suplicy, tanto nas reuniões de Bancada, nas reuniões de diretório e aqui mesmo no plenário, já fez ressalvas em relação a, digamos, um comportamento mais belicista de algumas pessoas. Portanto, faço questão de deixar aqui o claro testemunho, porque, muitas vezes, na própria tribuna em que ele está - falando do Senador Arthur Virgílio - ele já falou de mim, achando que eu tinha um comportamento exagerado, belicista. Então, V. Exª tem aquilo que a gente diz de “autoridade” para fazer a ressalva. Eu não poderia também - até porque me conheço profundamente - jamais ficar aqui no plenário de forma silenciosa, hipócrita. Eu me sentiria hipócrita se não fizesse o aparte; e aí não conjugaria o verbo no pretérito. Eu o conjugaria no presente: “eu sou capaz”. Do mesmo jeito, se tocar em um filho meu, Senador Romeu Tuma, pode colocar logo na Corregedoria; se tocar num filho meu, nem sei, acho que não tem nada a ver com o Presidente Lula - que tem todos os defeitos de traição de classe e outras coisas - ameaçar o filho do Senador Arthur Virgílio. Quero deixar aqui registrado, para não me sentir hipócrita, que se tocarem em um filho meu - pode ser Senador, Presidente da República ou quem quer que seja - eu viro onça. Não é “eu seria capaz”, é “eu sou capaz”. V. Exª tem autoridade de falar do mesmo jeito. Já passei por circunstâncias na Casa que foram difíceis. É por isso que digo que tem gente que pode criticar aquele diálogo nem um pouco civilizado ou nem um pouco sofisticado, do ponto de vista do vernáculo, que eu tive com o Deputado do PT na Câmara dos Deputados. Preferia não ter. Agora, pode me criticar V. Exª, pode me criticar uma mulher ou um homem que aceite que um vigarista diga para ele uma palavra de baixo calão e ele fique calado. Eu não fico. Então, V. Exª tem toda a autoridade de fazer a ressalva. Espero que ninguém vá fuxicar para o Senador Arthur Virgílio, dizendo uma coisa diferente, porque várias vezes já o fizeram. Mas quero deixar absolutamente registrado: não tenho nem tamanho, nem físico. Aliás, uma vez eu dizia ao Senador Pedro Simon que acho que é por isso que Deus me deu uma estrutura bem minguada, que eu não consigo derrubar nem uma mosca, até para eu não ter a arrogância do tipo físico que possibilita que você o seja. Agora, V. Exª tem toda a autoridade para fazer a ressalva, de resgatar, porque, com todos os Parlamentares, sempre fez isso. Entretanto, eu me sentiria hipócrita se ficasse silenciosa, porque infelizmente eu não seria capaz. Eu sou capaz. Então, pelo amor de Deus, não toquem num filho meu, porque aí viro onça. Eu posso ser uma gatinha boazinha e manhosa para qualquer um, mas se tocar num filho meu, viro onça. Portanto, foi só por isso que fiz o aparte, ressaltando para a Casa que sei que V. Exª tem toda a autoridade, porque a conduta sempre foi essa, em qualquer espaço: no movimento sindical, no Partido, nas Comissões ou aqui. Muitas vezes já briguei com gente aqui porque achava que tinha condutas ofensivas e intolerantes a V. Exª, e V. Exª agia não com a acomodação, mas com a coragem dos que também reagem de forma mais civilizada, o que não é o meu caso. Só por isso fiz o aparte, meu querido Suplicy.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Agradeço. Suas palavras mostram que há situações em que o ser humano acaba tendo que usar daquilo que não gostaria em circunstâncias excepcionais. Acho que V. Exª demonstrou bem, assim fazendo com que possamos compreender melhor as palavras do Senador Arthur Virgílio.

Concedo o aparte à Senadora Lúcia Vânia e, em seguida, ao Senador Tasso Jereissati.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Sr. Presidente, pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza PMDB - MA) - Pela ordem, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Quero informar a V. Exª que existem Parlamentares da Câmara e do Senado, mas principalmente da Câmara - e incluo o Deputado ACM Neto -, já comprovadamente sendo grampeados pela Abin. É a quebra da privacidade, inclusive dos Parlamentares. Isso é uma vergonha para este Governo. E o Deputado ACM Neto não vai se intimidar com essa atitude da Abin, vai continuar investigando e já tem provas suficientes para desmoralizar este Governo.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Considero inteiramente condenável tal procedimento da Abin, se verdade for.

Ouço o aparte da Senadora Lúcia Vânia.

A Srª Lúcia Vânia (PSDB - GO) - Sinto discordar da Colega Heloísa Helena. Eu esperava que V. Exª subisse a essa tribuna e iniciasse seu discurso com a resposta que V. Exª deu à Senadora Heloísa Helena, dizendo que todos, nesta Casa, sabem perfeitamente qual foi a reação do Senador Arthur Virgílio ao usar uma frase de efeito forte, mas que expressava sua angústia e a sua indignação ao ver sua família exposta a uma situação como esta. Este era um momento importante - e V. Exª tem autoridade para isso - para, desta tribuna, dizer para toda a Casa quais foram as atitudes do Governo em relação à denúncia que S. Exª fez ontem; que tipo de proteção o Governo demonstraria a boa vontade de adotar em relação ao que S. Exª está passando com sua família. Dessa forma, V. Exª desarmaria os ânimos, e nós estaríamos muito mais predispostos a trabalhar na Casa. É humanamente impossível se pensar em trabalhar com o clima e a insatisfação que toma conta de todos nós. Muito obrigada.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senadora Lúcia Vânia, a lembrança de V. Exª é correta. Solidarizei-me com o pedido ao Ministro da Justiça para que seja feita a devida averiguação. Espero que, até o final desta sessão, possamos nós do PT esclarecer inteiramente a providência tomada.

Ouvirei o Senador Tasso Jereissati, depois a Senadora Ideli Salvatti e encerrarei minha fala.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Eduardo Suplicy, quero apenas situar no devido lugar as palavras do Senador Arthur Virgílio, que todos conhecemos, homem dotado de extraordinária capacidade verbal e afetiva. A capacidade afetiva de S. Exª fica ainda mais evidente no amor que ele tem pelos seus filhos. Quando, com sua sensibilidade, percebe um filho seu, de alguma maneira, sendo ameaçado em função da sua atuação política, coloca-se disposto a qualquer coisa. Essa expressão que utilizou, de que chegaria até esse ponto, demonstra bem sua revolta. Evidentemente, não é uma expressão literal que signifique algum tipo de ataque físico ou algo assim, mas demonstra sua revolta. Tenho certeza de que V. Exª agiria da mesma maneira se visse um de seus filhos sendo ameaçado em função de suas atitudes políticas. V. Exª já foi crítico contundente de outras administrações, de outras políticas e de outros políticos. Se visse, um dia, um filho seu sendo ameaçado em função de sua atitude política, tenho certeza de que a revolta atingiria o mesmo nível.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Tasso Jereissati, quem sabe essa reflexão tenha sido importante, para que todos nós tornássemos mais clara a intenção do Senador Arthur Virgílio. No entanto, reitero a minha recomendação de sempre - inclusive eu, em qualquer momento - usarmos mais a força da alma do que a força física.

Senadora Ideli Salvatti, para concluir, então.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Eduardo Suplicy, em primeiro lugar, registro que não pude ter acesso à fala do Senador Arthur Virgílio, o que me causou profunda apreensão. Tentei pegar nas notas taquigráficas a íntegra do pronunciamento feito ontem, mas estas foram retiradas para revisão. Espero que, na revisão, o próprio Senador Arthur Virgílio - tenho a certeza disto - vai ponderar a respeito da força de expressão que, indiscutivelmente, apareceu como uma expressão de força, algo que não é compatível, inclusive, com o respeito adequado que deve existir entre os dois Poderes. Obviamente, trata-se de exigências corretas e legítimas de qualquer pessoa que sofra algum tipo de ameaça, com a gravidade que o Senador Arthur Virgílio reportou, aqui da tribuna. Exigir providências também é legítimo e deve ser feito, com força. No entanto, as expressões de força usadas, como “dar uma surra no Presidente da República”, são absolutamente insustentáveis nesta tribuna. Por isso, tenho a certeza e a convicção de que o Senador Arthur Virgílio deverá retificar suas palavras. Parece-me de bom-tom, inclusive numa situação como esta que estamos vivenciando, em que os nervos estão à flor da pele e os fios estão desencapados, que tenhamos calma e tranqüilidade para lidar com toda exacerbação de qualquer situação. Quero dizer isso de forma muito tranqüila, porque tive minha vida varrida durante mais de três meses, tive meus filhos monitorados e minha filha com ameaça de arma na cabeça, e não subi à tribuna, inclusive porque havia indícios de onde estavam partindo as investigações, pelas insinuações que aparecem, vira e mexe, em pronunciamentos na tribuna, nas CPIs, na imprensa, tentando me envolver com determinadas situações. Em nenhum momento, por ouvir dizer, por “parece que”, “será que”, levantei qualquer tipo de situação, como ocorreu aqui ontem. Por isso, Senador Eduardo Suplicy, considero de profunda validade que, nesta situação, façamos aquilo que é necessário. O que é necessário neste momento? Tomar as providências para que a denúncia do risco da família, dos filhos do Senador Arthur Virgílio seja investigada; que tenhamos, de imediato, ainda no dia de hoje, um pronunciamento, uma resposta do Ministro Márcio Thomaz Bastos à denúncia de grampo. Penso assim: todo e qualquer grampo tem de ser investigado até as últimas conseqüências, punindo quem quer que tenha realizado grampo ilegal. Então, todas as denúncias que aparecem aqui têm de ter, da parte do Congresso Nacional, do Senado da República, todas as providências. Agora, as expressões de força não cabem, não devem ser colocadas; elas devem ser combatidas, porque acabam retratando situações que não queremos mais neste País. As expressões de força sempre são vieses que lembram o autoritarismo e lembram períodos da história brasileira que queremos varrer. Por isso, Senador, registro o meu apelo: que a revisão do Senador Arthur Virgílio seja, efetivamente, para retirar as expressões de força, que, do meu ponto de vista, S. Exª infelizmente utilizou, legitimamente, por estar numa situação delicada, de preocupação com a sua família e com os seus filhos.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Eduardo Suplicy.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Comprometo-me, com a sua colaboração, Senadora Ideli Salvatti, a ainda hoje dialogar com o Ministro Márcio Thomaz Bastos e com o Ministro General Félix para procurar dar uma informação a respeito do que foi levantado.

            Senador Mão Santa, como último aparte, muito breve, pela compreensão do Presidente João Alberto Souza.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Presidente João Alberto, lá naquele livro O Pequeno Príncipe diz: “A linguagem é uma fonte de desentendimento”. Sou testemunha ocular, eu estava aqui. E outro filósofo, Ortega y Gasset diz: “O homem é o homem e suas circunstâncias”. E o mais pacífico dos homens, na história da humanidade, não foi o Suplicy e muito menos o Lula “paz e amor”. O mais pacífico dos homens que veio aqui para pregar “Ama o próximo como a ti mesmo”, foi agredido em sua casa, como o Senador sentiu-se agredido em seu Estado, na privacidade da grandeza de sua família. Cristo puxou o chicote; ele apenas teve, inspirado em Cristo, uma reação em defesa de sua casa, de sua propriedade e de sua família.

(Interrupção do som.)

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Sou testemunha ocular do fato. O homem é o homem em suas circunstâncias. As circunstâncias fizeram com que ele reagisse firmemente - firmeza, aliás, que este Senado precisa ter como exemplo.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Obrigado, Senador Mão Santa, por aqui nos lembrar dos ensinamentos e do comportamento de Jesus Cristo.

Obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/11/2005 - Página 37985