Pronunciamento de Arthur Virgílio em 01/11/2005
Discurso durante a 193ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Resposta ao pronunciamento do Senador Eduardo Suplicy. (como Líder)
- Autor
- Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
SEGURANÇA PUBLICA.
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
:
- Resposta ao pronunciamento do Senador Eduardo Suplicy. (como Líder)
- Aparteantes
- Eduardo Suplicy, Ideli Salvatti.
- Publicação
- Publicação no DSF de 02/11/2005 - Página 37999
- Assunto
- Outros > SEGURANÇA PUBLICA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
- Indexação
-
- REGISTRO, PROVIDENCIA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), INVESTIGAÇÃO, AMEAÇA, MORTE, FILHO, ORADOR, CRITICA, ATRASO, DECISÃO.
- ESCLARECIMENTOS, DISCURSO, ORADOR, AMEAÇA, AGRESSÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, RESPOSTA, CRITICA, EDUARDO SUPLICY, SENADOR.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela Liderança do PSDB. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje tive o meu nome bastante citado, a partir de um discurso do Senador Eduardo Suplicy, um discurso elegante, comedido, com apartes, que agradeço, dos Senadores Flexa Ribeiro, Heloísa Helena, Antonio Carlos Magalhães, duas vezes, lembrando o episódio de grampo em telefones de seu neto, o Deputado Antonio Magalhães Neto, Lúcia Vânia, Alvaro Dias, Romeu Tuma, Tasso Jereissati e Ideli Salvatti.
Acabei de receber um telefonema do Ministro Márcio Thomaz Bastos, um dileto amigo pessoal. O telefonema veio tarde, porque deveria ter vindo ontem, e a providência, portanto, está atrasada em vinte e quatro horas, pois o dever do Ministro é acionar a Polícia Federal para prender o bazofeiro ou o criminoso em potencial que precisa ser chamado a explicar se está fazendo isso por ser um bazofeiro - e aí bazofeiro é bazofeiro - ou se tem ordens de qualquer pessoa. O fato é que ele fala em R$100 mil como quem - vou ter que citar o nosso filósofo Roberto Jefferson, referindo-se a Marcos Valério - como quem está falando de brincadeira, de bombom, de chocolate. Dei o nome do sindicalista abordado, citei o Deputado Pauderney Avelino, que me trouxe a informação, dei o nome do empresário abordado, que sabe da história.
Sr. Presidente, antes de entrar no cerne do meu pronunciamento, porque não vou falar o tempo todo sobre isso, eu gostaria de me reportar ao aparte da Senadora Ideli Salvatti para esclarecer a S. Exª que tenho por hábito, método meu de trabalho no gabinete, retirar todos os meus pronunciamentos para revisão, porque, às vezes - é raro, pois o corpo de taquígrafos da Casa é completamente competente e aplicado -, pode ocorrer um equívoco da Taquigrafia e outras vezes falta nexo entre uma frase e outra e julgo que é melhor que se publique no Diário do Congresso com os nexos corretos. Mas dou uma ordem terminativa ao Gabinete: ninguém altera palavra nenhuma do que digo da tribuna. Então, quando me referi à surra, referi-me à surra. Eu disse que, se alguém fizesse mal a um filho meu - e aí vou parafrasear a Senadora Heloísa Helena -, poderia ser o Presidente de uma nação intergaláctica, poderia ser o Presidente da República do Brasil, poderia ser o Néstor Kirchner, qualquer um, poderia ser o Lula... Eu falei surra, s-u-r-r-a. Falei surra. Ele não tem o direito de ameaçar meu filho. Eu coloquei a hipótese de. Se a hipótese é essa, se isso se confirma, ele está arriscado a isso mesmo. Estou falando com a maior tranqüilidade, vinte e quatro horas depois. No meu dicionário não tem essa história de retirar coisa nenhuma, não. Meu carro é muito Fórmula 1. Ele não tem marcha a ré, ele só anda para frente.
Portanto, é papel de um presidente governar, e eu critico a forma como ele governa. É papel de um presidente governar com integridade, e eu critico o baixo padrão ético do Governo dele. É um direito e é um dever meu. Não é papel dele, sob nenhuma maneira, permitir que adversários seus sejam espionados, chantageados, ameaçados, muito menos as famílias dos seus adversários. Quero crer que não é ele, e foi nesse sentido que falei. Se for, por que eu faria isso com Seu Zé da esquina, se ameaçasse meu filho, e não faria com o Presidente da República? Faria, sim. Ele deixa de ser Presidente ano que vem. Faria, sim. Vamos deixar bem claro: não tem essa história de marcha a ré, panos quentes. Não tem marcha a ré comigo, não. Até porque ele não tem o direito. A questão primária é essa. Ele não tem o direito, Senador Flexa Ribeiro, de não saber. Já chega de não saber.
Eu disse ao Ministro Márcio Thomaz Bastos* agora: “Márcio, eu gosto de você, sou seu amigo. Quero me certificar de que não tem dedo oficial nisso. Não pode ter dedo oficial nisso”. Ele disse: “Não, mas não tem. Eu lhe asseguro que não tem”. Eu disse: “Muito bem, então trata-se de algum vagabundo de nono escalão”. E se fosse alguém manipulado pelo Governo Federal, seria também um vagabundo de décimo escalão. Seria em qualquer circunstância.
Esqueci de citar o Senador Mão Santa, que foi muito gentil no seu aparte, falando de Ortega y Gasset: “eu sou eu e as minhas circunstâncias”. Em se tratando dos meus filhos, eu sou eu e as piores circunstâncias. Ninguém tenha qualquer ilusão. Eu não quero iludir ninguém; aliás, não gosto de iludir ninguém mesmo.
Eu disse: “Eu quero ter certeza, Márcio, de que não tem dedo oficial nisso”. E já chega de não saber, meu prezado Eduardo. Você leu, como eu li, como todo mundo nesta Casa leu, o Presidente da Transparência Internacional dizendo que a nova forma de se abordar a Administração Pública prevê a obrigação de saber. Já chega de “eu não sabia”! Já chega de “ah, eu me decepcionei”! Chega disso! O responsável é quem nomeou. Então, a obrigação de saber é que coloca a todos nós, homens públicos, em cheque em se tratando das nossas vidas, que são públicas e que devem, portanto, ser discutidas publicamente pelos meios lícitos e constitucionais e não pela abordagem de governos a sicários ou a quem quer que seja, porque, se um Governo sai disso e vai para o sicário, ele me autoriza a reagir do jeito que eu puder.
Mas o fato é que não se mexe impunemente com um filho meu. Não se mexe. Eu não mexo... Qualquer pessoa que me conhece sabe como eu tenho resistido a discutir essa questão envolvendo o filho do Presidente Lula. A Senadora Lúcia Vânia sabe disso, meus companheiros de Partido todos sabem disso e os meus companheiros de Oposição sabem disso.
Certa vez, travei um debate duro na Executiva do Partido, porque queriam trazer determinado fato envolvendo uma filha do Presidente. Eu disse que não aceitava. Travei um debate, que foi arbitrado pelo então Presidente José Serra, indo a meu favor. Eu disse: “Perco mil eleições, mas não me envolvo nessas coisas”. A imprensa me questiona às vezes. Vários jornalista já sabem que certo assuntos podem abordar comigo e que outros nem precisam falar com o Arthur Virgílio porque ele não gosta de falar sobre assunto que envolve família. Os mais chegados a mim já sabem que é assim.
Então, não é possível mesmo que eu fique achando que há, no Governo brasileiro, alguma sorte de caráter, no caso ruim, capaz de imaginar, um absurdo, que existe alguma coisa que não seja uma tesoura que corte a minha língua. Só uma tesoura. Não há outra hipótese. Não há outra forma de me calar.
Eu estava vendo ali com o Senador Alvaro Dias que falei, pedindo a palavra para uma questão de ordem, umas mil vezes nestes três anos de mandato. Presumo que, em oito anos de mandato, vou falar umas quinze mil vezes. Não nasci para ninguém me intimidar. Não é possível. Diz o primeiro artigo da minha constituição pessoal que ninguém me intimida. É cláusula pétrea. E o segundo artigo é que sou super-sensível a negociação política, a acordo, a dramas pessoais, a dramas humanos, mas me intimidar não é possível. O General Médici não conseguia, o General Figueiredo cortou um dobrado comigo e com V. Exª, Senador Eduardo Suplicy. Então, não é agora, na democracia, que vão conseguir.
Certa vez, o Deputado Vicentinho fez uma brincadeira. Ele não era Deputado, mas estava por aqui. Iria haver aquele ato tradicional do 1º de Maio e ele me perguntou: “Arthur Virgílio, você não quer ir?” Respondi: “Quero ir, sim, Vicentinho”. E o que é pior: eu fui, Eduardo, ao 1º de Maio do Vicentinho. E subi no carro dele, sozinho, lá em São Paulo. Ele disse: “Puxa, mas aqui você pode ser agredido”. E eu falei: “Mas não é problema meu, Vicentinho. É problema seu. Você me convidou; eu aceitei e estou aqui. Se eu vou ser agredido, é problema seu. Eu não estou preocupado com isso”. E depois tentaram me agredir mesmo, quando eu dei uma entrevista e fui salvo pelos repórteres, que me acompanharam até o carro.
Eu fui de Brasília para São Paulo, não me deixaram falar, alegando que eu ia se vaiado. Eu disse que não havia nenhum problema. “Mas, pelo amor de Deus, há vaias que são consagradoras. Isso para mim é um gesto tão bom, tão bonito. Estou tão reconfortado em saber que consegui pegar uma passagem, vir aqui, aceitar o seu convite. Podem vaiar à vontade. Quanto a agredir, é você que me garante, Vicentinho”.
Aí ficamos rodando no carro, ele não sabia o que fazer comigo; e ficamos ali, nós e os punks, sem orientação, rodando naquela Avenida Paulista para cima e para baixo, num caminhão da CUT. Eu, lá em cima do caminhão, Senador Pedro Simon, esperando que eles me colocassem no palanque, onde ia falar o Governador Brizola, onde ia falar o João Amazonas, onde ia falar o Lula e onde eu ia falar. Eu ia justificar a política salarial do Governo de Presidente Fernando Henrique, coisa que eu fazia da tribuna. Por que eu o não faria lá? Com medo de quem eu não faria? Eles não me deixaram falar, me pediram para eu não falar. Disseram que seria pior. “Atenda o nosso apelo”. Eu disse: “Está bem, Vicentinho. Vou sair daqui frustrado. Mas nunca mais me convide”. Convite, eu levo a sério. Se dizem “Vá ao batizado do meu filho”, eu vou. Só não vou se não puder ir. “Vá ao ato de 1º de maio”, eu vou. E fui para o ato de 1º de maio. Fui. E pronto. E não me arrependo. Se me convidarem de novo, eu fui.
O rapaz da UNE veio aqui outro dia, muito gentilmente, e me convidou para ir à posse da UNE. Eu fui à posse da UNE. Estava lá o Berzoini. Quando me viu, ficou com a bochecha inchada, trocou de cor. Não sei se estava falando mal do PSDB, mas começou a falar mal só do PFL depois que eu cheguei. Saiu. Assim que ele saiu, perdeu a chance de me dar um abraço, enfim, levando a política na base da raiva. A minha tia Lindalva, com 96 anos, que faleceu, tinha raiva do Berzoini, e o Berzoini, raiva de mim. Aí ele saiu.
Eu ocupei a cadeira do Berzoini, me deram a palavra, e eu disse “Estou estranhando o Dr. Berzoini sair com tanta raiva de mim, enfim. Agora, vim dizer à UNE que tenho discordâncias dela; que não concordo com essa passeata a favor da corrupção; que não concordo com essa passeata que não é de estudante, que é de idosos políticos. Você pode ser idoso, como era Barbosa Lima Sobrinho, e ser um jovem político. Não concordo. Agora, tenho tanto respeito pela UNE, que embalou tantos sonhos da minha geração, que vim aqui para dizer que é gratificante para mim participar de um momento, enfim, prestigiar um ato, em que sei que as pessoas não professam o meu credo”. E assim falei. Foram supereducados. Lá existe uma certa facção que é tucana, mas os aplausos foram mais dos que os dos tucanos. Eu ouvi. Percebi as palmas. Havia poucos tucanos. O pessoal do PCdoB aplaudiu também, Senador Cristovam. Fiquei feliz e agradecido. Mas fui. Ele me convidou para ir, ele me deu um convite para ir, e eu fui. Fui, porque fui convidado. Não penetrei, não. Não tem nada de penetra. Eu fui.
Então, quero ser bem claro, muito claro, nas minhas coisas. Ninguém tem o direito de ameaçar a família de ninguém e ninguém tem o direito de ameaçar a minha - aí, eu digo muito especificamente a minha, porque estou falando da minha. Sou supercauteloso e supercuidadoso com essas coisas de família. Estou me referindo a um episódio grave como esse do filho do Presidente Lula. Nesse, eu tenho sido um freio - o Senador Tião Viana é testemunha de que tenho sido um freio nesse episódio, no meu Partido, na Oposição.
Quando percebo um biltre, oficial ou não; quando percebo um cafajeste, oficial ou não; quando percebo um criminoso, oficial ou não; quando percebo um desqualificado, oficial ou não; quando percebo um lambão, oficial ou não; quando percebo um desonesto, oficial ou não; quando percebo um mau caráter, oficial ou não; quando percebo um araponga, oficial ou não; quando percebo uma figura desprezível, oficial ou não, eu reajo. Não sei quem é.
O fato é que passei a entrar em casa com mais cuidado. Tenho um filho que mora só. Eu dizia, Senadora Heloisa Helena, que minha filhota menor, quando eu cheguei de madrugada, ontem, sem dormir, de Manaus para cá, num vôo da madrugada, ela estava brincando na porta de casa, esperando a hora de ir para escola. O que eu faço? Ela não vai brincar mais? Porque tem um lambão, oficial ou não; tem um sujeito nojento, oficial ou não; tem um vagabundo, oficial ou não, dizendo que joga US$100 mil para quem consiga fazer mal a mim ou à minha família.
Não retiro uma palavra do que disse, nenhuma. Não retiro nenhuma palavra do que disse e estou acrescentando estas outras: o biltre não tem como fazer mal a minha família. Preciso identificá-lo. Se eu souber quem é ele e se essa história é fato, conforme me trouxe uma pessoa que parece ter credibilidade, como sindicalista da Força Sindical, eu dou uma surra no biltre. Se eu soubesse que se tratasse de uma orientação do Presidente - não quero acreditar que fosse -, eu daria uma surra no Presidente mesmo. Estou repetindo, novamente, para não ter essa conversa mole: nele, no Kirchner, no Chávez, em qualquer um.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador?
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já permitirei, Senador Suplicy.
Aliás, vi V. Exª falando, com a elegância de sempre. O Senador Flexa Ribeiro foi extremamente inteligente quando disse que V. Exª perguntava se precisava entrar em forma. V. Exª, se quiser, eu viro o seu personal trainer. Há uma academia maravilhosa aqui no Senado, muito pouco usada, que devia ser usada pelos Senadores para tirar o stress. Enfim, viro seu personal trainer, de graça. Não tenho autorização para cobrar nada. V. Exª deve entrar em forma não para me conter, porque quando tem um filho meu em jogo, ninguém me contém - ninguém, ninguém. Há 90 milhões de homens no País, e nenhum me contém se houver um filho meu em jogo.
V. Exª deve entrar em forma pela sua saúde, pela sua noiva, pelos seus filhos, pela sua vida pública, que é tão estimada por nós. Deve entrar em forma porque queremos V. Exª com vida longa. Deve entrar em forma por isso. Só por isso.
Concedo o aparte ao Senador Eduardo Suplicy.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quem sabe possamos fazer um exercício para estarmos sempre na melhor forma possível? Senador Arthur Virgílio, pedi a palavra para fazer uma ponderação, porque tenho a convicção de que o Presidente Lula jamais autorizaria um procedimento de espionar V. Exª e de prejudicá-lo, sobretudo a seus filhos.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Então, ele está livre dos meus punhos. Não precisa se preocupar com isso.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Conforme a ponderação da Senadora Lúcia Vânia, seria importante que eu colaborasse para o esclarecimento vir logo à tona. Comprometi-me a ligar para o Ministro Márcio Thomaz Bastos, que informou a V. Exª que as providências estão sendo tomadas, para que seja inteiramente esclarecido esse episódio. S. Exª já teve a oportunidade de comunicar-lhe, conforme V. Exª esclareceu há pouco, que não há, de maneira alguma, por parte do Governo, do Presidente Lula, do Ministro da Justiça, a intenção de realizar qualquer espionagem sobre a vida de V. Exª e de sua família. Portanto, pondero que tenhamos sempre um procedimento de respeito e de civilidade entre nós, até porque imagino que, por exemplo, no dia 15 de fevereiro, no último ano de sua gestão, o Presidente Lula possa comparecer ao Congresso para trazer sua mensagem à Nação. Sabe V. Exª que eu inclusive sugeri a ele que viesse aqui para dialogar conosco, e tenho a convicção de que a atitude de cada...
(Interrupção do som.)
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...de cada Senador e Deputado será sempre de respeito com a figura do Presidente. Foi este o sentido - penso que todos compreenderam, sobretudo V. Exª -, o sentido de ponderar a V. Exª a importância do respeito entre os membros do Congresso e o Presidente, que deve ser mútuo, e, portanto, do Presidente com V. Exª.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador, pretendo estar aqui, se o Presidente vier, para recebê-lo com respeito, com o acatamento que não deve faltar para com o chefe da Nação. Seria um belo gesto o Presidente retornar ao Congresso nesse episódio. O que é preciso, para mim, é ficar bem claro que o Presidente não está mesmo nesse desespero de confundir as coisas com os seus adversários. Ou seja, para repetir bem claro, com meus filhos não se mexe. Como acredito que ninguém mexa com...
O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Meu Líder, peço que conclua, por gentileza.
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - V. Exª me permite um aparte, Senador Arthur Virgílio?
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não. Se V. Exª me permite, Sr. Presidente, cederei o aparte à Senadora Ideli Salvatti.
Antes, porém, gostaria de agradecer ao Senador Demóstenes Torres. Eu omiti o nome de S. Exª, sendo precisamente ele o primeiro que aqui falou procurando colocar nos devidos termos minha declaração de ontem. Agradeço, de maneira fraterna, a esse querido amigo, brilhante Senador e jurista de Goiás, que é o Senador Demóstenes Torres.
Ouço a Senadora Ideli Salvatti e, em seguida, encerro meu pronunciamento.
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Arthur Virgílio, em primeiro lugar, qualquer pessoa que tem seus filhos ameaçados toma todas as atitudes devidas e até indevidas a fim de proteger sua prole. E gostaria de registrar, assim como fiz em meu aparte, que quando tive meus filhos recentemente ameaçados também tomei todas as medidas que estavam ao meu alcance e fora do meu alcance para protegê-los.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Infelizmente, só soube disso depois. Se soubesse, teria estado muito perto de V. Ex.ª nesse momento.
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - O procedimento adotado foi o seguinte: como eu não tinha como provar de onde estavam partindo as ameaças, apesar de haver fortes indícios, apesar de ter quase certeza absoluta de onde vinham, tomei as providências sem fazer alarde de onde eu imaginava que vinham as ameaças. Por isso, eu me sinto muito próxima, por ter vivido há bem pouco tempo uma situação em que, repito, minha filha esteve com a arma apontada na cabeça. Não foi qualquer coisa, não foi uma ameaça verbal que eu ouvi, não. Aconteceu, efetivamente.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Foram razões políticas ou assalto?
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Com fortes suspeitas de que pudesse ter vinculação.
(Interrupção do som.)
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Quando fiz minhas ponderações - sei que V. Exª é uma pessoa extremamente cuidadosa com o que fica registrado de suas falas - foi porque entendo que V. Exª tem todo o direito de bater em quem estiver envolvido com esse ato de ameaça a seus filhos. Eu faria a mesma coisa. Mas o que está colocado aqui, sem qualquer prova, porque V. Exª diz “oficial ou não, oficial ou não, oficial ou não”, ou seja, todas as reportagens estamparam, foi esse o destaque, foi essa a manchete, que V. Exª daria uma surra no Presidente Lula, partindo do pressuposto de que o Presidente Lula esteja envolvido com isso. E aí, Senador Arthur Virgílio, sou testemunha...
(Interrupção do som.)
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Sr. Presidente, peço mais um pouco de complacência.
O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Mas peço a V. Exª, Senadora Ideli Salvatti, que tenha também. Há uma série de companheiros, colegas querendo falar. Fui muito complacente. Inclusive o Plenário reclamou da complacência que tive com o Senador Eduardo Suplicy, mas agora já foi extrapolado o tempo em vários minutos. Peço a V. Exª que conclua.
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Posso também pedir a palavra pela liderança, posteriormente, mas prefiro fazer na forma de aparte ao Senador Arthur Virgílio.
O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Pois não, V. pode concluir, por gentileza.
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Quando V. Exª, Senador Arthur Virgílio, diz que dá surra no Presidente, colocando de forma muito clara essa vinculação, de que não tem prova, é uma suposição, é pressupor que aquilo que já tive oportunidade inclusive de elogiar desta tribuna, da preocupação que V. Exª tem, e já demonstrou inúmeras vezes, com situações de familiares de outras personalidades políticas, inclusive do Presidente Lula, esse mesmo tipo de comportamento decente e altivo, o Presidente Lula não teria com os filhos de V. Exª. Veja bem, Senador, o Presidente Lula já deu demonstrações, inclusive inequívocas, reiteradas pela imprensa, nos dias de hoje, estão nos registros, quando foram apresentados dossiês sem consistência, falaciosos, ele, de pronto, repudiou. Ou seja, o Presidente Lula já deu demonstrações exaustivas de altivez política, para não ter, da parte de V. Exª, qualquer tipo de sombra de dúvida, que o Presidente Lula pudesse estar envolvido com um ato infame de tentar prejudicar a família de V. Exª. Por isso, faço a ponderação - volto a fazer -, porque quando V. Exª fala que daria uma surra até no Presidente Lula, não é porque daria surra em toda e qualquer pessoa que possa estar envolvida, porque deve dar mesmo, surra e mais o que for necessário em qualquer pessoa que o esteja ameaçando, mas é porque V. Exª está colocando a dúvida em um homem público, que já deu demonstração, também da mesma forma que V. Exª, à exaustão, de não ter esse tipo de ato tão desumano e tão aviltante na conduta política de qualquer pessoa. Por isso, Senador Arthur Virgílio, quando estamos travando este debate, temos que tratar o Presidente da República com o respeito que as figuras políticas têm que ter de todos, pela história, pela biografia, pelo comportamento, e deixar de lado a crise política que estamos vivenciando. Porque tenho certeza absoluta, Senador Arthur Virgílio que, pelo respeito, pelo conhecimento e pelas comprovadas vezes em que o Presidente Lula já demonstrou espírito público e dignidade no trato, na relação de respeito...
(Interrupção do som.)
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - ...para com as personalidades políticas e as respectivas famílias, se não houvesse crise, V. Exª não teria usado a expressão que usou. Por isso, fiz o apelo, e o reitero. Repito, ainda, que a questão dos grampos telefônicos é tão grave quanto a denúncia que V. Exª colocou. Já houve experiências de grampos que, infelizmente, não foram devidamente investigadas. Mas o mesmo viés aparece de novo nos grampos. Existe grampo. Está sendo grampeado o Deputado ACM Neto. Vamos investigar, obviamente. Mas, a priori, já se diz quem está fazendo o grampo. Já houve grampos de tantas formas no País, em períodos tão recentes. Então, vamos fazer as investigações, vamos punir, vamos ser rigorosos. Mas, também, Senador Arthur Virgílio, pelo respeito que V. Exª sempre colocou no trato, inclusive com os familiares, o que testemunhei inúmeras vezes...
(Interrupção do som.)
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - ...é que faço o apelo do reconhecimento, do mesmo comportamento que V. Exª tem para com os familiares do Presidente Lula, que também reconheça que seria inimaginável o Presidente Lula ter um comportamento que pudesse colocar em risco a família de V. Exª.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço o aparte, Senadora Ideli Salvatti, e concluo, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Se V. Exª me permite, meu Líder, V. Exª já está com 29 minutos. O aparte da Senadora Ideli Salvatti foi de cinco minutos. V. Exª quer quantos minutos para concluir o pronunciamento?
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Um minuto, um minuto e pouquinho...
O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Pois não, V. Exª terá.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Responderei à Senadora, dizendo, com muita tranqüilidade, que me atenho aos fatos.
O tal cidadão abordou o sindicalista oferecendo-lhe R$100 mil. Dizia que o estava fazendo em nome do PT Nacional. O sindicalista vai ser ouvido pela Polícia Federal. Um dos líderes da Força Sindical está aqui, o Sr. Carlos Lacerda. O sindicalista está disposto a confirmar tudo que aqui estou dizendo. Por isso, se há envolvimento do PT, se há envolvimento do Presidente, realmente, V. Exª passa a dar-me razão porque, aí, diz que teria o direito de fazer o que quisesse. Seria natural. Não gostaria, nunca, de ter feito esse discurso. Gostaria, menos ainda, que me tivessem dado um pretexto para fazê-lo. O rapaz procurou o sindicalista dizendo: “Você tem R$100 mil. Tenho dinheiro bastante para fazer o que quiser. Em último caso, partirei para cima da família do Senador.”
É importante que fique esclarecido, porque considero, mesmo, reles e baixo que o Presidente da República se dê a esse desplante. Considero lamentável que um Partido possa levar o antagonismo político a esse nível, coisa que não faria jamais.
Sobretudo, deve ficar bem claro que nesse ponto - e tenho até que trocar de gênero - não serei um leão, mas uma leoa, para defender a minha prole, os meus filhos. É impossível alguém fazer mal a um filho meu impunemente se eu souber de quem se trata, seja quem for! É impossível alguém fazer mal a um filho meu impunemente, seja quem for! É impossível alguém fazer mal a um filho meu impunemente, seja quem for! Direta ou indiretamente, mandado ou mandante. Portanto, quero um esclarecimento. É o Ministro Márcio Thomaz Bastos que vai me dar um esclarecimento. Espero que sejam convincentes. Quero ver esse biltre preso para que possa acarear-se comigo.
Muito obrigado.
Era o que eu tinha a dizer.