Discurso durante a 194ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cumprimentos ao presidente Lula pela decisão de participar do programa "Roda Viva", na próxima segunda-feira.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.:
  • Cumprimentos ao presidente Lula pela decisão de participar do programa "Roda Viva", na próxima segunda-feira.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/2005 - Página 38103
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • LEITURA, MENSAGEM (MSG), AUTORIA, ORADOR, DESTINATARIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, ANUNCIO, PARTICIPAÇÃO, PROGRAMA, TELEVISÃO, IMPORTANCIA, ESCLARECIMENTOS, POPULAÇÃO.
  • DEFESA, NECESSIDADE, ENTREVISTA, IMPRENSA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MELHORIA, RELACIONAMENTO, JORNALISTA.
  • COMENTARIO, VISITA, BRASIL, GEORGE BUSH, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), IMPORTANCIA, MANIFESTAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, DIVERGENCIA, POLITICA EXTERNA, GOVERNO ESTRANGEIRO, GUERRA, ORIENTE MEDIO, DEFESA, PRIORIDADE, INTEGRAÇÃO, ECONOMIA, AMERICA DO SUL, OPOSIÇÃO, AREA DE LIVRE COMERCIO DAS AMERICAS (ALCA).

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador João Alberto, Srªs e Srs. Senadores, considero positiva a decisão do Presidente Lula em participar do “Programa Roda Viva, edição nº 1000”, que irá ao ar na próxima segunda-feira. Por isso, encaminhei a Sua Excelência a seguinte mensagem:

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

Desejo parabenizá-lo pela decisão de participar da edição de número mil do programa Roda Viva. O diálogo freqüente com a imprensa é uma forma democrática de garantir a transparência da gestão e esclarecer as posições adotadas pelo Governo. Acredito que nessa oportunidade poderá apresentar um balanço de suas realizações expondo a maneira como pretende alcançar os objetivos e metas que foram objetos de compromisso de campanha.

A disposição de V. Exa. em dar uma entrevista nos moldes do Programa Roda Viva constitui uma ação consistente com o seu propósito de contribuir para que a verdade completa sobre os fatos que preocupam a nação venha à tona. (sic)

O abraço amigo.

Senador Eduardo Matarazzo Suplicy.

Sr. Presidente, por diversas vezes tenho instado o Presidente Lula a dar mais entrevistas coletivas à imprensa. Pensando em um diálogo mais freqüente, sugeri a Sua Excelência uma visita ao Congresso Nacional com a finalidade de dialogar com os Senadores e Deputados, porque tenho notado que a imprensa se queixa da escassez de entrevistas dadas pelo Presidente Lula.

É normal, em um regime presidencialista, que o Presidente conceda entrevistas coletivas freqüentemente aos jornalistas, mas isso nem sempre tem ocorrido. A imprensa registrou que a última, e quase a primeira entrevista coletiva, aconteceu no último 26 de abril. Desde então, não houve mais entrevistas. De quando em quando percebemos certos entreveros, inclusive em situações em que o Presidente não se sente confortável, tendo em vista a insistência de alguns jornalistas em fazerem as mesmas perguntas. Anteontem, por exemplo, após uma cerimônia de caráter internacional, o Presidente, ao se encontrar com os jornalistas, que insistiam em fazer-lhe perguntas sobre o episódio relativo à eventual doação que pudesse ter sido feita por país ou organização estrangeira ao PT, o Presidente chamou os jornalistas de mal-educados porque tinham levantado a voz. Ora, se houvesse a disposição freqüente e organizada do Presidente de dialogar com a imprensa, situações como esta, provavelmente, não ocorreriam.

Certamente, o Programa Roda Viva, atualmente coordenado pelo jornalista Paulo Markun, é um dos melhores programas de entrevistas da televisão brasileira. Para o milionésimo programa, segundo informa a Rádio e TV Cultura, os jornalistas convidados para entrevistar o Presidente serão aqueles que já foram âncoras do programa ou coordenadores das entrevistas, como hoje o é Paulo Markun. Estarão lá, entre outros, Rodolfo Gamberini, Augusto Nunes, Roseli Tardelli, que certamente farão perguntas as mais pertinentes, que serão objetos de esclarecimento para o Presidente.

Saúdo a Rádio e TV Cultura pela excelência do Programa Roda Viva e, sobretudo, pelo fato de terem convidado, insistentemente, o Presidente da República e por não ter havido, segundo informou o próprio jornalista Paulo Markun, qualquer exigência de parte a parte. O programa será realizado no Palácio do Planalto, diferentemente do que normalmente é feito, no estúdio da RTC, mas ocorrerá sem qualquer tipo de limitação, Senador Mão Santa, para os jornalistas.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Suplicy.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com muita honra, concedo o aparte a V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Eduardo Suplicy, sem dúvida nenhuma, V. Exª é Senador não só do Brasil, mas do mundo. Com muito orgulho, participei da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional quando V. Exª a presidiu. Então, quero aproveitar a oportunidade... Atentai bem. Olhai para cá, é mais importante do que o jornal...

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Claro.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Eu já vivi, fui prefeitinho e governei o Estado do Piauí, aconselhado por Alberto Silva. Então, quero dizer o seguinte - sou médico e posso falar de profilaxia - esse encontro com Bush, oriente lá, V. Exª que é mais preparado que o Lula, que é mais entendido das coisas. Olhai a posição - eu sei que o Bush é o Presidente - mas, para o mundo, Presidente João Alberto Souza, ele não significa um Bill Clinton. Todo mundo viu que o Bill Clinton, Senadora Heloísa Helena, acabou com as guerras da Bósnia, da Croácia, da Sérvia, da Irlanda do Norte, que era secular. Ele fez Rabin beijar o Arafat. Quer dizer, foi um homem... Saiu uma pesquisa agora, Senador Eduardo Suplicy - atentai bem -, dizendo o seguinte: se o mundo tivesse um presidente, Mandela, Senadora Heloísa Helena, seria o primeiro; o segundo, Bill Clinton. Então, que o Presidente Lula seja orientado por V. Exª, que tenha cautela nesse relacionamento com Bush, que não significa a paz mundial, mas a guerra, a atrocidade, daí as manifestações no mundo. Basta dizer que, na Argentina de Perón, de Eva Perón, o maior ídolo, que é o Maradona, está liderando as manifestações de repúdio à presença do Presidente americano. Então, foi um erro o relacionamento do nosso Presidente com o jornalista. Caberia ao Presidente da República o que o Presidente Sarney ensinou: “liturgia do cargo”. Foi o que aprendi com o Senador Alberto Silva: tem de ter a liturgia. Aquilo é clássico: ele convoca; o erro foi do Lula. Se eles aumentaram a voz, foi porque, há três anos, os jornalistas não merecem uma audiência com o Presidente da República. Esse é um fato que nos entristece.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Mas é exatamente porque o Presidente resolveu aceitar...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Mas isso já passou, ninguém vai chorar o leite derramado. No entanto, advirto V. Exª, que presidiu a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional deste Senado Federal, do comportamento de nosso Presidente com o Bush.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Pois bem.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Porque o Bush não significa a imagem de Bill Clinton, de Jimmy Carter, de paz, de pacificação, não. Então, o encontro de Bush com o Papa João Paulo II foi uma das coisas mais belas do mundo, que aviva a mente de todos.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Agradeço V. Exª pelo aparte, Senador Mão Santa. Quero dizer que, justamente pelo fato de o Presidente Lula ter aceitado realizar uma entrevista coletiva com jornalistas do Roda Viva é que quero enaltecê-lo.

V. Exª faz, justamente, referência ao Presidente Bush, que é o próximo tema que gostaria de tratar. Avalio muito importante o encontro que o Presidente George Walker Bush realizará na Cúpula das Américas, em Mar Del Plata, onde deverá se defrontar com protestos como o liderado pelo jogador Maradona. Acho-o importante.

Quero informar, Senador Mão Santa, que recebi o Cônsul-Geral e o Cônsul Político dos Estados Unidos na última segunda-feira, em São Paulo, porque gostariam ambos de dialogar comigo a propósito da visita do Presidente Bush. Considero muito importante, primeiro, que possamos ter relações de amizade com o povo norte-americano, com os Estados Unidos da América, e relações muito francas e sinceras com o Presidente daquele país, que, obviamente, precisamos respeitar por ter sido eleito diretamente pelo povo, ainda que tenha ocorrido ali problema por ocasião da primeira eleição, na Flórida.

Mas, nesta segunda oportunidade, o que é importante transmitir com sinceridade e franqueza são as nossas divergências. O Presidente Lula, por exemplo, com o respaldo de todos nós aqui no Congresso, não concordou com a ação bélica do Governo dos Estados Unidos para derrubar o Presidente Saddam Hussein. Seria preferível um caminho para uma transformação pacífica em direção à democracia no Iraque e nunca da maneira como aconteceu. Essa situação já custou a morte, até hoje, de mais de 26 mil iraquianos e de mais de dois mil norte-americanos. Tudo isso depois daquilo que foi chamado de o fim da guerra, porque continua existindo lá um estado de rebelião.

Acho que é importante também que o nosso Presidente Lula externe sua visão sobre a importância de darmos prioridade à integração econômica da América do Sul, em vez de aceitarmos aquilo que o Presidente Bush tem colocado, ou seja, de, prontamente, instituirmos a Área de Livre Comércio das Américas, ainda mais sob o ponto de vista dos proprietários do capital e não do ponto de vista dos seres humanos. É muito importante que os Chefes de Estado dos demais países das Américas digam ao Presidente dos Estados Unidos que, se for para haver uma real integração de nossas economias, que isso ocorra do ponto de vista da liberdade dos seres humanos e não apenas da liberdade de movimento dos capitais e dos bens de serviço.

Recomendei ao Presidente Bush, junto ao cônsul, que possa ele inclusive ter um diálogo franco com o jogador Maradona, quem sabe, na presença do Presidente Lula, do Presidente Chávez, para ouvir de Maradona também quais são as críticas que muitos na América Latina têm com respeito a certas ações do Presidente Bush, que, conforme o Senador Mão Santa salientou, não tem sido tão aceitas porque somos nós um povo muito mais amante da paz do que dos meios bélicos.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/11/2005 - Página 38103