Discurso durante a 195ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Importância da presença do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Questionamentos a respeito da visita do presidente George W. Bush ao Brasil.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA EXTERNA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Importância da presença do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Questionamentos a respeito da visita do presidente George W. Bush ao Brasil.
Aparteantes
Alberto Silva, Íris de Araújo.
Publicação
Publicação no DSF de 05/11/2005 - Página 38195
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA EXTERNA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • COMENTARIO, DISCURSO, HELOISA HELENA, SENADOR, CRITICA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), POSSIBILIDADE, PREJUIZO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • SOLICITAÇÃO, ATENÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REIVINDICAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, BRASIL, PRESIDENCIA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA (FAO), BANCO MUNDIAL, COMENTARIO, INSUCESSO, TENTATIVA, REPRESENTAÇÃO, CONSELHO DE SEGURANÇA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU).
  • REGISTRO, IMPRENSA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COBRANÇA, IMPEACHMENT, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, EFEITO, FALTA, VERACIDADE, INFORMAÇÃO, EXISTENCIA, ARMAMENTO, PAISES ARABES.
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, UTILIZAÇÃO, PERCENTAGEM, RECURSOS, PAGAMENTO, JUROS, DIVIDA EXTERNA, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, INFRAESTRUTURA.
  • REGISTRO, CONCLUSÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), VINCULAÇÃO, BANCO DO BRASIL, PAGAMENTO, PROPINA, CONGRESSISTA.
  • CONCLAMAÇÃO, POPULAÇÃO, CONGRESSISTA, COBRANÇA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), REDUÇÃO, JUROS, DIVIDA EXTERNA.

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com muita alegria penso nisso.

           Como candidata à Presidência da República, V. Exª tem que ter outro comportamento. Não que o comportamento de V. Exª não seja excepcional. É, e eu reconheço. Mas a estou prevenindo porque já estou vendo, pela minha idade e pela minha experiência, que vão querer utilizar suas ações contra V. Exª na sua campanha. E V. Exª tem que estar preparada para evitar que essas coisas aconteçam. Inclusive, usar a camiseta contra o Bush, como Senadora, tudo bem. Mas que fique claro que a Senadora Heloísa Helena, eleita à Presidência da República, vai tratar com o maior respeito quem for o Presidente dos Estados Unidos, porque, como Presidente do Brasil, entende que é muito importante ter uma relação elevada com aquele país.

           Que, de certa forma, justiça seja feita, o atual Itamaraty está tendo um comportamento respeitável. Não digo o Governo, mas digo o Ministro das Relações Exteriores.

           Mas volto a esta tribuna por um desencargo de consciência. Não sei se vale à pena voltar, se eu não deveria ter ido para Porto Alegre, se alguém vai dar bola para o que vou falar, mas, meu amigo Lula, você não pode perder a oportunidade de, amanhã, no churrasco, conversar com o Presidente Bush. Não caia na infantilidade de insistir na importância de o Brasil fazer parte do Conselho de Segurança: “Olha, Presidente Bush, contamos com o seu voto”. Já perdemos o voto da Argentina, já perdemos o voto do Chile, já perdemos o voto da América Latina. Não sei se é importante - pode até ser -, mas para o Brasil seria mais importante se estivéssemos na presidência da FAO, se estivéssemos na presidência do Banco Mundial. Pretendíamos emplacá-la e não conseguimos. Nem a presidência do Banco Interamericano. Achávamos que seria nossa, mas na hora não conseguimos.

           Seria importante se a CNBB, se a OAB, se o Congresso e os partidos de Oposição fizessem chegar ao Presidente Bush esta mensagem: o Brasil, no mundo, é o País mais cruelmente tratado, mais injustiçado, mais violentado em sua economia; é aquele que paga os juros mais altos com relação à sua dívida. Nunca houve um país que pagou taxas de juros tão elevadas como as que o Brasil está pagando ao Banco Mundial. O Brasil paga taxas de juros ao Banco Mundial que equivalem a mais do que o dobro do que paga o país que está em segundo lugar. O segundo país em pagamentos percentuais de juros paga menos da metade do que paga o Brasil. Por quê? Não sei. Qual é a razão? Não sei. Fixam taxas porque o Brasil é um país perigoso, porque investir no Brasil é duvidoso. Fixam fórmulas por meio das quais o Japão não paga nada de juros, a Europa não paga nada, e o Brasil paga uma taxa que é um escândalo!

           Nós verificamos coisas estranhas. Guaribas tem fome. Mais de duas mil crianças estão há dez meses sem merenda escolar. A campanha de Lula de combate à fome escolheu como primeira cidade a ser atendida, como cidade prioritária, como cidade padrão, Guaribas. Está aqui no jornal: fome, miséria e crianças sem nada, sequer a merenda!

           Este é o Brasil. E amanhã Lula vai falar com o Presidente Bush no pior momento político do Presidente americano, desde que foi eleito numa eleição fraudulenta - parece mentira, mas isso aconteceu nos Estados Unidos -, quando na revisão de votos o candidato democrata estava em véspera de ganhar, a Suprema Corte suspendeu a recontagem e deu ganho ao Sr. Bush. Foi reeleito não por causa da sua capacidade - que ele tem -, mas por causa da infantilidade do candidato democrata na hora do debate.

           Nos Estados Unidos, não há programa de televisão “colorido”, não há os Dudas Mendonças, que preparam os candidatos e formam a personalidade deles. Lá, o programa é ao vivo.

           Enquanto o Bush disse o que pensava, dura e asperamente, Deus o enviou - ele fala com Deus! - e lhe disse: “Nós temos de terminar com os agentes do mal: a Síria, o Irã, o Iraque; temos de acabar com esses agentes do mal. Vou invadir o Iraque para terminar com o demônio que lá está!”.

           Enquanto o Bush falava claramente que era contra o aborto e tudo o mais, enquanto todas as pesquisas diziam que o Bush estava no chão, que já estava derrotado, o candidato democrata pensou: “Estou bem com as pesquisas, estou bem com todo mundo”. “O que o senhor acha da intervenção no Iraque?” “Pois é, não sei, vou ver, vou pensar”. “O que o senhor acha do aborto?” “Pois é, não sei, depende, vou ver, vou pensar”. Ele foi tão infeliz, foi tão irresponsável que irritou o povo americano, que pensou: “Prefiro esse Bush, que diz o que pensa agora, do que o outro, que não diz agora o que ele pode fazer depois”. Por isso, ele ganhou.

           Mas, hoje, ele está no chão. Anteontem, 55% das pesquisas falaram em impeachment do Presidente Bush, porque ele mentiu. E algo sério para o povo americano é o Presidente mentir à nação.

           O Nixon renunciou porque mentiu, quando disse que a escuta feita no Partido Democrático, no caso Watergate, não era do seu conhecimento e não tinha sido encomendada por ele. Mas ele sabia. Quando ficou provado que ele sabia, ele renunciou, para não ser cassado.

           Agora, a CIA está mostrando que os americanos sabiam que o Saddam não tinha nada de armas de destruição em massa. O embaixador brasileiro dizia que não havia nada, que deixassem a ONU provar isso, e a ONU provaria. O americano fez esse diplomata ser demitido da entidade que cuidava da proliferação de armas de destruição em massa. Ele foi demitido, e a ONU foi desmoralizada.

           O Conselho da ONU disse: “Não é para intervir”. França e Alemanha disseram: “Não é para intervir”. E ele interveio. Agora, a CIA está mostrando que o documento era mentiroso, que era falso, que o americano já sabia que não havia armamentos de destruição em massa no Iraque. Usaram aquilo para tentar destruir - como destruíram - o Iraque.

           A imprensa americana está exigindo o impeachment do Sr. Bush, porque ele mentiu à nação e a levou a uma guerra destrutiva como essa, sem razão de ser.

           Essa notícia está aparecendo juntamente com outra, que veio com 50 anos de atraso: a intervenção americana no Vietnã foi mentirosa. Não houve os fatos que determinaram o americano intervir no Vietnã. O que diz a CIA, por intermédio de documentos secretíssimos daquela época, publicados agora, é que o americano interveio porque precisava ter, ali, no Vietnã, forças para cuidarem, de um lado, da China; de outro, da União Soviética e, ainda, proteger o Japão.

           Essas duas notícias estão causando os reflexos de um furacão nos Estados Unidos, e o Bush está vivendo, repito, a sua crise maior na Presidência da República.

           O Presidente Lula disse, de uma maneira imprópria, de uma maneira infeliz, “que os brasileiros devem deixar o pessimismo no banheiro e sair à rua com otimismo”. Digo que, no domingo, Sua Excelência deve ser realmente muito otimista, firme, enérgico. Que peça um estudo à área econômica e mostre que estamos pagando tantos bilhões de dólares em dívidas de juros. Não queremos moratória; não queremos fazer como a Argentina, que não pagou e não aconteceu nada com ela. O país está vivendo muito bem, obrigado!

           Queremos um diálogo, queremos mostrar a situação de miséria e de fome do nosso povo e queremos que, dessa importância fantástica de mais de cem bilhões que enviamos de juros - só de juros, sem tocar no principal -, um terço dessa quantia, que é cerca de 50 bilhões, durante 10 anos, seja aplicada, com a fiscalização da ONU, com a fiscalização da FAO, com a fiscalização do Banco Mundial ou de quem quiser, no combate à fome e no desenvolvimento da educação e da infra-estrutura.

           Sr. Presidente, creio que um projeto como esse, uma proposta como essa, que leva em conta o pensamento do Brasil inteiro, é importante. Essa proposta não é nova, porque o próprio Presidente Lula, na ONU, no ano passado, falou sobre ela. O próprio Papa João Paulo II falou dela quando se dirigiu à ONU, que dever-se-ia conceder um empréstimo às nações para que elas combatessem a fome e a miséria. O próprio Presidente do Tesouro americano disse que seria justo e compreensível que uma parte desses juros - que o Brasil tem pago com tanta fidelidade - fosse destinada a equacionar o problema social. O próprio Presidente do Banco Mundial fez essa afirmativa.

           É muito importante para nós fazer parte do Conselho de Segurança da ONU, porque, no Conselho de Segurança, tem de haver países como o Brasil, como a China, como a Índia; países que são importantes e que não se justifica que não façam parte. Tudo bem! Mas um Brasil passando fome, um Brasil com uma miséria como essa! Se nos derem esses 60 bilhões por ano para serem aplicados, daqui a 10 anos nossa economia estará tão forte e tão pujante que provavelmente entraremos naturalmente para o Conselho da ONU.

           A Srª Iris de Araújo (PMDB - GO) - V. Exª me permite um aparte?

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com o maior prazer, Senadora.

           A Srª Iris de Araújo (PMDB - GO) - Senador Pedro Simon, tenho uma convivência com V. Exª de longa data dentro do PMDB. Cada vez que V. Exª assoma a esta tribuna - e não apenas no plenário do Senado -, a sua presença tem um significado muito grande para este País, principalmente neste momento tão conturbado, em que temos tanta carência de lideranças fortes, capazes de nos indicar um rumo. Sinto-me até intimidada, Senador, aqui, deste meu lugar, sentada, ouvindo V. Exª; não só agora, mas durante esses anos todos, em que aprendi, na nossa militância, a admirá-lo pelo seu posicionamento. Cada vez que V. Exª assoma a esta tribuna para expor idéias, pensamentos tão pertinentes, tão importantes, o momento é muito importante. E, hoje, nesta manhã de sexta-feira, as colocações de V. Exª, de uma certa forma, me remeteram, em devaneio, a uma outra época e me lembrei de uma outra figura que conseguia, ao assomar à tribuna, parar praticamente todos os movimentos dentro deste plenário, que foi o Senador Brossard. V. Exª hoje tem um significado muito forte neste País. É uma referência nacional que devemos respeitar e enaltecer. Não faço aqui nenhum jogo de rasga seda, apenas gostaria de, neste momento, prestar a V. Exª - não só pelo que diz hoje, mas em todos os seus pronunciamentos - a homenagem que merece. Muito obrigada.

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço o carinho e o afeto de V. Exª, que ditaram a gentileza de seu aparte.

           Penso que, realmente, existem momentos em que não podemos nos deixar levar pela paixão, que nos conduz a um lado só. Agora, estamos vivendo isso. A manchete do Correio Braziliense - que é de uma capacidade e de uma competência muito grande, principalmente em suas manchetes - de ontem... Quando fui tomar café, olhei e me assustei. A manchete era esta: “Os americanos estão chegando”. Eu disse: Meu Deus, será que eles estão invadindo e eu não sei de nada? Quer dizer, a primeira reação foi essa. Depois, eu me acalmei. É o Presidente que está chegando.

           Hoje, a manchete do Correio Braziliense diz isto: “Olha só quem pagou o mensalão: o BB”. Essa é a manchete que deve estar empolgando o Brasil hoje. O Relator da CPMI dos Correios conseguiu um fato extraordinário: mostrar - como falei desta tribuna ontem - que o Banco do Brasil, ninguém mais do que o Banco do Brasil, é a primeira fonte provada do mensalão. Inclusive, para propaganda não feita, mas prevista de ser feita, o Banco do Brasil, algo que nunca fez na vida dele, adiantou dinheiro ao cidadão para o cidadão dar para o PT. A primeira fonte de financiamento se chama Banco do Brasil - e o diretor do PT que agora está gozando os capitais de férias.

           Esta é a manchete de hoje. A manchete de amanhã será: “Fora, Bush”, que acho normal. Na Argentina, já apareceram milhares de “Fora, Bush”. Acho normal. A convite meu, o Bush não viria ao Brasil, não tem motivo. Mas, devemos reconhecer que nem ele vem porque quer, nem o Presidente Lula o convidou. Ele veio participar, na Organização dos Estados Americanos, de uma reunião da Cúpula das Américas na Argentina, em Mar Del Plata, e não quis criar um caso de diplomacia - visitar a Argentina e não passar pelo Brasil. Ele, que ainda não veio ao Brasil nenhuma vez, desde o seu primeiro mandato, resolveu chegar aqui sábado à noite. E vai parar Brasília sábado à noite. O hotel vai ficar fechado sábado à noite, o espaço aéreo... Eu, por exemplo, vou amanhã de manhã para Porto Alegre, porque, se não for, estou liquidado. O espaço aéreo de Brasília estará fechado, para ele dormir no hotel e, no outro dia, comer um churrasco. Sai do churrasco, pega o avião e vai embora.

           Acho que o que temos de fazer é cobrar do Presidente Bush uma posição em termos de suavizar a dívida externa brasileira. Sei que a TV Senado é assistida por milhares e milhares de brasileiros. Enviem uma correspondência para o Presidente do Brasil, mandem uma correspondência ao Palácio do Planalto. Mandem individualmente. Os Deputados Estaduais e Federais, empresários, estudantes, jovens, mandem, para que tenha um mar de mensagens entre hoje e domingo no Palácio do Planalto, pedindo ao Presidente Lula: cobre do Presidente Bush um corte no pagamento dos juros, para ser aplicado na miséria do povo brasileiro.

           Acho que, se fizéssemos isso, se a CNBB pedisse para que suas entidades fizessem isso, se a CUT, os cidadãos e a OAB fizessem isso, se houvesse um mar de manifestação, teria um peso muito importante. Seria amanhã e domingo aqui no Palácio, mas repercutiria no mundo inteiro. Repercutiria no Congresso do Brasil, na Assembléia Geral das Nações Unidas, onde, dentro em pouco, Lula falará em nome do Brasil. Acho que causaria uma repercussão muito importante se parássemos um pouco de olhar para os graves problemas que estamos vivendo e olhássemos um pouco para o maior de todos os problemas, que é a nossa dívida externa.

           O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, eu estava ouvindo V. Exª do meu gabinete e vim até aqui para me solidarizar com V. Exª pelo discurso que faz na manhã de hoje, principalmente neste momento em que V. Exª faz a sugestão muito oportuna para que todos nós, todos os que podemos falar em nome do Parlamento e do Brasil, como as associações e a CNBB, mandemos uma mensagem para realmente sairmos dessa imensa e impagável dívida, que sufoca o povo brasileiro. Não podemos nos conformar! É o que V. Exª está dizendo. Que sobre alguma coisa para se aplicar aqui. Podemos gerar empregos. Os R$10 bilhões que o Presidente Lula prometeu são viáveis no campo, no programa do biodiesel. V. Exª sabe que podemos empregar 10 milhões de famílias no campo, produzindo o óleo necessário ao País. Parabenizo V. Exª pela oportuna colocação que faz e o cumprimento pelo discurso que faz nesta manhã.

           O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado a V. Exª.

           Sr. Presidente, insisto ao telespectador para que passe uma mensagem - que hoje é tão fácil, simples e até gratuita - ao Presidente da República, apelando, você, estudante; você, operário; você, empresário; você, intelectual; você, deputado; você, bispo, para que ele defenda os interesses do Brasil e faça chegar ao “senhor do mundo”, o Sr. Presidente Bush, imperador de tudo e de todos, que este País, num crescendo, crescendo, vai iniciar a caminhada, exigindo um tratamento justo, e que apenas um terço do pagamento dos juros da dívida externa, realmente impagável - e não estamos discutindo isso, queremos continuar pagando os juros -, fique aqui. E que não fique à disposição do Brasil para aplicar aqui em mensalão ou em coisa que o valha, mas que haja fiscalização externa na aplicação no social, na fome, na agricultura, na educação e na infra-estrutura.

           Essa oportunidade é real. Creio que essa chance não pode ser perdida. Exatamente no momento em que o Presidente Bush está no chão na sua credibilidade, ele vai receber com muito respeito.

           E nessa hora que, cá entre nós, o Lula está em baixa, de paulada mais paulada, de repente, receber uma mensagem de apoio no sentido de que ele nos representa numa medida positiva, acho que fará bem ao Presidente. Fará bem para o Presidente receber, fará bem para o Presidente chamar o Presidente Bush e mostrar que esta recebendo do Brasil inteiro esse pedido. Apenas isto: de R$150 bilhões, que um terço fique no Brasil. Nós, que hoje estamos chorando porque o que era para ser gasto na infra-estrutura, R$3,8 bilhões, está encalhado, e está encalhado porque não temos nada para aplicar em lugar nenhum, a não ser na dívida.

           No tempo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, eu dizia que o Sr. Ministro da Fazenda queria ganhar um quadro do tamanho da parede do lado externo do Banco Mundial, por ter sido o maior herói, o que deu mais lucro àquele banco em toda a sua história. Ainda bem que o banco não o fez. Porque, se tivesse feito, agora teria que retirar o quadro, porque o Sr. Palocci está ganhando longe.

           Quem diria que o Ministro da Fazenda do PT estaria deixando para trás o Ministro da Fazenda do Sr. Fernando Henrique? Quem diria? O Ministro da Fazenda do Sr. Fernando Henrique, que, convém que se diga, é um homem que eu respeitava por seu tom de seriedade - ele era conservador, ele era aquilo, mas ele era aquilo.

           Amanhã poderá ser domingo, um dia muito importante. Eu gostaria, realmente, se a carne do churrasco fosse gaúcha, mas não há obrigação para isso. Hoje temos no Brasil inteiro uma carne melhor que a outra. Só que não há carne-de-sol. Se fosse o Sarney, era capaz de querer fazer um churrasco de carne-de-sol, e aí ia complicar.

           O vinho pode ser do Rio Grande do Sul, para o americano ver, já que americano que se preza só toma vinho da Califórnia. O consumo do vinho da Califórnia nos restaurantes mais importantes é de vinho da Califórnia. Você vai a Nova Iorque, em Washington, em qualquer restaurante, o mais grã-fino, o vinho mais caro é o da Califórnia. Depois vêm os vinhos da França, da Alemanha, da Itália, da Espanha. Eles valorizam o que é deles.

           Podem até servir o vinho da Califórnia, para servir à vaidade do Sr. Bush, mas que nosso Presidente deve entregar entregue uma proposta neste sentido: “Presidente Bush, eu agora estou indo para a Assembléia Geral das Nações Unidas, e lá a Venezuela é importante, a Colômbia é importante, a América Latina é importante, o mercado latino-americano, Mercosul, é importante, mas a tese que vou levantar é que o Brasil precisa que um terço do que ele está pagando de juros da dívida externa fique no Brasil, pelo prazo de dez anos, para o nosso desenvolvimento.

           Faça isso, Presidente, talvez seja o primeiro gesto que realmente ficará na história de V. Exª.

           Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/11/2005 - Página 38195