Discurso durante a 218ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas às declarações do Presidente Lula, em entrevista às principais emissoras de rádio do país. (como Líder)

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ECONOMIA NACIONAL.:
  • Críticas às declarações do Presidente Lula, em entrevista às principais emissoras de rádio do país. (como Líder)
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2005 - Página 43104
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • CRITICA, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMISSORA, RADIO, DEMONSTRAÇÃO, DESCONHECIMENTO, SITUAÇÃO, BRASIL.
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, REDUÇÃO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), EFEITO, CRISE, ATIVIDADE AGRICOLA, EXCESSO, LUCRO, BANCOS, DESVALORIZAÇÃO, AGRICULTURA, ECONOMIA FAMILIAR.
  • APREENSÃO, POSSIBILIDADE, AUMENTO, DESEMPREGO, POPULAÇÃO, EFEITO, PRECARIEDADE, INDUSTRIA, AGRICULTURA, BRASIL.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente falou hoje, em sua entrevista matinal de rádio, com redes de rádio que o Brasil inteiro ouviu. Sempre penso que fazer oposição de forma séria e construtiva é falarmos sempre o que pensamos; é contrariar e dizer por que contrariamos; é apontar as falsas verdades que são colocadas pela imprensa, ou na propaganda oficial ou nos discursos e entrevistas oficiais. A entrevista de rádio do Presidente mostra total falta de sintonia de Sua Excelência com a sociedade brasileira. Talvez seja essa a principal explicação pelos índices de rejeição, que estão crescendo em relação ao Governo, e pela queda vertical dos índices de popularidade.

Vejam o que disse o Presidente em alguns trechos: “Estamos vivendo um ciclo muito virtuoso na economia brasileira”.

Mas os dados são diferentes: o PIB, que tinha uma previsão de crescimento de 3,5%, agora, segundo o próprio Ipea, não crescerá acima de 2,3%, e há quem diga até que ele não chegará a 2%, em função da queda dos dois últimos trimestres do ano, que é algo muito sério. A indústria, que tinha uma previsão de crescer 4,9%, crescerá apenas 2,7%. A agricultura, que cresceria 3,5%, só crescerá 1,6%.

Aliás, a desaceleração da economia no último trimestre resultou em um PIB negativo em 1,2%. E, se buscarmos o que aconteceu com o agronegócio no trimestre avaliado, houve queda, só do agronegócio, de 3,5%. Se considerarmos que o agronegócio perfaz 30% aproximadamente da economia brasileira, chegamos à conclusão de que, em função da queda do agronegócio especialmente, nós tivemos a queda do PIB no Brasil.

Em outra passagem do seu discurso, o Presidente afirma que “pela primeira vez na história do Brasil recente, as indústrias estão tendo mais lucros que os bancos”. Diz que as indústrias estão com um bom desempenho.

O Presidente continua não sendo informado pela sua assessoria, não tem lido os jornais e anda sem sintonia alguma com o País. Os bancos tiveram um lucro, no primeiro semestre deste ano, de cerca de R$12 bilhões, apenas os quatro maiores bancos. E o Presidente tem a coragem de afirmar que as indústrias tiveram mais lucro que os bancos pela primeira vez na história do País.

Ouvimos algumas coisas e não sabemos se é brincadeira ou se são colocadas assim pelo cinismo mesmo ou pela desinformação. Acredito até que seja desinformação do Presidente, porque não é possível dizer que as indústrias tiveram mais lucro que os bancos se elas tiveram um crescimento negativo em relação ao trimestre anterior, avaliado o terceiro trimestre.

Sobre o baixo crescimento do Brasil em relação a outros países da América Latina, Lula disse ao jornalista Heródoto Barbeiro, da Rede CBN, que era pessimista. “Acredito que o Brasil vai crescer muito mais em 2006”. Mas isso é o que ele dizia em relação a 2005, e não está acontecendo. E não é apenas em função da crise política, mas em função da política econômica, que coloca uma taxa de juros impagável por qualquer setor da atividade econômica e uma taxa de câmbio irreal, como resultante da taxa de juros elevada.

O Presidente vai mais longe.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª me permite um aparte, Senador Osmar Dias?

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Já concederei o aparte a V. Exª, nobre Senador Mão Santa. Permita-me apenas concluir mais um pensamento.

O Presidente se vangloria. Ele afirmou que o poder de compra dos brasileiros aumentou e que preços de itens da cesta básica, como arroz, feijão e leite, caíram. Ele pensa ser uma grande vantagem ter caído de forma brutal o preço do arroz. Tudo bem que seja um preço adequado ao salário dos trabalhadores, que consomem mais arroz do que a classe alta. Mas tem uma coisa: quem é que vai produzir arroz, se o custo de produção é o dobro do preço pelo qual o produtor é obrigado a vender? Se matarmos a economia rural, se acabarmos com o modelo de pequena propriedade, de agricultura familiar, vamos gerar um grande e grave problema social no País, e é o que está acontecendo. Quando o Presidente fala “baixamos o preço do arroz, do feijão e do leite”, deveria pensar que os produtores de leite, de feijão e de arroz estão quase inviabilizados; são produtores pequenos, são culturas produzidas em propriedade de caráter familiar, em pequenas propriedades onde as pessoas praticamente sobrevivem daquilo que vendem no dia anterior. Se ele diz “baixei em meu governo o preço do arroz, do leite e do feijão”, está dizendo: “Acabei com a renda dos pequenos agricultores e vou criar uma fila maior ainda na reforma agrária”.

(Interrupção do som.)

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Esse deveria ser o pensamento do Presidente da República, mas parece que ele pensa que o arroz, o leite e o feijão nascem dentro de um supermercado e que não precisa alguém estar plantando lá atrás. Com esse equívoco de visão que o Presidente comete, estamos matando a economia rural do País.

Concedo o aparte ao Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª, Senador Osmar Dias, sem dúvida nenhuma, representa aqui o homem de maior conhecimento em agricultura e economia. Por isso, cito um dado do Piauí que interessa ao Presidente João Alberto. Ninguém pode esconder a verdade. Aprendemos no nosso Piauí que é mais fácil tampar o Sol com uma peneira do que esconder a verdade. Quando deixei o Governo do Piauí, a exportação com a carcinicultura - cultura do camarão - se igualou à exportação de cera de carnaúba, que é secular. De US$20 milhões, baixou para US$3 milhões.

(Interrupção do som.)

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Os juros altos, as dificuldades do meio ambiente - se não há licença, não pode transacionar com bancos, tem multa -, fizeram com que baixasse de US$20 milhões para US$3 milhões a exportação de camarão no Piauí.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Obrigado, Senador Mão Santa. Acrescento ao meu pronunciamento o aparte de V. Exª.

Concluo, Sr. Presidente, para cumprir meu tempo, dizendo que o Presidente sempre faz um discurso descasado da realidade. Ora ele fala da crise política, como se nada existisse, ora fala da crise econômica. Mas não reconhece que a crise econômica abala as estruturas do País, e que no próximo ano viveremos um enorme drama social, porque o desemprego é a primeira conseqüência do mau desempenho da indústria e da agricultura neste País.

É bom que o Presidente acorde, é bom que o Presidente seja bem informado. Fazer oposição, Sr. Presidente, é cuidar para que o governo olhe para o País com os olhos da verdade e da realidade. Aquilo que está acontecendo hoje não pode continuar, sob pena de vermos, no ano de 2006 - aliás, ano de eleições, e o Presidente diz que não vai misturar eleição com economia -, um desastre econômico não apenas para as grandes empresas, porque as pessoas acreditam que apenas as grandes empresas é que enfrentam problemas, mas principalmente para as pequenas e microempresas, aquelas que são ligadas ao Simples, e que estão fechando suas portas pela incapacidade de continuar produzindo com juros tão elevados, com a dificuldade na comercialização dos produtos, pela queda do consumo em todos os níveis.

Sr. Presidente, a situação é grave. O Presidente da República precisa ser despertado e acordar para a realidade em que vive o País.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2005 - Página 43104