Discurso durante a 218ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamentos sobre defesa que o Presidente Lula faz do ex-Deputado cassado José Dirceu.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Questionamentos sobre defesa que o Presidente Lula faz do ex-Deputado cassado José Dirceu.
Aparteantes
Antero Paes de Barros, Edison Lobão, Heráclito Fortes, Jefferson Peres, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2005 - Página 43114
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMISSORA, RADIO, QUESTIONAMENTO, ORADOR, DEMISSÃO, JOSE DIRCEU, EX-DEPUTADO, EX MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, EXCLUSÃO, PARTICIPAÇÃO, COMISSÃO EXECUTIVA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Senadora Heloísa Helena, V. Exª conversava agora com o Senador José Agripino sobre o pronunciamento a respeito da entrevista do Presidente, hoje, a várias rádios. Eu tive a oportunidade de ouvir parte dela quando me dirigia, logo cedo, ao Senado. É claro que as respostas se dirigiam ao povo mais sofrido, que recebe uma mensagem mais pela alma e pelo coração, não respostas tecnicamente perfeitas que possam realmente esclarecer alguns fatos que ocorrem.

Algo me chamou a atenção, inclusive pinçado do discurso do Senador José Agripino. Num detalhe, Sua Excelência informou qual era a capacidade do Presidente da República com respeito àqueles que praticam qualquer deslize ou falcatrua e que o Presidente tem é que tomar providência. Disse que a única capacidade que o Presidente tem é de demitir aqueles que não mereçam mais a sua confiança pela prática, eu diria, ilegal, ou alguma conduta, Senador Antonio Carlos Magalhães. Então, o Presidente não pode prender, porque isso é da Justiça, e não pode pedir ação penal, porque é prerrogativa do Ministério Público. No entanto, demitiu o Ministro José Dirceu, ex-Deputado - o próprio José Dirceu, em sua entrevista, disse que foi demitido. Então, pergunto com uma interrogação, Senador Ramez Tebet: Qual foi o argumento para demiti-lo se ele não deve nada, se ele não praticou nenhum delito, se não há provas contra ele? Como é que o Presidente o demite?

Então, é uma questão pessoal que estou querendo esclarecer, raciocinar em cima de tudo o que o Presidente falou hoje na entrevista da qual, infelizmente, ouvi apenas alguns trechos, em resposta a alguns jornalistas que puderam ouvi-lo através de suas representadas rádios brasileiras.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Pois não, Senador.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª é perfeito nesse seu questionamento. Se não havia nada contra o Ministro José Dirceu, por que o recomendaram a voltar para a Câmara e lá fazer sua defesa? Defesa de quê, se não há nada contra? O segundo ponto: Por que é que afastaram da Liderança do PT na Câmara o Deputado Paulo Rocha? Tenho até muita admiração por S. Exª. Por que é que foi afastado, se não tinha nada? Por que é que foi substituído? É um negócio de cinismo essa linha de defesa que o PT procura ter. Eu não gosto nem de usar palavras tão fortes porque nós temos uns companheiros aqui que não merecem ouvir isso. Mas é um negócio insuportável! Se não existe nada, por que alguns já foram punidos? Por que uns foram afastados? Por que o próprio Governo andou irritando-se, Senadora Heloísa Helena, com alguns que não obedeceram a sua recomendação de renunciar o mandato? Gente, paciência! É demais! Eu acho que o Presidente Lula está usando e abusando de um possível carisma, de um possível respeito que a Nação lhe tem. O uso demais também cansa.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Senador Heráclito Fortes, há um detalhe também: nas eleições para o novo diretório do PT, ele foi afastado do grupo que representava, não o aceitaram dentro daquele grupo que disputou a Presidência e que realmente ganhou. Ele saiu da estrutura do Partido como Presidente e ex-Presidente em razão de a própria estrutura à qual ele pertencia não querê-lo como representante incluído na chapa que voltaria a comandar o PT, em razão da própria crise que gerou dentro do Partido.

Eu não estou fazendo acusação nenhuma, Senador Jefferson Péres, estou constatando fatos, apenas fatos. Temos que manter o raciocínio claro para não enveredarmos por algumas coisas que dificultam amanhã essa posição perante todo esse emaranhado que surgiu, que, infelizmente, traz uma amargura muito grande para a sociedade.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Pois não, Senador Jefferson Péres.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Romeu Tuma, realmente, o nosso Presidente - infelizmente e lamentavelmente um Senador ter que dizer isto - é um falastrão. Ele está caindo no ridículo. O que ele diz não se escreve. Esta é a triste verdade. Eu digo isto com tristeza: o homem que ocupa o mais alto posto da República não merece crédito. O que ele diz não se pode repetir. Ele diz que foi traído. V. Exª se lembra, Senador Romeu Tuma?

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Sim. Algumas declarações se contradizem com outras.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Quem o traiu? Traidor tem nome. Quem foi que o traiu? Ele diz que foi traído. Elogia todo mundo. Outro dia, chamou o Delúbio de “nosso Delúbio”, foi carinhosíssimo com o criminoso. “Nosso Delúbio”, Senador! O que pensa o Presidente da República Federativa do Brasil? Senador Romeu Tuma, V. Exª tem toda razão, mas, francamente... Ó, dias ominosos que nós vivemos, esses dias de lulismo no Brasil!

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Um detalhe da entrevista que também me chamou a atenção, Senador Antonio Carlos Magalhães, foi que já há um responsável no Partido por tudo o que aconteceu. Ele diz, publicamente, que o Delúbio assumiu a responsabilidade. E, para mim, numa visão policial - e não policialesca - de investigação, eu não posso acreditar que um membro de uma executiva, por ser tesoureiro, possa ter manobrado tanto dinheiro, a seu critério, a sua vontade, na busca de uma eleição. Senador, eu não estou acusando ninguém. Eu estou só querendo entender o que está acontecendo. Sou que nem o trouxa da novela. Não adianta ficarmos defendendo pessoas e esquecermos as circunstâncias que levaram ao fato. É o caso, por exemplo, de Santo André. Como foi levantado aqui, não dá para circunscrever o fato direcionado a um ponto sem saber as circunstâncias que levaram aquele fato à sua conclusão criminosa.

            Pois não, Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Romeu Tuma, debati bastante aqui sobre esta matéria nos últimos meses em que estamos convivendo com essas notícias. E, em algum momento, eu me expus como pude, na confiança que também depositava em cada uma das pessoas que estavam sendo nominadas. Mas posso entender o Presidente Lula. Quando diz que foi traído, refere-se ao episódio sem ainda absoluta certeza da culpabilidade personalizada, indicada em fulano ou sicrano. A única pessoa que assumiu de público foi o Delúbio, foi o único que assumiu a responsabilidade geral. Somado a esse fato, tive a oportunidade, lá, naquele momento, de ter tido uma conversa com o Genoino, que teria dito com todas as letras que, dessa situação da Tesouraria do PT, não participou. E foi uma conversa assim...

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - De amigos.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Nós estávamos jantando juntos, entre amigos, não era nada oficial, e ele deixou transparecer que, à Tesouraria, ele realmente não tinha acesso. Estou falando aqui com toda a profundidade da minha convicção sobre tudo isso. Sei que V. Exª e todos os Senadores, como também todas as pessoas que acompanham esse episódio devem estar fazendo as mesmas perguntas, mas quero dizer para V. Exª que fico imaginando que pode ter acontecido um excesso, digamos assim, da propriedade do papel. Nós não somos capazes de medir até onde vai o entendimento de certas pessoas quando assumem uma determinada responsabilidade. Pode ter subido à cabeça. De vez em quando, eu também sou lembrado pelas pessoas que me conhecem há muitos anos: “É. Agora é Senador. Não fala mais comigo”.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - E quando fica bravo aqui, tomamos um susto.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Às vezes, falam em tom de brincadeira, mas eu coloco meia-trava. Fico com medo de estar sendo interpretado como alguém que tenha abandonado suas origens e as pessoas com quem sempre trabalhou. Mas digo a V. Exª, com toda a tranqüilidade, que o Presidente Lula se refere, com segurança, à situação de ter sido traído, no objeto da denúncia que foi feita. Quanto às pessoas, acredito que ele ainda está esperando a prova para incriminar mais alguém ou que alguém vá lá, como o Delúbio fez, e assuma de público que participou desse encaminhamento todo. Neste caso, digamos assim, o que pude compreender disso tudo também é que é duríssimo mesmo conviver com uma pessoa durante tantos anos sem nenhuma ressalva de desconfiança sobre nada e, de uma hora para outra, ver essa pessoa envolvida em coisa dessa natureza. Mas, quanto a isso, digo que vale a preocupação do que V. Exª está trazendo para a Casa.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Agradeço a V. Exª, Senador. Tenho a leve impressão, pelo que conheço e pelo respeito que tenho pelo Presidente Lula, de que, quando ele falou que foi traído, foi uma coisa de coração e alma. Não foi como Presidente da República, porque creio que ele não usaria essa expressão no exercício da Presidência. Ele falou como pessoa, na ligação de amizade que tinha com vários dos circunstantes que estão sendo investigados.

Ouço o Senador Antero.

Sr. Presidente, desculpe-me. Na hora que tiver que me interromper, V. Exª pode interromper.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senador Romeu Tuma, quero cumprimentar V. Exª e dizer que não há a menor lógica nisso. No episódio do Waldomiro Diniz e Carlinhos Cachoeira, qual foi a participação do Delúbio? Nenhuma. No episódio da GTech, da Caixa Econômica Federal, qual foi a participação do Delúbio naquilo? Nenhuma. No episódio da ONG Ágora, do amigo do Presidente, qual a participação do Delúbio naquilo? Nenhuma. No episódio dos cartões corporativos, no episódio do Bank Boston, do Sr. Henrique Meirelles, que a Procuradoria de Nova York está querendo o sigilo dele e o Brasil está negando, qual a participação do Delúbio? Nenhuma. Qual a participação dele no episódio de Santo André, em que morreram oito? O Presidente vai a público dizer que se trata de crime comum. Um absurdo isso! O Presidente diz isso baseado em quê? Oito testemunhas morreram! E no episódio da “república de Ribeirão Preto”? O Delúbio não estava ali. No episódio das florestas, da organização, da negociação de APPs? É um mar de lama! E o PT acha que podemos ser caracterizados como uma geração de idiotas. Não somos! O Presidente Lula tem tudo a ver com isso. Não tem como não responsabilizar o Presidente Lula por este mar de corrupção que ele montou com a tese do aparelhamento do Estado.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Não sei se posso dar um aparte ao Senador Edison Lobão.

Sr. Presidente, V. Exª me permitiria? (Pausa.)

Ouço o Senador Edison Lobão.

O Sr. Edison Lobão (PFL - MA) - Senador Romeu Tuma, é de fato uma situação quase exótica esta que estamos vivendo. Quando ouço o aparte do Senador Sibá Machado, uma das figuras mais simpáticas deste Plenário, de que todos gostamos pela sua simplicidade, vejo que nem S. Exª tem informações, além de dizer que não compreende a situação. Ora, se o Líder do Governo não dispõe de informação e não compreende o que está ocorrendo, imaginem os pobres mortais como nós da Oposição! É um mistério essa história do Delúbio. Eu nunca vi um mistério tão grande na minha vida. Cumprimentos a V. Exª pelo exame que faz da situação.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Obrigado.

Sr. Presidente, vim a esta tribuna para relatar algumas conversas que tive com o Senador Sérgio Cabral sobre as ocorrências graves no Rio de Janeiro, inclusive com atos de terrorismo, como queima de ônibus. Porém, como o meu tempo se esgotou, deixarei para manifestar-me sobre este assunto em outra oportunidade.

Agradeço a tolerância de V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2005 - Página 43114