Discurso durante a 197ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque sobre pontos da entrevista concedida pelo presidente Lula, ontem, no Milésimo programa "Roda Viva". (como Líder)

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Destaque sobre pontos da entrevista concedida pelo presidente Lula, ontem, no Milésimo programa "Roda Viva". (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2005 - Página 38457
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DEMONSTRAÇÃO, OMISSÃO, CRISE, POLITICA NACIONAL, DESCONHECIMENTO, GRAVIDADE, CORRUPÇÃO, APURAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, NEGLIGENCIA, IRREGULARIDADE, CAMPANHA ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), INEXATIDÃO, AVALIAÇÃO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, POLITICA EXTERNA.
  • CRITICA, ATRASO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATENDIMENTO, IMPRENSA, PREJUIZO, DEMOCRACIA.
  • PREVISÃO, REPETIÇÃO, IRREGULARIDADE, CAMPANHA ELEITORAL, REELEIÇÃO.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pela Liderança do PFL. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na comemoração do milésimo programa “Roda Viva”, da TV Cultura de São Paulo, o Presidente Lula foi o entrevistado no dia de ontem e deu novas demonstrações de que ainda continua desligado da realidade que cerca seu Governo.

Num misto de arrogância e insensibilidade para com a crise que assola o Poder Executivo, o Presidente Lula demonstrou que anda desinformado não só sobre o que acontece com a máquina administrativa, mas, principalmente, sobre o que está sendo apurado nas CPIs em atividade no Congresso.

Usando uma lógica particular, o Presidente legitimou as práticas atuais do seu governo, o que sinaliza para a sociedade que elas se repetirão num eventual segundo Governo Lula, já que Sua Excelência não dá sinais nem de arrependimento nem mesmo de ter aprendido lições com a crise.

            Na exigüidade do meu tempo, gostaria de destacar alguns pontos da entrevista, que demonstram a incoerência e a fantasia presidencial:

            1º - o Presidente não reconhece a gravidade das denúncias contra o ex-Ministro José Dirceu e diz que ele vai ser cassado apenas por motivos políticos;

            2º - não reconhece a existência do mensalão, apesar de todas as evidências apontadas pelas CPIs e inclusive a confirmação do Senador Delcídio Amaral, Líder do PT nesta Casa;

            3º - não vê problema no financiamento de sua campanha presidencial, reconhecendo a prática do caixa dois apenas nas eleições municipais de 2004;

4º - contradiz sua entrevista em Paris sobre o uso do caixa dois. Segundo dizia, “o PT fez, do ponto de vista eleitoral, o que é feito no Brasil sistematicamente”. Agora procura jogar toda a culpa da irregularidade no tesoureiro Delúbio Soares;

5º - desmentiu sua declaração de que daria um cheque em branco a Roberto Jefferson. Quando a afirmativa veio a público, quando a relação entre eles eram as melhores, o Presidente não desautorizou o ex-deputado;

6º - contradisse seu posicionamento durante o velório do prefeito Celso Daniel, de que “esse crime não foi coincidência. Tem gente graúda por trás disso e nós vamos descobrir. Ontem, disse “acreditar que a morte do prefeito tenha sido crime comum e não ação política”;

7º - em que pese ter sido cassado, Sua Excelência não soube reconhecer a oportunidade do Deputado Roberto Jefferson, de denunciar um grande esquema de corrupção que campeava na administração petista. O Presidente nega os fatos já abundantemente comprovados pelas CPIs, inclusive o envolvimento de dinheiro público por meio do Banco do Brasil;

8º - em mais uma demonstração de incoerência, o Presidente, ardoroso defensor do regime cubano, agora assume que a ilha caribenha vive “num miserê”; disse também desejar que Cuba viva num regime mais democrático, ou seja, agora reconhece tratar-se de uma ditadura;

9º - admitiu que não chegaria à Presidência se não fosse a imprensa brasileira. Contudo, recusa-se a dar entrevistas e queixa-se dos repórteres, como fez no Itamaraty na semana passada, e tentou cercear a liberdade da imprensa quando propôs a criação do Conselho Federal de Jornalismo;

10º - numa clara desconsideração às decisões judiciais, fez uma defesa aberta do dirigente do MST, o Sr. José Rainha, cidadão já condenado pela Justiça;

11º - fez rasgados elogios aos trabalhos da política econômica do seu governo, mas não reconheceu estar colhendo as sementes plantadas no governo do Presidente Fernando Henrique, política que tanto criticou quando estava na oposição; mesmo os programas sociais, como o Bolsa-Escola, que exigiam contrapartidas dos beneficiados, acabaram transformados em programas assistencialistas e eleitoreiros;

12º - no front externo, o Presidente disse que as exportações para a América do Sul cresceram devido à política empreendida pelo seu governo, o que não é exato, já que o crescimento ocorreu pela recuperação econômica da Argentina. Quanto à política externa, que intitulou de “democrática”, apresenta diversos fracassos, tais como: fracasso na criação da Comunidade Sul-Americana de Nações; pressa em reconhecer a China como uma economia de mercado, sem a devida contrapartida; fracasso nas ações para tornar-se permanente no Conselho de Segurança da ONU; abandono das Forças de Paz no Haiti; fracasso nas indicações brasileiras para a Organização Mundial do Comércio e no Banco Interamericano de Desenvolvimento.

13º - pelo menos uma inverdade ficou patente na entrevista. Trata-se da afirmativa de Lula de que ele não fez ingerências para que as CPIs não fossem instaladas, pois nós, aqui no Senado Federal, principalmente a base do governo, sentimos na pele as pressões palacianas.

Todos reconhecemos que tivemos de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para poder instalar a CPI dos Bingos, que tão bons serviços está prestando ao País.

O que ficou claro para todos os jornalistas participantes é que Lula já está em plena campanha eleitoral, apesar de dizer que não sabe ainda se será candidato. Essa é mais uma posição ambígua de Sua Excelência.

O Presidente Lula, que, como todos sabemos, já disse diversas vezes que não sabe o que aconteceu no seu governo, agora acha que tudo é fantasia e folclore da Oposição e da mídia brasileira. Segundo o comentário do jornalista Arthur Xexéu, da CBN, o Presidente da República ficou parecido com a personagem de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas.

Sr. Presidente, um resumo da entrevista do Presidente Lula pode ser o seguinte: ele não acha que houve nada errado, não está arrependido de nada. Então, se não forem tomadas medidas, se não chegarmos ao fundo dessas investigações, eles vão fazer, em 2006, o mesmo que fizeram em 2002-2004.

Muito obrigado.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite?

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Pois não. Eu não estava vendo V. Exª.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador José Jorge, primeiro, seria bom que houvesse reconhecimento de algo muito positivo, ou seja, a disposição do Presidente Lula de, finalmente - a primeira entrevista, aliás, única, foi no dia 26 de abril -, dar uma entrevista no Roda Viva. Conforme todos pudemos testemunhar, os jornalistas fizeram perguntas com direito a réplica, a tréplica, com muita liberdade. Vamos estimular o Presidente...

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - V. Exª está cansado, ou é emoção?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É porque vim correndo, estava tomando uma providência no meu gabinete. Eu tinha dito que estaria atento ao seu pronunciamento e que gostaria de ponderar algumas coisas. Acho muito importante que todos estimulemos o Presidente a repetir aquilo que fez ontem. Um só aspecto quero ressaltar. Refiro-me ao fato de o Presidente mencionar que se sente responsável, e o é, por tudo que ocorre no seu governo, com seus ministros e tudo mais. É uma manifestação muito importante, pois assim qualquer ministro ou qualquer pessoa que esteja lá no Palácio do Planalto ou numa empresa pública está sabendo que, se porventura errar, seu erro, por ter sido designada pelo Presidente, vai afetar o Presidente. Essa é uma declaração importante. Eu não quero abusar, apenas fiz esses dois registros, porque avalio que ontem houve um avanço para a democracia brasileira. Discordo de outras avaliações, mas não quero abusar do aparte com que V. Exª me honra.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Sr. Presidente, para encerrar, agradeço o aparte do Senador Eduardo Suplicy. Concordo com a afirmação de S. Exª de que o Presidente assumiu que é de sua responsabilidade o que ocorre no seu governo, mas também é algo que chega atrasado. Sua Excelência sempre dizia que não sabia, “não vi”, “não vi.” Em relação à entrevista, é positiva, mas vem também muito atrasada, porque já estamos no final do terceiro ano de governo, já vamos entrar no último ano, e essa é a segunda entrevista que o Presidente dá, o que, num país democrático, é muito pouco. A imprensa é credora de mais entrevistas para que possa esclarecer melhor a população brasileira. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2005 - Página 38457