Discurso durante a 206ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento de Afonso Arinos de Melo Franco.

Autor
Roberto Saturnino (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Roberto Saturnino Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento de Afonso Arinos de Melo Franco.
Publicação
Publicação no DSF de 24/11/2005 - Página 40709
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, AFONSO ARINOS, EX SENADOR, ELOGIO, CONDUTA, VIDA, RESPONSABILIDADE, ETICA, MORAL, INFLUENCIA, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA, DIREITOS, NEGRO, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO RACIAL.
  • REGISTRO, ATUAÇÃO, EX SENADOR, EX MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), INCENTIVO, INDEPENDENCIA, POLITICA EXTERNA, BRASIL, PERIODO, GUERRA FRIA, BUSCA, NEGOCIAÇÃO, AMBITO INTERNACIONAL, RESPEITO, DIREITO INTERNACIONAL, PAZ.

O SR. ROBERTO SATURNINO (Bloco/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr. Embaixador Affonso Arinos, filho do homenageado e que representa aqui toda a família, Srªs e Srs. Senadores e convidados, muito especialmente os representantes do Movimento Negro, a homenagem que o Senado quis prestar e que está se encerrando está no sentimento, no coração de todos nós aqui, representantes desta Federação, como no sentimento, no desejo, na expressão da vontade do povo brasileiro em reconhecimento a essa que foi, efetivamente, uma das maiores figuras da vida política brasileira, que foi Afonso Arinos. Ele é um dos brasileiros que conseguiu galgar o patamar de excelência. Nós aqui, regimentalmente, somos chamados de excelências, mas há alguns poucos que, mesmo depois da passagem por esta Casa, levam consigo o merecimento desse tratamento, na substância, na essência. Esse é o caso de Afonso Arinos de Melo Franco, que galgou os patamares de excelência em todos os aspectos da sua vida: de político, de representante do povo, de intelectual, de escritor, de ensaísta, de estudioso das questões brasileiras. E esses aspectos foram muito bem ressaltados pelos que me antecederam nesta tribuna, com mais brilho e mais competência. Mas eu queria me referir também a um aspecto da vida de Afonso Arinos que o levou ao patamar de excelência, que é precisamente o exemplo da sua vida pessoal, familiar, de cidadão brasileiro, plenamente consciente do significado de dar o exemplo.

O homem público tem uma exposição muito grande dos seus atos, não só na vida pública, mas, na própria vida privada. Inevitavelmente, fatalmente a exposição a que está sujeito leva ao conhecimento do público sua conduta, mesmo na vida privada. Isso constitui um dos maiores deveres do homem público, da figura pública. Freqüentemente, nesta quadra que estamos vivendo de deterioração dos valores éticos e morais para o predomínio dos valores de mercado, somos indagados: Mas o que vocês estão fazendo; o que vocês podem fazer? E a resposta que costumo dar é a seguinte: acho que o que melhor podemos fazer é dar o exemplo porque a figura do homem público intrinsecamente leva uma mensagem; sua existência, sua exposição, seu comparecimento nos atos públicos e nos atos até da vida particular de cada um leva uma mensagem, e na medida em que essa mensagem retrata um comportamento, uma conduta de respeito à ética, à moral, de respeito aos princípios, de respeito às suas convicções, de respeito à transparência dos seus atos, isso infunde uma dose que cada um pode passar de confiança da população, do povo, da opinião pública nas suas instituições políticas. Afonso Arinos fez isso exemplarmente. Foi um brasileiro que, durante toda sua vida, sem exceção de nenhum dia, teve uma conduta efetivamente exemplar. Essa foi uma contribuição, além de todas as que aqui foram citadas, que eu queria ressaltar na vida de Afonso Arinos e na presença do seu filho, que testemunhou, melhor do que qualquer um de nós, isso que estou aqui a dizer.

Enfim, acho que a homenagem foi prestada. Quero me referir só a um pequeno elemento da vida de Afonso Arinos no Ministério das Relações Exteriores, porque ele foi realmente o primeiro dos nossos Ministros de Relações Exteriores que - naquele momento de bipolaridade, o mundo dividido, parecia que a guerra era inevitável entre os dois pólos de poder, os Estados Unidos e a União Soviética, e a posição tradicional do Brasil de afiliação e, de certa forma, de subserviência aos ditames de um dos pólos, que era os Estados Unidos - compreendeu a importância de buscar a eqüidistância para afirmação do interesse nacional, para afirmação da soberana brasileira. Isso marcou profundamente, indelevelmente a nossa política exterior. Posteriormente, depois de passar pelo exercício desse Ministério, dessa função importante, ele criou uma frase, uma definição, que eu li num dos livros - não me recordo em qual - que o embaixador organizou sobre a vida do pai. Ele disse algo lapidar que a meu ver define a vocação do Brasil, a natureza deste País: “O Brasil é mais forte na paz do que na guerra.”

A força do Brasil está exatamente nos princípios, na razão com que sempre enfrentou os problemas internacionais. Claro, o Brasil nunca fugiu da guerra e quando foi necessário, no século passado, compareceu à luta contra o nazismo. Não se trata de nenhuma aversão, medo ou receio do Brasil à guerra, mas o Brasil sempre se afirmou muito mais na paz, nos organismos internacionais, nos princípios, nas razões, na negociação internacional a partir da negociação das suas próprias fronteiras. Isso marcou o Brasil indelevelmente também como um país que respeita os princípios da razão e do direito internacional na paz e enfrenta as questões com boas razões, inteligência e argumentos, sem precisar do recurso às armas. Então, realmente o Brasil nunca foi muito forte nas armas, mas foi extremamente forte na paz, na negociação e na afirmação dos princípios. E isso Afonso Arinos definiu magnificamente numa das inúmeras conferências a que compareceu.

Srs. Senadores, senhores convidados, eu não quero me alongar, mas quero expressar, tendo subido a esta tribuna depois de tantos oradores ilustres e brilhantes, que o Rio de Janeiro preza enormemente a figura de Afonso Arinos, porque lá ele passou a maior parte de sua vida, a mais fecunda. Como representante do Rio de Janeiro, quero transmitir o sentimento daquela cidade, daquela população, que sempre viu em Afonso Arinos um farol, uma figura exemplar, que ilumina o cenário da vida política brasileira e, muito especialmente, do Rio de Janeiro, onde ele viveu sua vida pessoal.

O Senado presta esta homenagem absolutamente justa, que há de ficar muito marcada nos Anais desta Casa, pela força, pela expressividade e pela justeza de sua realização. Nossa reverência à figura de Afonso Arinos na História do Brasil, na história desta instituição, na história de todo o nosso povo, iluminado por ele, até por sua lei fundamental, a Lei Afonso Arinos, que riscou do Brasil a questão da discriminação, que instituiu a não discriminação como instrumento legal, como instrumento das instituições brasileiras.

            Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/11/2005 - Página 40709