Pronunciamento de Gilberto Mestrinho em 17/10/2005
Discurso durante a 181ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Considerações sobre a seca no Estado do Amazonas.
- Autor
- Gilberto Mestrinho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AM)
- Nome completo: Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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CALAMIDADE PUBLICA.
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
- Considerações sobre a seca no Estado do Amazonas.
- Publicação
- Publicação no DSF de 11/11/2005 - Página 39183
- Assunto
- Outros > CALAMIDADE PUBLICA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
- Indexação
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- COMENTARIO, GRAVIDADE, SECA, REGIÃO AMAZONICA, CRITICA, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, ACUSAÇÃO, RESPONSABILIDADE, DESMATAMENTO, SUSPEIÇÃO, OBJETIVO, IMPEDIMENTO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.
- ANALISE, ECOLOGIA, INTEGRAÇÃO, PLANETA TERRA, ALTERAÇÃO, CLIMA.
- ELOGIO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, FORÇAS ARMADAS, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ASSISTENCIA, VITIMA, SECA.
- REGISTRO, HISTORIA, DESMATAMENTO, REGIÃO AMAZONICA, RESPONSABILIDADE, PROGRAMA, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, INICIATIVA, POPULAÇÃO, LOCAL.
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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR GILBERTO MESTRINHO NA SESSÃO DO DIA 17 DE OUTUBRO, DE 2005, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.
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O SR. GILBERTO MESTRINHO (PMDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente Leonel Pavan, temos visto na televisão, ouvido nos rádios, lido nos jornais, notícia sobre a situação por que passa a Amazônia: seca, mudanças climáticas, enfim, uma série de ocorrências que, para os que não conhecem a região nem a sua história, pareciam impossíveis. Efetivamente a seca deste ano, ou a estiagem, como dizemos lá, foi muito prolongada e fez com que algumas regiões - é sabido que na Amazônia toda a comunicação física é feita pelos rios, já que não temos estradas - tivessem problemas da maior seriedade.
Diante dessa situação, aparecem os aproveitadores, os que querem engessar a Amazônia, inventando histórias, hipóteses, causas sem nenhum fundamento científico, como se aquilo fosse conseqüência de um suposto desmatamento. Ora, o que acontece não é conseqüência de nenhum desmatamento porque, em 1963, por exemplo, quando eu terminava o primeiro governo e vinha para cá como Deputado Federal, houve uma seca, uma estiagem bem maior do que esta. Naquele tempo, o meu Estado tinha um terço da população, e a floresta estava intocada, como continua até hoje praticamente, e todo o restante da Amazônia não tinha a metade da população que tem hoje, e a atividade florestal era quase nenhuma na região. Se voltarmos ao passado mais distante, veremos que, no início do século passado, houve vazante maior do que esta. A verdade é que naquele tempo não havia televisão, não havia rádio, não havia jornais circulando para noticiarem. As coisas aconteciam e não se sabia. Havia muito pouca gente na região amazônica, que era um imenso vazio. Agora querem culpar supostos desmatamentos, como se tais desmatamentos tivessem alguma influência nessa questão, mesmo porque é sabido - e foi divulgada - que houve uma redução fantástica no desmatamento no último ano.
uma contradição: quando existe desmatamento seca mais? Quando existe desmatamento a estiagem é maior? Não, meus amigos! Os cientistas, que tanto se preocupam com a Amazônia, deviam olhar, pensar, refletir sobre o que vem ocorrendo no globo terrestre. O que é a Terra? É uma imensa bola, protegida por placas tectônicas - não sei como se chama cientificamente - com o interior de fogo, de magma. Do interior dessa bola, são retirados milhares e milhares de barris de petróleo, uma quantidade fantástica de minérios. Será que isso não tem influência no que está acontecendo na nossa Terra onde vivemos, naquela gaia de que todos falam? Não, meus amigos! É preciso pensar melhor no que acontece, no que se vê, no que se sente.
Os terremotos, o que são? Os maremotos, as tempestades tropicais, tudo isso deve ser objeto de preocupação, e não atribuir tudo isso ao desmatamento de meia dúzia de hectares - olhando-se o tamanho fantástico da Amazônia - lá na Amazônia.
Felizmente, as providências cabíveis de assistência às populações estão sendo tomadas. O Governador do Estado, Eduardo Braga, tem dado uma atenção especial e levado atendimento às populações isoladas. O Governo Federal participa fornecendo combustível para as Forças Armadas. O Exército, a Marinha e a Aeronáutica estão tendo uma atuação fantástica na região. Mas o importante é olharmos para o que acontecerá depois.
Que providências tomar? O que fazer para que a Amazônia continue verde e natural, com muita água doce, levando vida, favorecendo o progresso, continuando o seu desenvolvimento, e não sendo engessada, como alguns querem?
Esse fato que acontece na Amazônia poderia acontecer em qualquer parte do mundo. E tem acontecido: as enchentes no sudeste asiático, as queimadas na Europa, fantásticas. Quase todas as florestas de Espanha e Portugal foram dizimadas num recente incêndio. As florestas da Califórnia se queimam automaticamente, têm autocombustão. E ninguém atribui isso a mudanças climáticas, causas de aquecimento terrestre.
Essa teoria de que os fatos são conseqüência do aquecimento terrestre são causa de riso até, porque o rio Amazonas é alimentado pelo degelo dos Andes. Se o aquecimento terrestre estivesse influindo, os Andes, naturalmente, derreteriam mais, haveria inundação e não seca. Essa é a realidade. Isso é que o acontece lá na região.
Assim, não se preocupem. Vamos ficar atentos para que não se use a estiagem na Amazônia para evitar o trabalho do homem na região; não se use a estiagem da Amazônia para justificar políticas que não são aquelas adequadas ao meio ambiente real. Vamos olhar o que está acontecendo. O problema de desmatamento da Amazônia vem sendo muito objeto de discussão, mas ninguém diz as causas, por que aconteceram.
O desmatamento da Amazônia teve três fases: a primeira, no pós-guerra, quando o mundo julgava que não haveria carne na Europa. O rebanho bovino havia sido devastado do continente europeu, pensaram que iria faltar carne na Europa. Então, Banco Mundial, Governo Brasileiro e autoridades federais, juntos, uniram-se a grandes empresários de multinacionais para montar um grande centro produtor de carnes no sul do Pará. E lá estavam grandes companhias - inclusive Mercedes Benz e Volkswagen, que também iam produzir carne no Brasil - e fizeram um desmatamento muito grande no sul do Pará, endossando o Banco Mundial e o Governo Brasileiro.
A segunda fase de desmatamento na região amazônica também não foi o homem da Amazônia que fez. Foi quando se criou o Estado de Rondônia, e uma campanha foi feita especialmente nos Estados do sul, procurando atrair colonizadores para o Estado de Rondônia. Seria o novo pólo cafeeiro do Brasil. Por isso que, na representação de Rondônia, é muito difícil encontrar um rondoniense, um homem de Rondônia. Quase todos são do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina. São pessoas do sul do Brasil que foram para lá para plantar café, criar gado, produzir cassiterita, viver um novo Eldorado. Foram criar um pólo cafeeiro e cacaueiro lá em Rondônia, e assim, se fez o desmatamento. Criaram um Estado grande e próspero, com um povo admirável. Rondônia é hoje um Estado progressista, de crescimento, que dá orgulho a nós, da Amazônia.
A terceira fase de desmatamento foi quando o Governo Federal estimulou a chamada recomposição ou reconstrução da atividade da borracha. Então, estimulou as pessoas a comprarem os seringais que estavam abandonados, especialmente no Amazonas e no Acre. Chamavam as pessoas e diziam o seguinte: você vai lá, compra, e o Banco do Brasil dará três vezes o valor. Então, as pessoas chegavam lá com os antigos donos dos seringais, que não valiam nada na época, e diziam: “Quero comprar o seu seringal”. Elas ficavam felizes, admiradas com aquilo e perguntavam: “Mas quanto você quer pelo seringal?” Respondiam: “R$100 mil, R$200 mil, R$300mil”. E replicavam: “Não, eu vou fazer o seguinte: dou-lhe mais R$100 mil, mas você passa a escritura por R$3 milhões, R$4 milhões”. Porque, com essa escritura, ia-se ao Banco do Brasil e recebia três vezes mais em empréstimo. Daí começou o desmatamento dos seringais do Acre para a formação de campos de pastagem, o que causou a morte de Chico Mendes. Essa é a história real. Afora isso, não há desmatamento feito pelo homem da Amazônia. Tudo é feito por indução do Governo brasileiro ou com a sua conivência. Então, temos que ter cuidado com relação às ações que querem fazer no que tange à floresta amazônica, especialmente quando se sabe que ninguém do Governo, principalmente os que cuidam do meio ambiente, conhece a floresta amazônica, a vida da Amazônia, com exceção da Ministra Marina Silva, que lá viveu, e também do Presidente do Ibama, que é muito bom médico, especializado em doenças tropicais, mas não tem nada a ver com meio ambiente. Com exceção desses, o resto não conhece nada e só faz mal à Amazônia. É por isso que não dá certo a política do Ibama e o órgão é tão desacreditado lá na Amazônia, especialmente no Amazonas.
Muito obrigado, Sr. Presidente.