Discurso durante a 198ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Os desdobramentos da entrevista concedida pelo presidente Lula ao programa "Roda Viva". O impacto da crise política sobre a economia no país.

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Os desdobramentos da entrevista concedida pelo presidente Lula ao programa "Roda Viva". O impacto da crise política sobre a economia no país.
Publicação
Publicação no DSF de 10/11/2005 - Página 38717
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, DESCONHECIMENTO, CRISE, POLITICA NACIONAL.
  • REGISTRO, SUPERIORIDADE, PREÇO, INSUMO, AGRICULTURA, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, MOTIVO, EXCESSO, TRIBUTAÇÃO, BRASIL, PROTESTO, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), PRESIDENTE DA REPUBLICA, INEXATIDÃO, AVALIAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL.
  • COMENTARIO, DADOS, REDUÇÃO, TAXAS, CRESCIMENTO, INDUSTRIA, BAIXA, CONSUMO, APREENSÃO, AUMENTO, DESEMPREGO, CRISE, AGRICULTURA.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos já falaram sobre a entrevista do Presidente Lula, e também acompanhei o desdobramento daquilo que foi uma entrevista totalmente desvinculada da realidade que vive o País, completamente.

Ontem o Senador Antonio Carlos Magalhães fez uma análise com a qual concordo inteiramente, porque não é possível que o Presidente esteja tão desinformado. Ou Sua Excelência está tão desinformado como pareceu ou se trata de cinismo, o que é pior. Espero que seja desinformação.

Ontem eu estava presidindo a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária e vi a apresentação dos representantes das empresas fabricantes de insumos agrícolas. Uma pergunta que fiz reflete bem o que está ocorrendo em nosso País. Os insumos agrícolas aqui, as mesmas marcas, os mesmos princípios ativos têm preços 50%, na média, superiores aos preços dos produtos agrícolas na Argentina. E o que me responderam os fabricantes? Que é impossível cobrar o preço que cobram na Argentina em função da carga tributária, em função da burocracia, em função do custo que o Governo impõe para um fabricante de qualquer produto no País.

E parece que o Presidente está desinformado inclusive disso, como está desinformado o Ministro Antonio Palocci, porque todos os pronunciamentos do Ministro e todos os pronunciamentos do Presidente Lula são na mesma direção: que está tudo bem com a agricultura e com a indústria.

Acabo de ler uma notícia na Folha Online de hoje à tarde a respeito do que está acontecendo com a indústria. Um comparativo de setembro para agosto mostra que houve uma queda de 2% no desempenho da indústria. E 2% de um mês para outro é muita coisa. O crescimento do primeiro trimestre, que havia sido de 3,9%, ficou abaixo do segundo trimestre, que foi de 6,1%, mas muito acima do terceiro trimestre, que foi de apenas 1,5%. Portanto, a indústria já começa a se desacelerar.

O impacto da crise política na economia não pode ser negado pelo Governo. A pesquisa demonstra que os três principais causadores da queda no desempenho da indústria são: taxa de juros, câmbio e baixo consumo; um conseqüência do outro, porque, quando aumenta a taxa de juros, é claro que o câmbio determina a supervalorização do real, e, com isso, há uma queda brutal no consumo, como está havendo.

Por exemplo, tevê e geladeira, bens de consumo: no terceiro trimestre, 8,9% menor em relação ao primeiro trimestre. Não é pouca coisa. Alimentos: queda de 3,4%. Isso significa que o brasileiro passou a fazer economia na prateleira; não é apenas na compra da televisão, na compra de um bem de consumo que é considerado supérfluo, não; é na prateleira. Isso significa que o trabalhador não está ganhando o suficiente para se alimentar de forma adequada. E observe que isso vai agravar ainda mais o desemprego.

O Presidente Lula dizia na campanha que o Brasil precisava gerar dez milhões de empregos. Ele continua repetindo esse número e diz que seu Governo já gerou três milhões de empregos. Ora, tenho dados aqui. O setor que mais gerava empregos até o Governo Lula assumir era a agricultura. Deixou de ser. É preciso atualizar o discurso. Há pessoas ainda fazendo discursos como se a agricultura vivesse momentos maravilhosos. Dizem que os agricultores estão ganhando, que os agricultores estão capitalizados. Não é verdade! Ocorre que, com a queda brutal do dólar em relação ao real, com a taxa de câmbio irreal que estamos vivendo e com a alta taxa de juros, fatores esses aliados à falta de crédito para o produtor, à falta de atendimento do mínimo necessário, principalmente em relação à rolagem das dívidas aqui pleiteadas, houve um desemprego brutal no campo.

Os dados não mentem: de janeiro a julho deste ano, foram gerados no interior do País, ou seja, pela agricultura, 219.940 empregos, o que significou uma redução de 19%, portanto, queda em relação a 2004. Enquanto, em 2003 - este dado é muito importante -, a agropecuária gerava 38% do total de empregos criados no País - naquele bom momento que o setor vivia -, em 2004, apenas 22%; em 2005, 20%. Isso é o que está fazendo o Governo Lula pela agricultura brasileira. A agricultura participava com 38% dos empregos gerados no País quando ele começou a governar, e, neste ano, participa com apenas 20%. Caiu pela metade, portanto, a geração de empregos no campo deste País!

Sr. Presidente, sei que meu tempo está terminando, mas, nestes 30 segundos, gostaria de dizer que vou alertar o Presidente da República e o Ministro Antonio Palocci para que se informem direito. A situação vai se agravar. Com a aftosa, com essa taxa de câmbio, no próximo ano, a agricultura brasileira vai se afundar em uma crise sem proporções, e essa crise vai atingir a toda a sociedade brasileira.

É o alerta que faço, pelo bem do Brasil, ao Governo brasileiro.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/11/2005 - Página 38717