Discurso durante a 218ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura e contestação sobre afirmações do Presidente Lula na entrevista coletiva concedida a emissoras de rádio. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ECONOMIA NACIONAL.:
  • Leitura e contestação sobre afirmações do Presidente Lula na entrevista coletiva concedida a emissoras de rádio. (como Líder)
Aparteantes
Almeida Lima.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2005 - Página 43106
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMISSORA, RADIO, DEMONSTRAÇÃO, DESCONHECIMENTO, ECONOMIA NACIONAL.
  • COMENTARIO, REDUÇÃO, CRESCIMENTO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), INFERIORIDADE, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, BRASIL, COMPARAÇÃO, PAIS EM DESENVOLVIMENTO.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POSSIBILIDADE, RETORNO, JOSE DIRCEU, EX-DEPUTADO, VIDA PUBLICA, HIPOTESE, REELEIÇÃO.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a comunicação é urgente, é inadiável, é de interesse não apenas do meu partido, mas do interesse do País inteiro. Senador Mão Santa, desculpe-me a pretensão, mas é do interesse do País inteiro.

O Presidente, pelo que está escrito em uma entrevista que acabei de ler em um dos noticiários da Internet, concedeu talvez a última entrevista do ano a um grupo de jornalistas, profissionais de rádio, dizendo coisas que me deixam profundamente preocupado por entender que o Presidente ou está mal informado ou está sendo enganado. Ou uma coisa ou a outra, no que diz respeito à economia.

Vou ler, textualmente, o que Sua Excelência falou: “Estamos vivendo um círculo muito virtuoso na economia brasileira”. Se tivesse sido feita a correção de rumos na hora certa, com a correção da taxa de juros há seis meses, talvez estivéssemos vivendo um ciclo razoável, muito distante do que está ocorrendo hoje, ou seja, poderíamos estar vivendo um ciclo econômico venturoso.

            No entanto, Sua Excelência, por estar mal informado ou por estar sendo enganado, não orientou - quem deve orientar é o comandante, o Presidente da República - uma tomada de posição que exige coragem e conhecimento de causa e que, feita a correção de rumos, colocaria de verdade o Brasil num ciclo virtuoso. Como não tomou providências, Sua Excelência não tem o direito, Senador Mão Santa, de dizer que estamos vivendo um círculo muito virtuoso na economia brasileira. Parece que Sua Excelência não sabe e não viu os dados recentes do IBGE sobre o crescimento da economia no último trimestre, sob a perspectiva que o Ipea está demonstrando. No último trimestre, a queda do PIB foi de 1,2%, mas o índice de 3,4% previsto pelo Ipea caiu para 2,3% depois de avaliação e reavaliação.

Talvez Sua Excelência não tenha assessoria suficiente para informá-lo que o Financial Times de hoje faz uma consideração aterradora sobre o Brasil, deixando-nos humilhados. Existe um grupo chamado BRIC. Brick, em inglês, significa tijolo. Brick, em inglês, seria tijolo: b-r-i-c-k. Bric tem as iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China. É o grupo dos emergentes. É o grupo em que o mundo confia para puxar o mundo nos próximos 15 anos. Espera-se que esses quatro países, que detêm uma parcela importantíssima da população mundial, puxem a economia do mundo, porque entende-se que a Europa já deu o que tinha que dar, que os Estados Unidos estão num processo de atingir o limite e que estes países, Brasil, Rússia, Índia e China, por razões diversas, por qualidade da população, por matérias-primas disponíveis, por uma série de razões, serão as locomotivas do mundo pelos próximos 15 anos.

E o Financial Times dizia, Senadora Heloísa Helena, que nesse grupo do Bric - palavra que, acrescentada da letra k no final, é tijolo em inglês - há um tijolo puxando o grupo para baixo, e o tijolo chama-se Brasil. O nosso Brasil!

Parece que não disseram isso ao Lula, porque ele diz, na sua entrevista, que estamos vivendo um ciclo muito virtuoso na economia. Diz mais: “Eu acredito que o Brasil vai crescer muito mais em 2006”. Ele precisa ler o que o Ipea, órgão do Governo, está projetando para que ele possa tomar providências, para que ele não atrase nas providências, como atrasou no abaixamento da taxa de juros, na ordem que deveria ter dado ao Banco Central para tomar providências para baixar a taxa de juros. Continua a dizer coisas fora de nexo: “Eu acredito que o Brasil vai crescer muito mais em 2006. Estou convencido de que o Brasil passará para a fase dos países desenvolvidos em 15 anos. Eu trabalho muito mais com a idéia de que a gente cresça 10, 15 anos seguidos, do que crescer muito em um ano e pouco no outro”.

O que aconteceu no Governo dele? Ano passado, 4,9%, porque não fez a correção, caiu para 2,3%. E vem dizer que acredita muito mais em crescer continuamente do que crescer muito em um ano e, no outro, não crescer, que foi o que aconteceu no Governo dele? Qual é, Lula? Qual é, Lula? Qual é, Presidente Lula? É para ouvirmos e acreditarmos ou para ouvirmos e comentarmos, assim como estou fazendo?

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Senador José Agripino, V. Exª me concede um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Concedo um aparte ao Senador Almeida Lima, se o Sr. Presidente assim o permitir, para em seguida concluir.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Apenas para dizer a V. Exª que estou preocupado com V. Exª. Será que V. Exª ouviu mesmo foi o Presidente do Brasil ou foi o Presidente da China, e está equivocado?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Está escrito aqui, Senador Almeida Lima: entrevista concedida a jornalistas das emissoras Band AM, CBN, BandNews FM, Jovem Pan, um grupo de rádios que têm representantes no Brasil inteiro. Está gravado, está visto! Não foi o da China nem da Índia, foi o do Brasil, na prática, desdizendo o que ele diz da boca para fora.

O pior, Senador Almeida Lima, é a minha conclusão: na área política, há coisa pior! Indagado sobre José Dirceu, ele diz: “O Zé Dirceu acaba de ser cassado. Vocês podem me dizer qual a acusação que foi provada contra o Zé Dirceu? Não foi provado”.

Por que ele tirou o José Dirceu da Presidência? Diga-me! Então, o homem é inocente, é um coelhinho e ele o tira da Presidência! Por quê? Ah! Ele quer que o Congresso passe o atestado de inocência que ele não passou ao seu auxiliar, ao comandante de sua campanha? E quer que o povo do Brasil acredite nisso?

Tem mais, Senador Almeida Lima, a última pérola: “Em seguida, o Presidente afirmou que levaria o Ministro para o palanque, caso fosse candidato no próximo ano”. Senador Almeida Lima, leva ao palanque, não; leva de novo para o Governo. Levaria de novo para o Governo. Se for candidato, perde a eleição, mas, se for, leva José Dirceu e, como foi comandante de sua campanha, se eleito fosse, levaria José Dirceu para ser de novo o Primeiro Ministro do Governo. Está tudo dito na entrevista coletiva que deu hoje a um grupo de rádios de circuito nacional.

Ouço V. Exª.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Senador José Agripino, perdoe-me, então, porque o equivoco não é de V. Exª. O equívoco é do Presidente. Tenho a impressão que ele está imaginando que é Presidente da China e não Presidente do Brasil.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Agradeço a V. Exª.

Agradeço à Mesa pela tolerância. Não me contive, porque o Presidente fala, e o Brasil tem a obrigação de ouvir. Todavia, ouvir não significa acreditar. E a minha obrigação era vir aqui e dizer o que disse.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SENADOR JOSÉ AGRIPINO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, II, e § 2º do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

Crise política


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2005 - Página 43106