Discurso durante a 214ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o episódio ocorrido nesta semana no Rio de Janeiro, quando assaltantes atearam fogo em um ônibus e seus ocupantes.

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Preocupação com o episódio ocorrido nesta semana no Rio de Janeiro, quando assaltantes atearam fogo em um ônibus e seus ocupantes.
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/2005 - Página 42890
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • GRAVIDADE, TERRORISMO, HOMICIDIO, CIDADÃO, INCENDIO, ONIBUS, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REPRESALIA, QUADRILHA, CRIME ORGANIZADO, APREENSÃO, FALENCIA, ESTADO, VIOLENCIA, PERIFERIA URBANA.

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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR JEFFERSON PÉRES NA SESSÃO DO DIA 02 DE DEZEMBRO DE 2005, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, este País está ficando tão anestesiado moralmente, tão cego para a gravidade da situação nacional que dois fatos gravíssimos, acontecidos no Estado do Rio de Janeiro esta semana, não digo que passaram despercebidos porque foram noticiados, mas ficaram em segundo plano. As manchetes se ocuparam muito mais da cassação de um Deputado do que daqueles terríveis acontecimentos. Fatos que causariam comoção nacional em qualquer país aqui são considerados matéria que nem merece manchete, pelo menos a partir do segundo dia. Refiro-me ao atentado terrorista cometido por bandidos de uma forma que caracteriza barbárie.

Os assaltantes, gratuitamente, sem provocação das vítimas, pobres trabalhadores que regressavam do trabalho num subúrbio do Rio, pararam um ônibus, não assaltaram os passageiros, simplesmente derramaram gasolina, tocaram fogo no veículo e fecharam as portas. Cinco pessoas morreram e quarenta ficaram gravemente feridas.

Senador Tião Viana, esse fato aconteceu na segunda maior cidade do Brasil, o belo e querido Rio de Janeiro, cidade que não é mais a cabeça, mas ainda é o coração e a vitrine deste País. Um ato de barbárie inominável. Como se não bastasse, veio o segundo episódio. A polícia não tinha pista dos assaltantes, que, certamente, ficariam impunes. No entanto, ontem, a justiça, também bárbara, foi feita pela bandidagem. Quatro corpos apareceram dentro de um carro.

Senador Tião Viana, esses fatos passaram quase despercebidos. Que coisa grave! Primeiro, o atentado terrorista. Terrorismo não de cunho político, pura barbárie - o incêndio do ônibus e a morte dos passageiros, estupidamente, gratuitamente. No segundo episódio, em conseqüência daquele, quatro corpos foram achados dentro de um carro, com uma mensagem: “foram estes os assaltantes do ônibus”.

Os autores do crime bárbaro foram “justiçados”, assassinados por outro bando, que resolveu fazer justiça com as próprias mãos porque a polícia não iria conseguir descobri-los e prendê-los. Isso na segunda maior cidade do País.

Senador, que País é este? Isso é a falência do Estado brasileiro. Os bandidos agem impunemente. Os próprios bandidos punem em uma justiça sumária. Com certeza, a esta altura, as pessoas mais desinformadas, mais pobres, devem estar batendo palmas para o bando que executou os outros bandidos, fazendo justiça.

Este País, Senador Tião Viana, quando era rural, no século XIX, durante o trabalho escravo, tinha a casa-grande e a senzala, com um abismo entre as duas. O Brasil urbanizado do século XXI continua no regime da casa-grande e senzala: casa-grande são os bairros de classe média e de ricos, e as senzalas são as favelas da periferia, onde o Estado brasileiro não penetra, não leva os serviços necessários de educação, de saúde, de previdência nem de segurança. O resultado é que lá parte da bandidagem substitui o Estado ausente, num vácuo de poder. Essa é a tragédia do Brasil de hoje.

Que aqueles fatos ocorridos no Rio de Janeiro nos sirvam de lição, de alerta, para que a sociedade toda se mobilize no sentido de que este País reencontre seus caminhos e comece a eliminar esse terrível apartheid social e vácuo de Estado que existe no Brasil de hoje.

Era o que eu tinha a registrar, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/2005 - Página 42890