Discurso durante a 202ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Situação em que se encontram as estradas brasileiras. Manifestação em defesa da utilização do biodiesel.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA AGRICOLA.:
  • Situação em que se encontram as estradas brasileiras. Manifestação em defesa da utilização do biodiesel.
Aparteantes
Gilberto Goellner.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2005 - Página 39967
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • COMENTARIO, DEBATE, SENADOR, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, QUESTIONAMENTO, DADOS, EXPORTAÇÃO, MOTIVO, PREJUIZO, SOJA, PECUARIA, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS, AUMENTO, INVESTIMENTO PUBLICO.
  • REGISTRO, DADOS, PRECARIEDADE, RODOVIA, PREJUIZO, TRANSPORTE DE CARGA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO PUBLICO, INFRAESTRUTURA, TRANSPORTE, ENCAMINHAMENTO, ORADOR, PROPOSTA, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, AGILIZAÇÃO, MANUTENÇÃO.
  • REITERAÇÃO, PROPOSTA, CULTIVO, MAMONA, PRODUÇÃO, Biodiesel, EXPECTATIVA, RETIRADA, RESTRIÇÃO, LOCAL, LAVOURA.
  • IMPORTANCIA, POLITICA DE EMPREGO, ALTERNATIVA, ASSISTENCIA SOCIAL, BOLSA FAMILIA.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Não será necessário, Sr. Presidente.

Senador Mão Santa, V. Exª, como eu, o Senador Tasso Jereissati e vários outros aqui presentes, foi Governador. Não sei se deveria começar. Tenho certeza de que o Brasil inteiro está pendurado na TV Senado: ou está assistindo à CPI ou a este Plenário.

O que vimos aqui foi um debate acadêmico. Não sei se aqui estava a Universidade de Harvard, Yale, Cambridge ou qualquer outra, mas a linguagem era acadêmica e, na percepção do grande povo, quase incompreensível, porque a ciência econômica tem elementos tão sutis que às vezes fogem à regra matemática.

Sou um homem da engenharia, amigo dos números e, na minha matemática, às vezes, o fato econômico não se submete a uma equação matemática. Por quê? Por causa dos imponderáveis. Querem ver um que põe por terra, pelo menos momentaneamente, a discussão acadêmica de que acabamos de falar? Eu estava há pouco conversando com o Senador Gilberto Goellner, que é um produtor de soja. Trinta e cinco por cento desses 100 bilhões que se anunciam como superávit primário, exportações brasileiras, ele está acabando de me dizer que teve um prejuízo de 10 milhões. Por quê? Porque bateu na soja uma praga que se chama ferrugem asiática, que só se combate com defensivos. E lá vai a balança de exportação começar a cair, porque, como S. Exª está dizendo, todos os produtores estão tendo o mesmo prejuízo. De outro lado, temos os produtores de carne, que já perderam bilhões com a febre aftosa. Então, no próximo ano, haverá um buraco nas exportações, mas a discussão acadêmica continua aqui.

Outro número para completar o que vou falar - não é a primeira vez que digo aqui, e isto aconteceu no Governo do Sr. Fernando Henrique e está acontecendo no Governo do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva: o Brasil optou pelo rodoviarismo. A riqueza brasileira, para chegar aos portos de exportação, tem que andar em cima de pneumáticos. São 2 milhões de carretas circulando em estradas destruídas. Sabe quantos quilômetros estão destruídos? Mais de 20 mil, Senador Mão Santa. Vinte mil quilômetros estão destruídos! Foi por isso que a Ministra Dilma Rousseff disse que é preciso deixar um pouco desse dinheiro aqui para aplicarmos em infra-estrutura. Sabe quanto é o déficit e o prejuízo do Brasil com essas estradas destruídas? Vou repetir os números, porque nunca é demais repetir números que são reais. Perdemos R$6 bilhões só em óleo diesel jogado fora nas freadas, acelerações e desacelerações de 2 milhões de carretas andando em 20 mil quilômetros de estradas destruídas. Eu levei esses números à Ministra Dilma Rousseff e acho que foi por isso que ela falou que é preciso que a política do Sr. Palocci deixe algum dinheiro para aplicar. Porque a Cide gera dez bilhões. Distribui 25% entre Estados e Municípios, e, o restante, os cinco, seis bilhões, foram para onde? Para pagar juros. E o aumento do frete? 35% de frete mais alto por causa dos buracos.

O que propus à Ministra e levei em números é que S. Exª criasse, por meio do Ministério dos Transportes ou de alguma maneira, um grupo de trabalho lá no Palácio do Planalto para acelerar o reparo das estradas, porque o prejuízo é da ordem de 13 bilhões. São 6 bilhões em óleo e 7 bilhões em aumento de frete. Se considerarmos 2 milhões de carretas, são 80 bilhões de patrimônio. Colocando 15% de quebra de eixo, pneu retorcido, carroceria, temos aí mais 20 bilhões de prejuízo na economia do País. Somando tudo, dá 30 bilhões. A discussão acadêmica deve continuar, mas não assim, em um jogo de pingue-pongue. Vamos juntar todos, Oposição e Governo, e sentar para discutir isso sem pingue-pongue.

O País precisa de encontrar uma saída? Precisa. Primeiro, vamos separar o dinheiro das estradas e vamos consertar essas estradas correndo; os corredores principais. Vamos chegar nos portos e vamos aplicar dinheiro, para que o nosso prejuízo seja menor, porque pagamos 35% de taxas nos portos, por causa de deficiências várias, filas e filas de carretas nos portos. Portos e estradas são os dois problemas principais neste instante, e a discussão acadêmica aqui não tocou nisso.

Agora, vamos pegar o pobre povo brasileiro, os brasileiros que estão desempregados. O Presidente adotou uma fórmula - não discuto: essa questão da Bolsa Família, R$90,00 por mês. Já são oito milhões de família, dez milhões, vai para doze milhões. Isso resolve o problema do desemprego? R$90,00 por mês? Isso dá para sustentar uma família? Não. É um paliativo? É. O Presidente está errado? Acho que não, mas o problema é outro.

As crianças de 1 a 4 anos das famílias desempregadas não têm nem o café da manhã. As de 7 anos têm a merenda, que nem sei se dá para todos, mas algumas famílias do meu Estado, Senador Mão Santa, fiz uma consulta e fiquei entalado. Perguntei: vocês tomam café pela manhã? “ - Senador, a primeira refeição dos meninos é a merenda escolar.”

As crianças saem em jejum de casa, porque não têm nada. Noventa reais dão para isso? Não dão. Podemos fazer milagre? Também não, mas, se temos de ir a algum lugar, temos de dar um passo.

            As teorias econômicas dizem: investimento gera emprego. Fui Governador duas vezes, e V. Exª também, Senador Mão Santa. Nós íamos à Sudene. Chegando lá, havia projetos e projetos e projetos. O projeto A gera dez mil empregos; o outro, dois mil; o outro, três mil. Quanto custa um emprego na indústria, senhores? Quem já fez essa continha? Sabem quanto custa um emprego na indústria? Um emprego custa R$10.000,00, R$ 20.000,00, R$ 30.000,00.

            Na proposta que estamos fazendo, se plantarmos um milhão de hectares de mamona e colocarmos um milhão de pessoas no campo produzindo, elas ganharão R$1.000,00 por mês, com três hectares de mamona e feijão. Por que não essa política?

            Estamos entrando nessa seara de plantar mamona para produzir biodiesel e, de repente, um grupo tecnocrata de Campina Grande, do alto da sua sapiência, diz: - Só se deve plantar a partir de trezentos metros de altitude.

            No Ceará, altitude de 300 metros só nas serras, como a de Ibiapaba. Quando não chove, não adiantam 900 metros de altura, porque não dá nada, zero, no semi-árido nordestino. E tem o zoneamento em que não pode plantar.

Então, o Pronaf não atende mais ninguém que queira plantar mamona, porque somente se pode plantar mamona a 300 metros de altitude. Pelo amor de Deus, é preciso acabar com isso já, porque os nordestinos estão interessados em plantar mamona e feijão e em produzir riqueza e emprego. É disso que eles estão precisando.

Já pedimos uma solução ao Ministro da Agricultura, mas a resposta está demorando, porque o pessoal de Campina Grande não concorda. Porém, o pessoal da Embrapa Meio-Norte do Piauí, concorda com isso, e já plantamos mamona ao nível do mar e tiramos uma tonelada, consorciada com feijão. Se tirarmos o feijão e plantarmos apenas mamona, serão duas toneladas, quase a mesma quantidade obtida a 300 metros de altitude.

O Sr. Gilberto Goellner (PFL - MT) - Senador Alberto Silva, concede-me V. Exª um aparte?

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Concedo, com todo o prazer, um aparte a V. Exª.

O Sr. Gilberto Goellner (PFL - MT) - Senador Alberto Silva, V. Exª trata hoje, com muita praticidade, de um assunto de extrema importância: o biodiesel. O assistencialismo não dá certo, mas, às vezes, é a forma de resolver a questão, prevenindo alguns problemas sérios existentes no País. Na área de biodiesel, V. Exª é um grande defensor da idéia, pois convive com isso há mais de 30 anos.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Isso mesmo.

O Sr. Gilberto Goellner (PFL - MT) - V. Exª fez estudos sobre o assunto. Como me disse pessoalmente há pouco, V. Exª foi convocado pelo Presidente Geisel a desenvolver um projeto de utilização do biodiesel para o Brasil.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Exatamente.

O Sr. Gilberto Goellner (PFL - MT) - Qualquer outro país do mundo, com os recursos naturais que o Brasil possui, já teria resolvido o problema do combustível, assim como fizemos com a utilização do álcool para os motores em substituição à gasolina. Atualmente, o diesel brasileiro é importado em grande parte - são mais de oito bilhões de litros importados. Teríamos hoje condição também de utilizar o óleo da soja, do girassol e de outras plantas, oleaginosas principalmente. Esses produtos poderiam ser utilizados convenientemente a um custo bem menor do que o óleo diesel. Vejo que essa é uma grande opção que temos, porque, quanto ao transporte rodoviário a que V. Exª se referiu, o custo do óleo diesel, para o caminhoneiro, para o detentor do caminhão, representa hoje entre 50% e 61% do custo total da operação rodoviária.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Porque ele gasta 35% mais por causa dos buracos.

O Sr. Gilberto Goellner (PFL - MT) - Sim, principalmente por esses 35%, por causa das estradas mal-conservadas no Brasil e pela não-aplicação da Cide convenientemente, como teria que ter sido feita já nos últimos quatro ou cinco anos. Existem contingenciados mais de R$27 bilhões não aplicados em infra-estrutura. Então, Senador Alberto Silva, congratulo-me com V. Exª e vejo que precisamos evoluir nesse debate do biodiesel. Na Alemanha já há projetos e estudos e, naquele país, têm utilizado 95% de óleo vegetal puro em seus motores a diesel, em substituição ao petróleo. É o que precisamos desenvolver para resolver a rentabilidade desta cultura, que está seriamente comprometida: a soja. Então, com a mesma área, poderíamos estar hoje utilizando o óleo de soja em motores a diesel com misturas que variam não com 2%, mas com 20%, a 50% e até a 95% de óleo puro vegetal, o que é perfeitamente viável. Existe hoje tecnologia para isso. Mas V. Exª também tem outra proposta, muito interessante, que deve ser colocada à frente: a utilização desse óleo de soja para a rentabilidade da lavoura. Meus parabéns!

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Muito obrigado.

Meu caro Presidente, vejo que aquela discussão deve ter ficado transferida para outra data e quero cumprimentá-lo pela maneira como a conduziu. V. Exª até se referiu ao nosso Suplicy como o Cirineu que deveria ter estado aqui para levantar essa cruz de um lado e outro, sempre com essa alegria própria de V. Exª.

Quero agradecer os adjetivos que V. Exª sempre coloca sobre a minha modesta pessoa e dizer que parto do seguinte principio: ontem, ouvimos toda aquela discussão do Ministro Palocci, explicando porque a economia estava assim. Houve debates, mas creio que não se chegou a nenhum lugar. A política é a mesma, mas os problemas que o País enfrenta têm solução, sim. Acreditamos que podemos fazer isso. É uma questão de, em vez de fazer discussões puramente acadêmica, juntar os economistas que hoje discutiram aqui em uma mesa redonda para chegarem a um acordo sobre qual é a melhor política econômica para o País. Mas eu diria que a Ministra Dilma Rousseff está certa. S. Exª disse que tem de ficar alguma coisa desse superávit primário tão grande e tão alto.

Há pouco, conversando com o nosso ex-Governador Tasso Jereissati, perguntei: esse lucro quase que inacreditável dos bancos é oriundo de quê? S. Exª disse: “Da política econômica do Governo”. É por isso que os bancos ganham R$4 bilhões, R$5 bilhões. Como é possível ganhar isso tudo? O ex-Governador Tasso Jereissati, que entende bastante disso por ser um empresário bem sucedido, diz que é a política econômica do Governo.

Então, vamos nos sentar todos à volta de uma mesa e discutir. Não pode continuar tanta gente desempregada, passando fome, e nós discutindo o superávit primário a mais ou a menos. Quanta coisa se precisa fazer e que se pode fazer com criatividade, com bom senso e com capacidade executiva.

Podemos, sim, gerar milhões de empregos produzindo álcool. O Brasil tem solo, tem sol, tem água, tem terra, tem gente desempregada. Nós podemos produzir trinta bilhões de litros de álcool e ser o maior produtor de combustível alternativo do mundo, com o biodiesel de um lado e o álcool do outro, porque são combustíveis que vêm da terra. E a riqueza de qualquer civilização tem que nascer da terra ou do mar. O Brasil tem terra e até tem mar. Só não temos barco para pescar, mas temos riquezas a serem exploradas.

É isso, meu caro Senador Mão Santa! Nós fomos governadores de um Estado pobre, mas fizemos o que foi possível com a educação - V. Exª e eu - e demos ao nosso Estado a oportunidade de muita gente trabalhar. Na verdade, durante os nossos governos, não havia tanta gente desempregada e tanta desesperança.

Por isso, quero cumprimentar V. Exª pelo grande governador que foi e alinhar-me aos companheiros daqui que desejam discutir os problemas do Brasil. Vamos nos reunir e, ao invés de fazer a discussão acadêmica, vamos ser práticos. O Brasil precisa de quê? De emprego. É preciso empregar gente brasileira, porque esmola não dá. O Bolsa Família é um paliativo.

Presidente Lula, pense nisso: Vossa Excelência prometeu trabalhar para gerar dez milhões de empregos. O Bolsa Família é um paliativo. Tenho certeza de que Vossa Excelência quer chegar lá. Pois use os instrumentos que um Presidente da República tem, use mais sua Ministra Dilma, e tenho certeza de que chegará lá.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2005 - Página 39967