Discurso durante a 197ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre a impressão causada pela entrevista concedida pelo presidente Lula ao programa "Roda Viva".

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Manifestação sobre a impressão causada pela entrevista concedida pelo presidente Lula ao programa "Roda Viva".
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2005 - Página 38470
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÃO, FEBRE AFTOSA, POLITICA DE EMPREGO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, AGRESSÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), FALSIDADE, DESCONHECIMENTO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL, INCOERENCIA, DISCURSO, CONDUTA, GOVERNO.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, quero dizer a V. Exª e aos Senadores que se encontram no plenário que fiquei vivamente impressionado com Sua Excelência, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na entrevista que concedeu ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, gravado na tarde de ontem e exibido na noite de ontem.

Senadora Heloísa Helena, lembrava-me da conversa que havia tido com V. Exª sobre quem é Lula. Permito-me não revelar. Fiquei olhando os rictos faciais dele, o olhar, as reações gestuais, como se eu estivesse armado de um detector de mentiras, um polígrafo, para ver em que momento Sua Excelência estava sendo sincero ou insincero.

Devo dizer a V. Exªs que fiquei impressionado com a loquacidade do Presidente, com a articulação de idéias, com o histrionismo de Sua Excelência, com a riqueza de detalhes que ele exibia sobre os assuntos tratados.

Senador Gilberto Mestrinho, fiquei impressionado quando Sua Excelência tratou da questão da aftosa, ele, que é um líder sindical, um metalúrgico, falando, com muita loquacidade, de um problema que diz respeito à sanidade animal, do que tinha ocorrido, do que poderia ocorrer, das conseqüências. Fiquei imaginando a razão do almoço com o Presidente Bush, um gesto de marketing, bem armado por Sua Excelência. Ele demonstrou completo conhecimento do assunto.

            É verdade que ele não falou hora nenhuma de um fato, a respeito do qual já requeri informação ao Tribunal de Contas da União, e vou receber dentro em breve a confirmação do que suponho ser a verdade. É que os recursos de que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento deveria dispor para aplicar na zona de fronteira na defesa fitossanitária e animal ficou retido pela atitude do Governo em manter um superávit primário beirando os cinco pontos percentuais. Ele explicou tudo, menos que a febre aftosa foi decorrência de uma incúria da administração do seu governo. Eu fiquei impressionado, Senadora Heloísa Helena, Senadora Lúcia Vânia, quando ele, respondendo a uma pergunta sobre as razões da frustração do Programa Primeiro Emprego, explicou os programas voltados para os jovens - programas de que eu nunca ouvi falar -, rodeando, argumentando sobre o insucesso desse programa.

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Ele disse tudo que poderia.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Fique tranqüilo, porque prorroguei o tempo de V. Exª, como fiz com o Líder, por mais três minutos.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Agradeço a V. Exª.

Ele justificou uma série de fatos. Mas deixou de dar a informação que tenho, que já mencionei aqui coloquei, isto é, que o Primeiro Emprego dispõe de recurso orçamentário. No primeiro ano, dispôs de 160 milhões, mas aplicaram menos de 20%. No segundo ano, disseram: vamos aumentar a dotação e a eficiência. Em vez de aumentar a dotação, os recursos caíram para 140 milhões, porque nem o governo acreditava na sua idéia, no seu estandarte, no seu ícone.

Na entrevista o Presidente foi loquaz, foi encantador. Estou me lembrando da conversa que tinha tido com a Senadora Heloísa Helena sobre quem é, na verdade, o Presidente Lula.

Na política externa parece que o Brasil foi inventado há três anos. Antes disso não existia Brasil. O Brasil passou a existir daí para frente, pela política externa, pelos dados da economia. O Presidente soltava foguetes pelo sucesso, sem falar da derrota na OMC, da derrota no BID, da derrota no Conselho de Segurança Nacional, “deitando falação” sobre a economia, o crescimento fantástico, a geração de empregos, sem dizer que, no ano passado, o crescimento da América Latina foi de 6,2% e o nosso foi de 4,9%, abaixo do Uruguai, da Argentina, da Venezuela, e de tantos outros - sem falar na Índia, na Rússia, na China. Ele foi loquaz, Senador Arthur Virgílio, loquaz mesmo, e chegou a ser engraçado quando disse que o PFL era hilariante. Aí cometeu um deslize imperdoável: ele falou sobre o pedido de impeachment feito pelo PFL. Sua Excelência tinha obrigação de saber que o PFL nunca pediu impeachment porque PFL é partido político e partido político não está legalmente habilitado a pedir impeachment de ninguém; quem pode fazê-lo é V. Exª ou eu, pessoas ou entidades, mas partido político, não. Ele agrediu, com arrogância, com auto-suficiência, o PFL, a quem desejou menosprezar, dizendo que a atitude do PFL era hilariante. Digo isso tudo para chegar a uma conclusão, Senadora Lúcia Vânia, a de que o Presidente, ontem na entrevista, deu ao País a informação de que sabe de tudo: conhece e domina o assunto da aftosa, da economia, da política externa, da geração de emprego, portanto sabe de tudo. Entretanto, quando se trata da corrupção, não sabe de nada. Aí ele não sabe de nada! Aí quem sabe é Delúbio, aí quem sabe é Sílvio Pereira, aí quem sabe é Zé Dirceu, que deve ser cassado - ele asseverou que Zé Dirceu vai ser cassado. Ele fala de tudo com absoluto conhecimento de causa. Porém, quando se trata daquilo que está em volta dele, no Palácio do Planalto, daquilo que o acompanha há 30 anos na sua vida de sindicalista e de político, ele não sabe de nada. Como é que um homem, Sr. Presidente Mão Santa, sabe de tudo ou aparenta saber de tudo - eu desconfio -, e não sabe da coisa mais importante, que é a moralidade, o padrão ético do seu governo, que está sob investigação? Dá para desconfiar de que a entrevista de Sua Excelência foi uma peça perfeita e acabada de insinceridade.

            Aí, Senadora Heloísa Helena, nós começamos a recordar a nossa conversa - é um homem hábil, competente, inteligente, mas insincero. Pelo menos, Senadora Lúcia Vânia, ele reconheceu três coisas. Ele reconheceu que o Presidente da República é responsável por tudo o que acontece no Governo e, aí, ele assumiu o Banco do Brasil. Aí, ele assumiu os recursos transferidos pelo Banco do Brasil - são R$9.095.000,00 - para a DNA e da DNA para o BMG, do BMG para associados, que passaram o dinheiro para o PT. O Banco do Brasil é da Presidência da República. Portanto, ele reconheceu que é responsável. Vamos ver o desdobramento dos fatos. Vamos aguardar o relatório final do Deputado Osmar Serraglio e ver se ele assume a culpa ou vai passá-la para alguém. Ele reconheceu, pela primeira vez, que caixa dois é reprovável. Eu não sei se acredito no Lula da entrevista de Paris ou no Lula da entrevista do Roda Viva de ontem. Porque, na entrevista de Paris...

(Interrupção do som)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - ...ele disse - o Brasil todo ouviu -que caixa dois era um fato normal na vida brasileira.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª é um homem experimentado, não acredite nem no que ele disse em Paris nem no que disse aqui.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Esta é a minha opinião: não acreditar em nenhum dos dois.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Vamos chegar a conclusões. Quero aqui fazer uma avaliação: em quem preciso acreditar? No Lula da entrevista do Roda Viva ou no Lula da entrevista de Paris? Porque saiu da boca dele - não foi ninguém que falou, foi ele que disse - ouvimos que o caixa dois era um fato normal. Depois, reuniu os petistas no Palácio do Planalto, para abençoá-los e, para, de certa forma, inocentá-los. Quem não se lembra disso? Na entrevista de Paris, tratou o caixa dois como um fato normal, que não é reprovável coisa nenhuma. Por que, Senador Gilberto Mestrinho? Tenho o direito de raciocinar: porque, naquele momento, a tese de que ele não sabia de nada era conveniente. A tese da entrevista de Paris...

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - ...era a de que o fato do caixa dois...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador, nada mais agradável do que ouvi-lo, mas...

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Já vou concluir.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Eu e o País todo gostamos disso, mas, pacientemente, a Senadora Heloisa Helena aguarda a sua vez.

A Srª Heloisa Helena (P-Sol - AL) - Não, tudo bem. Fique à vontade.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Ele está extrapolando.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Já vou concluir, Sr. Presidente.

Na entrevista de Paris, para ele, a tese conveniente era a de que caixa dois era um fato aceitável e que Delúbio Soares havia feito uma coisa aceitável. Ele tinha conhecimento do que tinha acontecido e que considerava um pecado venial, que a sociedade iria aceitar. Depois, percebeu que a sociedade não aceita a prática do que é ilegal. E, na entrevista do Roda Viva, ele mudou. Ele passou a condenar, passou a execrar o Sr. Delúbio Soares, a quem claramente colocou como traidor. São dois Lulas, com duas versões conflitantes. Em qual delas eu posso acreditar? Ele constatou que o caixa dois agora é reprovável.

Sr. Presidente, a última constatação é a de que as CPIs vão esclarecer tudo e que o governo dele é o único que está convivendo com cinco CPIs, como se ele estivesse convivendo com as CPIs por agrado. V.Exª, como eu, sabe que a CPI dos Correios foi objeto de uma luta pertinaz da Oposição. Se dependesse do PT e do Presidente da República, a CPI dos Correios jamais seria instalada. Lutaram para retirar as assinaturas até à última hora, recorreram à CCJ, quiseram evitar a leitura do requerimento no plenário do Congresso Nacional, fizeram tudo para impedi-la e depois, lutaram para fazer do Presidente e do Relator figuras comprometidas com os interesses do Planalto. Graças, a Deus, isso não está acontecendo.

A CPI dos Bingos, Senadora Íris de Araújo, está sendo realizada por força de decisão do Supremo Tribunal Federal, porque, por eles, não existiria nenhuma CPI. Quando acusaram Waldomiro Diniz, ele repetiu uma vez, duas, três, quatro, dez vezes que não havia provas. Ele esqueceu a exibição das fotos, a exibição do filme na televisão mostrando Waldomiro Diniz pedindo propina a Carlinhos Cachoeira. Agora teve coragem, numa entrevista ao Roda Vida, dizer que nem contra Waldomiro havia prova. Que dirá contra o resto!

Se não tem prova, no conceito dele, contra Waldomiro, que dirá contra o resto?

Mas as provas vão acontecer, porque as CPMIs e as CPIs que o Governo não quis que se instalassem estão instaladas e vão até o fim.

O que desejo lamentar é a peça perfeita e acabada de insinceridade política da entrevista lamentável do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2005 - Página 38470