Discurso durante a 196ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a crise política por que passa o país.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre a crise política por que passa o país.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2005 - Página 38402
Assunto
Outros > SENADO. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • GRAVIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL, CRITICA, FALTA, COMPARECIMENTO, SENADOR, PLENARIO.
  • CRITICA, NEGLIGENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FALTA, ESCLARECIMENTOS, CORRUPÇÃO, GOVERNO, DEMORA, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, NEGAÇÃO, ACUSAÇÃO, DESVALORIZAÇÃO, ATUAÇÃO, IMPRENSA.
  • COMENTARIO, GRAVAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENTREVISTA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CONTINUAÇÃO, OMISSÃO, ESCLARECIMENTOS, CORRUPÇÃO.
  • PREVISÃO, PERDA, APOIO, ELEITOR, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, ABANDONO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, FAVORECIMENTO, BANQUEIRO.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, quero dizer que, para termos autoridade de criticar, como eu critico, temos de comparecer às sessões com mais assiduidade. O País vive uma crise, e esta crise aumenta na medida em que o Parlamento não dá as respostas necessárias. Aqui, hoje, neste exato momento, estão aqui presentes V. Exª, Sr. Presidente, o Senador Mão Santa, o Senador Alberto Silva e eu. Vários líderes deveriam estar aqui - e não faço exceção, refiro-me aos da oposição e aos do governo -, porque o momento nacional é extremamente grave. Tão grave que nos obriga a dizer que já passou a hora de o Presidente Lula deixar de ser evasivo. Nas cada vez mais raras manifestações de Sua Excelência à imprensa, ele não fala; ele faz discursos demagógicos nos lugares a que comparece, e, infelizmente, a situação do País se agrava a todo instante - menos para ele, que é totalmente irresponsável nos seus atos.

O Presidente precisa entender que o País quer ver os culpados, todos eles, punidos de verdade. A CPI dos Correios aponta o Banco do Brasil como fonte de recursos para Valério, para o PT e para seus aliados. Está provado. Só isso seria suficiente para motivar uma providência séria. Não podemos ficar demorando, irritando o povo com a nossa inércia.

Tenho o dever de chamar a atenção para esse fato. Cabe a todos nós enfrentar o Presidente, que deve respeito ao Legislativo e às CPIs. Que Sua Excelência responda as acusações! Hoje, aliás, o Presidente se apressou para gravar o programa Roda Viva. Adiantarei algumas das respostas porque já temos conhecimento de alguns fatos.

A revista Veja, que agora é execrada pelo PT, demonstra, mais uma vez, que os recursos vindos do exterior também irrigaram a horta do PT e de seus aliados. O PT, em vez de responder as acusações, preferiu ameaçar, chantagear a revista, pensando que ela iria se calar. Errou. Conheço a revista Veja, a sua tradição e os serviços já prestados ao País. O PT classificou as denúncias de fantasiosas e inverossímeis, chegou a ridicularizar o fato de o dinheiro ter sido transportado em caixas de bebida. É até uma coincidência o dinheiro do PT ir para Lula em caixas de bebidas - aí é só coincidência, Excelência. Tempos atrás ninguém imaginaria que os dólares petistas fossem transportados até em cuecas, mas isso aconteceu! Chegaram ao Ceará pelo irmão do presidente do PT.

Ora, Sr. Presidente, a estratégia do governo é apenas negar. Enquanto puder, usará a expressão de Armando Falcão dos tempos do regime militar, da qual eles antes não gostavam: “Nada a declarar. Se pressionado, negar, negar, negar sempre para não ser apanhado na mentira. Desacreditar, a todo custo, as acusações”. De outro lado, postergar, dificultar - como até determinadas áreas do Ministério da Fazenda, segundo dizem, vêm fazendo - as investigações das CPIs. Faltou combinar com o Ministério Público, com o corpo técnico da CGU, com o Tribunal de Contas da União, com a imprensa, com a Polícia Federal e, principalmente, com todos os cidadãos de bem deste País, que querem ver tudo apurado, e os culpados punidos.

Só hoje se encontram nos jornais denúncias como: “Tribunal de Contas comprova superfaturamento na Eletronorte”; “Banco do Brasil garantiu empréstimos do valerioduto”; “Tribunal de Contas investiga 12 milhões pagos ao dono do avião” - ao dono do avião que carregou as caixas de bebidas com dólares vindos de Havana -; “CGU” - os técnicos da CGU, não o Controlador-Geral da República - “reage a ataque de Gushiken”. É porque os técnicos da CGU tiveram a coragem - não o Dr. Waldir Pires, mas os técnicos da CGU; claro que talvez até tenham tido o seu aval, o que seria louvável - de declarar que o Sr. Gushiken, homem de confiança do Presidente da República, era o responsável direto pelos contratos de publicidade por meio dos quais saía o dinheiro para o valerioduto.

Segundo Gilberto Carvalho - hoje está até em moda -, o Presidente anda magoado e reclamando porque não pode fazer a sesta desde o início da crise. Não sabíamos que ele tinha esse bom hábito da sesta. Eu não consigo fazer a sesta em toda esta minha vida. Mas o Presidente encontra tempo do seu trabalho para fazer a sesta e também o descanso dos sábados e domingos.

Ao menos para isto tem servido a crise: impedir que o Presidente durma durante o trabalho! Ele que devia trabalhar mais e dormir menos.

Ora, Presidente Lula, investigue de verdade, puna quem tiver de ser punido. Atestado de idoneidade, no seu Governo, é difícil de dar, mas dê apenas a quem o mereça. Responda às perguntas da sociedade, somente assim Vossa Excelência poderá deitar a cabeça no travesseiro e voltar a dormir o sono dos justos, mesmo que seja apenas para uma sesta.

Sr. Presidente, hoje o Presidente aparecerá no programa “Roda Viva”. Posso aqui adiantar alguns de seus comentários, a menos que cortem alguma coisa. Ele diz que, quanto aos dólares cubanos, não é verdade porque Cuba é um país pobre, e a testemunha seria Ralf Barquete, que já está morto. Essa é a sorte dele. Se Ralf Barquete vivo estivesse, nós já estaríamos com as provas mais evidentes dos três milhões que Cuba mandou para sua campanha. Incrível!

Palavras do Presidente que, provavelmente, se não forem cortadas, talvez até depois deste discurso seus alcagüetes venham a cortá-las, sobre a presença do seu filho nos recursos da Telemar com a empresa deles - Fábio é o nome do filho do Senhor Presidente da República. Lula disse que a empresa é particular, ele é Presidente da República e não tem nada a ver com os negócios do filho.

Como V. Exªs sabem, Srªs e Srs. Senadores, a Telemar comprou 30% das ações por R$2,5 milhões; e pagou R$2,5 milhões para ter a exclusividade da compra. A empresa produziu, portanto, um capital de R$5 milhões para o filho do Presidente da República. E ele responde que não tem nada com os negócios do filho. Certamente não terá também com os do seu irmão Vavá.

E assim é a república sindicalista do Presidente Lula. Esses são os exemplos que ele quer dar ao Brasil. Eu seria o primeiro a dizer: “Meu filho, não entre nesse negócio. Você sabe que o seu negócio não vale R$5 milhões. Conseqüentemente, saia disso para o seu pai não ficar mal.” Mas, não; está aprovando o negócio feito pelo filho, de R$5 milhões. E veja só. O filho do Presidente pega R$5 milhões...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Terminarei, Sr. Presidente.

E posso até dizer que o Presidente - publicamente, pelo menos - não tem R$5 milhões nem em seus bens nem em suas contas. Portanto, algo anormal está acontecendo.

Sobre o caixa dois, o Presidente vai dizer que não tem nada com isso. Que foi o Delúbio. O Delúbio é do PT, e ele não tem nada com o Delúbio. Se não cortarem, vai sair isso também. Que o Governo passado barrou todas as CPIs e ele não barrou nenhuma. E aí, ele se defende acusando. Não diz quem traiu. É perguntado sobre quem o traiu, mas não diz quem o traiu. E é grosseiro com o jornalista Augusto Nunes quando fala na sua infeliz frase: “Que o Brasil tem de engoli-lo.” O jornalista Augusto Nunes teve de responder educadamente por se tratar do Presidente da República, mas o Presidente foi extremamente grosseiro na entrevista.

Ora, Sr. Presidente, esta é a situação que o País vive. E hoje, com muita ênfase, falam que a Ordem dos Advogados negou o pedido de impeachment. É verdade! Uma conselheira do Mato Grosso pediu o impeachment e a Ordem dos Advogados criou uma comissão para fazer as apurações, para resolver se acatava ou não o pedido de impeachment, porque não iria acatá-lo apenas com uma acusação de uma conselheira. Mas o pensamento do presidente da Ordem dos Advogados, Dr. Roberto Busato, é exatamente o da conselheira, porque tem dado entrevistas repetidas demonstrando que o País vai mal e que não pode continuar a amoralidade existente no Governo Lula.

Se vão ou não aceitar o impeachment não nos interessa, porque tenho dito aqui, e V. Exª, Sr. Presidente, é testemunha, de que o maior impeachment que o Presidente pode ter é o das urnas. E ele sofrerá nas urnas, realmente, a grande derrota da vida dele. E derrota por quê? Porque não cuidou dos pobres. Fala em Bolsa-Família, nisso e naquilo. Os incautos acreditam.

Mas, na realidade, o que se vê é que o Bradesco, do meu amigo Lázaro Brandão, nesses dez meses de Governo, teve um lucro de R$4 bilhões! Um lucro de R$4 bilhões teve o Bradesco! Pergunta-se: é justo que continuemos na pobreza, sofrendo e os lucros dos bancos cresçam a cada dia? Não. É esse estilo de governo, de proteger os ricos, fazendo de conta que está ajudando os pobres, que vai derrotá-lo. E vai derrotá-lo porque o povo brasileiro não aceita mais essa maneira de governar, enganando a população mais carente e, assim, obtendo os votos daqueles que não o conheciam.

Hoje, ele está verdadeiramente conhecido. E nós temos obrigação, no Congresso, de fazê-lo mais conhecido ainda da população, para que a sua derrota seja bem maior e o povo saiba que quem não tem competência e moral não pode ser Presidente da República.

Muito obrigado a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2005 - Página 38402