Discurso durante a 193ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Falsa polêmica criada em torno da matéria da revista Veja sobre a suposta doação de Cuba à campanha eleitoral do PT em 2002. Considerações sobre o papel da direita e da esquerda no país.

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Falsa polêmica criada em torno da matéria da revista Veja sobre a suposta doação de Cuba à campanha eleitoral do PT em 2002. Considerações sobre o papel da direita e da esquerda no país.
Publicação
Publicação no DSF de 02/11/2005 - Página 37994
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, AGRESSÃO, AUTORIA, POLICIA FEDERAL, GABINETE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VITIMA, ORADOR.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, RECEBIMENTO, DINHEIRO, GOVERNO, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, CAMPANHA ELEITORAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, UTILIZAÇÃO, IDEOLOGIA, TENTATIVA, ESCLARECIMENTOS, CRISE, GOVERNO FEDERAL, ACUSAÇÃO, EFEITO, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Não quero entrar novamente na polêmica, Sr. Presidente, até porque não é para isso que estou aqui, mas quando algumas pessoas faziam apartes ao Senador Eduardo Suplicy, trataram das expressões de força e, então, lembrei de uma expressão de força de que fui vítima. Não foi o linguajar, a expressão de força de que fui vítima partiu do comando da Polícia Federal do Gabinete Civil do Presidente Lula, que, objetivamente, bateu em mim e em outros militantes - à época nem existia P-SOL, absolutamente nada. Faço o registro porque me chama a atenção o fato de que, às vezes, pessoas que não têm autoridade moral para tanto, apresentam críticas com grande contundência, o que não é o caso do Senador Eduardo Suplicy.

Faço o registro para esclarecer as coisas e tenho certeza, Sr. Presidente, de que V. Exª não acatará nenhuma sugestão no sentido de retirar dos pronunciamentos de nenhum Senador determinadas expressões contundentes que dão conta de uma atitude de repulsa a um determinado momento vivenciado. É só para deixar aqui registrado que nem sempre as expressões de força se relacionam à utilização da gramática, do verbo, do linguajar. Há outras expressões de força, como a expressão de força covarde do Governo Lula que bateu inclusive em mim. Aliás, não é à toa que a Polícia Federal do Brasil todo, não apenas do Estado de Alagoas, mas a Federação dos Policiais Federais, a Polícia Federal do Brasil todo soltou nota de repúdio à clara expressão de força covarde do Governo Lula quando utilizou um comando específico do Gabinete Civil para bater em mim e em meia dúzia de mulheres idosas que estavam no prédio do INSS.

Sr. Presidente, ontem eu não estava aqui, mas acabei acompanhando pela imprensa um debate que aqui foi colocado sobre a matéria da Veja sobre um suposto dinheiro de Cuba.

Eu não acho que teve o dinheiro de Cuba não. É lógico que tudo tem de ser investigado, mas, se teve o dinheiro, traíram até o Fidel porque estão fazendo um governo completamente de direita. Eu não acho que teve essa história de dinheiro, mas respeito aqueles que, fazendo uma crítica conseqüente, levantam a questão. Faço a ressalva, porque tem gente que, independentemente de se reivindicar da direita ou da esquerda, é honesta intelectualmente e faz crítica a qualquer desrespeito à ordem jurídica vigente, a caixa 2, a crime eleitoral, seja do PT, do PSDB ou de qualquer outro partido. Tem gente que faz essa crítica honesta, essa crítica conseqüente em relação a isso.

Quero, porém, tratar de um debate que acaba sendo muito utilizado por alguns setores da direita, que ficam o tempo todo tentando introduzir um debate ideológico, tentando estabelecer semelhanças políticas entre o Governo Lula e Cuba, Venezuela, as Farc. Não tem nada a ver com isso.

Infelizmente, nós não temos como fazer um grande debate, ideologizado e programático, em relação ao que é, de fato, a esquerda e a direita no País. Eu não vou fazer referências históricas sobre a concepção da esquerda ou da direita, da Roma antiga, da tradição cristã, da Revolução Francesa. Não se trata disso. O problema é que, se nós quisermos ser honestos intelectualmente e fazer o debate sobre o que é direita e esquerda no Brasil, temos de mexer nas questões ideológicas, no modelo econômico, nas concepções políticas.

O que existe hoje? Qual o debate que existe? Existem duas direitas: a direita conservadora e reacionária que tem alguns representantes na oposição ao Governo Lula e a direita cínica e dissimulada e igualmente reacionária do ponto de vista econômico que está dentro do Governo Lula, que é o Governo Lula, que é a expressão do Governo Lula. Sendo assim, torna-se impossível fazermos um grande debate ideologizado e programático no País.

Alguns tentam, inclusive a revista Veja e alguns representantes da direita reacionária, dar uma sofisticação ideológica à corrupção patrocinada pelo Governo Lula e pela cúpula palaciana do PT, que, de sofisticação ideológica, nada tem.

Como militante de esquerda, nada me irrita mais do que ver alguém tentar dar algumas explicações, trazendo concepções sofisticadas do ponto de vista filosófico: leninista, gramsciana ou até maquiavélica. Não tem nada disso. O que está acontecendo é a roubalheira mais chula de qualquer pocilga de corrupção, seja ela reivindicada por qualquer outro partido. Não tem nada de sofisticação ideológica. Vamos acabar com essa história de dizer: “Não, eles estão lá porque os fins justificam os meios”.

Não tem nada disso. Não tem nenhum fim! Não tem nem a causa, porque o que eles estão fazendo é o mesmo projeto, que condenamos ao longo da história com veemência e ferocidade, feito pelo Governo Fernando Henrique. Não tem nada.

Não é a toa que é o atual Governo... Do mesmo jeito que uma parte da Direita, reacionária e conservadora, tem a revista Veja para fazer essa disputa ideológica; a outra, cínica e dissimulada, igualmente reacionária economicamente, tem o Governo Lula para expressar o triunfo neoliberal. O PT, que era o maior Partido de Esquerda, hoje é a ferramenta da propaganda triunfalista do neoliberalismo. Legitimou no imaginário popular toda a verborragia da patifaria neoliberal: do superávit; da responsabilidade fiscal, que de fato é irresponsabilidade fiscal; da desvinculação de receita da União, que de fato é autorizar o Estado brasileiro a roubar 20% da saúde, da assistência social e da previdência pública para jogar no superávit e encher a pança dos banqueiros, dos parasitas sem pátria, dos gigolôs do Fundo Monetário Internacional do capital financeiro. De fato é isso.

Perdemos a oportunidade, porque quanto à roubalheira patrocinada pelo Governo Lula e pela cúpula palaciana do PT, começam dar a essa roubalheira chula, típica de qualquer pocilga, um eivo de interpretação sofisticada, filosófica, leninista, gramsciana, que nada tem. Respeitemos, por honestidade intelectual, ao menos tudo que foi construído do ponto de vista ideológico, filosófico, programático, por milhares de militantes.

Isso não quer dizer que exista necessidade de transposição mecânica - porque isso seria burrice administrativa, inconseqüência administrativa e desonestidade intelectual - de qualquer experiência em qualquer lugar do mundo para o Brasil. Não se trata disso.

Então, é apenas para deixarmos isso claro. Infelizmente, não temos a oportunidade de fazer o debate. Em função dessa pusilanimidade política e eleitoral, determinadas palavras que nada de revolucinário têm - soberania nacional, democratização do Estado brasileiro, desenvolvimento econômico e sustentável e inclusão social -, tudo isso virou quase que palavra revolucionária em função da absoluta incapacidade deste Governo.

Então, é apenas para deixar aqui registrado que nada existe de sofisticação ideológica, gramsciana, leninista ou qualquer outra em relação a essa corrupção que está aí viabilizada.

E quero dizer mais uma vez, e agora vou me dedicar mais a esse debate, porque como existe a Direita contra a Direita... É isto: de um lado, uma parte da Direita reacionária, conservadora e neoliberal, que está na Oposição; e, de outro, uma Direita cínica, dissimulada e igualmente reacionária, conservadora e neoliberal, que tem a representação do Governo Lula como o tributo do triunfo neoliberal. E acabam criando uma falsa polêmica aqui no Congresso Nacional, nos meios de comunicação e em outros espaços da sociedade.

Então, ao menos para zelarmos pela honestidade intelectual, é bom deixarmos absolutamente claro que em tudo isso que está acontecendo, não há nada de sofisticado do ponto de vista ideológico e filosófico. É a pocilga da corrupção, em qualquer representação política onde ela esteja apresentada. E ao menos respeitemos tantas concepções que foram produzidas às custas do sangue, das lágrimas e das lutas de milhares de militantes da Esquerda socialista e democrática espalhados pelo mundo.

Portanto, apenas para registrar isto, da mesma forma que a Direita reacionária e conservadora tem a revista Veja para fazer a sua disputa ideológica e programática; a Direita cínica, dissimulada, reacionária e conservadora tem o Governo Lula e a cúpula palaciana do PT para fazer a expressão mais perversa dos dois palanques, dos dois projetos, que nada mais fazem do que a disputa política eleitoralista, mas que representam a mesma concepção neoliberal.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/11/2005 - Página 37994