Discurso durante a 196ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação sobre as palavras do Senador Arthur Virgílio a respeito de ameaças contra suas famílias. Leitura de artigo de Carlos Heitor Cony, publicado na Folha de S.Paulo, intitulado "A hora das surras".

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Manifestação sobre as palavras do Senador Arthur Virgílio a respeito de ameaças contra suas famílias. Leitura de artigo de Carlos Heitor Cony, publicado na Folha de S.Paulo, intitulado "A hora das surras".
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2005 - Página 38374
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, DISCURSO, ARTHUR VIRGILIO, SENADOR, PROTESTO, UTILIZAÇÃO, ESCUTA TELEFONICA, AMEAÇA, FAMILIA, CONGRESSISTA, REGISTRO, FALTA, PROVIDENCIA, POLICIA FEDERAL, SOLUÇÃO, PROBLEMA.
  • LEITURA, TRECHO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, CONDUTA, LIDERANÇA, BANCADA, OPOSIÇÃO, AMEAÇA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CRITICA, METODOLOGIA, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, AGENCIA BRASILEIRA DE INTELIGENCIA (ABIN).

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Para uma explicação pessoal. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, de fato, eu não voltaria mais a este assunto, que foi tratado pela imprensa de uma forma absolutamente vulgar. Tenho apenas uma correção a fazer na fala do Senador Arthur Virgílio: não tenho problema algum em ser grampeada. Nenhum! Quando fiz aqui o meu protesto, eu o fiz referindo-me aos meus filhos, o que não é novidade. Há dois meses, falei desta tribuna. E nada foi feito, Senador Tião Viana. Há dois meses, falei desta tribuna. Há dois meses, o Senador Romeu Tuma encaminhou, como Corregedor, um documento para a Polícia Federal, e não deu em absolutamente nada. Então, eu já disse várias vezes que as bocas putrefatas, pusilânimes, acovardadas que quiserem fazer grampo, façam 300 vezes. Se é bom... Porque tem gente que tem problemas ideológicos, problemas políticos, problemas sexuais e vivem grampeando os telefones alheios para, de alguma forma, se satisfazer. Não tem problema algum comigo! Só é ruim quando passam a ligar para as nossas famílias, dizendo que vão arrancar a língua, arrancar os olhos, esquartejar e pôr o corpo na porta do Congresso. Só isso! Então, é só deixar os filhos em paz. Deixar a família em paz. Somente isso!

Quando falei várias vezes - digo e repito - que viro onça... Nem vou falar em dar surra, porque ninguém encontra esse rapaz Presidente da República, que vive vagabundeando pelo mundo todo. O problema não é esse. Eu já disse várias vezes que, se uma pessoa pobre tocar num filho meu, vai ter toda a paciência do mundo. Se uma pessoa pobre, por uma coisa da vida, tirar a vida de um filho meu, eu vou cuidar dos filhos dessa pessoa pobre, para que uma mãe não tenha, no futuro, a dor que um dia - queira Deus! - eu não venha a ter. Agora, se for uma pessoa rica - pode ser Senador, Deputado, Presidente, empresário, banqueiro -, está frita comigo, está absolutamente frita. Então, é só isso. Não tem problema. Se quer continuar grampeando, grampeie; se tem problemas ideológicos, políticos, programáticos, sexuais, pessoais, não tem problema algum, pode continuar grampeando, pode continuar ligando para mim. Não tem problema. Agora, tire as patas da minha família. Somente isso. Porque ficar dizendo que sabe o horário que meu irmão sai do plantão, que meu filho sai da escola, isso é uma canalhice! Isso é uma canalhice sem precedente! Aí a gente tem que agüentar, depois, o que sai na imprensa. É por isso que o Senador Arthur Virgílio deixou aqui um artigo.

Quero ler o artigo de Carlos Heitor Cony, que saiu ontem na Folha de S.Paulo. Diz ele:

A corrupção na vida pública nacional, por si só lamentável e merecedora de punição, está gerando um tipo de degradação da qual nem todos escapam, inocentes e culpados, que começam a se engolfar em episódios periféricos, que revelam não apenas a degradação, mas a fadiga de tudo e de todos.

Ameaçar o Presidente da República de surra, como fizeram, na semana passada, dois congressistas da oposição, que se destacaram na investigação das diversas irregularidades do PT e do próprio governo, foram destemperos emocionais, não contribuíram para o processo democrático que exige serenidade, sobretudo da parte daqueles que estão do lado certo.

Contudo, mais uma vez, a responsabilidade, ou melhor, a culpa pelos desabafos dos dois líderes da oposição, cabe ao próprio governo, não pelo grau da corrupção que pesa sobre ele, mas pelo gênero da nova violação da lei que o governo promove.

Todos sabemos que milhares de cidadãos brasileiros, banqueiros, empresários, autoridades religiosas, jornalistas, escritores, mas, sobretudo políticos e, mais sobretudo ainda, congressistas, são monitorados há muito, alguns deles de forma oficiosa pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), outros, talvez a maioria, pelos laranjas e alcagüetes terceirizados que adquiriram know-how no extinto SNI.

É comum o porteiro de um edifício ser abordado por um estranho que lhe pergunta se a mulher do apartamento tal sai todas as noites sozinha, se, na ausência do marido, recebe amantes em casa, se os filhos do morador do terceiro andar promovem embalos e, drogados, urinam na caixa d’água do prédio. Superada a fase das investigações, vem a fase das ameaças, que vão do seqüestro ao estupro e à morte, como no caso de Santo André.

Enquanto o governo não acabar com este tipo de “Inteligência”, lamenta-se, mas não se pode condenar aqueles que pretendem reagir na base da surra.

Assim sendo, Sr. Presidente, peço que seja incorporado o artigo do jornalista Carlos Heitor Cony ao meu pronunciamento e volto a repetir: para mim, não tem problema algum. Podem monitorar, grampear, fiscalizar, seguir. Não tem problema. A única coisa que solicito encarecidamente às bocas putrefatas e pusilânimes é que tirem as patas da minha família. Somente isso. Podem continuar grampeando. Resolvam seus problemas ideológicos, sexuais, pessoais com grampo, com telefonema anônimo, não tem problema. Agora, deixem os meus filhos e a minha família em paz.

 

******************************************************************************

DOCUMENTO A QUE SE REFERE A SRª SENADORA HELOÍSA HELENA EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

******************************************************************************

Matéria referida:

“A hora das surras” (Folha de S.Paulo, 6/11/05)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2005 - Página 38374