Discurso durante a 220ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao Presidente Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Críticas ao Presidente Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 10/12/2005 - Página 43638
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ERRO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, FECHAMENTO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE), IMPUNIDADE, EMPRESARIO, POLITICO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE), DESENVOLVIMENTO REGIONAL, REDUÇÃO, DESIGUALDADE REGIONAL, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, REABERTURA, ORGÃO PUBLICO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Alvaro Dias, que preside esta sessão do Senado de sexta-feira, 9 de dezembro de 2005, Senadoras e Senadores presentes, brasileiras e brasileiros presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação, lembro ao Senador Alvaro Dias o 13 de dezembro, que o Paraná tornou uma data libertária..

No período revolucionário, os parlamentos foram freados, cerceados, fechados, silenciados, mas o Paraná não silenciou. A voz rouca e forte nas ruas paranaenses fez surgir a Boca Maldita. Eles se reuniam, como Cristo se reunia com companheiros, traçando uma visão de futuro para o País. Atentai bem! Um dia, 13 de dezembro, chegou um militar que quis frear, inibir, parar o sentimento libertário do Paraná. Fizeram recuar as forças militares e aí surgiu uma civilização como a de Atenas, livre, onde os palcos são as praças públicas e todos têm liberdade.

Quis Deus chegasse aqui o Senador Marco Maciel. Deus escreve certo por linhas tortas. Senador Marco Maciel, a Sudene é a cara de V. Exª. Entendo bem a Sudene, que estamos discutindo. Entendo tão bem a Sudene quanto o Senador Alvaro Dias entende a Boca Maldita. Eu vi e senti o entusiasmo daqueles

Eu vi e senti o entusiasmo daqueles libertários, a fraternidade e o respeito que ele tem a Alvaro Dias.

Mas, Senador Marco Maciel, conhecemos a Sudene. Atentai bem, Senador Marco Maciel. Senador Paulo Paim, eu não sei se é uma assertiva, se o Lula acertou, eu não sei, mas o Lula disse que neste Congresso ele não votaria porque havia trezentos picaretas. Senador Marco Maciel, trezentos eu não sei, mas que tem, tem.

Senador Marco Maciel, atentai bem: A Sudene, eu vi, eu era conselheiro da Sudene, Senador Alvaro Dias, Fernando Bezerra era Ministro, hoje é líder do Governo, do PTB, coligado, trouxe uma ordenação para a Sudene ser fechada, mas aquele Conselho não permitiu. Sugeri, e foi votado, que tivéssemos um prazo, não sei bem se foram trinta dias, não estou lembrado, e que cada Governador indicasse um técnico para informar o Governador e pudesse ver as adaptações necessárias à evolução. E esse foi o voto, nosso, do Conselho.

Senador Marco Maciel, Fernando Henrique não se aconselhou com V. Exª, que é humilde, a humildade dos homens. Na sua truculência, Fernando Bezerra, com vinte dias, mais ou menos, mandou chamar os Governadores, e os mandou, separados, quando vi que estávamos juntos em uma sala, Senador Alvaro Dias, eu, do Piauí, Tasso Jereissati, do Ceará, e Jarbas Vasconcelos, de Pernambuco.

Senador Alvaro Dias, eu me lembrei de Sun Tzu. Senador Marco Maciel, dividi para não resistir, para acabar. Dividiu e veio a ordem. Li o relatório. Senador Marco Maciel, o Relator era do PT. Olha, o que ele denunciava de corrupção é verdade. Envolvia empresários, envolvia políticos. Sei que meu nome não estava lá, Senador Paulo Paim. Sou de Santa Casa, não tinha empresa. Mas envolvia. Senador Paulo Paim, atentai bem V. Exª, que é justo: que aqui tem picareta, tem. O Lula é quem disse: são 300. Penso que não são tantos assim, mas se ele disse... No tempo dele era ainda pior.

Senador Alvaro Dias, agora pergunto: se tem picareta aqui, o que Raimundo Carreiro da Silva tem a ver com isso, também a Cláudia Lyra, o “Zezinho” que nos serve? Atentai bem, Senador Marco Maciel para essa injustiça. Se fechar isto, Raimundo Carreiro da Silva, que há mais de trinta anos serve com honradez, seriedade, justiça, respeito, estoicismo, altruísmo, o que ele tem? Eu vi o relatório, Senador Marco Maciel. Senador Paulo Paim, acusava empresários, acusava políticos. Não vi nenhuma punição. Já vi gente ser presa aí. Outro dia, prenderam aquela senhorita que trabalha em São Paulo, dona da Daslu, o caso Schincariol, Cícero Lucena, e não vi nenhum dos picaretas, empresários e políticos que estavam lá denunciados, serem presos.

Agora estigmatizaram os Carreiros da Sudene, profissionais que dedicaram uma vida, que entraram pela porta estreita do concurso, com Celso Furtado. Por que fecharam? Esse foi o pecado. Porque FHC cometeu um grande pecado, ele tem de se ajoelhar. Querendo aproveitar-se de erro da Sudam, fechou abruptamente, não esperou os conselheiros, nós, que fomos “Prefeitinhos”, que fomos Governadores, e os técnicos.

Eu, por exemplo, tinha indicado para me orientar Leonides da Silva Filho, um também desses servidores de quase 40 anos, tão correto, tão decente, Senador Paulo Paim, que eu o homenageei numa ponte, a do Gurguéia. Ele é piauiense, mas uma vida dedicada em Pernambuco, na Sudene, na universidade.

Aí estão todos carimbados como corruptos. Corruptos, Senador Marco Maciel, estão no relatório, denunciados pelo Relator. Eu vi. Foram empresários. Eu vi. Foram políticos. Não foram esses funcionários, não.

O que eles querem é salvaguardar a honra. Eles são muitos, como Raimundo Carreiro da Silva aqui. Querem ter uma vida. Então, está carimbado. Isso é muito importante. Nós vivemos em função da instituição. Sou orgulhoso por ser médico-cirurgião do Hospital Servidor do Estado. Era a melhor escola de pós-graduação. Digo sempre, e disse para o Senador Paulo Paim, que meus maiores amigos são gaúchos: Jaime Pietá, de Porto Alegre, que encontrei na noite em que Paulo Paim nos levou, e Léo Gomide, de Dom Pedrito.

Sou orgulhoso da escola que me fez cirurgião. Visito o Ipasa, Sacadura Cabral, e sofro até para que não continuem com aquele padrão de grandeza, porque foram envolvidos pelo SUS, mas são parte da nossa formação e da nossa vida. Assim como o Senador Marco Maciel deve ter orgulho da Faculdade de Direito em que se formou, das instituições às quais pertenceu aquele pessoal tem. O que é que eles pedem é questão para V. Exª, Senador Marco Maciel.

Ninguém admira mais Tasso Jereissati do que eu. Mas Fernando Henrique Cardoso comete outro erro. Ele tem um Partido forte e governou. Fica só naquele negócio de café-com-leite, tinha que pensar em Tasso Jereissati para Presidente, Senador Alvaro Dias. Mas, Senador Marco Maciel, é um problema de lingüística. E V. Exª é o responsável, José Sarney é o responsável, porque Tasso Jereissati, eu sei - até votei no pai dele para Senador, era estudante -, não me consta que seja bom em lingüística. Ele não é “Tasso Aurélio Buarque de Holanda”. Antonio Carlos Magalhães também, com todo respeito, fez da Bahia um país, mas não é Tasso, não é Aurélio Buarque ou Antonio Houaiss, esses que têm dicionário.

Portanto, o que eles pedem é justo. Fiz uma emenda, vamos pedir destaque e votar, mostrando que aqui cada um é um. Sei que o Senador Tasso Jereissati é o Presidente do forte PSDB de FHC, que tocou uma bomba na Sudene. Mas sei que cada um aqui é um, e que somos iguais. Portanto, restituir o que eles pedem a um. Estão interpretando errado o que eles querem. Não querem nada, a maioria já está aposentada. Eles entraram, Senador Paulo Paim, nos anos 60, V. Exª conhece as leis trabalhistas. Todos já têm 45 anos, e querem a dignidade.

Como se tocou fogo, acabou? Aliás, o Lula errou. Fernando Henrique não editou uma medida provisória acabando abruptamente? Lula deveria ter editado uma medida provisória. Nós já vamos comemorar trezentas! Daqui a pouco, estamos como Pelé, com mil gols: mil medidas provisórias. O Romário vai fazer, nós vamos votar aqui a mil. Lula mandaria voltar a Sudene, por uma medida provisória, no primeiro dia de Governo. Como Cristo, Senador Paulo Paim. Ele que é do Nordeste, de Caetés. Lázaro! Não, não vá, está morto, está apodrecido, não tem jeito. Ele disse: “Levanta-te, Lázaro!”. No primeiro dia, o Governador nordestino deveria ter dito: “Levanta-te, Sudene!”.

Senador Paulo Paim, quero a ajuda de V. Exª. Professor da Academia de Letras, Marco Maciel, eles querem que o termo instituir seja substituído por reinstituir. Quando se tem uma firma que vai mal, reinaugura-se. Eu tinha, no Piauí, um estádio construído por Dirceu Arcoverde. Ele caiu, tombou. Eu reconstruí. Então, eles querem colocar reinstituir, para ligar ao passado. Instituir é manter o carimbo que os estigmatizou para os filhos e netos como corrupto.

Senador Marco Maciel, eu vi o relatório. Senador Alvaro Dias, eu não vi nenhum funcionário atingido como corrupto. Eu vi empresários citados e políticos, mas eles não foram punidos. A punição foi na honra dos servidores que se dedicaram àquela instituição.

Senador Marco Maciel, nós sabemos a história daquela geração. Delile; Salmito; Paulo; meu irmão; esse Cristóvam também tem um irmão; Élbano Ferro; Magno Pires. Foi uma geração; a sua geração, Marco Maciel! A geração de V. Exª que saiu dando dignidade e grandeza ao País. Eles ficaram dando dignidade e grandeza ao Nordeste. Para tudo o que se queria dizia-se: vá à Sudene que eles têm.

Atentai bem, Marco Maciel! No desespero, na desgraça, nas calamidades, nas secas, nas enchentes nós estávamos lá e eles tinham know how, experiência. Dou testemunho aqui, Senador Alvaro Dias - eu, que fui prefeitinho e V. Exª governava seu Estado -, quero lhe dizer que, quando a Sudene existia, o Nordeste crescia a taxas maiores do que crescia o Brasil. Quando governei o Piauí, todos os meses, todos os anos, meu Estado crescia 8%, e isso devemos muito, muito mesmo, à Sudene. Além disso, a Sudene foi, sem dúvida nenhuma, o primeiro instrumento de fortalecimento dos Governos Estaduais. Hoje a Bahia tem uma estrutura governamental, todos temos, mas todos se inspiraram em técnicos da Sudene. Quando governei o Piauí - Deus me permitiu governá-lo seis anos, dez meses e seis dias -, vários auxiliares de meu Governo eram oriundos da Sudene.

Então, Senador Marco Maciel, entristecido porque viu o significado da Sudene no desenvolvimento... Atentai bem, naquele tempo, a diferença do maior para o menor, Senador Paulo Paim, era de quatro vezes. A renda per capita do Sul era o dobro do Norte e Nordeste, e a de zonas como o Piauí, Maranhão e Paraíba era a metade de Pernambuco e Bahia. Portanto, a diferença da renda per capita do maior, São Paulo, Sudeste, para o menor era de quatro vezes.

Senador Paulo Paim, Juscelino Kubitschek, vendo e querendo obedecer à Constituição, que diz que uma das suas missões é diminuir a desigualdade, fez nascer a Sudene para tirar essa desigualdade. Ela foi assassinada no Governo de Fernando Henrique Cardoso, e Lula, há três anos, não tem poder de levantar a Sudene, mesmo sendo ele um homem do Nordeste. E queremos dizer do significado emocional. Eu falo, Senador Alvaro Dias, porque quis Deus e fui eu, Senador Paulo Paim, quem presidiu a última reunião da Sudene. Além daquelas reuniões mensais, em Recife, na sua sede, a Sudene fazia reuniões regionais, circulando pelas capitais, e nós reivindicamos que fosse feita no Piauí, em Parnaíba, minha cidade natal. Naquele instante, Senador Marco Maciel, lembro-me que era a última reunião da Sudene em Estados - eu presidia a reunião - foram liberados recursos para uma fábrica de bicicleta no Piauí, para uma fábrica de cimento no Piauí, para a implantação de uma usina de beneficiamento de soja no Piauí. Foram três grandes, além das pequenas. E outros Estados também tiveram. Lembro-me, Senador Marco Maciel, que a minha cidade era como a Holanda: o rio a enchia, lembrando Veneza e não Recife. E eu, com o meu irmão Paulo e Antônio José, pegávamos as bananeiras do fundo do quintal e, inspirados no cearense, fazíamos jangadas e circulávamos. A Sudene, por intermédio de Alberto Silva e seu irmão João Silva, fez um cais contornando toda a cidade e evitando, em detrimento dos nossos brinquedos de jangadeiro, que fosse inundada. A Sudene tem de ser revivida, mas o mais importante não é o prédio, não é o edifício, é o ser humano, aqueles que a fizeram funcionar.

Para terminar, quero dar um testemunho aqui, Senador Alvaro Dias. Certa vez, numa reunião da Sudene - o Senador Marco Maciel devia estar lá -, quando o Presidente Fernando Henrique Cardoso enfrentava uma greve da Petrobras, em Recife, que estava como Bagdá, no Iraque, com manifestações inúmeras contra o Presidente da República - e o pernambucano é o mais heróico do nosso Nordeste. Havia muitas reivindicações e, portanto, havia uma proteção militar extraordinária junto ao Presidente. Quando Fernando Henrique entrou, um técnico, Marco Maciel, me deu para assinar o programa que só pedia para o Piauí água e açude. Eu disse: não vou assinar, Cícero, quero dizer do que o Piauí precisa. Como é que se interrompe o Presidente falando? Então, o Cícero Lucena, que era Ministro, do lado dele, disse: “Rapaz, tu és doido? Onde é, rapaz?” Então, mostrou-me um botão. Senador Alvaro Dias, faça soar a campainha. É mais alta do que esta. Bum!!! Senador Marco Maciel, recordo-me do dia. A mesa não era reta, tinha formato de lua. Eu olhava o Fernando Henrique, pessoa simpática, agradável, educada e decente; errou, fechando a Sudene. Errare humanum est. Eu o compreendo. Ruim é permanecer no erro.

Senador Marco Maciel, ele pensou que os grevistas da Petrobras estavam invadindo o lugar. Quando ele olhou, viu que era eu, sorriu - ele é um homem muito simpático - e disse: “Mão Santa, você já quebrou o protocolo. Pode falar”. Era o que eu queria. Eu disse: “V. Exª acaba de falar em Juscelino - Juscelino, que criou a Sudene -, e disse energia e transporte. Aqui no programa da Sudene só há água. O Piauí tem 19 rios, seis perenes, e cem lagoas. O lugar jorra. Eu quero energia e transporte”. Eu disse: “Eu quero energia para eletrificar o cerrado piauiense”. Ele, homem de palavra, disse, de público, que daria e deu. Foi a melhor obra de desenvolvimento e de riqueza. Agradeço pelo Piauí, com aplausos, os acertos de Fernando Henrique. Quer desrespeitar o Presidente? Ele prometeu e disse dez mil toneladas de soja. Eu deixei com quatrocentos e...

(Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - São essas as nossas palavras. Vamos redimir, Senador Marco Maciel, aquele erro, restaurando a honra apenas e acabando com a vaidade. V. Exª, que é da caneta, no lugar de instituir, coloque reinstituir para não enterrar de vez a grande obra de Juscelino e começá-la. Nós queremos tratar aquela que passou pela UTI, que é aqui, e dar vida para acabar com a grande... Nós agradecemos e os nossos parabéns.

E que V. Exª leve pelo menos nossos cumprimentos e admiração por aquela instituição libertária que é a Boca Maldita do Paraná.

Muito agradecido.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/12/2005 - Página 43638