Discurso durante a 198ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a entrevista concedida pelo presidente Lula ao programa "Roda Viva".

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Comentários sobre a entrevista concedida pelo presidente Lula ao programa "Roda Viva".
Aparteantes
Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 10/11/2005 - Página 38703
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • CRITICA, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÕES, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL, DESCONHECIMENTO, HISTORIA, ECONOMIA.
  • APRESENTAÇÃO, ESTUDO, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ), REGISTRO, INFERIORIDADE, CRESCIMENTO ECONOMICO, BRASIL, COMPARAÇÃO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO, OPINIÃO, JORNALISTA, DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA, EFEITO, MANUTENÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, ANTERIORIDADE, GOVERNO.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, DEPOIMENTO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, ESCLARECIMENTOS, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, ATUAÇÃO, PREFEITURA, MUNICIPIO, RIBEIRÃO PRETO (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em meu pronunciamento de ontem, fiz algumas considerações sobre o desempenho do Presidente Lula no programa Roda Viva, da TV Cultura, que considerei arrogante, insensível e desinformado. Hoje eu gostaria de destacar um exemplo dessa desinformação, a manipulação de meias-verdades e o manejo de emoções que caracterizou seu pronunciamento.

Uma de suas meias-verdades foi a declaração de que, durante seu mandato, o Brasil está crescendo - entre aspas - “o que não cresceu nos últimos 20 anos”. Na verdade, o Presidente Lula, sempre que fala, parece que o Brasil foi descoberto, Srªs e Srs. Senadores, no dia em que ele assumiu o Governo. Não existia nada. Isso aqui era uma terra devastada. Não existia ninguém trabalhando, ninguém produzindo. O Presidente Lula, notório desinformado do que passa em seu Governo, deu provas de que ou não conhece a história econômica brasileira ou prefere continuar iludindo a população.

A reação dos economistas ouvidos pela imprensa foi de incredulidade. Segundo o professor Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “o Presidente perdeu o senso de proporção. Para usar uma imagem que Lula adora, o Brasil era um time que estava perdendo de 5 a 0 e agora perde de 5 a 1. Só que antes estava na terceira divisão e caiu para a quarta divisão.”

O Brasil tem crescido! Isso é um fato incontestável! Mas, para ser justo e sincero, é preciso reconhecer, primeiro, que o mundo todo está em fase de virtuoso crescimento e que os índices brasileiros estão aquém da média internacional. Se não, vejamos: o Brasil, em 2005, deverá crescer 3,5% - “deveria” crescer 3,5%, porque agora já se espera que o Brasil cresça apenas 3% - frente ao crescimento de 4% da economia mundial. Espera-se que os Estados Unidos cresçam 3,8%. Numa economia daquele tamanho, crescer tanto, evidentemente, é muito mais difícil do que num país de economia menor, segundo estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Comparando-se a previsão de crescimento de outros países do porte do Brasil, temos a Rússia, que vai crescer de 5,5 a 6%; a China, 9,4%; a Argentina, 8%; a Venezuela, 8%; a Índia, 8%. Todos são países chamados emergentes, de padrão de economia do tamanho do Brasil. Portanto, todos eles vão crescer muito mais do que o Brasil está crescendo.

Além disso, para ser coerente, é preciso destacar que esse crescimento é fruto das reformas econômicas empreendidas por governos anteriores, e não das iniciativas do governo petista.

O Consultor José Maria Camargo, da Consultoria Tendências, também disse o seguinte: “O Brasil está crescendo a taxas razoáveis para o padrão histórico dos últimos 20 anos, mas isso é resultado de um processo que começou no início dos anos 90, com a abertura da economia, as privatizações e a adoção do câmbio flutuante, entre outras medidas”.

Atribuir os bons ventos que sopram na economia internacional e, por conseqüência, sobre a brasileira é um claro exemplo de despreparo administrativo ou, principalmente, de um embuste pré-eleitoral.

Como comentei ontem desta tribuna, o Presidente da República, que tanto se entusiasma pela situação atual da economia, deveria reconhecer que está apenas colhendo as sementes plantadas nos governos anteriores e que hoje estão dando os seus resultados.

Quem tem o mínimo conhecimento dos fundamentos em macroeconomia sabe que não é possível transformar os destinos de uma economia em um curto intervalo de tempo.

Lembro-me de uma passagem, Senador Cristovam Buarque, quando perguntaram ao físico Albert Einstein sobre os méritos de sua descoberta no campo da Física Quântica, ao que ele respondeu que o mérito era devido ao fato de ele ter enxergado mais longe porque subira nas costas de gigantes, ou seja, o mérito de suas descobertas decorria do trabalho de grandes físicos que o antecederam.

Então, essa é uma humildade científica, técnica, que todas as pessoas têm de ter, no sentido de não achar que estão descobrindo a roda, que estão fabricando agora uma roda quadrada, quando na realidade estão simplesmente acompanhando aquilo que o País vinha desenvolvendo.

Eu gostaria de apontar a incoerência nesses discursos presidenciais, como tenho procurado demonstrar em meus pronunciamentos. A colunista Miriam Leitão concluiu, de maneira magistral - vamos dizer assim -, o que escreveu sobre o discurso do Presidente Lula na área econômica:

Mas Lula, ao falar de economia, entra em uma contradição insanável: tudo isso foi conseguido pela manutenção da política econômica que ele criticou e prometeu mudar. Ele se jacta dos resultados e esquece de dizer que mudou de idéia a respeito de como conduzir a economia [..]. O problema não é se Lula tem ou não razão, é como ele explica para si mesmo mudanças tão radicais de avaliação, de valores e de convicções”.

            Por outro lado, Sr. Presidente, tivemos agora a divulgação, pelo IBGE, do crescimento industrial do terceiro trimestre, que está em ritmo de forte desaceleração. Refere-se ao crescimento em relação ao trimestre correspondente do ano anterior. Enquanto que, no ano passado, o crescimento, no primeiro trimestre, foi de 6,5%; no segundo trimestre, de 10%; no terceiro trimestre, de 10%; e no quarto trimestre, de 6,3%; neste ano, já houve uma desaceleração: primeiro trimestre, 3,9%; segundo trimestre, 6,1%; e terceiro trimestre, apenas 1,5%.

Portanto, a produção industrial cresceu cerca de 4% em 2004 e foi o sustentáculo do crescimento do PIB no ano passado, já que em 2003 houve um decréscimo, ou seja, a economia ficou parada. Neste ano, ou seja, no terceiro ano de governo, quando sua ação poderia ser mais bem vista, a produção deve crescer menos em razão dos problemas que estão ocorrendo na agricultura, principalmente com a febre aftosa, e em todo o setor agrícola. Será de se admirar se aquele crescimento de 4,5% ou 5%, a que se referiu o Presidente Lula, chegar a 3%.

Concedo um aparte ao Senador Ramez Tebet.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador José Jorge, tenho uma opinião sobre o crescimento do nosso País. Concordo com V. Exª que o Brasil vem crescendo, mas esse crescimento da riqueza nacional se deve - é preciso fazer justiça - à sociedade brasileira.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - Isso é verdade.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Em primeiro lugar, o Brasil vem crescendo menos do que os países emergentes. Em segundo lugar, foi outro dia que votamos, nesta Casa, quase o que se está chamando aí de minirreforma tributária, a chamada MP do Bem. Então temos que atribuir o crescimento da economia à sociedade brasileira, ao setor industrial, à agricultura, à pecuária, que, sem incentivo nenhum, enfrentando a segunda maior carga tributária do mundo...

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - E o maior juro.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) -...e o maior juro do mundo - só estamos perdendo para a Turquia -, ainda estão conseguindo competitividade no mercado internacional. Isso significa o quê? Significa que os industriais brasileiros, que os produtores brasileiros, que os trabalhadores brasileiros, que todos estão trabalhando independentemente de tudo. Eles não querem saber... É o esforço da nossa cadeia produtiva que está possibilitando o crescimento que o Brasil está tendo. Esse é o meu ponto de vista. Aliás, acho que a sociedade brasileira está é indignada, estupefata. Os acontecimentos estão ficando banalizados no País e a sociedade entendeu que, se nós não formos para frente, ninguém vai nos ajudar.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - É verdade.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Ela só não quer que a atrapalhem. Essa é a verdade. Então, temos que louvar a capacidade da classe produtiva do País.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE) - V. Exª tem razão.

Para que o Governo tivesse uma participação importante no crescimento da economia, ele teria que ter, primeiro, diminuído o juro - ele só fez aumentar o juro -, segundo, diminuído a carga tributária - só fez aumentá-la - e, terceiro, ter sido um governo competente, eficiente. Pode-se ver, pela febre aftosa e por tantas outras coisas que estão acontecendo, que o Governo é ineficaz e não cumpre as suas obrigações.

Por último, Sr. Presidente, em relação à questão da vinda do Ministro Palocci, uma vez que ficou combinado que ele viria no dia 22 para falar na Comissão de Assuntos Econômicos, eu gostaria de dizer que é importante que ele venha aqui neste dia, sim, para falar sobre essas questões da economia, mas isso não retira dele a obrigação de ter de vir aqui explicar, na CPI dos Bingos, a questão de Ribeirão Preto e do dinheiro de Cuba.

Em primeiro lugar, queremos ser o mais responsáveis possível, mas, apesar do crescimento medíocre da economia, não queremos ser acusados de atrapalhar, se houver uma dificuldade maior. Nós vamos ouvi-lo na Comissão de Assuntos Econômicos e, após essas novas audiências que teremos com o Poletto, com o Buratti e outros, vamos tentar, mais uma vez, aprovar um requerimento para que ele venha também falar na CPI dos Bingos.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/11/2005 - Página 38703