Discurso durante a 214ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Necessidade de uma solução para a greve nas universidades.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Necessidade de uma solução para a greve nas universidades.
Aparteantes
Alberto Silva, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/2005 - Página 42410
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • PROTESTO, SUPERIORIDADE, TEMPO, GREVE, PROFESSOR, UNIVERSIDADE FEDERAL, CRITICA, INEFICACIA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), ACUSAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, FALTA, INTERESSE, EDUCAÇÃO, ENSINO SUPERIOR, COMENTARIO, IMPORTANCIA, DIALOGO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GREVISTA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Tião Viana, Senadoras e Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado Federal, agradeço a cessão desse extraordinário Senador do Maranhão, o grande Lobão.

Quis Deus estar presente nesta reunião o Senador Alberto Silva. Senador Alberto Silva, eu iria começar com uma mensagem, que aprendi na Universidade de Itajubá, dirigindo-a ao Presidente Lula. Olha, mandaremos colocar em todos os educandários do Piauí aquela mensagem, Senador Cristovam Buarque, o ensinamento de Theodomiro Santiago, fundador da Escola de Engenharia de Itajubá. Presidente Lula, não precisa nem ir lá; estou facilitando as coisas. “Revelemo-nos mais por atos que por palavras para sermos dignos deste grande País”.

O Lula fica só... Fala, fala, fala, fala. E os atos? Atentai bem, Presidente Lula. Sou contra. Já o chamaram de bandidão. Não, não, não, não. Já quiseram lhe dar uma surra, e outros acompanharam. O companheiro de V. Exª recebeu uma bengalada na cabeça. E faço uma pergunta: será que essa bengalada não deveria ter sido na cabeça do Lula?

Professor Heráclito Fortes, oratória - olha, e S. Exª fala como nós, o linguajar do povo: quem ama cuida. Alberto Tavares Silva ama o Piauí e ama a mulher Florisa. Agora, atentai bem. Ô, Tião Viana, para amar é preciso conhecer. Não é óbvio, Professor Cristovam Buarque? Sei que o Presidente Lula não pode amar a universidade, porque não a conhece, mas estamos aqui para fazê-lo conhecer. É um direito que eu tenho, porque trabalhei, Lula, muito para Vossa Excelência ser Presidente da República.

Senador Alberto Silva, este País já teve precisamente 54 ministros da Educação. Nomes extraordinários. Dizer quem é o melhor é difícil, mas o pior ministro da Educação em toda a história é esse mocinho que está aí. Não tem, não existe.

E, assessorado pela experiência de Heráclito, buscamos mais, porque são 54. Atentai bem: o pior mesmo é esse desconhecido. Pergunto aqui quem sabe o nome dele nesse Brasil?

Atentai bem, por lá, Lula, passaram... Não vamos longe. Um erro. Errare humanum est, mas aquele telefonema foi o cão que entrou no espírito de V. Exª. Tirar Cristovam Buarque? Senador Alberto Silva, acabei de ler um artigo de S. Exª sobre a corrupção que está em todos os jornais, que vem de D. João III - eu tinha ouvido falar do D. João VI que veio para cá.

A história, a origem, tirar um homem da cultura de S. Exª foi coisa do cão, foi inspiração do cão. Não sei quem o inspirou, mas não foi coisa de Deus.

Darcy Ribeiro. Alberto Silva conviveu com ele: educador, moderno, universidade federal, as obras educacionais de Brizola, o melhor livro sobre o povo brasileiro. Gustavo Capanema, Ney Braga, Marco Maciel, Eduardo Portella - “não sou ministro, estou ministro”. Ô, Lula, V. Exª está presidente. Jarbas Passarinho, penta ministro, Tarso Dutra, Rubem Ludwig - o companheiro Heráclito estava lá, chefe de gabinete. Lembro quando o nomearam. Nathan Portella, um reitor do Piauí, dessa tradicional família; Jorge Bornhausen; Paulo Renato, com quem trabalhei. Homem extraordinário - não é do meu Partido; é do PSDB. Tarso Genro. Ainda do Piauí tivemos o ex-senador Hugo Napoleão, meu adversário, mas que não permitiu nenhum dia de greve. Ainda mais: Clóvis Salgado Gama; Pedro Calmon; Antônio Balbino; Pedro Aleixo; Luís Antônio da Gama e Silva; Gustavo Capanema; Francisco Luís da Silva Campos.

Senador Alberto Silva, 500 mil estudantes brasileiros vão entrar no quarto mês de greve das universidades!

Ô Lula, Franklin Delano Roosevelt deu um ensinamento: “toda pessoa que eu vejo é mais capaz do que eu”. Franklin Delano Roosevelt foi quatro vezes Presidente dos Estados Unidos e, neste particular, procuro aprender com ele.

           Ô Lula, Vossa Excelência trabalhou muito menos do que eu. Eu sei que foi um acidente. Sou generoso, sou médico cirurgião. Com poucos dias de trabalho, cortou o dedo e aposentou-se. Trabalhou muito pouco. Estudou também muito pouco. Mas eu me curvo e me rendo: Vossa Excelência, Presidente Lula, é PhD em greve. Ninguém entende mais de greve do que Vossa Excelência. Quantas Vossa Excelência fez? Mas quer dizer que só aprendeu a fazer, não aprendeu a acabar? O feitiço está virando contra o feiticeiro? Eu não admito isso.

           Senador Alberto Silva, na sua coerência, diz -e eu respeito: muitas coisas boas teve o regime revolucionário.

           Senador Heráclito Fortes, formei-me em Medicina em Fortaleza. Professor Cristovam, não tivemos nenhum dia de greve. Nós tivemos o Presidente Jânio Quadros, o Presidente João Goulart e, depois, a Ditadura. Eu tenho oito anos de estudos: seis de medicina, mais o mestrado e a pós-graduação em cirurgia geral. Senador Alberto Silva, fui um profissional feliz por isso, como V. Exª, que eu vi rendendo homenagem a Itajubá, que o formou cientificamente ímpar engenheiro elétrico, engenheiro de transportes ferroviários e engenheiro civil. Eu também, Senador Cristovam Buarque, não me lembro de nenhum dia de greve. Então, o que esperar dessa mocidade, com as universidades há quatro meses em greve?

Entendo que o Zé Dirceu caiu pela arrogância. Está na Bíblia, Senador Alberto Silva: Salomão, nos Provérbios, disse que a arrogância antecede a queda. Mas Lula é muito mais arrogante do que o Zé Dirceu. Pegar um telefone e demitir Cristovam Buarque foi arrogância. Atentai bem, tinha de conviver com ele! E dou um exemplo diante do Senador Alberto Silva, que nomeou Secretário de Educação o Prof. Wall Ferraz. Os horóscopos de Alberto Silva e do Wall Ferraz não eram iguais, mas Alberto Silva conviveu com ele porque era um instrumento da educação. Ô Lula, Vossa Excelência tinha de conviver com o Cristovam; afastar os pequenos pontos que os separavam em respeito ao maior patrimônio deste País, que é a mocidade estudiosa.

Senador Heráclito Fortes, Napoleão Bonaparte disse que a maior desgraça que pode existir são instantes perdidos na mocidade. Napoleão, o estadista, o militar vitorioso que fez a França grandiosa e que fez o primeiro Código Civil.

A nossa mocidade está, há quatro meses, esperando o fim da greve. Falo em causa própria mesmo, porque tenho uma filha que está passando o que eu nunca passei: uma greve de quatro meses. Quatro meses é metade do ano escolar porque há as férias, não é verdade? Como recuperar isso? Em risco estão os estudantes pobres.

V. Exª, Zé Dirceu, foi cassado por quê? Pela arrogância. Mas a arrogância de V. Exª é menor do que a arrogância do Presidente da República. Eu governei o Estado do Piauí e posso falar. Eu dirigi uma universidade criada por Alberto Silva e a ampliei. Não houve um dia de greve. Então, eu posso falar. Mas, V. Exª, José Dirceu, pela arrogância, impediu a revolução possível já em 2003, o programa do Senador Cristovam Buarque para a educação. V. Exª, Dirceu, com a sua arrogância, e o Presidente Lula, com arrogância ainda maior, engavetaram todos os projetos, todos os sonhos do Senador Cristovam Buarque.

Aqui estão os projetos, Sr. Presidente, Tião Viana. Se V. Exª me permitir, em respeito ao PT, que ainda é alguma esperança por causa de V. Exª e do Governador do Acre, lerei os projetos, mas se não permitir, por causa do tempo, vou apenas contar quantos sonhos, quantos projetos foram engavetados. V. Exª me permite ler todos? (Pausa.) Então, vou contá-los: foram quatorze propostas que ficaram na gaveta da Casa Civil da Presidência da República.

Estou aqui, porque os professores me procuraram, Senador Alberto Silva. Universidade em crise, UFS em greve. Eles ganham pouco mesmo. Senador Alberto Silva, se um brasileiro, depois de muito estudo - imagine a luta na sua Itajubá -, prestar concurso para professor da universidade federal... Senador Paulo Paim, V. Exª defende o salário mínimo, e os professores estão ganhando quase salário mínimo.

Se decidir, hoje, lecionar, por amor à Educação, como Platão, como Aristóteles, como Cristovam Buarque, como Alberto Silva, que ensinava Matemática lá em Parnaíba - eu também ensinei Biologia em cursinho, não pelo salário, mas para dar um caminho à mocidade -, o salário vai de R$700,00 a R$1.300,00. Então, esse negócio de o Ministro, incapaz, incompetente e desconhecido, não receber os professores... Quem tem de receber os professores, é Vossa Excelência, Lula. Que coisa feia não receber os professores nesse Palácio do Planalto, no Alvorada, na Granja do Torto! Quantos pilantras e picaretas Vossa Excelência já recebeu?! Receba os professores.

Concedo o aparte ao Senador Alberto Silva e depois a esse extraordinário Líder, Senador Paulo Paim. O salário dos professores é quase um salário mínimo.

Concedo um aparte ao Senador Alberto Silva, que eu vi ensinando o prefeito, engenheiro, à noite, lá no 1º Científico de nossa terra, para estimular a área da Educação.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Senador Mão Santa, não há dúvida de que o problema da Educação é um problema sério. E V. Exª clama, e com toda razão, que é necessário uma solução. Mas aproveito para dizer, já que V. Exª visitou a nossa escola e assistiu àquela cerimônia, que tive oportunidade de perguntar ao reitor de Itajubá: “Tem greve, aqui?” A que ele respondeu: “Aqui não”. Veja, apenas a cooperação dos professores! Porque eles também - já que é uma universidade federal - não podem ganhar mais do que os outros; todos os professores estão ganhando pouco. Era preciso, realmente, que o Presidente olhasse que um dos melhores, e talvez o melhor investimento, que podia promover na Educação seria no ensino básico e nas escolas superiores, para que o Brasil tenha uma elite formada e não essa situação a que estamos assistindo de greve. V. Exª tem razão quando clama. Está na hora de o Presidente tomar a peito essa decisão e resolver o problema da greve. Nós estamos prontos para ajudá-lo aqui, se for necessário.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E V. Exª fala como Conselheiro da República deste País.

Concedo um aparte a esse extraordinário defensor do salário mínimo - e quero adverti-lo que o salário do professor está quase enquadrado no mínimo: R$700,00 a R$1.300,00, após concurso.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, cumprimento V. Exª. Todas as vezes em que vem à tribuna, V. Exª faz críticas duras, firmes, demonstrando suas convicções. E V. Exª sabe que tenho um respeito enorme pelo trabalho que tem desenvolvido. V. Exª recebeu esta semana a medalha Ulysses Guimarães - pelo que cumprimento-o -, homenagem mais do que justa. Quero me somar a V. Exª na linha de abordagem sobre a greve dos professores universitários e técnicos. Felizmente, Senador Mão Santa, V. Exª foi à tribuna inúmeras vezes, cobrando que houvesse a reunião na busca do entendimento, entre o Ministério da Educação, enfim o Executivo, e o Comando de Greve dos professores universitários. Fui à tribuna também algumas vezes e estabelecemos até um bom debate aqui no plenário. Mas a notícia que recebi é que houve ontem uma reunião e que se caminha para um grande entendimento e que a greve, inclusive, poderá terminar no dia de hoje. Acho importante que o Executivo ouça a voz das ruas, como diz V. Exª, mas a voz também aqui dentro do Senado, onde estamos, na verdade, interagindo na busca de soluções. O celular toca, devem estar confirmando essa notícia de que, provavelmente, a greve termine hoje - provavelmente. Espero eu, e sei que também é a vontade de V. Exª, mediante o atendimento das propostas básicas dos professores.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sei as intenções do grande extraordinário Líder Paulo Paim.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Senador Mão Santa, apenas para lembrar a V. Exª que o Senador Edison Lobão foi de uma generosidade extraordinária ao ceder seu tempo a V. Exª e tem compromissos inadiáveis.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Mas quero lhe dizer que, neste instante, a minha voz é do Maranhão, o Estado cuja capital é conhecida como a Atenas brasileira, São Luís. Atenas foi a cidade onde surgiu a primeira faculdade, construída por Platão, para ensinar o que Sócrates sabia. Então estou falando em nome de S. Exª, que simboliza a cidade de amor à cultura.

Então, desse documento que passarei às mãos de Paulo Paim - Ô, Lula, receba pelo menos o Paulo Paim, o nosso Martin Luther King! O Paulo Paim é como Vossa Excelência, um operário que chegou aqui - e que recebi ontem da Andes, a associação dos grevistas, vou ler somente duas linhas. Entendo que o Lula é quem deve recebê-los. Ele é que é o pai, ele é que entende, é o PhD! Como não? O que tem de feio em receber os professores? Há tantos picaretas nesse Palácio do Planalto, no Alvorada e na Granja do Torto! Quer uma sugestão? Vende o aerolula e pronto! Solução simples. Feche quatro ministérios desses, cujo nome ninguém conhece e resolva.

Para encerrar, vou ler apenas duas linhas, com a aquiescência do extraordinário Senador Edison Lobão, nome maior da política do Maranhão: “A universidade pública é patrimônio inalienável de uma Nação que se pretende autônoma e desenvolvida. Sem professores estimulados e qualificados, o seu futuro estará sempre ameaçado”.

É essa gente que quer um diálogo, não com o Ministro, que ninguém conhece, mas com o Chefe, ele é que tem de assumir o comando. E, Lula, eu sei que é difícil, mas quem ama, cuida. V. Exª amaria a universidade se a conhecesse.

As nossas últimas palavras são de Benjamin Franklin, que não se formou. Todos os americanos lêem esse livro, a autobiografia de Benjamin Franklin. Ele não se formou, começou a trabalhar com dez anos...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E há a carta do George Washington elogiando-o pelo desenvolvimento da universidade.

E terminaria e vou terminar mesmo, Sr. Presidente Tião Viana. Sei que o telefone é importante, mas mais importante é V. Exª gravar esse final. Atentai bem: Thomas Jefferson. Senador Edison Lobão, comecei agradecendo a V. Exª, um extraordinário homem público. Thomas Jefferson, está lá, Senador Alberto Silva. Senador Cristovam Buarque, esse negócio de telefone não é bom para você; V. Exª não se dá bem com telefone.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Atentai bem! No túmulo de Thomas Jefferson, ex-Presidente dos Estados Unidos - Alberto Silva, V. Exª esteve lá -, está escrito não que ele foi Presidente dos Estados Unidos, que assinou o Tratado da Independência,...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - ... mas: “Aqui jaz o pai da Universidade de Virgínia” - o Estado dele. Não disse que foi ex-Presidente da República.

Aprenda isso, nosso candidato Lula! - eu votei nele; posso estar arrependido, mas votei.

Essas são as minhas palavras.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/12/2005 - Página 42410