Fala da Presidência durante a 206ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento de Afonso Arinos de Melo Franco.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DISCRIMINAÇÃO RACIAL.:
  • Comemoração do centenário de nascimento de Afonso Arinos de Melo Franco.
Publicação
Publicação no DSF de 24/11/2005 - Página 40697
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DISCRIMINAÇÃO RACIAL.
Indexação
  • ABERTURA, SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, EX SENADOR, PARTICIPANTE, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, ELOGIO, HISTORIA, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA, PIONEIRO, DEFESA, DIREITOS, NEGRO, PUBLICAÇÃO, LIVRO, PARTICIPAÇÃO, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), EXERCICIO, CARGO PUBLICO, MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), FUNDAÇÃO, PARTIDO POLITICO, UNIÃO DEMOCRATICA NACIONAL (UDN), ALIANÇA RENOVADORA NACIONAL (ARENA), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), APOIO, REDEMOCRATIZAÇÃO, PERIODO, DITADURA, GOVERNO, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGIME MILITAR.
  • REGISTRO, COINCIDENCIA, HOMENAGEM POSTUMA, EX SENADOR, APROVAÇÃO, SENADO, ESTATUTO, IGUALDADE, RAÇA, TRAMITAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

Declaro aberta a sessão especial do Senado Federal, que se destina a comemorar o centenário de nascimento de Afonso Arinos de Melo Franco, de acordo com o Requerimento nº 1.177, de 2005, do Senador Marco Maciel e outros Srs. Senadores. [art. 19,9 §§ 1º e 2º, e art. 200 do RISF].

Convido para compor a Mesa o Embaixador Affonso Arinos de Mello Franco, filho do homenageado; o Senador José Sarney; o Senador Marco Maciel e o Senador Paulo Paim. (Palmas.)

Exmº. Sr. Embaixador Affonso Arinos de Mello Franco; Exmo. Sr. Embaixador Antônio Patriota, representante oficial do Ministro das Relações Exteriores; Ilmo. Sr. Presidente de Honra do Instituto Nacional de Relações Exteriores, Carlos Brandt; Exmª Srª Maria Caetana Santos, Subprocuradora as República; Exmº Sr. Antonio Fonseca, Subprocurador da República; Illmº Sr. Ronaldo Nóbrega Medeiros, Secretário Nacional do Partido Social Liberal; meu caro Procurador Geraldo Brindeiro, é uma honra muito grande tê-lo aqui, no Senado Federal, no momento em que prestamos esta justíssima homenagem, senhoras e senhores convidados e demais autoridades, o centenário do grande brasileiro Afonso Arinos de Mello Franco, coincide com o feliz momento da aprovação pelo Senado Federal do Estatuto da Igualdade Racial, que até agora está em debate na Câmara dos Deputados.

A associação é inevitável, já que Afonso Arinos, como todos sabem, foi o autor da primeira lei contra o racismo no mundo inteiro, um orgulho para o Brasil, que sofreu a vergonha de ser o último país a abolir a escravatura. Vale recordar que a Lei Afonso Arinos, de 1951, foi aprovada numa época em que vários países tinham legislações fortemente racistas, e discriminatórias.

Senhoras e senhores, o Estatuto da Igualdade Racial vai ajudar, e muito, a corrigir uma dívida histórica da nossa sociedade com os brasileiros negros e mestiços. E, nesse sentido, a lembrança de Afonso Arinos é obrigatória, verdadeiramente obrigatória.

Afonso Arinos de Melo Franco nasceu há cem anos e morreu há quinze, em plena atividade política, como Senador pelo PSDB, aos 85 anos de idade.

Foi um daqueles homens notáveis, especiais, capazes de marcar sua geração e o seu País, e com quem alguns de nós, Senadores, tivemos a oportunidade e a honra, honra mesmo, de conviver.

Afonso Arinos era um aristocrata de berço, no sentido mais nobre e positivo da palavra: foi sempre um inimigo dos preconceitos, das injustiças, um humanista e defensor do Estado de direito.

Publicou mais de 60 livros sobre Direito Constitucional, ensaios históricos e sociológicos, biografias e memórias. Pela produção literária, ocupou a cadeira número 25 da Academia Brasileira de Letras, na vaga de José Lins do Rego.

Como Ministro das Relações Exteriores, em 1961, iniciou uma política externa independente, inovadora, que condenou o colonialismo europeu na Ásia e na África. Foi, aliás, o primeiro chanceler brasileiro a visitar a África, quando esteve no Senegal.

Em plena Guerra Fria, conseguia ter uma visão diferente e moderna do mundo, sem maniqueísmos.

Com a renúncia de Jânio Quadros, voltou ao Senado e teve papel decisivo na emenda parlamentarista, que evitou um golpe de Estado e permitiu a posse do vice-Presidente João Goulart.

Afonso Arinos foi um dos fundadores da União Democrática Nacional, a UDN, como resultado de uma frente pela redemocratização do País e contra a ditadura do Estado Novo. Foi um dos intelectuais que organizaram o Manifesto dos Mineiros, o primeiro documento político contra a ditadura, em 1945. Por causa disso, foi demitido do Banco do Brasil.

Fez oposição a Getúlio Vargas como líder da UDN, mas ficou profundamente chocado com o suicídio do Presidente. Foi um dos fundadores da Arena, mas afastou-se completamente da política quando percebeu que o regime militar tinha abandonado qualquer compromisso com a redemocratização e rumava sem disfarces para a ditadura.

Na Assembléia Nacional Constituinte, era um referencial para todos nós, pela bagagem intelectual, pela experiência e pelo que representava como homem público.

Senhoras e senhores, neste momento político difícil e conturbado que atravessamos, a lembrança de Afonso Arinos deve servir como inspiração, e sua atuação como homem público ser modelo e exemplo para todos nós.

Reler, hoje, os livros e discursos de Afonso Arinos é uma forma de repensar o Brasil com base em nossa História recente, avaliar nossos erros e também nossos acertos.

Muito obrigado.

(Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/11/2005 - Página 40697