Discurso durante a 212ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à política de juros altos praticada pelo governo Lula. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Críticas à política de juros altos praticada pelo governo Lula. (como Líder)
Aparteantes
Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 01/12/2005 - Página 42019
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • OPOSIÇÃO, SUPERIORIDADE, TAXAS, JUROS, APREENSÃO, BAIXA, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), TRIMESTRE, PREVISÃO, AUMENTO, DESEMPREGO, CRITICA, INCOMPETENCIA, GOVERNO FEDERAL, ALEGAÇÕES, EFEITO, CRISE, POLITICA NACIONAL, ANALISE, SITUAÇÃO, MERCADO FINANCEIRO, POLITICA CAMBIAL, EXPORTAÇÃO, FALTA, MERCADO INTERNO.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há menos de 15 dias, logo após a reunião mensal do Copom, que baixou 0,5 ponto percentual na taxa de juros Selic, o jornal O Estado de S. Paulo me pediu opinião sobre essa atitude do Copom. Com toda a franqueza, eu disse que, se essa atitude tivesse sido tomada há quatro meses, eu aplaudiria publicamente o Governo, que combato e ao qual faço oposição. Como ele está tomando essa atitude agora, eu estou dizendo que a está tomando tarde, talvez até tarde demais.

Senador Tasso Jereissati, hoje divulgaram um dado que a nós, brasileiros que temos responsabilidade, só preocupa. Não é pelo fato de sermos Oposição, Senador Jefferson Péres, que a informação de queda do PIB de 1,2 ponto percentual no terceiro trimestre vai nos alegrar. Pelo contrário, vai nos entristecer, porque está vista, Senador Leonel Pavan, seis meses à frente, a prosseguir, a perspectiva de queda do PIB. Não é diferente, e vou circunstanciar. O que vai acontecer é violenta queda na curva de emprego, é infelicidade para pais e mães de família, para jovens que estão entrando no mercado de trabalho, para nós brasileiros. Fazemos oposição não ao País, mas ao Governo, que, na nossa visão, é incompetente. Mas o que está acontecendo é que a incompetência do Governo está levando à infelicidade do povo brasileiro, apesar de estarmos, Senadora Heloísa Helena, aqui, nesta tribuna, permanentemente denunciando. Quantas vezes já estive aqui falando de taxa de juros, apresentando números, fazendo sugestões, e nada. O Governo é cabeça-dura. Só o faz agora. É aquela história de trancar a porta depois de arrombada. É o que está ocorrendo. E aí vem dizer: “Não, a queda do PIB é decorrência da crise política e talvez dos juros”.

Crise política de quê? Crise política, Senador Arthur Virgílio, determina perturbação na economia, no mercado financeiro. Crise de confiança. Crise política produz efeitos negativos no mercado financeiro, que reage à insegurança política, à não-sustentação política do Governo. É o segmento mais sensível à especulação. Onde é que houve inquietação na Bolsa nos últimos quatro meses? Em canto nenhum. A Bolsa agiu pacificamente. Pelo contrário, em movimentos de crescimento, de alta.

A raiz da crise é a mais alta taxa de juros do planeta, maior do que a da Turquia, taxa de juros que evidentemente traz o mercado financeiro todo para o Brasil. Não digo todo, mas mais do que deveria trazer. O dinheiro que poderia estar na Wall Street, em Nova York, ou na City de Londres, sendo remunerado a 3,0 pontos percentuais, Senador Heráclito Fortes, está correndo para as Bolsas do Brasil, para o mercado financeiro do Brasil, porque o cliente, a República Federativa do Brasil, paga, tem liquidez. Então, quem é que vai aplicar dólar a 3% na City londrina se pode aplicar a 14%, que é o juro real pago no Brasil, que é a taxa Selic descontada a inflação? Vêm na carreira para cá. Ah não, mas a taxa de juros é decorrente do superávit da balança comercial. Conversa!

O mercado do dólar está dessa forma porque os dólares do mundo todo estão sendo investidos aqui no Brasil. Daí existe superoferta de dólar, não há superoferta de real, pela política monetária enxuta, e deprime-se a cotação do dólar. Então, a taxa de juros está produzindo uma taxa irreal de câmbio. O dólar não poderia valer nunca R$ 2,20. O dólar real era R$ 2,70. E aí o que está acontecendo? Vem a crise. O mercado de exportação está em crise, apesar do superávit da balança comercial. Está-se exportando porque não há para quem vender no mercado interno. Não há mercado interno e tem-se que vender mesmo com o prejuízo. E o que está acontecendo? O Governo brasileiro mantém a taxa de juros alta para pilotar a inflação.

O.k.! Conseguiu pilotar a inflação. Não precisava desse remédio tão amargo. Não é quebrando-se o termômetro que se cura a febre. E eles quebraram o termômetro, geraram a queda do PIB de 1,2 ponto percentual. Produziram o que com essa taxa de juros maluca? Uma dívida pública monstruosa, que está chegando a R$1 trilhão.

Ah, não, mas vamos conseguir equilibrar a relação entre dívida pública e o PIB! Ora, o PIB está caindo e a dívida pública subindo; pelo contrário, não vão conseguir melhorar a relação dívida pública/PIB nunca para atrair investimentos novos.

A taxa de juros está produzindo um dólar irreal que está inibindo as exportações, está inibindo os investimentos. Qual é o investidor, Senadora Lúcia Vânia, que vai tomar dinheiro emprestado a taxas de juros como as que estão no Brasil hoje, as mais altas do Planeta, para fazer um investimento? E para vender a quem, se os juros altos inibem o comprador? Os juros altos tanto encarecem o investimento como diminuem o mercado comprador. O investidor, obviamente, não vai evoluir para o investimento por conta da taxa de juros.

Sr. Presidente, o que quero expressar é minha preocupação com relação ao que se avizinha, aos próximos seis meses. Porque, se não tínhamos crise política para realimentar a debacle econômica a que estamos, lamentavelmente, assistindo, estamos vendo, Senador Jefferson Péres, que, pelos próximos meses, a queda do PIB.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Permite-me um aparte, nobre Senador José Agripino?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Aguarde um momento, Senador.

            A queda do PIB vai produzir desemprego, mas vai produzir - já está produzindo - desprestígio ao Ministro Palocci, que ainda é o homem que cuida, com equilíbrio, com acertos e desacertos - e nesta hora o desacerto, é verdade, é dele - da economia, que vai ficar fragilizada perante a turma que é interpretada pela Ministra Dilma. No embate entre os gastadores e os poupadores, os gastadores vão aumentar a sola do sapato. Os gastadores...

(Interrupção do som.)

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Os gastadores, comandados por Dilma Rousseff, vão aumentar o salto do sapato, e Palocci vai enfraquecer, porque ele errou. E da crise política que o mercado vai enxergar, do confronto intestino do Governo, aí sim, pode-se produzir queda e coice: queda, pela taxa de juros corrigida fora do tempo; e coice, pela crise política gerada dentro do próprio Governo.

Ouço, com muito prazer, o Senador Flexa Ribeiro.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Nobre Senador José Agripino, o pronunciamento de V. Exª é perfeito. A análise que V. Exª faz da economia deve ser ouvida e refletida por este Governo. Ontem, na reunião da Confederação Nacional da Indústria, foi feita uma avaliação do cenário futuro da economia e, lamentavelmente, o que se prevê é algo como o naufrágio do Titanic na economia brasileira. O Brasil caminha no sentido inverso do restante do mundo. É como se estivéssemos marchando...

(Interrupção do som.)

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - O Brasil seria o único com o passo correto, e o batalhão todo com o passo errado, porque, com relação ao crescimento do PIB, o Brasil está no caminho contrário ao restante do mundo, ou seja, crescendo a taxas bem inferiores, e, com relação à valorização do real, esta foi a única moeda no mundo que valorizou em relação ao dólar. No resto do mundo, o dólar está valorizado em relação às moedas.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Artificialmente. Uma valorização artificial.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Artificialmente. Então, o que está ocorrendo? A valorização do real se deve, como V. Exª bem disse, ao capital volátil, que está vindo buscar o lucro fácil nessa taxa absurda de juros da Nação brasileira. Além disso, como V. Exª também disse com muita propriedade, as exportações vão cair, porque essa taxa do dólar não sustenta essa exportação. Então, virá a crise econômica, que será refletida...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - O tempo do orador está esgotado. Peço a V. Exª o máximo de objetividade.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Além da queda, o coice. Eu diria que o mal deste Governo foi não reconhecer que a diferença entre o remédio e o veneno é somente a dose. Ele aplicou o remédio com dose excessiva, no que tange à taxa de juros, e vai envenenar a Nação brasileira como um todo.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Agradeço a V. Exª pelo aparte.

Permita-me concluir, Sr. Presidente.

A minha preocupação é com o País onde vivemos, onde temos nossos filhos. Queremos o bem-estar. Quero que a política econômica do Governo produza bem-estar. É possível ou impossível? Por que a Venezuela, a Argentina, o Uruguai, a Rússia, a Índia, a China podem crescer a 7%, 8% ou 9%, e o Brasil está condenado a essas pífias taxas de crescimento?

Sr. Presidente, a crise brasileira é de liderança. É preciso que o Presidente Lula, reconhecendo o problema em que estamos mergulhados - que vai além de uma crise política grave de ética na vida pública deste País, dentro do seu Governo e do seu Partido - ele bata na mesa, em nome do interesse do povo brasileiro, e comande o País, comande a política econômica e dê ordem para fazer o certo, para acelerar a baixa da taxa de juros e para acabar com a briga que está gerando uma crise política de resultados absolutamente imprevisíveis entre os gastadores e os poupadores do PT, entre Dilma e Palocci. Que faça isso, Lula, antes que seja tarde demais.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/12/2005 - Página 42019