Discurso durante a 209ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Gastos do Governo Federal com propaganda. Críticas ao Presidente Lula.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Gastos do Governo Federal com propaganda. Críticas ao Presidente Lula.
Aparteantes
Antero Paes de Barros, Cristovam Buarque, José Jorge, Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2005 - Página 41264
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DENUNCIA, EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, PROPAGANDA, CRITICA, ASSESSORIA, COMUNICAÇÃO SOCIAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INEXATIDÃO, DADOS, PRONUNCIAMENTO, REFERENCIA, EMPREGO, ATENDIMENTO, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS).
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESRESPEITO, DISCRIMINAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, ESPECIFICAÇÃO, FALTA, DIVULGAÇÃO, ASSINATURA, ACORDO, CONSTRUÇÃO, FERROVIA.
  • COMENTARIO, PROXIMIDADE, CONCLUSÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, APREENSÃO, SETOR, GOVERNO, MOTIVO, DIVULGAÇÃO, DOCUMENTO.
  • SUSPEIÇÃO, INTERESSE, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CONFLITO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), CONGRESSO NACIONAL, OBJETIVO, OCULTAÇÃO, CRISE, CORRUPÇÃO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nunca se teve notícia de um governo que gaste tanto com propaganda como o atual, ou pelo menos que tanto dinheiro tenha passado pelo setor de comunicação governamental como no atual Governo.

Mas nunca vi, Senador José Jorge, uma comunicação tão atabalhoada como a do Presidente Lula. Mas também não era para ser diferente. O setor encarregado de comunicação do Governo toma conta de fundo de pensão, e o Presidente que se lixe, não é prioridade.

Senadora Heloísa Helena, vejamos as contradições, os erros, que a equipe do Presidente Lula tem levado Sua Excelência a cometer. O Presidente Lula, em afirmação feita recentemente, disse que seu Governo está criando uma média de 108 mil empregos por mês. O Sr. Joaquim Levy, baseado na mesma fonte de dados do Presidente Lula, que é a Caged, desmente, em um artigo do jornal Folha de S.Paulo, e diz que o emprego, no atual Governo, só cresceu 50% em relação ao Governo passado. Ora, o Governo passado assume que só criou uma média de 8 mil empregos. Se são 50% a mais, são 12 mil empregos. De 12 mil empregos para 108 mil, Senadora Heloisa Helena, é uma diferença abismal, é uma coisa insuportável!

Segundo episódio: o Presidente Lula diz que combinou com o Ministro Nelson Machado acabar as filas do INSS, Senador Mozarildo Cavalcanti, que tão bem conhece o assunto. Triunfante, em abril anunciou. E o Ministro Nelson Machado, no ar, desmente o Presidente da República. Diz que não é assim, que a fila pode mudar de qualidade, pode mudar de objetivo, mas não acabar. Não assume o compromisso. O Presidente da República, Senadora, é desmentido. Que coisa mais triste!

De repente, o Presidente Lula, quando sai do texto oficial e envereda para a espontaneidade, cresce. Há dez dias, no programa Roda Viva, um programa estudado, comemorando a milésima edição, Sua Excelência comparou a garra do PT ao jogador argentino Teves. Foi como dar uma punhalada no coração do brasileiro, porque o que o brasileiro mais ama é futebol. O que mais orgulha o brasileiro é a quantidades de craques que temos e a quantidade de craques que exportamos. Sua Excelência agora fez o mea culpa, reciclou, e disse que o Ministro Palocci é igual ao Ronaldinho Gaúcho. E aí veio o subconsciente do Lula: o que o Presidente diz é que Antônio Palocci é melhor do que o PT. Não há dúvida. Porque não há termo de comparação entre o Teves e o Ronaldinho Gaúcho. Se o Antônio Palocci é igual ao Ronaldinho Gaúcho e o PT ao Teves, não há o que discutir. Senador José Jorge, esse é o ponto em que o Presidente sai do texto oficial e fala com o coração. Deviam deixá-lo mais solto.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me permite um aparte, Senador Heráclito Fortes?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Com o maior prazer, Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Heráclito Fortes, V. Exª tem inteira razão. Todos os dias o Presidente Lula quer impor aos brasileiros uma versão nova da realidade. Com relação às CPIs, o Presidente diz que apóia, que em seu Governo há três CPIs funcionando, mas não apuram nada. E, todos os dias, as CPIs apuram e comprovam uma nova irregularidade. No caso de Santo André, por exemplo, um dos envolvidos, o Sr. Klinger Luiz de Oliveira Souza, diz que dez entre cada dez pessoas acreditam foi um crime de mando, que havia corrupção na Prefeitura e que tudo o que os irmãos do Prefeito Celso Daniel e a empresária dizem é verdade. Ontem, o Presidente Lula veio dizer que o crime ocorreu por acaso, que Celso Daniel estava no lugar errado, na hora errada. Isso é um absurdo! Também em relação ao “mensalão”, Sua Excelência diz que não havia “mensalão”, que isso já está provado. O que o Relator da CPI disse foi que não sabia se o nome era “mensalão”, porque não sabia se era mensal, mas que o dinheiro foi entregue. Se foi semanal, trimestral ou mensal, isso não era importante. Mensalão era o apelido. Então, o que temos de pedir ao Presidente Lula é que Sua Excelência se dê ao respeito de não querer impor às pessoas desinformadas uma série de inverdades que, todo dia, vem dizendo pela mídia, para que elas acreditem. Porém, elas não estão acreditando, tanto não estão que, na última pesquisa, 47% dos brasileiros disseram que não votam no Presidente Lula, exatamente porque sabem que não está dizendo a verdade. Parabéns a V. Exª, que está no caminho correto.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª tem toda razão.

Concederei aparte aos Senadores Mozarildo Cavalcanti e Antero Paes de Barros, mas, antes, gostaria de chamar a atenção para um outro fato: o desprezo que o Governo tem pelo Nordeste. Hoje, o Presidente Lula vai a Fortaleza ou já está em Fortaleza ou está chegando a Fortaleza onde assinará, no Banco do Nordeste, um protocolo de intenção para a construção da Transnordestina, ferrovia da maior importância para o País. Abrem-se os jornais de circulação nacional e se vê que a assessoria de imprensa do Presidente da República não mandou esta matéria para nenhum órgão. Ou já se sabe, de antemão, que esse protocolo é mais um, diante de tantos outros que estão aí como letra morta nos arquivos do atual Governo, ou está oficializado o desprezo que se tem pelo Nordeste. Até as pessoas que trabalharam e que se envolveram nessa questão não foram comunicadas. A situação é tão melindrosa que o jornal O Dia, o mais antigo em circulação no Estado do Piauí, diz hoje que o Governador do meu Estado, Wellington Dias, participa do encontro, mas que foi pego de surpresa. O Governador teve de mudar toda a sua agenda. Encontrava-se em Campo Alegre de Lourdes, na Bahia, e, para chegar a Fortaleza e assistir a esse ato, do qual o Piauí é um dos beneficiados, teve de usar um avião Bandeirantes da Chesf e cancelar todos os seus compromissos.

Gente, o PT é o Partido do Presidente da República e também do Governador do Estado do Piauí! Por que esse tratamento, esse desrespeito? Por que esta hora tão esperada por todos nós, nordestinos, não foi anunciada com o estardalhaço que merecia o ato? A Comunicação do Presidente da República só se preocupa com os fundos de pensão; não se preocupa com a imagem do Senhor Presidente.

Ouço o Senador Mozarildo Cavalcanti, com o maior prazer.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Heráclito Fortes, escuto atentamente o pronunciamento de V. Exª. Realmente, preocupa-me quando vejo o Presidente da República perder-se ao comentar coisas que não condizem com a altura e a dignidade do cargo. Como, por exemplo, comentar que o crime ocorrido em Santo André não foi crime político, mas crime comum. Creio que esse é o papel da Polícia e do Ministério Público, que o estão estudando, como também a CPI. Temos descoberto coisas escandalosas naquela Comissão. Recentemente, uma depoente disse que a irmã dela chegou a denunciar a situação ao Presidente, que prometeu averiguar. Sua Excelência também comentou a atuação da CPI do Mensalão, dizendo que nada provou. Provou até demais. Tenho certeza de que o Ministério Público não vai deixar essas investigações morrerem. Creio que o Presidente Lula deveria aconselhar-se com pessoas que têm experiência em assessorar Presidentes para aprender que o ritual, a imposição e a dignidade do cargo não permitem essas atitudes, inclusive fatos mais antigos, como, por exemplo, vangloriar-se por não ter estudado. São esses procedimentos que realmente desmerecem a figura do Presidente da República.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador Mozarildo Cavalcanti, V. Exª, o Senador Antero Paes de Barros e eu chegamos aqui nesta Casa praticamente juntos. Já temos tempo suficiente para vermos como as coisas acontecem aqui. CPI, Srª Presidente, é como discussão orçamentária. Passa-se o ano inteiro discutindo, cancela-se a sessão por falta de quorum, não dá em nada. Mas, na hora de pôr tudo no papel - e o Senador Antero Paes de Barros sabe muito bem o que estou dizendo -, na hora da verdade, é que a onça quer beber água.

Se prestarmos atenção no nervosismo de setores do Governo, verificaremos que é porque sabem que essas CPIs terão de colocar no papel uma série de documentos que estão aí, que precisam ser registrados, que precisam ser apurados. A mesma coisa acontece com o Orçamento. Na hora em que realmente se precisa fazer o relatório final, as divergências aparecem.

Aguardem, porque as CPIs estão em contagem regressiva. Toda essa papelada que se encontra naquele porão - aquele porão, Senador Antero Paes de Barros, que guarda segredos da CPI do Banestado, que estão lacrados e que V. Exª tão bem conhece - mostrará a esta Casa e ao Brasil o que houve e que ainda não veio à tona, tudo que este Governo foi capaz e teve a coragem de fazer.

Agora, há uma novidade, convocaram o compadre do Presidente Lula. Li hoje nos jornais, e para surpresa minha, pois eu não estava na Comissão ontem. O compadre deve ter algumas coisas a esclarecer. Homem independente que é, advogado brilhante, competente, evidentemente trará a sua colaboração ao País.

Ouço o Senador Antero Paes de Barros.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senador Heráclito Fortes, primeiramente quero cumprimentá-lo pela oportunidade do pronunciamento e, em segundo lugar, quero solidarizar-me com os jornalistas que, profissionalmente, estejam atuando no Planalto. Falta de comunicação no Governo é um problema do estilo do Presidente.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Não é prioridade. Prioridade de comunicação do Governo é em outra área.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Não é problema dos profissionais de imprensa, porque o Presidente não tem nenhum compromisso com a verdade, só tem compromisso com a demagogia. Esse pito público que tomou pela televisão de um Ministro de Estado, em qualquer país do mundo, não poderia acontecer. E o pior: foi um pito de um Ministro certo. O Presidente da República não consegue falar uma verdade. O Presidente da República quer concorrer com o Gepeto.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - E depois diz que a Oposição é que está no palanque. É uma promessa eleitoral.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Ele queria ser o criador do Pinóquio e, como não conseguiu ser, assumiu a condição própria do Pinóquio. Veja como é este Governo: em todas as CPIs - e estamos há quase sete anos na Casa - em que tem maioria, o Governo faz pastelão, para depois dizer que não apurou nada. Na CPMI do Mensalão, em que o Governo tinha maioria, houve pastelão para dar condições ao Presidente da República de dizer: “foi apurado; não houve mensalão”. Presidente, pare de mentir! Houve mensalão! O Brasil inteiro sabe que houve mensalão! Está provado o dinheiro da Visanet! Está provado o “valerioduto”, que os banqueiros não são tão bons assim, que ninguém deu dinheiro para o Marcos Valério para não cobrar depois. O dinheiro para o Marcos Valério só não foi cobrado porque era da Visanet, era do Banco do Brasil, que o PT transformou em vendedor do ingresso, para fazer sede do Partido. Era dinheiro do Banco do Brasil e que o PT usou para comprar mais de 20 mil computadores para sua sede, com uma garantia: se não conseguisse pagar, devolveria os computadores. Ora, bolas! Daqui a pouco, vai haver um movimento dos sem-avião: quem não tem avião, vai ao Banco do Brasil, compra o avião e, se não conseguir pagar, devolve o avião. Esse é o empréstimo que o Banco do Brasil fez ao PT, com o dinheiro do povo brasileiro. O Presidente foi mentir na frente do Ministro e o Ministro refutou a mentira. Este é um Governo que não consegue dizer a verdade e que trabalha com a demagogia. É um Governo que não se sente bem em fazer um debate público, dizendo a verdade e que não tem o menor apreço por governar. O problema é que o Lula consegue ser neófito em todos os assuntos. Ele não sabe nada de nada. Isso é incrível! Nem na área trabalhista, em que ele, como presidente sindical, deveria dar aulas, nem mesmo aí consegue demonstrar competência. Senador Heráclito Fortes, cumprimento V. Exª pelo pronunciamento oportuno e não tenho nenhuma dúvida em afirmar que, do jeito que as coisas caminham, este País vai contar o tempo: faltam tantos dias para acabar um governo que não se instalou. Parabéns a V. Exª.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª tem toda a razão. Tenho admiração pela luta e pela trajetória do Presidente Lula, mas, outro dia, falando numa solenidade no Rio de Janeiro, Sua Excelência disse que não adianta o BNDES estar entupido de dinheiro se ninguém quer tomar empréstimos, se ninguém busca esse dinheiro, como se não fosse a própria estrutura do Governo que torna aquele órgão jurássico. Se o Brasil tivesse de depender da bravura do BNDES para se desenvolver, estaríamos muito aquém do nível em que estamos hoje, como ocorre em Sergipe, a cuja situação V. Exª se referiu.

Antes de encerrar minha fala, peço permissão para conceder um aparte ao Senador Cristovam Buarque, que personifica hoje, nesta Casa e na política nacional, uma das frases fantásticas do Senador Vitorino Freire: “Quando o pasto pega fogo, o preá corre para o brejo”. V. Exª salvou-se do incêndio.

Ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Sr. Senador Heráclito Fortes, quero repetir hoje algo que falei ontem num aparte. Estamos falando, criticando o Governo, coisas todas verdadeiras, mas por trás tem algo mais grave, que provoca os erros, que é a falta de estratégia de longo prazo. Se formos procurar os erros do Governo, vamos encontrar em tudo a preocupação exclusiva com este instante e com 2006. Ontem, a Senadora Heloísa Helena até me corrigiu, quando eu disse que o Governo tentava administrar corretamente, eu nem queria entrar nesse mérito, mas a Senadora insistiu que de fato deveríamos entrar no mérito. Nem as coisas no presente estão sendo feitas corretamente. Não há estratégia de longo prazo. Este debate hoje com o Ministro, em relação às filas, é por isto: o Presidente pensou no instante exato em que estava falando com o povo e não no instante seguinte. Primeiro, leva tempo para acabar com fila; segundo, é preciso que o serviço melhore. Não vale a pena não ter fila e o serviço não prestar. Essa falta de estratégia de longo prazo vai terminar colocando o Brasil não mais na beira, mas dentro do abismo.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - V. Exª tem razão.

Senadora Heloísa Helena, eu, ontem, prestava atenção a um discurso ou um aparte, não me lembro com precisão, que V. Exª fazia aqui pedindo que se tivesse cautela com algumas manobras feitas por figurões do PT, porque V. Exª os conhecia e sabia a maneira de agir de cada um. Pois bem, eu ontem ia deixando o Senado, cerca de 9 horas da noite, e um funcionário desceu comigo. Eu estava esperando o carro, ele encostou perto de mim e me disse uma coisa sobre a qual desde ontem tenho meditado, Senador Antero Paes de Barros. Ele disse: “Senador, essa história dessa briga do Supremo com o Congresso tem o dedo do Palácio. Eles estão tentando jogar uns contra os outros para ver se a gente consegue esquecer a podridão que está lá dentro. Cuidado com isso!”

Repito para a Nação brasileira: cuidado com esta crise para ela não ser artificial e não beneficiar exatamente aqueles que são culpados e estão procurando subterfúgios para não serem punidos pela Justiça e, acima de tudo, pelo povo brasileiro.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2005 - Página 41264