Discurso durante a 211ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao desempenho do Governo Lula nos setores sócio-econômicos. (como Líder)

Autor
Demóstenes Torres (PFL - Partido da Frente Liberal/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas ao desempenho do Governo Lula nos setores sócio-econômicos. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 30/11/2005 - Página 41838
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, ATUAÇÃO, GOVERNO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, ATENDIMENTO, REGIÃO NORDESTE, REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), PUBLICAÇÃO, DECLARAÇÃO, FREI BETTO, ESCRITOR, ALEGAÇÕES, FALTA, RESULTADO, PROGRAMA DE GOVERNO, COMBATE, FOME.
  • COMENTARIO, FALTA, ENTENDIMENTO, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, ESPECIFICAÇÃO, CONTRADIÇÃO, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO, APOIO, EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL.
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), APRESENTAÇÃO, DADOS, FALTA, EXECUÇÃO ORÇAMENTARIA, INFERIORIDADE, INVESTIMENTO, GOVERNO FEDERAL, INFRAESTRUTURA, SANEAMENTO, COMBATE, ANALFABETISMO.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (PFL - GO. Pela Liderança do PFL. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, “o PT trocou um projeto de nação por um projeto de eleição” - Frei Betto.

Não tendo muito mais o que inventar para preencher o melancólico fim de linha do seu Governo, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu promover a reciclagem das promessas não-cumpridas e das obras impossíveis. Ao mesmo tempo em que agoniza, infiltrado da dissolução e da vadiagem, sem a mínima unidade moral, o Presidente Lula delira para se mostrar atento e lisonjeiro. Ontem, no programa Café com o Presidente, o excelentíssimo senhor primeiro-funcionário reinaugurou o anúncio de uma plataforma de infra-estrutura capaz de promover a redenção econômica do Nordeste brasileiro por intermédio da realização do binômio energia e transporte.

A construção da Ferrovia Transnordestina, um gasoduto, um pólo siderúrgico, o biodiesel e a transposição do rio São Francisco foram algumas das belas lorotas de segunda-mão prometidas. São obras, sem dúvida, fundamentais ao desenvolvimento sustentável do Nordeste do País, mas que não vão além do palavrório do Presidente Lula, cujo certificado de validade venceu com a descoberta do mensalão e das malversações gerais do PT.

O Presidente Lula começou o Governo no interior do Nordeste, onde chegou nos primeiros dias para levar a benção de acabar com a fome no Brasil. Seriam três refeições diárias. Embora o fracasso do Fome Zero seja sabido da Nação, o depoimento do Frei Betto, amigo do Presidente Lula, na edição de ontem do Correio Braziliense, ilustra com propriedade o resultado de atabalhoada aventura administrativa. Para Frei Betto, ex-coordenador do programa até dezembro de 2004, “o Fome Zero foi a melhor concepção do Governo Lula. Lamentavelmente, essa concepção nunca saiu do papel”. A intenção era o resgate da pobreza em sessenta tarefas, que se resumiu a uma única realização parcial, ou seja, a distribuição da ajuda financeira do programa Bolsa Família, com o qual Lula tenta se manter reelegível.

Gostaria de advertir que o Presidente Lula faz chantagem emocional com os brasileiros sempre que se vê na bacia das almas. Dotado de tartufice natural, pratica a demagogia graciosa sem se dar conta de tamanha irresponsabilidade. A paz serena e louçã selada entre os Ministros Antonio Palocci e Dilma Rousseff é apenas um remendo novo para um tecido esgarçado ao limite. Sem a coordenação política do ex-Ministro José Dirceu e os subsídios do mensalão, o Governo é um improviso ambulante, perdeu a rigidez hierárquica e começa a despertar descontentamento de setores que costumam ser os últimos a se manifestar em uma democracia. Na semana passada, o Presidente do Instituto Nacional de Seguridade Social, Waldir Moysés Simão, foi obrigado a desmentir Lula de que não há mágica para acabar com as filas nos postos de Previdência, embora o Presidente tenha garantido a medida saneadora.

É fato que o Vice-Presidente, Dr. José Alencar, sempre mostrou contrariedade com a política econômica do Governo do PT. Agora, no entanto, decidiu fazer do pronunciamento contra os juros altos uma ladainha. Parece que está em campanha eleitoral. Observem que na última sexta-feira, em seminário do PSB, o Dr. José Alencar cuidou de asseverar que o discurso de campanha vitorioso em 2002 não tomou posse. Em seguida, o segundo homem da República declarou que a gestão orçamentária do Governo Lula é irresponsável.

O mesmo Vice-Presidente e Ministro da Defesa, na semana passada, foi desconvidado, em nota pública assinada pelo Clube da Aeronáutica, a proferir palestra para quatro mil militares em razão de ter hipotecado apoio ao ex-Ministro José Dirceu. Observem que espetáculo: o Dr. Alencar é contra os juros altos, mas defende a inocência de Dirceu. Na nota, o Tenente-Brigadeiro do Ar Ivan Frota salienta que a declaração do Ministro da Defesa impõe às Forças Armadas a condição inaceitável de “protagonistas solidárias” das irregularidades praticadas pelo ex-Ministro-Chefe da Casa Civil, razão por que lhe foi retirado o convite.

Srªs e Srs. Senadores, a brigalhada toda dentro do Governo Lula é motivada por razões monetárias e financeiras. A suspensão do “valerioduto” deixou o pessoal do PT em inopinada orfandade. Tratava-se de um recurso certo para as horas mais difíceis. Sevados na propina, os petistas não conseguem sobreviver fora do cativeiro das gratificações extras. Querem obras para satisfazer a necessidade política das próximas eleições. O PT vai às urnas no ano que vem sem o discurso da moralidade. Como perdeu os princípios, vai se valer de qualquer meio não só para reconduzir o Presidente Lula como para eleger Governadores, Senadores e Deputados. Para a realização de tal intento, precisam de alguma unidade monetária conversível a real, pois a outrora aguerrida militância não quer mais saber de estrelinha nem de Che.

Enquanto o Presidente Lula mantinha altas taxas de popularidade, a inexistência de governo não fazia falta, pois a figura do guia suplementava a imensa capacidade ociosa da administração petista. Os escândalos expuseram a incompetência gerencial, contra a qual venho chamando a atenção desta Casa desde o primeiro ano da era Lula. Eu concordo com o editorial de O Estado de S. Paulo de hoje, sob o título “O investimento emperrado”, de que é uma falácia atribuir a paralisia administrativa só ao arrocho fiscal imposto pelo Ministro da Fazenda. O fato é que a generalidade dos Ministérios não conseguiu, por inépcia própria, investir os poucos recursos disponíveis.

De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, com base em levantamento de Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada, até o último 15 de novembro o Governo havia empenhado apenas 42,21% do orçamento destinado à infra-estrutura. Os números destacam o pagamento de 25,06% do total. O jornal cita os casos dos Ministérios dos Transportes e de Minas e Energia, que, respectivamente, empenharam, do Orçamento de 2005, 14,34% e 61% e tiveram como efetivamente liquidados 11,34% e 36,28%. Uma iniqüidade, certamente.

Para quem havia prometido ao Brasil o país das maravilhas, o Governo Lula apresenta indicadores muito abaixo da encomenda. A recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo IBGE, traz números que apenas expressam o pouco ânimo de evolução dos indicadores sociais brasileiros. Para o Governo que iria alfabetizar 20 milhões de nacionais em quatro anos, o índice de analfabetismo caiu muito pouco e permanece, na média do País, acima dos 10%. Ora, só um Presidente pouco habituado aos livros para imaginar que um cursinho de seis meses de duração, um engodo chamado Brasil Alfabetizado, teria o condão de trazer alfabetização plena. No Brasil, só adquirem essa condição 67% dos que dispõem de 11 anos de escola. O Presidente havia falado em até R$ 4 bilhões por ano de investimentos em saneamento, mas os números contestam as expectativas criadas para o setor. Dos R$ 3,4 bilhões do Orçamento do Ministério das Cidades contratados em 2003 e 2004, perto de 10% foram efetivamente liquidados. Já em relação a 2005, nada foi contratado, conforme dados do Estadão. O Presidente Lula gosta muito de passar-se por exterminador da pobreza, mas não é capaz de entender que sem investimento em infra-estrutura, especialmente em saneamento básico, o Brasil não conseguirá reduzir as desigualdades sociais.

Sr. Presidente, hoje, em reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), o Presidente Lula afirmou que a política econômica não vai afetar a condução dos programas sociais. Que programas sociais? Ao Bolsa-Família, certamente, referiu-se Lula. Embora não tenha simpatia por ex-guerrilheiros, fico com as palavras do Frei Betto para desmentir Lula sobre as propriedades de o programa assistencial promover a evolução do beneficiário: “O Governo está dando um peixe nota 10. Mas isso é uma parte apenas das necessidades dos pobres. Quais são as portas de saída que o Governo criou para dar condições de as pessoas deixarem de depender do Estado? Elas não existem, não foram criadas”. Foi o que disse o religioso católico.

Se tivéssemos ouvido o Senador Eduardo Suplicy, certamente o Governo Lula poderia ser algo melhor.

Muito obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/11/2005 - Página 41838