Pronunciamento de Aloizio Mercadante em 23/11/2005
Discurso durante a 207ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Comemoração dos 50 anos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos - Dieese.
- Autor
- Aloizio Mercadante (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Aloizio Mercadante Oliva
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Comemoração dos 50 anos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos - Dieese.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/11/2005 - Página 40719
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, FUNDAÇÃO, DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATISTICA E ESTUDOS SOCIO ECONOMICOS (DIEESE), IMPORTANCIA, ESTUDO, PESQUISA, INFLAÇÃO, EMPREGO, RENDA, SUBSIDIOS, MOVIMENTO TRABALHISTA.
- DEPOIMENTO, ATUAÇÃO, ORADOR, ASSESSORIA, SINDICATO, CENTRAL UNICA DOS TRABALHADORES (CUT), PARCERIA, DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATISTICA E ESTUDOS SOCIO ECONOMICOS (DIEESE), ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, POLITICA NACIONAL, CONGRATULAÇÕES, TECNICO, COMPROMISSO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, TRABALHADOR, UNIDADE, AUTONOMIA, ENTIDADES SINDICAIS.
O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores; ilustríssimo Sr. Presidente do Dieese, Carlos Andreu Ortiz; Sr. Vice-Presidente do Dieese, João Cayres; Sr. Diretor Técnico, Clemente Ganz Lúcio; Sr. Coordenador Regional do Dieese do Distrito Federal, Epaminondas Lino de Jesus; Sr. Coordenador de Ações Sindicais, Nelson Karam; meu companheiro e amigo, ex-técnico, Diretor do Dieese durante tantos anos, e que sempre tem contribuído ao longo da minha vida pública e acadêmica, companheiro Antonio Prado, é uma honra assomar a esta tribuna para prestigiar uma instituição como o Dieese. Uma honra porque, na história republicana, são poucas as instituições que conseguiram sobreviver meio século, em particular aquelas que vêm do mundo do trabalho.
O Dieese é a única instituição de que tenho informação, em âmbito internacional, que realiza pesquisas mensais de inflação, emprego e renda, produzidas pela própria instituição. Em geral, esses indicadores não são produzidos por entidades sindicais ou intersindicais. O Dieese, portanto, inovou, construiu credibilidade, atravessou as mais diversas adversidades econômicas e políticas e construiu indicadores que são referência para os trabalhadores, para o debate acadêmico, para a reflexão sobre a natureza do desenvolvimento do Brasil, a distribuição de renda, o custo de vida, o emprego, as negociações coletivas, as greves. Esses indicadores são fundamentais, portanto, para construir políticas públicas e para impulsionar a luta dos trabalhadores no mundo sindical.
Fui assessor sindical por mais de uma década. Fui o primeiro assessor econômico da CUT, fundei o Desep (Departamento de Estudos Sócio-Econômicos e Políticos) da CUT. Meu primeiro contato com o Dieese vem do ano de 1974. Já se vão mais de trinta anos. Naquela época, o Presidente do Dieese era Walter Barelli e meu parceiro era o saudoso “Bimbo, Antônio Carlos de Azevedo, figura única, de grandeza pessoal, professor da USP, dava aulas de cálculo e estatística, e sempre participou e colaborou com o Dieese.
Há mais de trinta anos, eu já tinha um interesse muito grande na área da economia do trabalho, coisa que nunca perdi ao longo de minha vida. Minha tese de mestrado na Unicamp é sobre economia do trabalho, e o Dieese deu um grande aporte em termos de dados, de apoio, já a partir de 1977. Na graduação, também desenvolvi trabalhos nessa área. Ao longo de toda a minha vida acadêmica, de militante e de assessor sindical, fiquei nove anos na CUT e ajudei a escrever os estatutos daquela entidade, a concepção sindical.
Naquela época, não sabíamos sequer como construir uma central sindical. Eu e Osvaldo Bargas, que hoje coordena o Fórum Nacional do Trabalho e também foi diretor do Dieese, fizemos uma viagem de mais de um mês para conhecer as diversas centrais sindicais do mundo e trazer um pouco da experiência internacional, porque a memória sindical tinha sido apagada. Mesmo a CGT pré-64 era um comando, não uma central sindical. A única central sindical do passado, na História do Brasil, era a COB (Confederação Operária Brasileira), de 1906. Portanto, não havia subsídios de como funcionava uma central sindical, como eram as estruturas internas, os mecanismos de democracia, de representação, os departamentos.
Na criação da CUT, eu me lembro que havia certa tensão em relação ao futuro do Dieese, mas isso nunca foi questionado. Sempre foi preservada a idéia de que era indispensável manter uma instituição intersindical cuja legitimidade vinha, inclusive, dessa abrangência, dessa capacidade de manter a unidade sindical em um único instrumento. E eu não conheço nenhum outro lugar do mundo, a não ser onde há uma central única, em que as centrais sindicais tenham como parceria um único instituto de pesquisa, como é o Dieese, uma instituição que hoje está com representação em quinze capitais, que formou quadros técnicos, para todos os níveis, para as políticas públicas. Quantos intelectuais de prestígio, dirigentes, formadores de opinião nasceram exatamente dessa instituição, que produziu tantas informações e contribuiu tanto, desde 1955?
Aquela primeira fase, 1955-1964, foi a fase em que se inicia o Índice do Custo de Vida do Dieese. Há uma ruptura em 1964, com o golpe militar, mas ele resiste e se recompõe, sobrevive.
As lutas sindicais vieram a ocorrer já no final dos anos setenta. A primeira greve, no dia 12 de maio de 1978, na Ford, em São Bernardo do Campo, tinha por trás uma disputa política que era exatamente qual havia sido a inflação e qual era o tamanho do arrocho salarial - portanto, qual era o índice de correção dos salários, que era a disputa sobre o índice de inflação de 1973.
Quer dizer, aquele trabalho do Dieese, que foi uma disputa sobre o tamanho da inflação e o impacto no salário dos trabalhadores, foi o que sustentou, durante quatro anos, as negociações sindicais, até a eclosão do grande movimento grevista liderado por Lula, hoje Presidente da República, que rompeu, eu diria, todo o período de repressão, de ditadura, de intervenções nos sindicatos - mais de dois mil sindicatos sofreram intervenções em 1964.
A ruptura com essa repressão, a luta pelas liberdades sindicais, pelas liberdades democráticas, em que o movimento sindical desempenhou um papel decisivo, nasce de um trabalho do Dieese.
O Dieese contribuiu para a reflexão sobre o salário mínimo, para a política de emprego, para a redução da jornada de trabalho, para a formulação de políticas como o seguro-desemprego e o FAT. Foi uma instituição que deu imensa contribuição a um País com tantas desigualdades, em que o mundo do trabalho foi tão pouco pesquisado, pois houve tão pouca reflexão sobre esse universo.
O Dieese é uma das instituições de que nos orgulhamos pela contribuição inestimável, pelos quadros que produziu e pela contribuição que deixa à história econômica, à história sindical e à história do Brasil.
Parabenizo os técnicos do Dieese, em geral muito discretos todos, tantas vezes anônimos, mas parte da qualidade de vida dos trabalhadores se deve à competência, ao engajamento e ao compromisso desses profissionais. Muitas vezes, profissionais extremamente talentosos, que poderiam trabalhar no sistema financeiro, nas empresas mais importantes do País, mas que preferiram fazer a opção de ajudar a fortalecer o emprego, o salário, as condições de vida dos trabalhadores, cujas negociações não alcançariam o êxito que alcançam se não houvesse uma assessoria competente por trás de cada mesa de negociação, orientando quando há conflito e quando há greve, por intermédio dessa produção intelectual.
Por tudo isso, como eu me sinto parte dessa história, é uma honra estar hoje aqui. Trago o meu abraço sincero, fraterno. Conheci José Albertino Rodrigues, que produziu um livro memorável sobre a história sindical. A Lenina, que se formou, junto comigo, na USP. Escrevi algumas obras e trabalhos e por muitos anos pesquisei o mundo operário com Heloísa Martins, que deu uma imensa contribuição à sociologia nessa área. Convivi com Walter Barelli intelectualmente, no Dieese, e depois aqui, na vida pública. Sérgio Mendonça estudou comigo na USP, mais tarde, como o Prado. E hoje os dois, um no BNDES... Sérgio Mendonça coordena a parte de gestão de recursos humanos do Governo. Clemente, você, portanto, ocupa um lugar honroso. Não apenas esses nomes, mas sempre foi uma equipe muito coesa e competente.
Por tudo isso, parabenizo o Dieese e os trabalhadores que tiveram a grandeza de construir uma instituição como esta e preservar a unidade sindical nessa instituição, na pluralidade que deve ser e na liberdade de autonomia sindical. Um grande abraço do Presidente Lula, que sabe a importância da parceria e do papel que o Dieese teve na vida sindical, na sua vida em particular, e na da nossa Bancada, na do nosso Governo e seguramente na do Senado Federal.
Parabéns, Dieese. (Palmas.)