Discurso durante a 195ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a baixa execução orçamentária. Visita do presidente George W. Bush ao Brasil.

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ORÇAMENTO. POLITICA EXTERNA.:
  • Preocupação com a baixa execução orçamentária. Visita do presidente George W. Bush ao Brasil.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 05/11/2005 - Página 38178
Assunto
Outros > ORÇAMENTO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • APREENSÃO, DEMORA, EXECUÇÃO ORÇAMENTARIA, ACUSAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, FALTA, RESPONSABILIDADE, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, CRITICA, CONGRESSO NACIONAL, INEFICACIA, FISCALIZAÇÃO.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), PATROCINIO, GUERRA, OBJETIVO, INTERESSE ECONOMICO, REPUDIO, VISITA, BRASIL.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, NOTA OFICIAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE (PSOL), PROTESTO, VISITA, BRASIL, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).

           A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, primeiramente, da mesma forma como fiz ontem em relação à área da saúde e da educação, quero compartilhar as preocupações em relação ao contingenciamento, à não-execução orçamentária, a essa irresponsabilidade administrativa, porque, além de covardia e uma atitude reacionária do ponto de vista econômico, é uma irresponsabilidade administrativa muito grande o que o Governo faz, esperando para liberar recursos apenas no final do ano. Isso é uma irresponsabilidade administrativa. Como gestor público, é inominável esse tipo de comportamento. Agora, faz porque confia na mediocridade do Congresso Nacional, que não fiscaliza, que não estabelece os mecanismos de controle, que não obstaculiza a irresponsabilidade econômica, fiscal e administrativa do Governo. Então, o Governo acaba confiando nesta mediocridade em que se transformou o Congresso Nacional: em uma base de bajulação.

           Sr. Presidente, Srs. Senadores, ontem, não tive a oportunidade de falar sobre isso, porque estava falando da execução orçamentária da saúde e da educação, especialmente. E vou voltar ao tema da segurança pública, da assistência social e a outros temas relevantes para a administração pública. Mas eu não poderia deixar de falar um pouco, tal qual o Senador Tião Viana fez - e certamente vou fazê-lo com uma adjetivação um pouco maior -, da visita do Presidente dos Estados Unidos, George Bush. Aliás, 55% do povo americano estão dizendo: “Fora, Bush!”, também pedindo o impeachment do Presidente. Daqui a pouco, vou ler a nota feita pela direção do Partido Socialismo e Liberdade e por todos os Parlamentares da Câmara e do Senado. Mas eu não poderia deixar de fazer algumas considerações sobre a visita do Presidente, que, de fato, é o capo di capi, é o chefe dos chefes, o chefe sanguinário do neoliberalismo, que, infelizmente, ousa controlar territórios inteiros pela força e pela corrupção; aniquila os direitos e garantias individuais e, pela guerra, impõe submissão e vassalagem de povos e nações inteiras.

           É um Presidente da República que ousa dinamizar a economia americana à custa do patrocínio de guerras, escolhendo americanos pobres para patrocinarem a morte e a destruição de outros povos pobres num cenário absolutamente perverso de mulheres estupradas, crianças fuziladas e dignidades destruídas.

           É sempre um debate muito interessante de ser feito; doloroso, é verdade, cruel, é verdade, mas é sempre um debate necessário de ser feito. Essa associação criminosa, delinqüencial, que tem como capo di capi o Presidente americano, esse chefe sanguinário do neoliberalismo que sai por aí destruindo nações inteiras, destruindo pobres, patrocinando guerras, dinamizando a economia americana. Aliás, fazendo um rápido aparte, quero ver se quem estava à frente da campanha do “Sim” estará lá protestando contra o Bush, porque o grande produtor de armas do mundo é o Presidente americano. Espero que todos aqueles que não estavam à frente do “Sim” por demagogia - não estou falando das mães, porque as mães e os pais estavam lá de bom coração, não estavam pela demagogia politiqueira -, do mesmo jeito que muitos dos nossos militantes do P-SOL que estavam à frente do “Sim” e à frente do “Não”, estejam protestando no Brasil inteiro contra o senhor das guerras chamado George Bush. Ele, de fato, hoje chefia uma sociedade secreta. Não uma sociedade secreta com hierarquia entre os membros, com rito de iniciação, que no filme “O Poderoso Chefão” fica até muito bonito e muito interessante. Estamos falando de outra associação criminosa pelo sangue, porque o ingresso na máfia se dá pelo sangue; o sangue do dedo indicador da mão direita, mas, no caso, a iniciação dessa máfia que tem como chefe maior o Sr. George Bush é pelo sangue das vítimas da pobreza e do neoliberalismo - também patrocinado por ele - e das vítimas das guerras infames, também patrocinadas pelos Estados Unidos, por meio do seu Presidente, em função de interesses econômicos e interesses geopolíticos.Essa é a questão.

           Ele patrocina guerra na disputa pela água. Imaginem o que pode fazer em relação à nossa Amazônia, já que o próprio pai dele e outros chefes importantes do parlamento europeu e do parlamento americano ousam falar de soberania limitada e administração compartilhada da Amazônia!!! Não é à toa que 99% dos investimentos da Amazônia não se dão pelos cofres públicos brasileiros, mas pelas instituições de financiamento multilaterais, para que, depois, possam dizer: soberania limitada e administração compartilhada da Amazônia são absolutamente naturais, até porque eles nunca nada investiram, degradaram e é o dinheiro americano que está lá patrocinando os investimentos.

           Além dessa associação criminosa, delinqüencial, acaba se tornando também a divindade do mal, porque é um Presidente da República que patrocina a destruição de nações inteiras, dinamiza a economia, jogando negros pobres americanos para destruir pobres de outras nações, e ele ainda faz em nome de Deus - porque realmente o demônio acredita em Deus; o demônio acredita em Deus! É a mesma coisa. É a divindade do mal, o chefão, o capo di capi, o chefe dos chefes, o chefe sanguinário do neoliberalismo e do patrocínio das guerras, que vai ser recebido, amanhã, em churrasco com o Presidente da República. Isso é duro de agüentar!

           Relações políticas, relações econômicas - não relações de vassalagem como o Brasil tem, assim como o Governo Lula, repetindo o Governo Fernando Henrique -, relações políticas e econômicas, à luz da soberania nacional e da autodeterminação dos povos, pode haver. Agora, churrasco, esse negócio bem de coleguinha, é muito feio o Brasil patrocinar uma vergonha dessa, um vexame desse, com esse chefão de uma associação de criminosa!

           O pior é que, em muitos momentos, eles conseguem enganar o povo americano e as nações do mundo inteiro. Depois do 11 de Setembro, quando ocorreu aquele fato gravíssimo - aliás, sempre foi da tradição da esquerda socialista, de inspiração trostskista, condenar o terrorismo individual porque ele não leva à organização da classe ou à organização social e acaba patrocinando a dor e o sofrimento também dos pobres da classe trabalhadora -, eles mentem dizendo que combatem o terrorismo, promovendo, na verdade, o terrorismo de Estado, e o narcotráfico. Nada existe de mais cínico, de mais cínico por parte do Presidente George Bush do que dizer que invadiu o Afeganistão para combater o narcotráfico e o terrorismo. Ora, o Golden Crescent, o Crescente Dourado, aquela imensa montanha que produz 30% do ópio do mundo, está no Afeganistão. Não caiu um pé de papoula. Não derrubaram um único pé de papoula. Destruíram o Afeganistão inteiro, destruíram o seu povo e não derrubaram um único pé de papoula no local onde se produzem 30% do ópio do mundo. De onde vêm os 30% dos recursos dessa nuvem financeira de capital volátil que paira sobre o planeta terra, sendo protegida pelos interesses econômicos americanos, que destrói os pobres, os jovens, a juventude dos morros, os angolanos? Vêm justamente da lavagem do dinheiro sujo do narcotráfico.

           Por isso, fica muito difícil para quem ama esta Pátria, o Brasil, aceitar de forma cândida e serena a visita e o churrasco patrocinado pelo Presidente da República ao Presidente dos Estados Unidos, George Bush.

           Ouço o aparte do Senador Pedro Simon.

           O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Parece-me que V. Exª está na dúvida sobre se deve ou não me conceder o aparte.

           A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Eu não sabia se V. Exª estava pedindo, meu amor! V. Exª sabe do amor e do carinho que lhe tenho.

           O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - O importante, Senadora, é que o Afeganistão não foge do que aconteceu no Vietnã e no Iraque.

           A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Com certeza.

           O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Hoje, o povo americano está vivendo um momento muito importante em suas vidas. Independente de tudo o que imaginamos, o povo americano tem uma série de princípios que eu admiro. Um deles é o de imaginarem que cultuam a verdade. E cobram a verdade. E, de repente, não mais do que de repente, eles ficam sabendo que tudo o que aconteceu no Vietnã foi mentira; foi uma guerra onde morreram 50 milhões de americanos por causa de uma falsidade, porque os americanos queriam estar ali, ao lado da China e perto da Rússia, para, junto com o Japão, poderem controlar aquela região. Quem está dizendo isso é a CIA, são os relatórios deles. O governo, internamente, está botando isso pra fora, como está botando para fora que no Iraque foi mentira. Eles mentiram! O argumento de que Saddam estava fazendo armas de destruição em massa era mentira; eles sabiam que não estava. O diplomata brasileiro que estava lá e queria fazer uma investigação pela ONU - que eles não deixaram -, está provado que ele estava certo. O doloroso, nisso, é que no Afeganistão, no Vietnã e no Iraque, como foi, no passado, no Brasil, na Argentina, no Uruguai e no Chile, na época dura da ditadura, com o apoio deles, o que vale é o interesse deles; o resto não importa.

           A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Agradeço o brilhante aparte de V. Exª, Senador Pedro Simon. Sem dúvida, é algo inimaginável. Estamos no ano 2005. É claro que, muito tempo atrás, os principais militantes da esquerda socialista democrática, ao observar e estudar o imperialismo, já diziam que tinha de haver guerra. Com a superacumulação do capital e o imperialismo, tem de ter guerra. Por isso, eles patrocinam as mais diversas formas de guerra.

           Agora, queria ver onde estão aqueles que usam tanto o Muro de Berlim para desmontar, para desmerecer a concepção do socialismo. Eu, pelo menos, nunca fui herdeira do socialismo totalitário e intolerante do Leste Europeu. Muito pelo contrário. Mas, onde estão as pessoas que se reivindicam cínicas enamoradas da terceira via ou do capitalismo moderno, menos violento? Deveriam estar protestando contra o Bush! Do mesmo jeito que foi importante destruir o Muro de Berlim, tem de ser importante destruir o muro de concreto na travessia México/Estados Unidos, que a esquerda socialista denunciou ao longo da História. No entanto, foi necessária a sensibilidade da Glória Perez para o Brasil entender que existe um muro na travessia México/Estados Unidos, invadindo um oceano, onde se mata com fuzis, com choques elétricos, onde se mata de frio e das formas mais perversas.

           Então, precisamos derrubar o muro da travessia México/Estados Unidos! Do mesmo jeito que alguns guardaram os caquinhos do Muro de Berlim como lembranças, vamos todos lá! Onde estão os reacionários? Vamos todos lá! Foi importantíssimo derrubar o Muro de Berlim? Foi. É essencial cobrar do capo di capi, chefe sanguinário do neoliberalismo, chamado George Bush, que derrube o muro de concreto que mata os pobres oprimidos que tentam ousar pensar em entrar na terra da liberdade. É preciso derrubar esse muro também!

           E é preciso derrubar os outros muros, sofisticados, cínicos, dissimulados, quando vêm do Presidente Lula e da cúpula palaciana do PT, e absolutamente reacionários e conservadores quando instigados pela outra direita. Agora, há uma direita cínica, representada pela cúpula palaciana do PT e pelo Governo Lula; e outra direita carcomida, reacionária, cujos integrantes, muitos deles, inclusive, estão na Oposição.

           Assim sendo, Sr. Presidente Luiz Otávio, peço que dê como lida a nota do P-SOL:

           Fora Bush! Persona non grata!

           Protestamos veementemente contra a vinda de George W. Bush ao Brasil!

           Protestamos porque não queremos em nosso país o senhor das guerras, do imperialismo genocida, das ocupações sangrentas, da opressão aos povos.

           E várias questões mais são levantadas. Em função do tempo, para não criar problemas para outros oradores, peço seja dada como lida.

           Dizer “Fora, Bush!” - que hoje é o sentimento inclusive do povo americano - significa dizer: eu amo o meu país, eu amo o Brasil. E o Brasil tem de reafirmar o seu compromisso com um mundo mais justo e solidário, com a autodeterminação dos povos e com o combate à miséria e ao neoliberalismo, seja no Brasil, pela covardia dos governos, seja em escala mundial.

           É só, Sr. Presidente.

 

           ******************************************************************************

           DOCUMENTO A QUE SE REFERE A SENADORA HELOÍSA HELENA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

           (Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno)

           ******************************************************************************

           Matéria referida:

           “Fora Bush! Persona Non Grata!”

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/11/2005 - Página 38178